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O Shot-on-Video e o Cinema Independente Brasileiro

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Sempre existiu na história do cinema mundial a figura do cineasta miserável que dava um jeito de inventar seus recursos, independente da quantia de dinheiro disponível. A própria história da mais cara arte do planeta está cheia de exemplos. Ainda nos anos de 1920 pequenos produtores exploravam temas tabus para competir com o cinema feito pelos grandes estúdios. Nesta época era corriqueiro que milionários encomendassem pequenos filmes domésticos à cineastas despudorados que sabiam como ninguém a arte de filmar rápido/barato os assuntos mais polêmicos que não encontravam espaço nos cinemas normais. Na década de 1920 já existia cinema pornô, por exemplo. Un Chien Andalou (Um Cão Andaluz, 1929, Luis Buñuel), outro exemplo, só existe porque independentes o realizaram.

No pós-guerra, na década de 1950, houve uma explosão de produtores independentes, que encontraram uma forma de ganhar dinheiro com filmes de monstros e/ou alienígenas feitos sem grandes recursos e que encontravam público. Tanto público que os grandes estúdios se apropriaram do gênero e faturaram muito dinheiro. Considero-os a principal influência do cinema Shot On Video, o SOV, que surgiu no início dos anos de 1980, principalmente nos USA. E essa influência transou com as influências do cinema underground e deixou tudo mais divertido ainda, porque a grande sacada do SOV foi a de misturar todo tipo de influências e recriar tudo à sua maneira.

Talvez Ray Dennis Steckler seja um dos grandes precursores do cinema caseiro mundial, com filmes como Lemon Groove Kids Meet the Monsters (1965) e Rat Pfink A Boo Boo (1966) que, embora produzidos em 35 mm, tinham todos os elementos de fundo de quintal que os SOVs dos anos de 1980 popularizaram. Mesmo um cineasta autoral, e agora respeitado por sua obra, como John Waters, começou fazendo produções caseiras com ajuda de amigos e familiares, caso de Mondo Trasho (1969) ou Multiple Maniacs (1970), inspirados nos filmes caseiros que artistas como George Kuchar e Jack Smith vinham fazendo no underground americano.

Rat Pfink a Boo Boo

Com distribuidores como Harry H. Novak garantindo espaço para escoar a produção independente, o mercado viu uma verdadeira epidemia de produções baratas surgirem, onde muitas vezes o dinheiro gasto era somente na película virgem e revelação do filme. Doris Wishman, H.G. Lewis, Ted V. Mikels, Al Adamson, entre outros, são exemplos.

Com o declínio dos Drive-In Theaters e grindhouses na década de 1970, e o surgimento de formatos domésticos como Super-8, Beta Tapes, Laser Disc e, talvez, o mais importante deles, a Fita VHS – que permitia uma arte chamativa em suas enormes caixas protetoras – o cinema SOV da década de 1980 começava, timidamente, a perceber suas possibilidades concretas.

Shot-on-Video!!!

Não demorou muito para que a jovem geração, ociosa e bêbada, descobrisse que era possível realizar filmes com câmeras VHS. Inicialmente o formato não havia sido recebido com muito entusiasmo. Sua qualidade de som e imagem deixava muito a desejar e era, geralmente, usada para o registro de aniversários, casamentos, viagens e outras festividades familiares. Mas estes artistas amadores improvisados começaram a provar o valor do VHS, agora pessoas comuns estavam conseguindo produzir seus filmes com a paixão e devoção que somente os fãs possuem. Hollywood não realiza o filme dos seus sonhos? Não tem problema, faça-o você mesmo em VHS, com ajuda de seus amigos tão sem noção quanto você! Teus amigos não te ajudam? Possivelmente você está andando com as pessoas erradas!!!

Nos anos de 1980, nos USA, houve uma explosão de produções Shot on Video, mas um dos únicos destes filmes a conseguir lançamento em um Drive-In de Long Island, NY, foi o longa-metragem Boardinghouse (1983, John Wintergate), seguido de Sledgehammer (1983, David A. Prior) e Black Devil Doll from Hell (1984, Chester Novell Turner). Os três filmes eram produções bem limitadas, mas nada pior do que um freqüentador habitual de Drive-In já não tivesse visto antes, só que produzido em 35 mm.

Com as videolocadoras popularizadas nos anos de 1980, quando qualquer cidadezinha minúscula perdida no meio do nada era bem servida dos clássicos e vagabundagens do cinema, os produtores atentaram para o fato de que não era mais necessário um circuito exibidor formado de cinemas. O filme que provou ser possível chegar à um público gigante através das locadoras foi o SOV Blood Cult (1985, Christopher Lewis), que foi um estrondoso sucesso na locação de vídeo e abriu espaço para outras produções no estilo, como Blood Lake (1987, Tim Boggs) e Cannibal Campout (1988, Jon McBride e Tom Fisher). O sucesso de vendas e locações de Blood Cult se deve ao fato de que criaram uma distribuidora exclusivamente para oferecê-lo às locadoras, com material de divulgação e muita lábia – conseguiram vender como se fosse uma produção profissional. Só que o público não só assistiu, como gostou, se influenciou e também quis se divertir fazendo seus próprios filmes.

Em seguida, o agora clássico, Video Violence (1987, Gary Cohen) foi comprado pela distribuidora Camp Video. Com base em Los Angeles, a Camp Video fez uma ampla divulgação da produção de fundo de quintal – que permanece sendo o filme SOB da década de 1980 com maior venda – e conseguiu colocá-lo em locadoras dos USA inteiro. Video Violence chegou a ser indicado para o prêmio de melhor filme independente no American Film Institute daquele ano. Em tempo: Video Violence é um filme que reflete sobre o assunto “violência é boa, mas o sexo não é”, algo que constatei pessoalmente com 30 anos de produções independentes pela Canibal Filmes, onde nunca fui censurado pelas cenas de violência, mas sim, apenas e unicamente, por cenas de sexo.

A distribuidora Camp Video também foi a responsável por colocar o filme Cannibal Hookers (1987, Donald Farmer) no mapa. E seu faturamento com estes filmes foi o responsável direto pelo interesse da Troma Entertainment  por SOVs, que comprou o filme Redneck Zombies (1989, Pericles Lewnes) e constatou que era muito lucrativo lançar aqueles filminhos amadores, não abandonando-os nunca mais. Aliás, muita gente confunde os filmes distribuídos pela Troma com sua produção própria. Os filmes da Troma não são SOVs, mas inúmeros filmes distribuídos por eles são. Alguns exemplos: O inacreditavelmente ruim Space Zombie Bingo! (1993, George Ormrod); Bugged (1997, Ronald K. Armstrong); Decampitated (1998, Matt Cunningham); Parts of the Family (2003, Léon Paul de Bruyn); Pot Zombies (2005, Justin Powers); Crazy Animal (2007, John Birmingham) e Blood Oath (2007, David Buchert). Outra distribuidora que costuma lançar SOVs é a Severin Films. Fundada em 2006 por David Gregory, já disponibilizou em DVD ou Blu-Ray vagabundagens como Blackenstein (1973, William A. Levey), filmado em 35 mm, mas tão amador quanto qualquer SOV feito em VHS, e clássicos como a trinca Sledgehammer (1983), Things (1989, Andrew Jordan) e The Burning Moon (1992, Olaf Ittenbach).

Sim, as produções SOV são essencialmente de fundo de quintal, feitas por entusiastas se autointitulando cineastas, que conseguem meter seus amigos e familiares no sonho de fazer cinema. Geralmente são produções amadoras desleixadas, desfocadas, com efeitos especiais improvisados, atores canastrões, figurinos inexistentes e roteiros absurdos. Mas é essa combinação que faz com que os filmes funcionem e tenham legiões de fãs ao redor do mundo. Outra particularidade do cinema SOV: São produções locais que ultrapassam fronteiras, ou seja, um filme vagabundo produzido entre amigos num sítio em Palmitos, SC, Brasil, é perfeitamente capaz de dialogar com um entusiasta do SOV que morou a vida inteira num pequeno apartamento em Tokyo, por exemplo.

O blog Camera Viscera, na matéria “Video Violence – 13 Days of Shot on Video!”, faz outra importante observação à respeito dos SOVs: “Eles conseguiram congelar o tempo. O que quero dizer é que os sets que você vê nestes filmes não são cenários construídos, são videolocadoras e mercearias reais. As roupas que você vê não são fantasias, são roupas reais que os atores tinham em seus roupeiros. As ruas, os carros, os locais, são todos reais e intocados, e você consegue vê-los como estavam em seu estado natural em 1987. Essas jóias do “no-budget” dos anos de 1980 capturaram a essência do tempo e isso é um bem inestimável. Eles são como se suas famílias tivessem filmes caseiros dos anos 1980, exceto com mais assassinatos (ou menos, dependendo do tipo de família que você veio).”

Não existe uma produção SOV inaugural. A produção mundial é enorme. A produção em um país como a Nigéria, conhecida como Nollywood e que é considerada a terceira maior indústria cinematográfica em volume de produção – atrás apenas de Hollywood e Bollywood -, é formada quase que exclusivamente de produções SOVs. Então é praticamente impossível catalogar a totalidade dessa produção, ainda mais se levarmos em consideração que muitos títulos lançados nem saem do círculo de amizades dos produtores – países da Europa, Ásia e América Latina também tem uma produção enorme. Tentar catalogar apenas os SOVs produzidos no Japão já seria tarefa impossível, por exemplo.

Nos USA alguns diretores que se destacaram são Todd Sheets – com quem geralmente sou comparado nas reviews da imprensa especializada, e, acreditem, isso não é um elogio! -, Donald Farmer, Tim Ritter, Kevin J. Lindenmuth, Hugh Gallagher e J. R. Bookwalter. Este último, inclusive, teve seu filme em super-8 The Dead Next Door (1989) apadrinhado pelo trio de amigos Sam Raimi, Bruce Campbell e Scott Spiegel.

Na Europa alguns produtores de SOVs que tiveram destaque foram o francês Norbert Georges Mount, com Mad Mutilator (Ogrof, 1983), que tem Howard Vernon no elenco; Trepanator (1992) e o impagável Dinosaur from the Deep (1993), com Jean Rollin no elenco. E os alemães Olaf Ittenbach, que causou sensação com seu The Burning Moon (1992), mas nunca chegou a fazer sucesso como um Peter Jackson, por exemplo; Andreas Schnaas, responsável por uma série de filmes gore exagerados que são fantásticos e inventivos: Violent Shit (1989), Zombie’90: Extreme Pestilence (1991), Goblet of Gore (1996) e Anthropophagous 2000 (1999); e Andreas Bethmannn, criador de Der Todesengel (1998), Dämonenbrut (2000) e Rossa Venezia (2003), este com Jesus Franco e Lina Romay no elenco.

Uma das grandes armadilhas na produção SOV é que dificilmente os diretores/produtores conseguem romper as fronteiras do cinema independente, mas não é impossível. Evil Dead (1981), de Sam Raimi, era essencialmente uma produção SOV, mas foi realizada com tanta garra e empenho que conseguiu colocá-los na mira dos grandes estúdios. Peter Jackson quando realizou seu Bad Taste (1987) estava fazendo um autêntico SOV com amigos – embora filmado em película – e acabou que a produção lhe deu o suporte necessário para se destacar na comissão de cinema da Nova Zelândia e o resto é história. Santiago Segura, hoje um dos mais respeitados cineastas da Espanha por conta de sua série de sucesso Torrente, iniciou-se na produção com curtas feitos em vídeo. Relatos de la Medianoche (1989) e Evilio (1992) são feitos em vídeo. Perturbado (1993), curta bem acabado que realizou de maneira mais profissional, fez com que conseguisse o dinheiro para a produção do primeiro Torrente (1998), que na época de seu lançamento, na Espanha, bateu a bilheteria do Titanic (1997, James Cameron) naquele país.

Bruce Campbell & Sam Raimi em Evil Dead

Pessoas que participaram de produções cinematográficas que se tornaram filmes de culto conseguiram manter suas carreiras atrávez de produções SOV. Talvez o exemplo mais famoso seja o de John A. Russo, conhecido roteirista de The Night of the Living Dead (A Noite dos Mortos Vivos, 1968, George A. Romero), que foi diretor de produções em vídeo como Scream Queens Swimsuit Sensations (1992) ou Saloonatics (2002). Aliás, o clássico de George A. Romero legou ainda outro diretor de SOVs: Bill Hinzman (ator que interpretou o primeiro zumbi que aparece no clássico) que realizou The Majorettes (1987) e FleshEaters (1988), este último uma tranqueira imitação de The Night of the Living Dead, onde Bill repete seu papel de zumbi magrelo sedento por carne humana.

Não só isso. Antigos diretores de cinema dos anos de 1960/1970 só conseguiram manter/retormar suas carreiras após os anos 2000, quando ficaram possibilitados de voltar a produzir seus filmes em vídeo, muitos deles autênticos SOVs. Jesus Franco realizou um punhado de SOVs divertidíssimos, como Vampire Blues (1999), Snakewoman (2005) e o hilário Revenge of the Alligator Ladies (2013), finalizado por seu fiel assistente Antonio Mayans. H.G. Lewis voltou a filmar 30 anos depois de seu último filme de cinema, que havia sido The Gore Gore Girls (1972), com o quase amador Blood Feast 2: All U Can Eat (2002). Ted V. Mikels, diretor dos clássicos The Astro-Zombies (1968) e The Corpse Grinders (1971), passou por algo parecido. Impossibilitado de bancar seus filmes em película, produziu em vídeo mesmo, com ajuda de conhecidos e fãs, The Corpse Grinders 2 (2000) e Mark of the Astro-Zombies (2004), re-encontrando seu espaço na produção SOV do novo milênio, que está cada vez mais parindo filmes extremamente bem produzidos com quase nada de dinheiro.

