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As Estrelas de Freaks

Posted in Cinema, Musas with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on julho 17, 2012 by canibuk

Hoje em dia é comum ver jovens saudáveis (principalmente via facebook e/ou outras redes sociais) reclamando da vida, cantando para todos, tais como rouxinóis mimados, suas depressões, suas amarguras, tudo prá chamar atenção. A maioria não passa de mancebos mimados por uma geração de pais sem voz ativa que os criou fazendo suas vontades e quando chegam à vida adulta percebem que não são o centro do mundo como sua família os fazia acreditar que eram. Inspirado por essas reclamações de mimadinhos depressivos de facebook resolvi publicar aqui uma pesquisa feita por Borja Crespo (dei uma pequena incrementada em alguns dados) sobre os atores com limitações físicas que trabalharam no filme “Freaks” (1931) de Tod Browning. Estes maravilhosos humanos cheios de problemas físicos não ficaram trancados em seus quartos choramingando, eles sairam e enfrentaram preconceitos, limitações e qualquer outro problema que se apresentava. Com vocês, as estrelas de “Freaks”, muito mais humanos do que muita gente saudável vegetando por aí na frente de alguma TV ou banco de alguma igreja dos dias de hoje!

Schlitze The Pinhead: Sua cabeça é muito pequena. Um crânio humano normal é de 1500 a 1700 centímetros cúbicos, mas alguém com microencefalia tem entre 400 e 1000. Quando realizou “Freaks” tinha aproximadamente 40 anos. Nasceu em Yucatán, México, em 1901. Seu nome real era Simon Metz (mas se apresentou a vida inteira vestido como mulher, mesmo porque vestir vestidos facilitava suas idas aos banheiros). Começou no showbizz como “Maggie, a última azteca” fazendo truques de magia e dançando em shows. Durante as filmagens de “Freaks”, ele gostava de ficar imitando o diretor Browning em tudo que ele fazia, incluíndo seus tons de voz. Era como uma criança pequena que nunca cresceu. Seu papel tem maior duração que as outras “Pinheads” do filme, Elvira e Jenny Lee Snow. Suas palavras na cena do vestido novo são díficeis de entender, mas seus gestos dizem tudo. Também participou de outros filmes, como “The Sideshow” (1928) e “Island of Lost Souls” (1932), ambos de Erle C. Kenton, “Tomorrow’s Children” (1934) de Crane Wilbur e “Meet Boston Blackie” (1941) de Robert Florey. Faleceu em 1971 com 70 anos de idade.

Peter Robinson, o Esqueleto Vivo: Nascido em 1874, falecido em 1947. Foi esqueleto vivo no circo Ringling Brothers durante muitos anos. Se casou com a mulher gorda do circo que pesava seis vezes mais do que ele. Em “Freaks” tem um filho com a mulher barbada e se mostra como um pai orgulhoso de seu rebento. “Freaks”, aparentemente, é seu único filme. Era um especialista em tocar gaitas e se casou com a artista Baby Bunny Smith, que também trabalhava em feiras nas areas rurais dos USA.

Harry e Daisy Earles: Eram irmãos (e tinha ainda mais duas irmãs anãs). Os quatro trabalharam profissionalmente em circos e espetáculos. Harry se chamava, na vida real, Kurt Schneider, nascido em 1902 na Alemanha (faleceu em 1985 na Flórida, USA). Se tornou amigo de Tod Browning quando trabalharam juntos em “The Unholy Three” (1925). Harry apareceu em 13 filmes (7 deles curtas), produções como “That’s My Baby” (1926) de William Beaudine, “Three-Ring Marriage” (1928) de Marshall Neilan, no remake sonoro de “The Unholy Three” (1930), desta vez dirigido por Jack Conway e no clássico “The Wizard of Oz/O Mágico de Oz” (1939) de Victor Fleming. Já Daisy atendia pelo nome real de Hilda E. Schneider. Nasceu em 1907, também na Alemanha e faleceu na Flórida em 1980). Geralmente trabalhando junto de seu irmão, apareceu ainda nos filmes “Three-Ring Marriage”, “The Wizard of Oz” e “The Greatest Show on Earth/O Maior Espetáculo da Terra” (1952) de Cecil B. DeMille, única produção que seu irmão não está junto.

Daisy e Violet Hilton: São irmãs siamesas unidas pela cintura com a mesma circulação sanguínea. Nasceram em Brighton, Inglaterra, em 1908, filhas de uma garçonete que as vendeu para agentes de shows bizarros explorarem elas em music-halls e feiras rurais. Ajudadas por um advogado conseguiram agendar seus próprios shows. Como não se sentiam diferentes de outras mulheres, tiveram inúmeros relacionamentos em sua vida. Também aparecem no filme “Chained for Life” (1951) de Harry L. Fraser. Após este filme as duas irmãs passaram por inúmeras dificuldades financeiras e foram encontradas, em 1969, mortas em seu apartamento.

