Arquivo para agosto, 2013

Hora Extra

Posted in revistas independentes brasileiras with tags , , , , , , , , , , , , , on agosto 28, 2013 by canibuk

Matheus Souza me enviou um jornal sensacionalista editado na cidade de Americana/SP (em 1998 lembro de ter ido assistir um show da banda Joe Coyote nesta cidade) que é uma delícia. Seu nome: “Hora Extra”, já está no quinto ano e conta com distribuição gratuita. Jornais impressos meio que perderam sua razão de existir pós internet (já que os textos dos novos jornalistas são, geralmente, muito ruins e copiados/colados de sites da net).

Hora Extra1

“Hora Extra” lembra os bons tempos do “Notícias Populares”, jornalzinho paulista cheio de imaginação. Aqui no exemplar que tenho em mãos, o número 67, a imaginação do editor está afiada: Matérias sobre o “Bebê-Diabo” de Santa Bárbara d’Oeste, que bate carteiras dos operários; décimo primeiro mandamento que foi encontrado em Americana e que após traduções revelou-se: “Não roubaras os munícipes”; entrevista com o Wanderley Cardoso; artigo sobre o peixe Drácula que enfeitiça mulheres na praia dos namorados (com um bom uso de stills do clássico “Creature From the Black Lagoon/O Monstro da Lagoa Negra” (1954) de Jack Arnold); proteção do além ou como usar o Preto Velho como segurança na sua loja; o novo pandeiro do Império Serrano; como usar o Bolsa Família para pagar prostituta e um pequeno relato sobre avistamento de OVNI com a chamada de abertura do programa televisivo “The Twilight Zone/Além da Imaginação” (1959), criado pelo produtor Rod Serling.

Agora, o must das matérias é o textinho de conspiração política que afirma que o site Wikileaks tem informações de que a presidente Dilma é um disfarce biológico (desenvolvido pela NASA) usado pelo Luiz Inácio Lula da Silva para continuar no comando do Brasil. Hilário! Sem esquecer que o jornal também divulga produções independentes, como neste número que dá o caminho para aquisição do livro “O Homem que Não Amava a Mulher com Tatuagem de Coelhinho” escrito pelo Matheus Souza.

Hora Extra2

Para conseguir seus exemplares do “Hora Extra”, mande e-mail para jornalhoraextra@hotmail.com e se divirta com as asneiras bem humoradas de seu editor.

As Pancadarias de José Sawlo – O Jackie Chan do Sertão

Posted in Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 26, 2013 by canibuk

José Sawlo tem a maior pinta de herói bom moço no melhor estilo do genial Jackie Chan. Sawlo é um realizador de filmes de ação independentes na cidade de Queimadas/PB, pertinho de Campina Grande, que produz filmes de kung fu com amigos da vizinhança. Na hora das cenas de pancadaria dá pra perceber que Sawlo e sua equipe possuem  um talento natural pra coisa. Quase um ano atrás assisti dois de seus longas (queria ter divulgado os filmes de José Sawlo antes, mas a produção do meu longa “Zombio 2: Chimarrão Zombies” atrapalhou meus planos para o Canibuk).

“Punhos em Ação” ( ? , 60 minutos) de José Sawlo. Com: José Sawlo e Jair Francisco.

Punhos em AçãoDois amigos inseparáveis se metem num assalto e se tornam inimigos mortais quando o irmão de um deles é morto. Sawlo, mais família, é o ladrão bonzinho, enquanto Jair Francisco caracteriza muito bem o bandido mais violento. A história é cheia de furos de narrativa e a iluminação é inexistente, mas o clima conseguido com as cenas de luta compensam essas falhas, como na luta final, travada no meio do sertão Nordestino com as duas personagens principais coreografando uma ágil luta sangrenta (com muitos momentos de bom humor inspirados em Jackie Chan). O ponto fraco do filme é sua trilha sonora pop deslocada (em dado momento toca até Guns’n’Roses), levando-se em conta os riquíssimos estilos musicais Nordestinos. José Sawlo bem que poderia ter conseguido algum compositor de sua região para elaborar uma trilha sonora original que combinasse melhor com o clima do filme (apesar de que, inconscientemente, “Punhos de Ação” é um bom exemplo do quanto o Brasil do povão é um quintal cultural dos U.S.A. – e de outras culturas -, à exemplo de quase toda a totalidade das produções amadoras brasileiras – incluindo aqui as minhas próprias produções). Momento impagável do filme: Uma maleta cheia de dinheiro, que na verdade são notas de 2 reais, que deve somar a incrível quantia de uns 300 reais.

“No Rastro da Gang” (2009, 74 minutos) de José Sawlo. Com: José Sawlo, Thiago Cruz e Linaldo Silva.

No Rastro da Gang1Talvez o grande clássico de Sawlo (preciso ver mais produções dele), “No Rastro da Gang” conta, de forma alinear (e completamente bagunçada, como o bom cinema de terceira classe de Hong Kong), a história de dois policiais que vivem numa comunidade dominada por grandes traficantes de drogas e lutam para livrar a sociedade deste mal. Com cenas de pancadaria mais elaboradas “No Rastro da Gang” empolga em diversos momentos, nota-se que Sawlo e seus amigos sabem coreografar muito bem as cenas de ação (com direito até a um sujeito despencando de um telhado e uma personagem que golpeia se movimentando no ar, como nos bons filmes de Hong Kong). Mas o principal modelo de cinema que a turma segue é o cinema de Jackie Chan, então há sempre umas paradas no ritmo do filme para cenas de drama familiar (que quando interpretados por amadores sempre ganham ares de deliciosa comédia involuntária). Momentos impagáveis do filme: São cenas com o uso de alguns efeitos digitais caseiros ultra toscos (e hilários) que mostra uma chuva virtual e um carro explodindo. Genialidades do Mondo Tosco!