O verdadeiro cinema independente é o SOV. Nos USA o orçamento médio de um filme chamado de independente é de 30 milhões de dólares, valor absurdamente grande quando comparado aos SOVs produzidos com uma média de 10 mil dólares.

No Brasil o orçamento médio de produções bancadas por editais é entre um e dois milhões de reais, enquanto muitos SOVs de longa-metragem foram feitos com orçamento médio de cinco mil reais, geralmente dinheiro bancado pelo bolso do próprio diretor/produtor. Sempre fiquei na dúvida se ficava orgulhoso ou ofendido, quando meus filmes de cinco mil reais eram comparados com produções de mais de 500 mil reais no orçamento. Acho bastante injusto uma produção minha ser colocada no mesmo patamar de cobranças que um filme de 500 mil reais, mas se fazem a comparação é porque meu filme está dizendo algo, não?

Equipe da Canibal Filmes filmando Criaturas Hediondas (1993)

Aqui ainda houve o agravante de que as produções SOVs surgiram exatamente junto com a moda Trash, que assolou a década de 1990. O SOV brasileiro ganhou força com a cara de pau de minha produtora, Canibal Filmes, que, por ser realizada com orçamentos tão irrisórios, também encaixavam na descrição do Trash. Aí a imprensa oficial, que geralmente é preguiçosa e não vai atrás de informações para apurar os fatos, tratou de difundir essa confusão e o SOV ficou desconhecido aqui, sendo tratado como filmes Trash. Quando estava acabando a moda Trash estes filmes passaram a ser objetos de estudo de um grupo de acadêmicos que passaram a chamá-los de Cinema de Bordas, e perdeu-se a oportunidade de categorizar o SOV Brasileiro na história do cinema amador mundial.

O Monstro Legume do Espaço, filme que produzi em 1995, foi o primeiro título SOV brasileiro a ter uma distribuição em nível nacional, provando que era possível fazer cinema amador e ter público com sua produção feita na vontade e amizade. E, após isso, o cinema Shot on Video nacional finalmente deslanchou.

Guia de SOVs Essenciais

SOVs Essenciais (para entender este peculiar estilo de se fazer cinema):

Elaborei uma lista de Shot on Videos bem básica, que servirá para introduzi-lo na arte do cinema amador (optei por destacar nessa lista básica a produção americana e brasileira). São filmes fáceis de achar na internet, então possíveis de serem assistidos.

Within the Wood (1978) de Sam Raimi. Curta SOV, produzido em super 8, que deu origem ao clássico Evil Dead (1981).

The Long Island Cannibal Massacre (1980) de Nathan Schiff. A história é uma bagunça, mas as cenas de mutilação com serras elétricas são lindas. Super 8.

Boardinghouse (1983) de John Wintergate. Pensão é reaberta após uma carnificina ter acontecido lá. Vídeo.

Sledgehammer (1983) de David A. Prior. Um jovem assassina sua mãe e amante com um martelo. Vários anos depois os assassinatos do martelo reiniciam na mesma área. David também foi diretor do terrível filme profissional amador The Lost Platoon (Pelotão Vampiro, 1990). Vídeo.

Black Devil Doll from Hell (1984) de Chester Novell Turner. Uma mulher compra uma boneca possuída e passa a ter inúmeros problemas hilários. Vídeo.

Blood Cult (1985) de Christopher Lewis. Universitárias são assassinadas e partes de seus corpos são usados em estranhos rituais. Vídeo.

The New York Centerfold Massacre (1985) de Louis Ferriol. Aspirantes à modelo são molestadas e assassinadas misteriosamente. Vídeo.

Black River Monster (1986) de John Duncan. Filme de monstro feito para a família, com um adorável Sasquatch (Pé Grande) feito de uma ridícula fantasia felpuda. Duncan dirigiu ainda o psicótico The Hackers (1988). Vídeo.

Dead Things (1986) de Todd Sheets. Caipiras matam quem se aventura pelo seu bosque. Vídeo.

Gore-Met, Zombie Chef from Hell (1986) de Don Swan. Dono de restaurante mata pessoas para servir aos clientes. Super 8.

Truth or Dare?: A Critical Madness (1986) de Tim Ritter. Após encontrar a esposa na cama com outro homem, o corno passa a matar pessoas participando de dementes jogos da “verdade ou desafio”. Vídeo.

Cannibal Hookers (1987) de Donald Farmer. Como parte de um trote de iniciação para uma irmandade, duas garotas precisam fingir serem prostitutas. Acabam se tornando zumbis que matam as pessoas da vizinhança. Vídeo.

Demon Queen (1987) de Donald Farmer. Uma vampira e suas agitadas tentativas de conseguir sangue. Vídeo.

Tales from the Quadead Zone (1987) de Chester Novell Turner. Fantasmas atormentam um casal. Vídeo.

Video Violence (1987) de Gary Cohen. Casal abre uma videolocadora e percebe que os clientes só levam filmes de horror extremamente violentos, então começam a produzir seus próprios snuff movies. Vídeo.

555 (1988) de Wally Koz. Adolescentes são mortos – das mais variadas e divertidas maneiras – por um psicopata de visual hippie. Foi produzido na época com a pretensão de ser um SOV melhor do que todos os outros que estavam sendo feitos. Vídeo.

Cannibal Campout (1988) de Jon McBride e Tom Fisher. Grupo de jovens em passeio pelo bosque se envolve com trio de psicopatas. Vídeo.

The Dead Next Door (A Morte, 1989) de J. R. Bookwalter. Uma equipe anti-zumbis é formada pelo governo. Bastante cenas gore e produção bem feita. Super 8.

Oversexed Rugsuckers from Mars (1989) de Michael Paul Girard. Aliens tarados estupram mulheres usando aspirador de pó. Muitas drogas e depravações nesta produção que está no limite entre um SOV e um filme profissional. 35mm.

Robot Ninja (1989) de J. R. Bookwalter. Desenhista de HQs se torna um super herói para combater uma gangue de estupradores. Vídeo.

Things (1989) de Andrew Jordan. Marido impotente deseja tanto o nascimento de um filho que precisa lidar com uma ninhada de criaturas que se materializam em sua casa. Vídeo.

Zombie Rampage (1989) de Todd Sheets. Um jovem que está indo encontrar seus amigos acaba cruzando com zumbis, serial killers e gangues homicidas neste clássico do SOV sangrento. Vídeo.

Fertilize the Blaspheming Bombshell! (1990) de Jeff Hathcock. Durante uma viagem, mulher é atormentada por adoradores do diabo. Vídeo.

Gorgasm (1990) de Hugh Gallagher. Garota mata os homens com quem transa. Hugh também foi editor da revista Draculina, dedicada ao cinema SOV americano. Vídeo.

Alien Beasts (1991) de Carl J. Sukenick. Alien caça humanos em assassinatos ultra gores feitos sem dinheiro, nem técnicas. É muito ruim, mas é impossível não vê-lo inteiro. Vídeo.

Nudist Colony of the Dead (1991) de Mark Pirro. Musical envolvendo zumbis numa colônia nudista. Super 8.

A Rede Maldita (1991) de Simião Martiniano. As peripécias de um grupo tentando enterrar uma pessoa. Vídeo.

Science Crazed (1991) de Ron Switzer. Cientista injeta droga experimental em uma mulher que morre ao dar a luz a um monstro já adulto. Vídeo.

O Vagabundo Faixa-Preta (1992) de Simião Martiniano. Kung Fu no sertão de Alagoas. Vídeo.

Criaturas Hediondas (1993) de Petter Baiestorf. Cientista marciano vem à Terra fazer os preparativos para a invasão re-animando alguns cadáveres terráqueos. Vídeo.

Goblin (1993) de Todd Sheets. As diabruras gores de um Goblin que chega até a perfurar os globos oculares das pobres vítimas. Vídeo.

Gorotica (1993) de Hugh Gallagher. Um ladrão morre após engolir uma jóia que havia roubado, então seu parceiro conhece uma necrófila. Vídeo.

Zombie Bloodbath (1993) de Todd Sheets. Um colapso numa usina nuclear transforma as pessoas em zumbis. Vídeo.

Acerto Final (1994) de Antonio Marcos Ferreira. Estrelado por Talício Sirino interpretando um herói em sua cruzada contra as drogas. Vídeo.

Gore Whore (1994) de Hugh Gallagher. Assistente de laboratório rouba uma fórmula que cai em mãos erradas. Vídeo.

Shatter Dead (1994) de Scooter McCrea. Drama muito bem encenado e filmado envolvendo uma mulher que quer chegar à casa de seu namorado num mundo pós-holocausto zumbi. Causou sensação quando foi lançado, mas a carreira de McCrea não decolou. Fez ainda Sixteen Tongues (1999) e foi ator em vários filmes de Kevin j. Lindenmuth. Vídeo.

Vampires and other Stereotypes (1994) de Kevin J. Lindenmuth. Dois “homens de preto” (que não estão usando preto) são encarregados de livrar o planeta dos seres sobrenaturais. Vídeo.

Addicted to Murder (1995) de Kevin J. Lindenmuth. Garoto que mantém amizade com uma vampira está disposto a alimentá-la. Vídeo.

Chuva de Lingüiça (1995) de Acir Kochmanski e Andoza Ferreira. Comédia rural ao estilo de Mazzaropi. Essa produção nacional é hilária e as piadas realmente funcionam. Um dos grandes clássicos do SOV brasileiro. Vídeo.

Creep (1995) de Tim Ritter. Psicopata escapa da prisão e vai pedir ajuda para sua irmã stripper. Vídeo.

Fronteiras sem Destino (1995) de Antonio Marcos Ferreira. Filme de ação eletrizante com Talício Sirino. Vídeo.

O Monstro Legume do Espaço (1995) de Petter Baiestorf. Alienígena constituído de tecido vegetal escapa de sua prisão e aniquila os humanos que cruzam seu caminho. Teve uma continuação em 2006, bastante inferior ao original. Vídeo.

Red Lips (1995) de Donal Farmer. Garota que doa sangue para conseguir dinheiro vira cobaia de um médico. Michelle Bauer e Ghetty Chasun estão no elenco. Vídeo.

Space Freaks from Planet Mutoid (1995) de Dionysius Zervos. Alienígenas convivem com terráqueos. Vídeo.

Blerghhh!!! (1996) de Petter Baiestorf. Grupo de terroristas não consegue se livrar de um zumbi. SOV com efeitos mecânicos e muito gore. Vídeo.

Feeders (1996) de Jon McBride, John Polonia e Mark Polonia. Aliens vem ao planeta Terra para um banquete de vísceras, atacando jovens do interior dos USA. Ótimos efeitos especiais, atores canastrões e aliens – feitos ao estilo de fantoches – que funcionam. Teve uma continuação em 1998. Vídeo.

Colony Mutation (1996) de Tom Berna. Casal vai para uma colônia de mutantes. Vídeo.

Eles Comem Sua Carne (They Eat Your Flesh, 1996) de Petter Baiestorf. Comunidade de canibais se alimenta de fiscais da prefeitura que teimam em ir cobrar o IPTU. Por anos foi o filme mais sangrento já produzido no Brasil. Vídeo.

The Bloody Ape (1997) de Keith J. Crocker. Baseado no conto “Assassinatos da Rua Morgue”, de Edgar Allan Poe. Super 8.

Fatman & Robada (1997) de Rogério Baldino. Pastiche sátira com Batman & Robin. No ano de seu lançamento foi o SOV brasileiro de melhor produção. Cult-movie. Vídeo.

The Necro Files (1997) de Matt Jaissle. Estuprador canibal volta do túmulo como um zumbi alucinado. Vídeo.

Shuín – O Grande Dragão Rosa (1997) de Cristiano Zambiasi. Gordinho lutador de kung fu entra num campeonato de artes marciais para descobrir quem está contrabandeando sorvete seco. Vídeo.

Gore Gore Gays (1998) de Petter Baiestorf. Casal de gays tenta deixar de ser gays e realiza brutais atos de violência e depravações sexuais. Vídeo.

Night of the Clown (1998) de Todd Jason Cook (sob pseudônimo de Vladimir Theobold). Milionário que quer vender sua empresa se torna alvo de um assassino. Vídeo.

Road SM (1998) de José Salles. Estranha relação sadomasoquista entre um grupo de pessoas. Vídeo.

They All Must Die! (1998) de Sean Weathers. Três bandidos torturam uma mulher. A capinha de seu lançamento vem com todos aqueles avisos do estilo “Proibido por 13 anos!”, “Cuidado!”, “Agora sem cortes!”, ou seja, pode assistir que é vagabundagem certa. Vídeo.

Dominium (1999) de Cleiner Micceno. Zumbis mongolóides atacam Sorocaba. Vídeo.

Zombio (1999) de Petter Baiestorf. Sacerdotiza Vudú reanima cadáveres. O primeiro filme de zumbis autenticamente nacional. Filmado em 1998, lançado em 1999. Vídeo.

Blood Red Planet (2000) de Jon McBride, Mark Polonia e John Polonia. Impagável sci-fi com maquetes muito bem elaboradas. A história é sobre um planetóide em direção ao planeta Terra. Vídeo.

Boni Coveiro: O Mensageiro das Trevas (2000) de Boni Coveiro. Ser satânico ataca escoteiros numa floresta. Vídeo.

Edmund Kemper – La Mort de Ma Vie (2001) de Laurent Tissier e Fred Quantin. O psicopata Kemper em sua jornada macabra. Petter Baiestorf faz participação especial em Edmund Kemper Part 4 – La Mort Vengeresse (2018, Laurent Tissier). Vídeo.