Angelo Rossito: Nascido em 1908 e falecido em 1991, Rossito trabalhou em inúmeros filmes. Apesar de seu nome, Rossito é americano do estado de Nebraska. Fez sua estréia no cinema em “The Beloved Rogue” (1927) de Alan Crosland contracenando com John Barrymore e Conrad Veidt. Depois apareceu em mais de 80 filmes, com destaque para produções como “The Mysterious Island” (1929) de Lucien Hubbard, “Dante’s Inferno” (1935) de Larry Lachman, “A Midsummer Night’s Dream” (1935) de William Dieterle e Max Reinhardt, “The Corpse Vanishes” (1942) de Wallace Fox e estrelado por Bela Lugosi, “Mesa of the Lost Women” (1953) de Ron Ormond, “Invasion of the Saucer Man” (1957) de Edward L. Cahn, “Confessions of a Opium Eater” (1962) de Albert Zugsmith e estrelado por Vincent Price, “Dracula Vs. Frankenstein” (1971), “Brain of Blood” (1972) e “Cinderella 2000” (1977), trio de filmes com direção/produção do pior (mas muito divertido) cineasta que a indústria cinematográfica já teve: Al Adamson, “The Lord of the Rings/O Senhor dos Anéis” (1978) de Ralph Bakshi e “Galaxina” (1980) de William Sachs, entre inúmeros outros clássicos do cinema de baixo orçamento. Uma de suas últimas aparições foi em “Mad Max Beyond Thunderdome” (1985) de George Miller.

Frances O’Connor: Nasceu em 1914 no estado de Minnesota, USA, sem os braços desde o momento em que aprendeu a andar, começou a usar seus pés como mãos. Aprendeu a cozinhar, jogar bridge, se vestia, comia e fazia tudo usando apenas seus próprios pés. Sentia orgulho de conseguir fazer tudo sem ajuda de ninguém. No verão costumava trabalhar em shows, se recolhendo a sua casa em Wyoming durante o resto do ano. “Freaks” é sua única aparição cinematográfica. Frances nunca chegou a se casar, embora dizem que sua lista de admiradores não era pequena.

Koo Koo, A Garota Cega de Marte: Nasceu em 1880 com o nome de Minnie Woolsey. Quando se apresentava nos circos usava o nome Minnie Ha Ha. Também chegou a ser conhecida como “a garota de Marte” em alguma feiras. Tinha 52 anos quando participou de “Freaks” e muitos dos técnicos que trabalhavam no filme chegaram a acreditar que ela realmente era de Marte. Mas Minnie sofria da síndrome de Harper, que é uma forma de nanismo intra-uterina caracterizada por anomalias congênitas múltiplas. “Freaks” é seu único filme. Há poucos dados precisos sobre sua morte, mas fontes afirmam que ela faleceu atropelada por um automóvel em 1960 (se isso é correto ela teria vivido 80 anos).

Johnny Eck: John Eckhardt Jr. nasceu em Baltimore (terra de John Waters) em 1911, com um irmão gêmeo bem formado. Aprendeu a andar sobre suas mãos desde pequeno e era um excelente estudante, atleta e músico. Sua presença em “Freaks” é carismática e marcante, depois deste clássico apareceu em mais 3 filmes da série Tarzan: “Tarzan – The Ape Man” (1932) de W.S. Van Dyke, “Tarzan Escapes” (1936) e “Tarzan’s Secret Treasure” (1941), ambos dirigidos por Richard Thorpe. A canção “Table Top Joe” de Tom Waits é inspirada em Johnny e, desde 1990, um roteiro sobre sua vida, escrito por Caroline Thompson (“Edward Scissorhands”), circula por Hollywood sem conseguir investidores financeiros. Depois de suas aventuras pela terra do cinema, voltou para baltimore onde se tornou pintor de quadros, cujos trabalhos seguem abaixo, pós-artigo.

Prince Randian: Nasceu sem pernas, nem braços, em 1871 na Guiana Britânica e faleceu em 1934 em New York. Falava hindu, inglês, francês e alemão, foi casado e teve 5 filhos. Era capaz de escrever, acender cigarro, pintar, lavar-se e se arrumar para sair usando apenas sua boca. Dizem que possuia um grande sentido de humor e sempre viveu com a idéia de que não havia impedimentos físicos desde que dominasse sua própria mente. Sou um grande admirador de Randian, que provou ser possível fazer tudo mesmo quando a vida conspira contra você!

Pinturas de Johnny Eck: