Meu Pai Queria que eu fosse Projetista Mecânico, mas…

eu decidi ser escritor.

é fácil.

apenas me sento e tiro a crosta de antigas feridas e espinhas

da minha vida

até que surge algo.

quando o telefone toca eu levanto e abaixo gentilmente o fone.

é tão fácil.

no andar de baixo minha namorada lê sobre Scott e Zelda Fitzgerald.

“nós somos Scott e Zelda”, digo a ela.

e ela fica doida.

recebo cartas terríveis pelo correio.

as pessoas querem vir aqui e me ver.

eles mandam cartas sobre suas vidas e anexam poemas.

meu conselho para todos os jovens escritores é que parem de escrever como eu.

quero dizer, isso não vai ajudar.

os editores vão simplesmente dizer,

“nossa, esse cara escreve igualzinho ao Chinaski,

manda de volta!”

a melhor coisa na escrita é que ela nunca

te deixa mal.

pode deixar outras pessoas mal, mas não você.

tipo, você pode encontrar sua mulher fodendo seu melhor amigo

no sofá às 3 da manhã

e você pode correr para o andar de cima e escrever um poema e

ficar quite com os dois.

eu realmente nunca gostei de Scott ou Zelda pelo que escreveram.

era o que eles pensavam e como viviam livres.

é claro que eles conheciam Hemingway e Hemingway conhecia Miró e

Miró conhecia Picasso e Picasso conhecia Joyce e Joyce

provavelmente conhecia D.H. Lawrence e D.A. conhecia A. Huxley que pensava

que sabia tudo

mas como disse, eu admirava o jeito como Scott e Zelda viviam

livres de todas as regras

e meu pai queria que eu fosse projetista mecânico

mas me agrada mais sentar aqui e escrever

qualquer coisa que eu queira enquanto

olho pela sacada para o porto de San Pedro

é fácil

todas as crostas de feridas e espinhas valeram a pena.

escrito por Charles Bukowski (do livro “Open All Night: New Poems”).

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