Entrei em Pânico ao Saber o que Vocês Fizeram na Sexta-Feira 13 do Verão Passado (2001) de Felipe M. Guerra. Jovens que só estão a fim de festa se deparam com um atrapalhado psicopata. Vídeo.

Raiva (Rage-O-Rama, 2001) de Petter Baiestorf. Trio de ladrões rouba uma coleção das revistas Spektro e acaba numa vila de pessoas raivosas. Com cenas de carro explodindo. Vídeo.

Attack of the Cockface Killer (2002) de Jason Matherne. Serial killer com uma máscara de pinto mata de todas as maneiras possíveis as pessoas que encontra pelo caminho, incluindo com consolos improvisados de armas. Vídeo.

Rubão – O Canibal (2002) de Fernando Rick. As aventuras gore de uma família canibal. Vídeo.

Feto Morto (2003) de Fernando Rick. Por conta de uma relação incestuosa um rapaz tem um feto em sua cabeça. É o primeiro SOV nacional a ser lançado em DVD. Vídeo.

The Low Budget Time Machine (2003) de Kathe Duba-Barnett. Viajantes do tempo vão para o futuro e encontram mutantes. Vídeo.

Quadrantes (2004) de Cesar Souza. Um viajante dimensional experimenta os prazeres de vários quadrantes. Vídeo.

Eyes of the Chameleon (2005) de Ron Atkins. Serial killer ataca em Las Vegas. Vídeo.

The Stink of Flesh (2005) de Scott Phillips. Zumbis fedorentos tentando comer algumas pessoas. Boa produção. Vídeo.

Canibais & Solidão (2006) de Felipe M. Guerra. Jovens tentando perder a virgindade se metem em confusões envolvendo canibalismo. Ou não. A modelo Edna Costa está no elenco. Vídeo.

O Homem sem Lei (2006) de Seu Manoelzinho. Western capixaba remake da produção homônima de 2003. Vídeo.

Minha Esposa é um Zumbi (2006) de Joel Caetano. Ótima comédia sobre um funcionário dos laboratórios Z que transforma sua esposa em zumbi. Vídeo.

Sandman (2006) de A. Normale Jef. Uma aventura com o Mal. Vídeo.

Telecinesia (2006) de Danilo Morales. Garota que tem poder mental ajuda a policia na investigação de um desaparecimento. Vídeo.

Arrombada – Vou Mijar na Porra do seu Túmulo!!! (2007) de Petter Baiestorf. Ricaços se aproveitam de suas posições de poder para comprar pessoas e barbarizar em orgias sexuais. Ljana Carrion no elenco. Vídeo.

Mamilos em Chamas (2007) de Gurcius Gewdner. Uma história de amor encenada com fantoches feitas de coelhos mortos. Vídeo.

Rambú III – O Rapto do Jaraqui Dourado (2007) de Manoel Freitas, Júnior Castro e Adilamar Halley. Aldenir Coti, o Rambo brasileiro, é a estrela nessa produção de ação ambientada na Amazônia. Vídeo.

Satan’s Cannibal Holocaust (2007) de Jim Wayer. Jovem jornalista se envolve num culto canibal para satã. Vídeo.

Mangue Negro (2008) de Rodrigo Aragão. Zumbis atacam no mangue. Produção que se encontra no tênue limite entre SOV e filme profissional, tendo representado um ganho em qualidade ao cinema independente brasileiro. Os filmes seguintes de Aragão não são SOVs. Vídeo.

Synchronicity (2008) de Brian Hirschbine. Homem acorda coberto de sangue e não se lembra do que fez. Vídeo.

Vadias do Sexo Sangrento (2008) de Petter Baiestorf. Casal de lésbicas cruza os domínios de Esquisito, um psicopata que foi estuprado por 48 Padres quando criança. Ljana Carrion e Lane ABC no elenco. Vídeo.

Black Ice (2009) de Brian Hirschbine. Um conto de fantasia, sexo e assassinatos. Vídeo.

No Rastro da Gangue (2009) de José Sawlo. Mestre do Kung Fu baiano luta contra um bando de traficantes. Pancadarias ao estilo Jackie Chan. Vídeo.

Atomic Brain Invasion (2010) de Richard Griffin. Estranhas criaturas alienígenas atacam pequena cidadezinha do interior americano. Um exemplo perfeito de como os SOVs de hoje evoluíram e estão com uma qualidade fantástica. Griffin está construindo uma carreira de respeito, com ótimos filmes. Também é dele Splatter Disco (2007). Vídeo.

Birdemic: Shock and Terror (2010) de James Nguyen. Pássaros se rebelam contra a humanidade. A produção virou cult por ser tão ruim. Vídeo.

El Monstro del Mar! (2010) de Stuart Simpson. Três assassinas enfrentam um monstro marinho. Outro exemplo de SOV muito bem produzido. Vídeo.

Nasty Nancy (2010) de Sandi Mance. Numa escola onde os professores resolvem tudo com sexo, uma estudiosa aluna se vinga, violentamente, de uma nota baixa. Produção fantástica. Recomendo! Vídeo.

O Tormento de Mathias (2011) de Sandro Debiazzi. As confusões num hospício muito louco. Joel Caetano e Felipe M. Guerra estão no elenco. Vídeo.

Confinópolis (2012) de Raphael Araújo. Sci-fi com ótimo aproveitamento de cenários. Um ditador oprime o povo. Vídeo.

Rat Scratch Fever (2012) de Jeff Leroy. Ratos gigantes do espaço atacam Los Angeles. Com efeitos especiais fuleiros é diversão garantida. Vídeo.

Breeding Farm (2013) de Cody Knotts. Após uma noitada de festa quatro amigos acordam presos num porão, onde estranho homem tem uma fazenda humana. Vídeo.

Hi-8 (Horror Independent 8) (2013) de Ron Bonk, Donald Farmer, Marcus Koch, Tony Masiello, Tim Ritter, Chris Seaver, Todd Sheets e Brad Sykes. Longa em episódios que reúne alguns dos nomes de maior destaque na história das produções americanas de Shot on Video.

Sinister Visions (2013) de Henric Brandt, Doug Gehl, Andreas Rylander e Kim Sonderholm. Longa em episódios com trabalhos dos USA, Inglaterra, Suécia e Dinamarca. Vídeo.

Gore Short Films Anthology Part 2 (2015) de Jeff Grienier, Rob Ceus, Sam Bickle, Jim Roberts, Colin Case, Alexander Sharglaznov, Fuchi Fuchsberger, Petter Baiestorf e Esa Jussila. Coletânea de curtas com representantes do SOV mundial atual organizada por Yan Kaos para lançamento em DVD no Canadá. São curtas do Canadá, Bélgica, USA, Russia, Alemanha, Brasil e Finlândia. 2000 Anos Para Isso? (1996) é o curta representante do Brasil.

Zombio 2: Chimarrão Zombies (2013) de Petter Baiestorf. Em um holocausto zumbi os humanos são o maior problema de todos. Miyuki Tachibana e Raíssa Vitral no elenco. Vídeo.

13 Histórias Estranhas (2015) de Fernando Mantelli, Ricardo Ghiorzi, Claudia Borba, Petter Baiestorf, Marcio Toson, Cesar Souza, Taísa Ennes Marques, Rafael Duarte, Gustavo Fogaça, Renato Souza, Léo Dias, Paulo Biscaia Filho, Felipe M. Guerra, Filipe Ferreira e Cristian Verardi. Longa em episódios que reúne alguns dos principais nomes do SOV brasileiro. Vídeo.

Pazúcus – A Ilha do Desarrego (2017) de Gurcius Gewdner. Casal de lunáticos enfrenta a mãe natureza com seus cocôs mafiosos. Vídeo.

Termitator (2017) de Roxane De Koninck, Camille Monette e Keenan Poloncsak. Um mutante extermina jovens que vão passar alguns dias em cabana na floresta. Vídeo.

Astaroth (2017) de Larissa Anzoategui. A demônia Astaroth se envolve com tatuadores e rockistas para cooptar almas humanas. Vídeo.

O Mito do Silva (2018) de Fabiano Soares. Ótima produção política lançada às vésperas da eleição presidencial de 2018. Aqui Soares alerta para o crescimento do fascismo no Brasil. Vídeo.

Contos da Morte 2 (2018) de Vinicius Santos, Ana Rosenrot, Cíntia Dutra, Danilo Morales, Diego Camelo, Janderson Rodrigues, Larissa Anzoategui e Lula Magalhães. Antologia com vários episódios de horror, reunindo alguns dos principais diretores do novo SOV brasileiro. Vídeo.

Escrito por Petter Baiestorf.

Arrepios Sangrentos do Cinema (1960-1980)

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 8, 2018 by canibuk

O cinema sempre foi terreno fértil para a exploração do corpo. Se nas décadas de 1950 e 1960 o cinema era mais sugestivo do que apelativo (mas com a sci-fi e seus monstros e aliens deformados já apontando os rumos que a nova audiência exigia), foi na ressaca da contracultura, nos anos de 1970, que o cinema foi tratando de ficar mais explícito e cínico, culminando numa explosão de corpos monstruosos/pegajosos nas telas do cinema da década de 1980, onde a crítica social-niilista-pessimista da década anterior cedeu lugar à auto paródia do terrir.

Podemos afirmar que a auto paródia que o cinema dos anos de 1980 viveu, principalmente o americano, tem suas raízes nos filmes da dupla H. G. Lewis e David F. Friedman, principalmente na trinca de goremovies “Banquete de Sangue” (Blood Feast, 1963), “2000 Maníacos” (2000 Maniacs, 1964) e “Color Me Blood Red” (1965), que aproveitaram para extrapolar, para deleite do jovem público de drive-ins, o bom gosto estético, aproveitando até mesmo idéias de mortes exageradas dadas por seus filhos pré-adolescentes. O corpo humano deixava de ser um templo sagrado e, agora, estava disponível para todo o tipo de mutilações que os técnicos de efeitos especiais conseguissem elaborar. E mais, agora o tabu do canibalismo também caia por terra e o corpo humano servia de alimento às sádicas personagens.

No final dos anos de 1950 e início dos anos de 1960, a cinematografia gore ainda foi discreta, com obras como “First Man Into Space (1959), de Robert Day, sobre um astronauta que começa a derreter e que foi a inspiração para a produção do clássico “O Incrível Homem Que Derreteu” (The Incredible Melting Man, 1977, de William Sachs. “Inferno” (Jigoku, 1960), de Nobuo Kakagawa, tomou como inspiração o inferno concebido por Dante e ousou mostrar, em cores, os horrores explícitos de um purgatório onde os pecadores sofriam todo tipo de violência na carne. “Six She’s and A He” (1963), de Richard S. Flink, contava a história de um astronauta feito de prisioneiro por uma tribo de lindas mulheres que costumavam realizar incríveis banquetes com os membros decepados de seus algozes. “Six She’s and A He” é uma espécie de irmão bastardo dos filmes da dupla Lewis-Friedman, já que seu roteirista é o ator William Kerwin, que atuou em “Blood Feast” e “2000 Maniacs” usando o pseudônimo de Thomas Wood. “Está Noite Encarnarei no teu Cadáver” (1967), de José Mojica Marins, à exemplo de “Jigoku”, também mostrava em cores os horrores do inferno com muitos membros decepados, sofrimentos diversos e inventivos demônios feito com parte dos corpos de seus alunos de curso de cinema.

No ano seguinte o horror ficou ainda mais explícito com duas obras seminais: Mojica realizou um banquete canibal em seu longa de episódios “O Estranho Mundo de Zé do Caixão” (1968), no episódio “Ideologia”, e o Cult “A Noite dos Mortos-Vivos” (The Night of the Living Dead, 1968), de George A. Romero, que trazia o canibalismo explícito para as telas com a virulenta modernização dos zumbis, desta vez se deliciando com tripas e toda variedade de carne humana, de crua à carbonizada, dando apontamentos do caminho que o cinema de horror viria a tomar nos anos seguintes.

Jigoku (1960)

Charles Manson e a Família haviam acordado a América de seu “American Way of Life” e os horrores do Vietnã eram televisionados nos jornais do café da manhã, toda uma geração insatisfeita queria voz. Na década de 1970 o cinema de horror ficou mais insano, pessimista e violento para com as instituições oficiais. Jovens cineastas perceberam, ensinados por H.G. Lewis e George A. Romero, que o cinema independente era o caminho natural para adentrar no mundo das produções cinematográficas, e o melhor, o horror niilista tinha público fiel ávido por “quanto pior melhor”.

Tom Savini em Dawn of the Dead (1978)

Inspirados por Charles Manson e “A Noite dos Mortos-Vivos”, no Canadá, a dupla Bob Clark e Alan Ormsby profanaram os defuntos com seu clássico “Children Shouldn’t Play With Dead Things” (1972), podreira sobre um grupo de degenerados comandados por uma espécie de guru fake a la Manson que desenterram alguns corpos num cemitério isolado e realizam um verdadeiro show de barbaridades e imaturidade. Aliás, Ormsby deve ser atraído por personalidades problemáticas, já que na seqüencia realizou o clássico “Confissões de um Necrófilo” (Deranged, 1974), co-dirigido por Jeff Gillen, inspirado na figura do psicopata Ed Gein e que, na minha opinião, é a melhor abordagem cinematográfica já feita sobre Gein, que inspirou, entre outros, também os clássicos “Psicose” (Psycho, 1960), de Alfred Hitchcock, e “O Massacre da Serra-Elétrica” (The Texas Chainsaw Massacre, 1974), a obra-prima de Tobe Hooper, realizado no mesmo ano de “Deranged” e que contava com efeitos do ex-fotografo de guerra Tom Savini, que se inspirava nos horrores reais que presenciou para criar as maquiagens mais podreiras possíveis. Os corpos dos mortos agora não eram mais sagrados, podiam alimentar psicopatas dementes ou, até, se tornarem grotescas obras de arte ou peça de happenings.

O público clamava por histórias mais adultas, além da violência explícita, o sexo também gerava curiosidade. Andy Warhol e Paul Morrissey foram para a Europa filmar, com ajuda do italiano Antonio Margherity, “Carne para Frankenstein” (Flesh for Frankenstein, 1974), uma releitura sexual-splatter de Frankenstein de Mary Shelley, com litros de sangue, referências à necrofília e abordagem erótica da história do cientista que brincava de Deus, dando especial atenção ao detalhes sórdidos e eróticos. No Canadá David Cronenberg previa as epidemias de doenças sexualmente transmissíveis ao realizar “Calafrios” (Shivers, 1975), com roteiro sério que discutia o sexo, sem deixar de incluir taras, fetiches e doenças como a pedofília em roteiro genial (o final do filme continua poderoso).

De volta à América, o cineasta underground Joel M. Reed lançou em 1976 o perturbador e doentio “Bloodsucking Freaks” (The Incredible Torture Show), com a personagem de Sardu, ajudado por um anão tarado, que raptava jovens mulheres que se tornavam deliciosas iguarias para seus banquetes explícitos onde até mesmo sanduíches de pênis era devorados. Ainda em 1976, os exageros do cinema gore se encontraram com a falta de limites do mundo da pornografia e o jovem Michael Hugo cometeu o, ainda hoje, obscuro “Hardgore”, uma carnificina envolvendo sexo explícito com todo o tipo de perversões na história de uma inocente mocinha internada numa instituição mental. “Hardgore” parecia preparar terreno para “Cannibal Holocaust” (1980), do italiano Ruggero Deodato, produção que extrapolou qualquer limite do bom gosto ao assassinar, em frente às câmeras, todo tipo de animais, incluindo a famosa cena da tartaruga, filmada com verdadeiros requintes de crueldade.

Mas um pequeno curta independente, filmado em super 8 por um grupo de amigos, anunciava que o cinema de horror voltaria a ficar mais artístico (sem assassinatos reais ou pornografia): “Within the Woods” (1978), de Sam Raimi, produzido com os amigos Robert Tapert e Bruce Campbell, era um ensaio para a produção do Cult “A Morte do Demônio” (Evil Dead, 1981), que influenciaria meio mundo nos anos de 1980 e 1990 com sua ensandecida história envolvendo jovens possessados por demônios numa cabana isolada. O cinema de horror começava a sair dos cinemas pulgueiros para tomar de assalto toda uma nova geração que descobriria os filmes malditos com o videocassete.

De certo modo “Evil Dead” preparava o público para a exploração do corpo que o cinema da década de 1980 realizou. Nunca na história da indústria cinematográfica tivemos outra época tão rica na exploração de anomalias, doenças, mutações e toda uma rica gama de deformações genéticas. Era a época da disco, da cocaína acessível e barata, do “viva rápido, morra jovem”, então… Pro inferno com a seriedade, o negócio agora era a auto paródia e o cinema de horror, principalmente o americano, soube não se levar em sério e por toda a década de 1980 cineastas como Lloyd Kaufman, Stuart Gordon, Dan O’Bannon, Fred Deker, Roger Corman, Fred Olen Ray, Jim Wynorski, entre outros, conseguiram passar através de seus filmes o clima de curtição que os anos de 1980 possuíam.

por Petter Baiestorf

Veja os trailers aqui:

Outros Posters:

The Incredible Melting Man

El Pantano de los Cuervos

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on outubro 13, 2016 by canibuk

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El Pantano de los Cuervos (“The Swamp of the Ravens”, 1974, 83 min.) de Manuel Caño. Com: Ramiro Oliveros, Marcia Bichette e Fernando Sancho.

el-pantano-de-los-cuervosEssa co-produção entre os países Espanha/Equador me impressionou de uma maneira bastante positiva. A muitos anos que ouvia sobre essa produção e a imaginava um daqueles filmecos apenas divertidos. Mas não, além de divertido, “El Pantano de los Cuervos” é sujão, pesado e muito eficiente no seu clima de desespero ao contar a história de um médico que dá as costas para a ética profissional da medicina e realiza experiências nada convencionais para provar que a morte é uma evolução do ser humano. Como toda boa produção exploitation o filme tenta agradar várias parcelas do público apresentando pequenas doses de deficientes físicos reais, nudez feminina, uma autopsia real (no Equador, pelo visto, é possível comprar um cadáver real para fins cinematográficos), zumbis no pântano dos corvos (que são urubus e não corvos), médicos loucos, necrofilia (mas não espere nada tão explícito quanto no alemão “Nekromantik”) e uma belíssima canção brega cantada num cabaré que fala sobre o amor a um manequim fazem deste filme um item obrigatório na coleção de qualquer cinéfilo fã de bons delírios psychotrônicos.

el-pantano-de-los-cuervos_frameManuel Caño, que assina “El Pantano de los Cuervos” com o pseudônimo Michael Cannon, havia realizado alguns dramas em parceria com Silvio F. Balbuena (“Siempre em mi Recuerdo”, 1962, e “Sonría, Por Favor”, 1964) antes de conhecer Umberto Lenzi e seu roteiro para a aventura “Tarzán em La Gruta Del Oro/Zan, O Novo Rei das Selvas” que contava a história de um prestativo Tarzan ajudando belas amazonas (com destaque à bela Kitty Swan no papel da rainha amazona) em sua luta contra gangsters que queriam roubar o ouro sagrado da tribo de beldades. O pequeno sucesso comercial desta aventura foi o suficiente para que Caño e o roteirista Santiago Moncada repetissem a dose com “Tarzán y El Arco Iris” (1972), outra aventura de Tarzan, desta vez com Peter Lee Lawrence – habitual pistoleiro em westerns – no elenco. Mas os anos de 1970 estavam a pleno vapor e o cinema de horror era barato de se produzir e com distribuição/público garantidos. Com isso em mente a dupla Caño-Moncada realizou a dobradinha “El Pantano de los Cuervos” e “Vodú Sangriento” (1974), este último uma chupação de “The Mummy/A Múmia” (1932) de Karl Freund onde um poderoso sacerdote vodu do Caribe (interpretado pelo ator Aldo Sambrell que, também, esteve no elenco dos clássicos “Per um Pugno di Dollari/Por um Punhado de Dólares” e “Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo/Três Homens em Conflito”, ambos de Sergio Leone) revive num transatlântico de luxo e decapita várias pessoas. Sem muito sucesso no horror, Caño realiza ainda a comédia “A Mí Qué me Importa Que Explote Miami” (1976) e os obscuros “Perro de Alambre” (1980) e “Carta a Nadie” (1984), filmes que ficaram restritos ao mercado espanhol.

frameSantiago Moncada nasceu em 1928 em Madrid. Foi roteirista, dramaturgo e, durantes anos, presidente da Sociedad General de Autores y Editores da Espanha. Foi autor de mais de 50 obras para o teatro e uma infinidade de roteiros para o cinema espanhol. Entre seus maiores sucessos estão filmes como “Il Rosso Segno Della Follia/O Alerta Vermelho da Loucura” (1970) de Mario Bava; “La Última Señora Anderson/A Quarta Vítima” (1970) de Eugenio Martín; “Tutti i Colori Del Buio” (1972) de Sergio Martino que trazia uma história de Moncada roteirizada por Ernesto Gastaldi; o incrivelmente genial “Condenados a Vivir/Cut-Throats Nine” (1972), western sobre a cobiça humana dirigido por Joaquín Luis Romero Marchent; “Il Bianco Il Giallo Il Nero/O Último Samurai do Oeste” (1975) de Sergio Corbucci, spaghetti western em ritmo de comédia estrelado pelo trio Giuliano Gemma – Tomas Milian – Eli Wallach; sem contar os delirantes trashes “La Esclava Blanca” (1985); “Juego Sucio em Casablanca” (1985) e “Las Últimas de Filipinas” (1986), todos com direção do mestre Jesus Franco e seu estilo “um novo filme a cada semana”.

“El Pantano de los Cuervos” continua inédito em DVD no Brasil. Nos USA saiu em Double feature com “The Thirsty Dead” (1974) de Terry Becker.

Por Petter Baiestorf para seu livro “Arrepios Divertidos”.

Assista “El Pantano de los Cuervos” aqui:

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Baixe a Praga Zumbi aqui e Boas Festas na Alegria Gorechanchadesca

Posted in Cinema, download, Manifesto Canibal, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on outubro 6, 2016 by canibuk

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Zombio (1999) é considerado o primeiro filme autenticamente brasileiro de zumbis*, então nada mais natural do que reunir a mesma equipe 14 anos depois, acrescida de novos talentos da gorechanchada celebrada pela Canibal Filmes,e realizar a continuação daquela modesta produção fundo de quintal.

Veja trailer de “Zombio” aqui:

Zombio 2: Chimarrão Zombies” surgiu quase que por acidente. Eu vinha de projetos frustrados nos últimos 2 anos (em 2011 abortei o projeto “Páscoa Sarnenta”, longa episódico, por falta de dinheiro – mas tudo foi registrado pelo cineasta Felipe M. Guerra e pode virar um documentário ainda –  e em 2012 foi extremamente caótico, quando tentei produzir dois médias – “Rabo por Rabo” e “Psicose Tropical” – que nem saíram do papel) e dois fatores me influenciaram a produzir “Zombio 2”:

1- O lançamento em DVD de “Zombio 1” nos USA (que depois foi suspenso porque a distribuidora fechou);

2- Em 2012 fui ator no longa-metragem “Mar Negro”, de Rodrigo Aragão, e numa pausa das filmagens falei zoando que ia voltar pra Santa Catarina e produzir um longa de zumbis pra lançar no mesmo final de semana de “Mar Negro”.

zombio-2_cartazSó que fiquei matutando a ideia na cabeça e percebi que havia a possibilidade de conseguir realizar “Zombio 2” a tempo de lançar junto com “Mar Negro” durante o FantasPoa de 2013, fazendo uma espécie de dobradinha “Tropical Zombies” made in Brazil pra gringo ver. Só com a ideia na cabeça falei com os Fantaspoas (Nicolas e JP) e eles guardaram uma data pro lançamento. Então fiz um poster bagaceiro pra registrar a ideia e Leyla Buk desenhou o Storyboard de uma cena que eu iria incluir no roteiro – ainda não escrito – e comecei a reunir investidores e a equipe-técnica para 2 blocos de filmagens (que juntos representaram 23 dias de trabalhos duros). É uma tensão muito grande você ter até data de lançamento de um filme já confirmada e ainda não ter roteiro, nem dinheiro, nem equipe, nem data para iniciar as filmagens, mas foi um exercício de produção interessante.

zombio-2-pEntre dezembro de 2012 e janeiro de 2013, escrevi o roteiro, consegui 9 produtoras para me apoiarem financeiramente e com equipamentos – El Reno Fitas, Camarão Filmes e Ideias Caóticas, SuiGeneris Filmes, Bulhorgia Produções, Shunna, Fábulas Negras Produções, Necrófilos Filmes, Zumbilly e Gosma – e levantei uns 40 mil reais. Em fevereiro já estávamos filmando nossos zumbis tropicais com todas as alegres cores da morte. Entre o primeiro e o segundo bloco achei que não seria possível conseguir finalizar o longa até a data do Fantaspoa (em maio de 2013), porque tivemos que marcar o segundo bloco de filmagens pra abril de 2013. Mas os FantasPoas pediram pra manter a data. Bem, voltamos pro set e terminamos as filmagens, imediatamente após o término voei pro Rio de Janeiro e fiquei trancado com Gurcius Gewdner durante 18 dias montando o filme (ele foi todo filmado com duas câmeras, quase 1 terra de material bruto) e, faltando 3 dias pro lançamento no FantasPoa 2013, conseguimos finalizar o primeiro corte do longa. Foi uma aventura muito divertida.

Veja o trailer de “Zombio 2” aqui:

E agora estou disponibilizando para download uma cópia de “Zombio 2: Chimarrão Zombies”, em baixa qualidade, para que você possa conhecer essa produção que nasceu quase por acaso. Se você quiser o filme em maior qualidade pode comprar pela loja MONDO CULT.

Para baixar o filme, clique no título: ZOMBIO 2: CHIMARRÃO ZOMBIES. E ajude a espalhar essa praga zumbi para todos os cantos do planeta Terra.

Por Petter Baiestorf.

*tem alguns outros filmes de zumbi filmados antes de Zombio (1999), mas são produções que não saíram de suas cidades. Eu mesmo, em 1993, havia lançado “Criaturas Hediondas” onde um zumbi marciano dá as caras. Em 1996 criei um zumbi sedento por drogas no “Blerghhh!!!” (cujo diário de filmagens você pode ler clicando aqui). Mas Zombio foi o primeiro com hordas de mortos-vivos podres comendo pessoas explícitamente, como num bom filme de Lucio Fulci.

A Eletrizante Noite dos Arrepios Hilários

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on setembro 26, 2016 by canibuk

Night of the Creeps (“A Noite dos Arrepios”, 1986, 88 min.) de Fred Dekker. Com: Tom Atkins, Jason Lively, Bruce Solomon, Steve Marshall. Jill Whitlow, David Paymer, Robert Kerman e Dick Miller.

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Eis um filme que considero perfeito. No espaço uma dupla de aliens perseguem membro de sua tripulação que ejeta no espaço uma cápsula contendo alguns perigosos parasitas. Claro que essa cápsula cai no planeta Terra, no ano de 1959, exatamente no local onde um psicopata estava retalhando garotas de um campus universitário. Pulo para 1986 onde, na Universidade de Corman, o calouro Chris Romero (Jason Lively), contando com ajuda de seu amigo James Carpenter Hooper (Steve Marshall), conhece Cynthia Cronenberg (Jill Whitlow) e resolve entrar para a fraternidade Beta a fim de impressionar a menina. Assim a dupla de desajeitados heróis é incumbida pelos Betas a roubar um cadáver, o que os leva até um laboratório criogênico onde descongelam um corpo infestado de parasitas alienígenas, dando início a um espetáculo “B” que envolve corpos re-animados, um assassino zumbi, o perturbado policial Ray Cameron (Tom Atkins), cérebros frescos e o criativo uso de um cortador de grama para matar zumbis (cena que anos depois Peter Jackson levaria a extremos gore em sua obra-prima “Braindead/Fome Animal”).

night-of-the-creeps2Com personagens cujos nomes são homenagens a grandes diretores do gênero fantástico, “Night of the Creeps” é uma das melhores reverências do cinema moderno aos clássicos de horror do passado. Sua mistura de sci-fi com horror homenageia de forma certeira filmes de zumbis, slashers, alienígenas e parasitas dos mais diversos. Parece que o diretor pensou: “Se não conseguir fazer um novo filme já terei misturado tudo que gosto neste!”. E o filme é uma feliz colcha de retalhos do diretor Fred Dekker em que tudo funciona muito bem, resultando num cult movie exemplar. Fiquem atentos à homenagem ao “Plan 9 From Outer Space” (1959) de Ed Wood, quando o detetive Ray Cameron apanha uma flor em frente a fraternidade e a cheira, remetendo diretamente a cena de Bela Lugosi no clássico trash (tudo bem, há duas homenagens ao “Plan 9”, já que vemos uma cena do filme original na TV segundos antes da personagem que assiste ser feita em picadinho pelo psicopata re-animado, tudo isso uma década antes de “Ed Wood” de Tim Burton). E a título de curiosidade, numa cena no banheiro onde a personagem James enfrenta os parasitas, é possível ver pixado na parede o nome “Monster Squad”, título do filme seguinte de Dekker.

night-of-the-creeps4Imagino que as filmagens de “Night of the Creeps” tenham sido bem divertidas a se julgar pelo elenco e participações especiais. Entre as personagens principais temos Tom Atkins (que esteve no elenco de inúmeros clássicos, como “The Fog/A Bruma Assassina” (1980), “Escape from New York/Fuga de Nova York” (1981), ambos de John Carpenter, e outras diversões como “Creepshow” (1982) de George A. Romero, “Halloween 3” (1982) de Tommy Lee Wallace e “Maniac Cop” (1988) de William Lustig); Jason Lively (de filmes como “Brainstorm/Projeto Brainstorm” (1983) de Douglas Trumbull e “Hollywood Monster/Ghost Chase” (1987) de Roland Emmerich); Bruce Solomon (que fez sua estréia no clássico “Children Shouldn’t Play With Dead Things” (1973) de Bob Clark); David Paymer (que é um rosto freqüente nos elencos de apoio de Hollywood, já tendo aparecido em mais de 150 produções) e o lendário Dick Miller (presente em mais de 170 produções, tendo iniciado sua carreira pelas mãos de Roger Corman em “Apache Woman/Pistoleiro Solitário” (1955) e sempre aparecendo em papéis bem divertidos em uma infinidade de filmes legais, que destaco “The Little Shop of Horrors/A Pequena Loja dos Horrores” (1960) de Roger Corman, “Piranha” (1978), “The Howling/Grito de Horror” (1981), “Gremlins” (1984), os três de Joe Dante, e “The Terminator/O Exterminador do Futuro” (1984), de James Cameron, e que continua na ativa tendo aparecido no novo Joe Dante, “Burying the Ex”, de 2014). Mas isso não é só, entre as participações especiais vemos o ator Robert Kerman (mais conhecido pelo papel da personagem “Monroe” no clássico “Cannibal Holocaust” (1980) de Ruggero Deodato e seus filmes pornográficos onde atuava com o pseudônimo de Richard Bolla); Robert Kino (ator veterano) que interpreta o hilário “Sr. Miner”); Chris Dekker (irmão do diretor); os diretores Craig Schaefer, como um policial no laboratório, e Shane Black (roteirista de “The Monster Squad” e diretor de “Iron Man 3/Homem de Ferro 3”) não creditado. O melhor são os figurantes que interpretam os “Beta Zombies”, quase todos são técnicos de maquiagens e efeitos especiais, com destaque para Robert Kurtzman (que foi o cara que deu o primeiro emprego pago para Quentin Tarantino), Howard Berger, David B. Miller, Earl Ellis e Ted Rae dão as caras para os zumbis do final do filme. E por último, não menos importante, Greg Nicotero também aparece rapidamente no filme. Uma verdadeira delícia para cinéfilos este tipo de brincadeira.

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Dick Miller

fred-dekkerFred Dekker, nascido em 1959, começou com o pé direito dirigindo este pequeno clássico e seu filme seguinte, “The Monster Squad/Deu a Louca nos Monstros” (1987), duas lindas homenagens ao cinema de horror. Se no primeiro Dekker se concentrou em fazer uma re-leitura do horror sci-fi acrescentando boas doses de delírios típicos da década de 1980, no segundo seu olhar foi mais nostálgico com uma história que resgatava os monstros clássicos da Universal. Nada mal se um certo Robocop não tivesse cruzado seu caminho. Com a bola toda nos estúdios de Hollywood (Dekker também foi roteirista do sucesso “House/A Casa do Espanto” (1986) de Steve Miner), foi contratado para dirigir “Robocop 3” e, com um roteiro pra lá de infantilóide, foi um tremendo fracasso que sepultou de vez sua carreira. Atualmente Dekker cogita retornar a direção com uma seqüência de seu Cult “Night of the Creeps”, com orçamento pequeno e produção independente.

night-of-the-creeps3Entre os maquiadores da equipe de “Night of the Creeps”, que realizaram um grande trabalho neste filme, estão Howard Berger e Robert Kurtzman (juntos de Greg Nicotero, criaram a fantástica empresa de maquiagens KNB EFX Group Inc. que aterrorizou muitos cinéfilos nos anos 90), Shaw McEnroe (que esteve nas equipes de maquiagens de clássicos como “Humanoids from the Deep/Criaturas das Profundezas” (1980) de Barbara Peeters, “The Howling” (1981) de Joe Dante, “Na American Werewolf in London/Um Lobisomem Americano em Londres” (1981) e “Thriller” (1983), ambos de John landis, e “Videodrome” (1983) de David Cronenberg) e David B. Miller (que foi o responsável pela criação dos parasitas alienígenas do filme).

“Night of the Creeps” as vezes é exibido com seu final alternativo (onde os aliens do início reaparecem para capturar os parasitas). Está disponível em DVD no Box “Zumbis no Cinema Vol. 1” lançado pela distribuidora Versátil.

Escrito por Petter Baiestorf para livro “Arrepios Divertidos”.

Veja o trailer de “Night of the Creeps”:

Storyboard de uma cena de Zombio 2: Chimarrão Zombies

Posted in Nossa Arte, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on dezembro 21, 2012 by canibuk

Em primeiro lugar quero pedir desculpas aos leitores do Canibuk pela falta de atualizações (colaborações de qualidade são bem vindas e serão publicadas), mas como todos sabem estou trabalhando na pré-produção do meu novo longa-metragem e o tempo livre pro blog tem sido nulo. Acho que após abril (que é quando quero editar o filme com o Gurcius Gewdner) tudo voltará ao normal aqui. Mesmo assim, em breve, publicarei pequenos artigos sobre filmes independentes (filmes como “Psicofaca – O Maníaco das Facas”, filmado em Iraí/RS, “Punhos em Ação” e “No Rastro da Gang”, de José Sawlo, cineasta de Queimadas/PB) e algumas HQs, como “Transação Macabra”, a pedidos).

Chibamar Bronx.

Chibamar Bronx.

A pré-produção do “Zombio 2: Chimarrão Zombies” segue com Coffin Souza elaborando os efeitos de maquiagens gores (nas filmagens contaremos com o maquiador Alexandre Brunoro, do “Confinópolis“, nos ajudando), Leyla Buk desenhando os figurinos e storyboard de algumas seqüências do filme e eu, Gisele Ferran e Elio Copini correndo atrás de outros detalhes.

Yoko.

Yoko.

A produção de “Zombio 2” é um pouco maior do que dos meus filmes anteriores, estou atrás de dinheiro que nos ajude a fazer este filme com maiores cuidados, se você tem interesse em nos ajudar, leia “Como Investir no Zombio 2” e entre em contato comigo no e-mail baiestorf@yahoo.com.br

Klaus.

Klaus.

As possibilidades de se fazer um filme ultra gore, divertido e cheio de referências a cultura underground são infinitas e “Zombio 2” vai seguir nesta linha! Para o elenco já temos confirmado Airton Bratz repetindo o papel do detetive Chibamar Bronx, Miyuki Tachibana no papel da viúva negra Yoko, Coffin Souza no papel do mendigo debochado Klaus, Elio Copini no papel do faconeiro Américo Giallo e Gisele Ferran no papel da sexy Nilda Furacão. Como diretor de fotografia teremos o genial Leo Pyrata que já fez inúmeros filmes de arte lindos. E o filme contará ainda com inúmeras participações especiais que vou divulgando em postagens futuras.

Nilda Furacão.

Nilda Furacão.

Segue o storyboard da seqüência 24 desenhado pela Leyla Buk, ansioso por começar as filmagens de mais este pequeno filme de guerrilha repleto de vísceras, humor cafajeste e nudez gratuita para as comemorações de 20 anos de produções da Canibal Filmes.

Por Petter Baiestorf.
Ilustrações e Storyboard de Leyla Buk.

Seq. 24_1

Seq. 24_2

Seq. 24_3

Seq. 24_4

Horrophobic

Posted in Fanzines with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on outubro 8, 2012 by canibuk

Em toda a Europa e USA é comum ver a publicação de fanzines com cara de revistas. Nos anos de 1990 a quantidade de publicações voltadas ao cinema trash, obscuros ou independentes era absurda (Psychotronic, Draculina, Alternative Cinema, Quatermass, 2000 Maniacs, European Trash Cinema, Shock, Cult Cinema, Oriental Cinema, Scream Beat, Scream Queens Illustrated, Horror Garage, Fatal Vision, só prá citar algumas que lembrei de cabeça e que era leitor), e nestes dias pós-internet boas surpresas continuam surgindo pelo fabuloso mundo underground dos filmes obscuros, como é o caso do ótimo fanzine sueco “Horrophobic” que traz em suas páginas matérias e entrevistas com realizadores de cinema extremo. Recebi os dois primeiros exemplares do fanzine e degustei tudo na mesma hora, como um zumbi faminto por cérebros fresquinhos!

No primeiro número de “Horrophobic”, feito em memória do genial Lucio Fulci, já nos deparamos com a matéria “Zombies! Zombies! Zombies!” que resenha três filmes independentes: “Silent Night, Zombie Night” (2009) de Sean Cain, “I Am Omega” (2007) de Griff Furst e “The Dead” (2010) de Howard J. Ford e Jonathan Ford. Logo depois o diretor Marc Rohnstock (de filmes como “Graveyard of the Living Dead” e “Necronos”) e a atriz Magdalèna A. Kalley (que já trabalhou em filmes de Andreas Schnass e outros diretores de gore movies alemães) são entrevistados. Como o gore alemão é o assunto principal deste número, há resenhas de filmes de Schnass, Marcel Walz, Michael Donner, Heiko Fipper e Olaf Ittenbach. Há ainda uma excelente matéria sobre crocodilos assassinos que destaca filmaços como “Killer Crocodile” (1989) de Fabrizio de Angelis, “Killer Crocodile 2” (1990) de Giannetto de Rossi, “Blood Surf” (2000) de James D.R. Hickox, “Alligator” (1980) de Lewis Teague, “Mega Shark Vs. Crocosaurus” (2010) de Christopher Ray, entre outros. E fechando este primeiro número temos uma entrevista com o colecionador de filmes Peter Ryberg Larsen e muitas outras resenhas de filmes independentes maravilhosos.

Já no segundo número, com mais páginas e formato maior, o editor Tomas Larsson caprichou mais ainda. Abre a revista com uma série de resenhas intitulada “Slasher or Not Slasher?” com informações sobre produções independentes como “Hoboken Hollow” (2006) de Glen Stephens, “Room 33” (2009) de Edward Barbini, “Curtains” (1983) de Richard Ciupka e fecha com uma resenha do clássico gore “The Mutilator/O Mutilador” (1986) de Buddy Cooper. A festa segue com uma entrevista com Luigi Pastore (diretor de “Symphony in Blood Red”); um artigo sobre Alexandra Della Colli (atriz de clássicos do gore italiano como “Zombie Holocaust” (1980) de Marino Girolami e “New York Ripper” (1982) de Lucio Fulci) e uma entrevista com Alex Wesley, diretor russo que realizou um filme de zumbis chamado “Zombie Infection”. Aí tem a segunda parte da matéria sobre filmes gore da Alemanha, com resenhas de filmes de diretores como Maik Ude (“The Butcher”, 1986), Andreas Pape (“Hunting Creatures”, 2001) e Andreas Bethman (“Exitus Interruptus”, 2006). Assim como no primeiro número de “Horrophobic”, este segundo exemplar traz um divertido apanhado de filmes com abelhas assassinas com informações sobre produções como “The Swarm/O Enxame” (1978) de Irwin Allen, “Killer Bee” (2005) de Norihisa Yoshimura, “Killer Bees” (1974) de Curtis Harrington, “The Deadly Bees” (1967) de Freddie Francis e muitos outros filmes onde as abelhas se revoltam contra a humanidade comedora de mel. Fechando o fanzine há uma entrevista com o diretor independente Mike O’Mahony, criador de podreiras como “Deadly Detour” e “Sloppy the Psychotic”; mais algumas resenhas de filmes obscuros e uma espécia de making off de “Die Zombiejäger” do diretor Jonas Wolcher.

