Manifesto Canibal

Uma declaração de guerra dos que nada têm e tudo fazem contra os que tudo têm e nada fazem.

O Cinema brasileiro, neste santo ano do ébrio senhor da Igreja Católica da Santa Roubalheira Consentida, atingiu a ruindade absoluta com suas obras globoticamente acefálicas que custam milhões de dinheiros aos cofres públicos. Ordenamos, então, que a minoria que detém a tecnologia cinematográfica de ponta seja combatida e que a discriminação ao vídeo amador cesse neste momento. Optamos pelo Kanibaru Sinema para, enfim, fazer nossos gritos ecoarem pelos domínios malignos dos cineastas pedantes corruptos. Um Kanibaru Sinema antropofágico, primitivo, selvagem, niilista, ateu e caótico, mas de uma pureza maldita capaz de assustar tanto colonizados quanto os colonizadores.
Eu, o curtidor do avacalho, o mestre da escatologia, o antiintelectual debochado, o escroto alucinado, o videasta das vísceras, PROPONHO:
1) A opção de filmar com equipamentos VHS-C/S-VHS/Digital/S-8/HD (ou qualquer outra sigla a ser criada) filmes amadores de qualquer estilo e qualquer duração;
2) A opção de filmar com equipamentos VHS-C/S-VHS/Digital/S-8/HD utilizando-se do direito de produzir obras-primas com som direto e o equipamento técnico que for possível arranjar;
3) A opção de realizar obras cinematográficas desprezando o poder capitalista do dinheiro criado por qualquer país do planeta Terra e/ou Universo. Leia-se aqui: A opção de filmar sem se utilizar do dinheiro público;
4) A opção de usar atores amadores e/ou amigos pessoais que se coloquem, de livre arbítrio e sem cobrar nada em troca, à sua disposição;
5) A opção de se utilizar do Kanibaru Sinema e sua estética do caos para finalmente poder flertar com a estética da falta de estética. Leia-se aqui: A opção por destruir todos os valores estéticos;
6) A opção pela inclusão das obras produzidas em vídeo amador nos festivais não competitivos de cinema brasileiro para que o povo decida, de livre arbítrio, o que gosta e quer ver;
7) A opção por uma produção/distribuição caseira, de forma independente e artesanal;
8) A opção por exibir os filmes em botecos e outros refúgios para pensadores beberrões;
9) A opção de escolher músicas não-convencionais/esquecidas/obscuras como hino à criatividade do Kanibaru Sinema;
10) A opção de realizar obras com cenários, figurinos, iluminação e maquiagens criados/conseguidos com lixo;
11) A opção de realizar obras com roteiros originais em sua concepção anarco-ateísta;
12) A opção por exercer seu direito de ser um criador artístico livre dos vícios da sociedade cristã castradora;
13) A opção de fazer qualquer filme/música/arte que sua criatividade permitir.

Assim propôs o fazedor de filmes alucinados.
07/06/2002
Petter Baiestorf.

(Primeira edição de “Manifesto Canibal” por Petter Baiestorf em junho de 2002; Segunda edição de “Manifesto Canibal” por Rodrigo Romanin em Outubro de 2002; Terceira edição de “Manifesto Canibal” por E.B. Toniolli no antigo site da Canibal Filmes em dezembro de 2002; Quarta edição de “Manifesto Canibal” por Jack Zombie e Roger Psycho em anexo ao zine “Criaturas Psicotrônicas de Outro Espaço” em janeiro de 2003; Quinta edição de “Manifesto Canibal” por Robson Achiamé e editora Achiamé em julho de 2004).

4 Respostas to “Manifesto Canibal”

  1. rODRIGO gAGLIARDI Says:

    do caralho achei esse livro no sebo estante virtual

  2. […] (emprestada), um celular (emprestado) e imagens de arquivo (roubados). Mais Kanibaru Sinema (do Manifesto Canibal) impossível!!! Gurcius homenageia aqui a internet livre se apropriando das teorias […]

  3. […] Minas Gerais” de Marcelo Miranda, sobre o cinema mineiro e, fechando o livro, o texto “Manifesto Canibal“ de minha autoria onde teorizei, em 2002, sobre as possibilidades de se fazer filmes […]

  4. […] de sua arte um grito de protesto, um escracho com quem realmente merece. Tendo como base o famoso Manifesto Canibal, seus filmes não deixam de dialogar com grandes nomes do cinema underground […]

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