“Horrophobic” é um fanzine imperdível, se você ficou interessado entre em contato com o editor Tomas Larsson via facebook (ou entre no grupo da Horrophobic). Entre os colaboradores do fanzine está Greigh Johanson que edita o ótimo blog Surreal Goryfication. Imperdível!!!

dica de Petter Baiestorf.

Luchadores & Monstruos!!!

Posted in Cinema, Museu Coffin Souza with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on dezembro 1, 2011 by canibuk

Se os americanos têm os super-heróis como Batman, Superman, Spiderman ou os X-Man; a Itália tem os forçudos Hércules, Maciste ou Golias (gênero chamado Peplum, aguardem); os Britânicos o super-espião James Bond, o Japão seus invencíveis samurais e super-heróis alienígenas como Ultraman, Spectreman, Jaspion e uma centena de outros, o que teria o México? Um país latino, fronteira turbulenta com uma das maiores economias do mundo, com uma herança perdida dos avançados Maias, catolicismo forçado, folclore riquíssimo e uma obsessão pela morte que beira a necrofilia; o México tem uma indústria cinematográfica que remonta ao ano de 1895, e que tomou força nos anos de 1960. O cinema de Gênero mexicano tem influência dos filmes de terror e aventura dos EUA, Itália e Inglaterra com um colorido típico, ingenuidade quase infantil e um molho caliente.

Um gênero altamente popular no México – e talvez o mais conhecido fora do país – é a “Lucha Libre”, ou filmes com heróis lutadores de ringue. As lutas profissionais foram introduzidas no país nos anos 30 pelo empresário Salvador Lutteroth, que importou da América do Norte o conceito de lutadores mascarados. A Lucha Libre se tornou um esporte bastante popular e os campeões profissionais verdadeiros ídolos da cultura em geral, tanto que até os partidos políticos mexicanos possuem seus luchadores com máscaras e cores específicas nos uniformes. A popularidade dos astros do ringue os levaram as histórias em quadrinhos e depois ao cinema, com uma diferença em relação aos super-heróis anglo saxônicos ou japoneses, o conceito de identidade secreta é levada ao extremo! Como escreveu David Wilt no seminal livro “MONDO MACABRO – Weird & Wonderful Cinema Around the World” (Pete Tombs, 1997): “Em sua forma pura, estes filmes apresentam um protagonista que é ao mesmo tempo lutador mascarado e super-herói combatente do crime… Se o playboy Bruce Wayne se transforma no Batman para combater o crime, El Santo, por exemplo, é sempre El Santo. Em seus filmes, histórias em quadrinhos e em sua carreira profissional, sua verdadeira identidade e aparência permanece um segredo fortemente guardado.”

O primeiro filme de Lucha Libre foi “Huracán Ramírez” (ou “La Bestia Magnifica”, Prodduciones Hidalgo, 1952), sobre dois irmãos que treinam para serem campeões nos ringue e um deles se volta para o mal. Com o sucesso de público, o muchacho Huracán vendeu seu nome e imagem (sua enfeitada máscara azul e branca) para os produtores e em filmes posteriores seria interpretado pelo também lutador David Silva. Do mesmo ano é o seriado “El Enmascarado de Plata” de René Cardona, com o lutador Medico Asesino enfrentando um cientista louco (também mascarado), baseado nos quadrinhos de El Santo. Existem muitas publicações que creditam este como o primeiro filme de Santo, o Mascarado de Prata, por causa da semelhança da máscara, mas depois do filme, o Medico Asesino teve que mudar a sua para uma totalmente branca. Mas afinal quem era El Santo ? Atenção! O que será contado a seguir permaneceu em segredo durante muitos anos… Santo nasceu 13 de setembro de 1915, em Turlancingo, uma pequena vila no estado de Hidalgo, México. Seu nome verdadeiro era Rodolfo Guzmán Huerta, descendente de indígenas mexicanos (como quase todos os luchadores) e começou sua carreira com o nome de Constantino, depois foi El Hombre Rojo e ainda El Murciélago Enmascarado II. Quando o verdadeiro Murciélago protestou pelo uso de seu nome, Rodolfo teve que procurar um novo nome e baseado na forte religiosidade mexicana virou o Santo. Depois que venceu seu primeiro campeonato nacional em 1942, Huerta defenderia o título até se retirar dos ringues no final da década seguinte pra se dedicar ao cinema, tornado-se uma lenda! Seus primeiros filmes foram rodados por razões econômicas em Cuba . ”Santo Contra Los Hombres Infernales” (ou “Cargamento Blanco”, 1958) e “Santo Contra El Cerebro Del Mal” (1958), ambos de Joselito Rodriguez, continham pouco dos elementos que mais tarde seriam seu sucesso; nenhuma cena de luta no ringue, nenhum elemento fantástico e mesmo El Santo aparecia muito brevemente.

Outro popular super-herói mexicano da época foi Neutron, vivido pelo ex-lutador Wolf Ruvinsksis e exibido internacionalmente (inclusive no Brasil, pela distribuidora especializada PelMex). Calcado fortemente nos modelos de heróis em quadrinhos mais tradicionais, Neutron é a identidade secreta do empresário Carlos Marquez, que para ajudar seu amigo, o jovem chefe de policia Alberto, se transforma no audaz mascarado para combater as ameaças do gênio criminoso Dr. Caronte (feito pelo também lutador Roberto Rodriguez, conhecido com sua máscara branca como Beto El Boticário!)l). Em “Neutron Contra El criminal Sádico” (“Neutron, O Mascarado Negro”, 1960); “Neutron Contra El Dr.Caronte”(1960) e “”Las Automatas de La Muerte” (1960), todos dirigidos por Federico Curiel (1917-1985), as aventuras envolvem o desenvolvimento de uma perigosa bomba de nêutrons e os autômatos criados pelo cientista para protegê-lo.

Então em 1961 foi rodado “Santo Contra Los Zombies” de Benito Alazraki, onde um vilão encapuzado trás criminosos de volta a vida e os domina por controle remoto. Santo é chamado pelas autoridades para ajudar e interrompe suas lutas para resolver o problema do seu jeito, ou seja, no soco! Estava criada uma mitologia, o lutador, que nos ringues nem sempre foi o “bonzinho”, fazendo mais o tipo que é conhecido lá por “rudo” (ou seja, um lutador vilão), agora era um esperto combatente do crime, com direito a laboratório, carros velozes e mocinhas apaixonadas. Nem todos os filmes do Santo e de outros lutadores mexicanos continham elementos de terror e ficção científica, mas foram estes os mais vistos, cultuados e de nosso interesse. Santo começou esta época uma carreira internacional e em muitos países ganhou um novo nome: nos EUA foi chamado “Samson”, na Alemanha Superheld (Super-herói), na Itália “Argos” e na França “Superman”! Em “Santo em El Hotel de La Muerte” (1961) de Federico Curiel (1917-1985), onde um assassino mascarado chamado Professor Corbera, assassina mulheres no antigo Hotel Vasco, Santo é apenas coadjuvante para a dupla Casanova & Boticario e só aparece na segunda metade do filme. Já em “Santo Contra El Cerebro Diabolico” (1962) de Federico Curiel, ele enfrenta o criminoso La sombra Negra, que para se apossar de uma mina de ouro, contrata um cientista que constrói oponentes para Santo à lá Frankenstein, com pedaços de corpos humanos. Um grande sucesso foi “Santo Contra Las Mujeres Vampiro” (“Santo Enfrenta as Mulheres Vampiro”, 1962) de Alfonso Corona Blake (1919-1999), com as deliciosas mexicanas Lorena Velazquez (Maria de La Concepción Lorena Villar Dondé, 1937) e Maria Duvall (Maria Dussange Ortiz, 1939), entre outras vampiresas que procuram uma nova rainha e descobrem que El Santo é o descendente do homem mascarado que derrotara seu culto sangrento a 200 anos.

O sucesso da fórmula levou a uma crescente multiplicação de similares que tiveram vida curta. O heróico Tormenta apareceu em “Señor Tormenta” (1962) e em “Tormenta Em El Ring” (1962); “La Sombra Blanca” (1963) foi a única aparição deste herói, assim como Gold Mask, El Enmascarado de Oro que sumiu após “El Asesino invisible” de 1963. Esperto foi o diretor René Cardona, que junto com o roteirista Alfredo Salazar decidiram dar uma “apimentada” no gênero e colocar “unas chicas” em uniformes apertados para enfrentarem monstros e cientistas malévolos. A bela Lorena Velazquez e a muito gostosa Elizabeth Campbell estrelaram “Las Luchadoras Vs. El Medico Asesino” (no Brasil “Gomar, O Monstro Assassino”, 1962) de René Cardona (1906-1988), onde um médico doido tenta transplantar um cérebro humano para o corpo de um gorila, auxiliado por Gomar, meio homem-meio macaco, fruto de uma experiência anterior. Gloria Vênus (a ex-miss México Velazquez) e sua parceira nos ringues Golden Ruby (Campbell) fizeram sucesso e retornaram em “Las Luchadoras Contra La Momia” (1964) de René Cardona, agora para combaterem a múmia rediviva da princesa asteca Xochitl que possuía o poder de se transformar em cobra ou em morcego, além de uma dupla de perigosas lutadoras de artes marciais japonesas. O filme foi um enorme sucesso na TV americana, exibido dezenas de vezes em sessões noturnas e as Luchadoras voltariam para mais aventuras anos depois.

Enquanto isto, Santo continuava suas atividades, agora envolvido com uma versão mexicana do Fantasma da Ópera. Em “Santo Contra El Estrangulador” (“Santo enfrenta o Estrangulador de Mulheres”, 1963) e “Santo Contra El Espectro Del Estrangulador” (“Santo enfrenta o Fantasma Assassino”, 1963) ambos de Alfonso Corona Blake, um ilusionista maníaco, estrangula várias beldades do Teatro de Variedades para se vingar de uma vedete que lhe deformara o rosto (Conheci o personagem Santo, quando assisti estes dois filmes em seqüencia numa reprise de um cinema pulgueira do bairro em que morava em Porto Alegre quando criança, imaginem o impacto para um “piá” de 12 anos ver esta combinação de terror, luta livre e mulheres gostosas em perigo!). Já em “Santo Em El Museo De Cera” (“Santo contra os Monstros do Museu de Cera”, 1963) do mesmo Corona Blake, nosso herói enfrenta vários monstros clássicos (Frankenstein, Quasímodo, Yeti, o Fantasma da Ópera, Barbazul) que na verdade são pessoas comuns transformadas e manipuladas pelo maligno Dr. Karol através de injeções de uma droga experimental. Santo foi chamado para dar uma força no lançamento de outro lutador popular (e oponente seu nos ringues) chamado Blue Demon. Alejandro Muñoz Moreno (22/04/1922), já havia estrelado seu primeiro filme “Blue Demon El Demonio Azul” (1963) de Chano Urueta (1904-1979) onde enfrentava um lutador transformado em lobisomem por um cientista, mas apesar da direção do criativo Urueta (“El Barón Del Terror”), a produção não chamara a atenção. Assim, em “Blue demon Vs. El Poder Satanico” (1964) de Chano Urueta, Blue, além de enfrentar um misterioso inimigo com poderes sobrenaturais, é envolvido na morte de um oponente durante uma luta. Numa participação relâmpago, El Santo entra no camarim de Blue Demon para elogiá-lo e prometer ajuda no combate ao crime. O público adorou ver o santo e o demônio juntos e foi estabelecida uma duradoura parceria. O mesmo ano marca o aparecimento da figura gigante de Mil Máscaras (Aaron Rodriguez Arellano, São Luis Potosí – 15/07/1942), fisiculturista, Mister México 1961 e participante da Olimpíada de Tóquio de 64. Mais jovem que seus colegas, Rodriguez queria ser toreador, até que assistiu uma luta com El Santo e criou sua persona para os ringues. Diferente dos outros enmascarados, ele não tinha uma máscara fixa, e sim dezenas de modelos e cores, mantendo apenas uma letra M estilizada gravada na testa. Ele também não costumava utilizar suas máscaras em público, como contou em uma entrevista para David J.Schow na revista Fangoria #148: “Quando eu vestia minha máscara, eu era o Mil Máscaras, mas quando eu a tirava, eu me transformava no empresário do Mil Máscaras!”. As primeiras aventuras do novo herói foram contra inimigos normais, em “Mil Mascaras” (1964) ele combate um bando criminoso liderado por um lutador, e em “Los Canallas” (“Anjos Infernais”, 1965) de Federico Curiel, uma gang de jovens motoqueiros delinqüentes. Aaron nunca foi fã dos diretores de cinema, que reclama gostavam de abusar e explorar os atores: “Eu acho muito mais fácil enfrentar uma platéia de 20.000 pessoas em uma arena de luta que um diretor de filmes.” (Fangoria Magazine).

Mas a busca por novos personagens (e bilheteria) continuava. O malandro Alfredo B.Crevenna (1914-1996), aproveitando a anunciada associação de Santo & Blue Demon, criou sua dupla de lutadores “místicos”, Karloff Lagarde (!?) com sua máscara vermelha com chamas saindo de uma letra S, virou Satã, seu companheiro René “Copetes” Guajardo com um A com asas (cópia do símbolo do Capitão América) e máscara azul… o Anjo! Os dois apareceram em “Los Endemoniados Del Ring” (“Os Demônios do Ringue”, l964) e em “Mano Que Aprieta” (1964). Outra tentativa foi feita pela dupla René Cardona /Abel Salazar em “Las Mujeres Pantera” (“O Anjo enfrenta as Mulheres Pantera” (1965), agora as Luchadoras encaram uma seita Druida com muchachas que são metade panteras (ecos de Cat People, de Val lewton) e são auxiliadas pelo misterioso lutador El Angel, que não é o mesmo da dupla anterior, nem o homônimo que fez uma participação no antigo terror “La Maldición de La Momia azteca” (1957), escrito por Salazar!

O sempre muito ocupado Mascarado de Prata nem tinha tempo para se preocupar com imitadores, já que enfrentava feiticeiras em “Santo em Atacan Las Brujas” (1964); ladrões de cadáveres em “Profanadores de Tumbas” (1965) e um clone do conde Drácula em “Santo Contra El Barón Brakola” (1965), todos de José Dias Morales. Então, de repente, os inimigos começaram a chegar do espaço! “Santo Contra La Invasión de Los Marcianos” (“Santo Combate os Marcianos”, 1966) de Alfredo B. Crevenna, um dos filmes mais populares (e Trash) do herói, o coloca enfrentando alienígenas altos, sarados, loiros, que praticam luta-livre e estão armados com um raio mortal que disparam de seus “olhos Astrais” (dispositivo na ridícula touca que usam ao invés de capacetes espaciais). Descontando que metade do tempo do filme são cenas de arquivo de lutas nos ringues, o que sobra da bagaceirada mexicana é realmente muito divertido. O Demônio Azul também se enfrentou com alienígenas no surpreendente “Arañas Infernales” (1966) de Federico Curiel. Quando os habitantes de um planeta habitado por avançada espécime de aracnídeos vê sua rainha definhar por falta de seu alimento principal, ou seja, cérebros, eles assumem a forma humana e passam a caçar na terra, em busca de um exemplar avançado para saciá-la. Não é que o lutador Blue Demon possui exatamente o cardápio da aranha gigante? Depois de ver seus primeiros emissários serem despachados a porradas, a gostosa líder da expedição manda chamar do distante planeta seu príncipe, que além de muito forte, tem a habilidade de transformar sua mão direita em uma aranha venenosa para enfrentar Blue no ringue. No final, graças a seu cérebro privilegiado, o lutador consegue manipular os intrincados instrumentos da nave extraterrestre, mandando os monstros literalmente para o espaço.

Em 1967 o produtor Luis Enrique Vergara (1939-2011) contratou o veterano astro de filmes de terror americano John Carradine (1906-1988) para estrelar uma série de produções chicanas, duas delas veículos para o lutador Mil Máscaras. A primeira, “Enigma de La Muerte” (na TV: ”Enigma da Morte”, 1967) de Federico Curiel é um drama de suspense que se passa em um circo e envolve um grupo de neo-nazistas liderados por um palhaço (Carradine), já “Las Vampiras” (1967) de Curiel, coloca Mil Máscaras tentando destruir um covil de mulheres sanguessugas, tão cruéis que mantêm seu líder original o Conde Drácula (Carradine), velho e enfraquecido, preso a uma jaula. O famoso conde, no entanto estava em plena forma ao ser vivido pelo galã de telenovelas vindo da Itália, Aldo Monti (1929) em “Santo Y El Tesoro de Dracula” (“Santo contra o Drácula”, 1967) de René Cardona. Quando o físico Dr. Sepúlveda inventa uma máquina do tempo e viaja nela com sua filha, acabam se encontrando com o famigerado rei dos vampiros. Salvos por Santo, eles precisam então encontrar o tesouro de Drácula nos dias de hoje para acabar com seu poder maligno. Uma versão do filme com mais cenas de sexo e nudez foi lançada para o mercado europeu como “El Vampiro Y El Sexo”. Finalmente a parceria tão esperada tem início, “Santo Contra Blue Demon em La Atlantida” (“Santo Desafia os Demônios da Atlântida”, 1968) de Julian Sóler é uma ventura de ficção científica, onde o vilão Aquiles, líder do reino perdido de Atlântida, pretende destruir o mundo e tem que enfrentar o super agente secreto X21, nada mais nada menos que El Santo, em novos tempos posando de James Bond latino. Através de poderes hipnóticos, o vilão imortal, domina Blue Demon e o lança contra seu amigo (situação repetida em outros filmes da dupla, para poderem trocar uns sopapos como na época dos ringues), mas claro que no final a justiça prevalece. Para resolver a questão dos complicados cenários futuristas da cidade perdida, o produtor Jesus Sotomayor roubou uma grande quantidade de cenas do filme japonês “Kaiju Daisenso” (1965) de Ishiro Honda, que era mais uma das aventuras do monstro Gojira e seus amigos, mas teve a honradez de incluir o nome de Eiji Tsuburaya nos créditos como responsável pelos efeitos especiais. “Santo y Blue demon en el Mundo de los Muertos” (“Santo no Mundo dos Mortos”, 1968) de Gilberto Martinez Solares (1906-1997), começa na idade média, onde a serviço da inquisição, o Cavaleiro Mascarado de Prata destrói a poderosa bruxa Dona Damiana. No séc. XX, Santo, é claro, é o descendente direto do tal cavaleiro, e a feiticeira reencarna na deliciosa Alisia (Pilar Pellicer) que conclama um exército de zumbis chamados Insepultos. Blue Demon dá uma mãozinha para resolver o imbróglio macabro.

René Cardona trás de volta Las Luchadoras para mais dois épicos, agora com um elenco diferente de chicas calientes. Em Las Luchadoras Contra El Robot Asesino” (“O Louco Criador de Monstros”, 1968), Regina Thorne (Gaby) e Malu Reyes (Gema) enfrentam a ameaça do Dr.Orlak, que além de construir um andróde perigoso, também domina um zumbi deformado chamado Karfax. “La Horripilante Bestia Humana” (“Gomar, o Homem Gorila”, 1968) também conhecido como “Horror Y Sexo”, fez fama internacional por juntar exatamente estes dois elementos: muitas garotas nuas e cenas gore de transplantes. O eminente cirurgião Dr. Krauman tenta salvar a vida de seu filho que sofre de leucemia lhe transplantando o coração de uma lutadora e lhe fazendo uma transfusão do sangue de um gorila. O rapaz recupera a saúde, mas se transforma em um monstro meio símio (que a tradução nacional faz pensar ser o mesmo Gomar, criado em 1962) e comete vários assassinatos, sendo despachado por uma saraivada de balas da polícia. Ah, sim! Também existe uma luchadora mascarada (Norma Nazareno), mas ela pouco faz além de lutar no ringue e ajudar seu noivo, o policial encarregado do caso.

A reunião de vários monstros clássicos em um mesmo filme como fez a Universal no final do seu ciclo de Terror nos anos 40, foi sempre uma grande inspiração para o cinema fantástico mexicano. Várias comédias, filmes infantis (existe até um “Chapéuzinho Vermelho e Pequeno Polegar contra os Monstros”!!?) e é claro “Santo Y Blue Demon Contra Los Monstruos” (“Santo Contra os Monstros de Frankenstein”, 1969) de Gilberto Martinez Solares. Um cientista louco (mais um…) é revivido por seu assistente anão e trás de volta um monstro de Franquestein (escrito assim mesmo…) bigodudo, um lobisomem negro, Drácula (e duas vampiras), uma múmia, um alienígena cabeçudo (que originalmente apareceu no clássico mexicano “La Nave de los Monstruos“), um ciclope e um quarteto de zumbis. Como mesmo assim ele não consegue enfrentar o intrépido mascarado de prata, ele cria ainda um clone de Blue Demon sob seu comando! Nesta época os filmes de lucha libra em geral passaram a conter mais elementos “adultos” em sua iconografia, apesar dos argumentos ingênuos e em grande parte das vezes reciclado. “Santo Em La Venganza de las Mujeres Vampiro” (“Santo Desafia a Maldição das Mulheres Vampiro”, 1969) de Federico Curiel, aposta no sex appeal das vampiras lideradas pela bela Gina Romand, mas é basicamente uma versão revisada de “Santo em Atacan Las Brujas” de 1964. O cientista louco Dr.Brancor revive a condessa vampiro Mayra (Romand), que pretende destruir Santo, por ele ser o descendente do guerreiro que empalou seus ancestrais na Transilvânia em 1630. Além dela recrutar um exército de vampiras e vampiros, o Dr. ainda dá uma forcinha criando um monstro à lá Frankenstein chamado Razos. Troca-se vampiras por bruxas e o monstro por um demônio, e o roteiro é o mesmo! Mas mesmo assim Curiel caprichou na ambientação e em detalhes, tentando reviver o clima mais gótico das primeiras aventuras em preto & branco do herói. Como a expressão “correção política” ainda não existia nesta época, a próxima aventura acabou sendo uma das mais absurdamente incorretas do mascarado. Em “Santo Contra Los Jinetes Del Terror” (1969) de René Cardona, com roteiro e idéias do também lutador Jesus Velásquez (El Murciélago), a história se passa no sec. XIX, onde um grupo de leprosos foge de um sanatório e se tornam criminosos, roubando e estuprando a população local. Santo, posando de cowboy, mete socos e balas nos leprosos! Para piorar ainda foi rodada uma versão mais Hard, aumentando as cenas dos doentes com garotas nuas chamada “Los Leprosos y El Saxo”.

As múmias sempre estiveram presentes no fantástico mexicano desde os anos 50. “Santo em La venganza de La Momia” (1970) de René Cardona foi uma das minhas maiores decepções quando o assisti em uma das várias reprises no extinto Cinema Rosário (meu grande templo de tranqueiras quando jovem) em Porto Alegre. Uma aventura nas selvas, com intermináveis caminhadas, uma múmia com uma máscara de papier maché e vestida em farrapos e que no final se revela uma farsa. Já “Las Momias de Guanajuato” (1970) de Federico Curiel é pura diversão e foi um sucesso em uma época em que o gênero já estava decaindo. Guanajuato é uma pequena cidade na parte central do México, fundada durante a época colonial. Devido a certas particularidades do solo e do ar local, muitos corpos enterrados lá sofreram um processo natural de mumificação e são expostas até hoje em um visitado museu. Isto é um fato real, já na ficção, os corpos desidratados e rígidos voltam misteriosamente à vida e passam a atacar os locais e turistas. Blue Demon e Mil Máscaras juntos, tentam de todo o jeito conter a invasão dos cadáveres, até que quando tudo parece perdido, surge El Santo nos últimos minutos e armado de uma pequena e moderna pistola de raios incendeia os monstros.

A reunião de vários heróis em uma mesma aventura inspirou o produtor Rogélio Agrasánchez a criar o grupo “Los Campeones Justicieros” (1970) de Federico Curiel, onde para enfrentar o super-vilão Mano Negra, se reúnem: Mil Máscaras, Blue Demon, El Medico Asesino, Sombra Vengadora e Tinieblas – EL Gigante (Manuel Leal, 1939, que não era lutador de verdade, apenas ator). Na seqüencia, “Vulven Los Campeones Justicieros” (1972) de Curiel, rodado na Guatemala, Blue & Mil Máscaras são auxiliados por Rayo de Jalisco, Fantasma Blanco e El Avispón, ao enfrentarem mais um cientista demente (deveria haver um em cada esquina do México!) que cria uma raça de homens-ratos poderosos (anões fantasiados).

René Cardona inventou uma versão chicana de “A Noite dos Mortos Vivos” que começou a rodar com o famoso mágico escapista e especialista em artes marciais Zovék (Francisco Javier Chapa Del Bosque). No meio das filmagens o mágico morreu em um acidente automobilístico e a solução foi editar cenas não aproveitadas com Blue Demon e fazer “Blue Demon y Zovék en La Invasión de los Muertos” (1971). O resultado não podia ser uma bagunça maior, enquanto as criaturas revividas por um meteoro radioativo enfrentadas pelo afetado mágico parecem mesmo zumbis, os monstros que Blue combate são nitidamente vampiros e homens-lobo! Nitidamente melhor é “Santo Contra La Hija de Frankenstein” (“Santo Contra a Filha de Frankenstein”, 1971) de Miguel M. Delgado, onde Gina Romand vive a cientista que se mantêm jovem graças ao sangue de mulheres. Ela cria um homem-gorila chamado Truxon (o brutamontes Gerardo Zepeda) para conseguir o sangue “poderoso” de Santo. O mascarado, que no começo havia vencido o monstro original chamado Ursus (Zepeda também), consegue a ajuda da criatura para destruir a nova criação e sua mestre. Blue Demon voltou a fazer parceria com Santo para enfrentar seus inimigos mais tradicionais e perigosos em “Santo y Blue demon Contra Dracula y El Hombre Lobo” (1972) de Miguel M. Delgado, onde um corcunda revive o conde (Aldo Monti) e o lobisomem Rufus (que usa uma camisa de seda amarelo-ouro!).

O sucesso de “Las Momias de Guanajuato” gerou uma série dos Studios Agrasanchez, que começou com “El Robo de las Momias de Guanajuato” (1972) de Tito Navarro, seguiu com “El Castillo de las Momias de Guanajuato” (1973) de Julian Sóler; “Las Momias de San Angel” (1973) de Arturo Matinez; “Leyendas Macabras de La Colonia” (1973) de Arturo Martinez e “La Mansion de las Siete Momias” (1975) de Rafael Lanuza, sempre com um mix pouco variável de heróis mascarados de segunda linha, liderados por Mil Máscaras, com exceção do último estrelado por Blue Demon e Superzán (Alfonso Mora Veyta (?-2006). Um detalhe curioso nas produções made in Agrasanchez é a presença constante de vários anões em papéis de vilões. Aparentemente, no México, os baixinhos sempre foram considerados “sinistros” e em toda a longa filmografia do gênero fantástico sempre estiveram ativos provocando sustos e risos. Mas neste caso específico estas participações tomaram rumos totalmente Trash, como em “Los Vampiros de Coyacán” (1973) de Arturo Martinez, onde Mil Máscaras e Superzán (este herói foi criado para o cinema e diferia de seus amigos luchadores por ter uma “origem alienígena”) enfrentavam um Barão vampiro, seus dois filhos vampiros afeminados e seus assistentes vampiros-anões!

Esta época começou o rápido colapso dos filmes de heróis-lutadores, com o público cansado das convenções e clichês do gênero, mesmo assim, muitos ainda seriam produzidos no México ou na Turquia! (!?!). “Üç Dev Adam” (“Three Mighty Men”, 1973) de T.Fikret Uçak, mostra como El Santo (Yavuz Selekman) e o Capitão América (Deniz Erkanat) são chamados em Istanbul para combater o terrível vilão… o Homem-Aranha! O cinema turco, possivelmente o mais trash do mundo, sempre foi pródigo em produzir suas versões não autorizadas de filmes e personagens de sucesso estrangeiros. Tarzan, Zorro, James Bond, Bat-Girl, E.T., “Star Wars”, “Star Trek”, entre muitos, foram canibalizados pelos turcos, graças a suas leis que não respeitam direitos autorais. Assim o Mascarado de Prata acabou na Turquia em uma aventura que mistura muita pancadaria com cenas de legítimo Splatter.

Em casa os heróis legítimos continuam com seus problemas com uma certa família de fazedores de monstros. Em “Santo y Blue Demon Contra El Dr. Frankenstein” (1973) de Miguel M. Delgado, a dupla de mascarados enfrenta um casal de monstros criados por um descendente do seminal médico louco. É mais do mesmo, mas uma participação no elenco tem destaque: o assistente bigodudo do cientista, vivido por Rúben Aguirre (1934-2011). Quem? Ora, apreciadores da cultura popular mexicana, o célebre “Professor Girafales” da trupe imortal da Turma do Chaves! E ele se sai bem no papel vilanesco, tanto que fez mais uma participação em “Santo Contra El Dr. Muerte” (1974) de Rafael Romero Marchen, onde um dos mais exóticos cientistas loucos de todos os tempos utiliza um soro extraído a partir de tumores induzidos em jovens mulheres para fazer falsificações perfeitas de pinturas famosas. Seguiram-se várias aventuras com El Santo contra mafiosos, lutadores de Karatê e até figuras macabro-mitológicas mexicanas como “La Llorona”, mas além da decadência do gênero, Rodolfo Huerta já tinha esta época, quase 60 anos. Portanto, existe fundamento nas teorias que afirmam, que sem o público perceber, Huerta se retirou das telas, mas foi substituído atrás da máscara primeiro por Eric Del Castillo e depois por seu próprio filho Jorge Guzmán. Em 1981, os filmes com mascarados forçudos já não eram mais mania, mas nunca eram esquecidos. Uma tentativa de renovação de gerações começou com o lançamento de “Chanoc y El Hijo Del Santo Contra los Vampiros Asesinos” de Rafael Perez Grovas. Chanoc era outro personagem popular em aventuras fantásticas do país, era uma espécie de Jim das Selvas chicano, criado pelo diretor Rogélio Gonzales em 1966, sem máscara e interpretado por atores variados, o mais duradouro Nelson Velásquez atuando aqui ao lado de Jorge Guzmán, oficialmente o filho do Santo (em uma trivia obrigatória, consta informar que em cinco filmes com Chanoc, ouve a participação em papéis variados de outro conhecido do público brasileiro, Ramón Valdéz- 1923-1988, o “Seu Madruga”). El Hijo chegou a contracenar com Mil Máscaras em “El Hijo Del Santo en La Frontera Sin Ley” (1983) de Rafael Péres Grovas, mas em fevereiro de 1984, após uma apresentação ao vivo, Rodolfo Guzmán Huerta sentiu-se mal e teve um ataque cardíaco. O herói que sobreviveu a todo o tipo de monstros e vilões por décadas, foi vítima de seu coração e faleceu. Assim como Bela Lugosi exigiu em testamento ser enterrado com a capa que usara em “Drácula”, El Santo foi velado e enterrado com sua máscara prateada como queria, e um cortejo de milhares de fãs tomaram as ruas da cidade do México para suas últimas homenagens ao atlético herói nacional.

Além de seu filho, outros lutadores tentaram preencher o vácuo da morte de El santo: Octágon, Atlantis, Máscara Sagrada, Canek e mesmo Blue Demon Jr., sem sucesso. No drama policial passado no mundo das lutas chamado “La Llave Mortal” (1990) de Francisco Guerrero, Mil Máscaras contracena com seu irmão, o Dos Caras e também com Blue Demon Jr e Black Shadow Jr enfrentando um mestre em artes marciais criminoso, numa verdadeira empreitada familiar. “Santo La Leyenda Del Enmascarado de Plata” (1993) do diretor/roteirista Gilberto de Anda não é como o título sugere uma biografia do lutador, mas um melodrama sobre o problema dos sem- terra mexicanos, que sem o PT, contam com ajuda de El Hijo Del Santo, Blue Panther Jr., Espanto Jr e o ator Daniel Garcia fazendo uma participação especial como o próprio El Santo. Tentando se adaptar aos novos tempos e aos efeitos digitais no lugar dos monstros e cenários de papier maché, “Infraterrestrial” (2000), de Hector Molinar, começa com El Santo passando sua máscara para seu filho. Logo, o novo Santo descobre uma conspiração de uma raça de répteis alienígenas que planejam invadir a terra. Eles criam uma réplica robot do lutador Blue Panther e, auxiliado por alta tecnologia (incluindo um ridículo carro voador em precário CGI), o herói faz juz ao seu legado e despacha os monstruosos invasores. Em 16 de Dezembro de 2000 morre Blue Demon. Em 2007 morre Alejandro Cruz, o Black Shadow. Em 1948, os dois Alejandros (Cruz e Munõz Moreno) criaram para os ringues a dupla Los Hermanos Shadow. Em 1956, Black Shadow apareceu como ele mesmo no clássico terror “Ladrón de Cadáveres” de Fernando Mendez, uma das mais antigas participações de luchadores enmascarados em filmes de horror. Mesmo tendo criado seu personagem próprio e fazendo sucesso, Blue Demon nunca esqueceu seu hermano dos ringues, e Alejandro Cruz fez várias participações em seus filmes. Assim como El santo, que nunca expunha seu nome verdadeiro, Blue Demon também o fazia. Como em muitos de seus filmes aparecia o nome de Alejandro Cruz, muitos pesquisadores e publicações divulgaram por anos a fio, seu nome como sendo o do homem atrás da máscara azul (Fangoria, Aurum Film Encyclopedia, The Illustrated Werewolf, Vampire, Frankenstein Movie Guide e outros), e eu mesmo tenho uma grande parte de minha pesquisa mais antiga com este erro. Agora reparado, graças às preciosas informações do site oficial em memória do lutador, mantido por Blue Demon Jr.

Mil Máscaras continua vivo e ativo. Cultuado dentro e fora do México, principalmente no Japão, onde possui uma legião de fãs desde os anos 60. No ano de 2001 o diretor independente Lee Demarbre realizou o divertido “Jesus Christ Vampire Hunter” onde uma referência ao Santo (creditado no IMDB como “Santo – El Enmascarado de Plata) ajuda Jesus Cristo em pessoa à derrotar hordas de vampiros. Em 2005, o diretor americano Jeff Burr rodou “Mil Mascaras Vs. The Aztec Mummy”, uma tentativa de reviver o gênero com o próprio lutador veterano em ação contra uma das lendas do horror mexicano. Melhor se saiu Jared Hess com a comédia “Nacho Libre” (2008), onde um cozinheiro de um monastério no interior do México (o balofo Jack Black) sonha em ser um lutador mascarado de sucesso, ajudar os órfãos que alimenta e conquistar o coração de uma linda freirinha. Rodado em locações verdadeiras e com grande participação de diversos luchadores atuais, é uma homenagem e sátira ao mesmo tempo, e de grande sucesso internacional. Já o terror americano “Wrestlemaniac” (“O Homem Mascarado”, 2008) utilizou o campeão de lutas Rey Mistério para fazer uma espécie de “Jason com máscara de pano”, decepcionante. Uma breve homenagem aos heróis mexicanos aparece em “Vadias do Sexo Sangrento” (2008) de Petter Baiestorf, a personagem Mirza (Lane ABC), utiliza em duas cenas uma réplica de uma das centenas de máscaras de Mil Máscaras, adquirida no México e emprestada pelo fã do gênero Carlos de Anda.

Em tempos de super-heróis digitais e vampiros e lobisomens delicados, todos os músculos e pancadarias coreografadas nos filmes de Lucha Libre parecem anacrônicos. Assim como seus monstros falsos, vampiras gostosas e cientistas bigodudos. Por isso mesmo é um refresco para a cabeça voltar ao tempo em que heróis eram de carne e ossos… e máscaras (E olha que eu nem falei sobre El Zorro Escarlata, El Látigo Negro, Rocambole, El Charro de Las Calaveras, La Mujer Murciélago, Los Jaguares, Leones Del Ring, Fantasma Negro…).

Pesquisa e texto de Coffin Souza.

Cadavéricas de Fumie Sasabuchi

Posted in Arte e Cultura, Colagens with tags , , , , on abril 3, 2011 by canibuk

A artista japonesa Fumie Sasabuchi retira fotos de top models das páginas de revistas e zumbifica essas fotos (com caneta de ponta ultrafina), tornando a moda muito mais interessante. Nascida em 1975, Sasabuchi estudou pintura na Tama Art University em Tokyo e, em 2001, se mudou para a Alemanha para estudar na Akademie der Bildenden Künchen de Monique, onde reside até hoje expondo nas principais galerias de arte do país. Segue uma seleção de fotos que fiz com trabalho dela:

Zumbis – O Livro dos Mortos

Posted in Cinema, Literatura with tags , , , , , on março 24, 2011 by canibuk

Saiu no Brasil o livro “The Book of the Dead” (de 2005, título brasileiro: “Zumbis – O Livro dos Mortos”, 350 páginas) de Jamie Russell, com todo tipo de informação sobre os zumbis no cinema, histórias de bastidores das produções, uma delíciosa filmografia zumbi e, especialmente para a edição Brasileira, um capítulo de atualização com informações sobre “Mangue Negro”, “A Capital dos Mortos”, “Era dos Mortos” e “Porto dos Mortos” (“Zombio”, o primeiro filme de zumbis brasileiros, já se encontrava resenhado na edição original). James B. Twitchell, em sua pesquisa sobre o fascínio ocidental pelo terror, mostrou-se indiferente quanto aos mortos-vivos, disse:

“O mito do zumbi parece ter defeitos, por conta de sua falta de complexidade. O Zumbi é na verdade uma múmia em roupas casuais, sem vida amorosa e com grande apetite. Ambos são autômatos; nada habilidosos nem heroicos. Eles apenas zanzam por aí (Karloff chamava isso de “meus passinhos”), arrastando os pés como colegiais sem acompanhante antes do baile. Diferentemente do vampiro, que é engenhoso, circunspecto e erótico, seus primos são lesmas sub-humanas. O Zumbi é um cretino absoluto, um vampiro lobotomizado, e é isso que tende a levar (todos os filmes posteriores a “I Walked With a Zombie”, 1943) a ser pouco mais que veículos de violência explícita, cheios de gente (geralmente homens) se cutucando e ocasionalmente se alimentando uns dos outros. O zumbi é tão raso que até Abbott e Costello recusaram-se a encontrá-lo”.

Ou seja, poucos monstros de filmes de terror são tão malvistos quanto o zumbi e Russell corrige isso ao dar o verdadeiro destaque que os zumbis merecem em um livro imperdível sobre este sub-gênero do horror cultuado por hordas de zombie-fans fanáticos por sangue e vísceras ao redor de todo o planeta Terra. E prova com argumentos porque as produções com zumbis permaneceram marginalizadas na indústria cinematográfica, a passagem seguinte diz muito:

“Apesar do inegável sucesso de “White Zombie” (1932), poucos dos grandes estúdios estavam interessados em ir atrás dos mortos-vivos. Grandemente considerado como pouco mais que um feliz acaso de bilheteria, “White Zombie” não incentivou nenhum renomado produtor a considerar filmes sobre cadáveres que andam ou (sobre) o Caribe. A maioria das instituições de Hollywood considerava o zumbi pouco mais que um emergente irregular, um sucesso passageiro e de segunda linha. Não convencidos de que havia lucro em ver mortos caminharem, os grandes estúdios viraram as costas para os zumbis, e a antiga associação desses monstros com filmes de baixo orçamento e o desprezo da crítica começou.”

Aqui no Brasil, pessoal que acompanhava o maravilhoso mundo dos fanzines, deve lembrar de empreitada semelhante do fanzineiro Coffin Souza que, em 1999, lançou um “Suspiria Especial Zumbis” com uma pesquisa semelhante (que tentava listar todos os filmes com zumbis já produzidos).

O preço normal do “Zumbis – O Livro dos Mortos” parece ser R$ 45,00, mas já encontrei em sites de venda por R$ 35,00. Pode comprar que é tão delicioso quanto ver corpos podres andando por aí em busca de cérebros fresquinhos!