Mesmo com suas deficiências técnicas (uma edição mais dinâmica, um diretor – para que Sawlo possa se preocupar apenas com as cenas de ação -, um figurinista, um iluminador e um roteirista melhor já deixariam os filmes com uma roupagem mais profissional), essas duas produções de José Sawlo são imperdíveis para os fãs do cinema de Bordas (José Sawlo precisa ser descoberto por estes pesquisadores). Sonho em ver algum produtor reunindo num mesmo filme José Sawlo, Rambú, David Cardoso, Coffin Souza, Joel Caetano, Seu Manoelzinho e outros grandes nomes do cinema de gênero brasileiro para a feitura de “Os Mercenários Tropicais” do cinema independente.

Petter Baiestorf.

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Cemitério Perdido dos Filmes B: Exploitation

Posted in Cinema, Literatura, Livro with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 21, 2013 by canibuk

“Cemitério Perdido dos Filmes B: Exploitation” (2013, 220 páginas). Organizado por César Almeida. Editora Estronho.

Exploitation 1Concebido como uma continuação ao soberbo “Cemitério Perdido dos Filmes B” (2010) de César Almeida, este “Exploitation” se aprofunda ainda mais no cinema obscuro mundial (senti falta de tranqueiras da filmografia Indiana, Turca, Nigeriana, Filipina, mas isso deve ficar para um terceiro volume do “Cemitério Perdido dos Filmes B”). Neste volume César Almeida contou com a ajuda de outros aficionados ao escrever as resenhas, gente boa como: Carlos Thomaz Albornoz (jornalista), Laura Cánepa (jornalista), Leandro Caraça (crítico de cinema), Marco Freitas (publicitário), Ana Galvan (estudante), Osvaldo Neto (pesquisador e divulgador de cinema), Otávio Pereira (administração e sistema de informação), Ismael Schonhorst (humorista fracassado), Leopoldo Tauffenbach (doutor em artes visuais), Cristian Verardi (crítico de cinema) e Ronald Perrone (pesquisador de cinema), que se revezam nas resenhas de filmes divididos em capítulo sobre cinema splatter, artes marciais/chambara, giallo, policial exploitation, blaxploitation, nazisploitation/w.i.p./nunsploitation, sexploitation e exploitation regional (em dois capítulos, um sobre produções vagabundas da América Latina e outro sobre o apelativo cinema da Austrália e Canadá), tornando este livro uma bela introdução aos leigos que queiram conhecer o universo sem vergonha do cinema de exploração.

Exploitation 2Mas atenção, fanáticos por exploitation: Vocês sentirão falta de filmes mais obscuros. Entre os filmes resenhados (são 140 filmes analisados) estão pérolas como os divertidos “Ta Paidia Tou Diavolou/A Ilha da Morte” (1977, Nico Mastorakis); “Dawn of the Mummy” (1981, Frank Agrama); “L’Iguana dalla Lingua di Fuoco” (1971, Riccardo Freda); “Joë Caligula” (1966, José Bénazéraf); “Anita – Ur en Tonarsflickas” (1973, Torgny Wickman); “Emmanuelle Tropical” (1977, J. Marreco) e muitos outros filmes clássicos do gênero como “Cani Arrabbiati” (1974, Mario Bava); “Rabid” (1977, David Cronenberg); “Blood Feast” (1963, H.G. Lewis); “The Last House on the Left” (1972, Wes Craven); “Bloodsucking Freaks” (1976, Joel M. Reed); “La Montagna Del Dio Cannibale” (1978, Sergio Martino) e vários outros do ciclo de canibalismo italiano, bem como resenha de vários filmes de Lucio Fulci, Mario Bava, Dario Argento, Jack Hill, Bruce Lee, Pam Grier, etc (fez falta resenhas de produções de David F. Friedman – um dos reis do exploitation americano -, bem como produções distribuídas pelo lendário Harry Novak, Doris Wishman, Ted V. Mikels, Tsui Hark, Frank Henenlotter (o responsável por eu ter virado um fanático pelo gênero exploitation), entre outras lendas do cinema alucinado de exploração, mas 200 páginas realmente é pouco espaço para um apanhado mais profundo englobando também, por exemplo, westerns como “Viva Cangaceiro” (1971, Giovanni Fago) ou “Condenados a Vivir/Cut-Throats Nine” (1972, Joaquín Luis Romero Marchent), entre outros subgêneros).

Assim como o primeiro volume do “Cemitério Perdido dos Filmes B”, este é item obrigatório na estante dos fãs de um cinema mais selvagem e cru de uma época fantástica da sétima arte que sobrevive graças ao vídeo (hoje downloads) e a inúmeros cineastas independentes do mundo inteiro que continuam investindo dinheiro do próprio bolso para que essa tradição do alucinado cinema Exploitation continue infectando incautos telespectadores.

De ponto negativo no livro (e única coisa que achei desnecessária) são as infinitas citações à Tarantino, dando a falsa ideia de que os autores só conheceram o cinema exploitation a partir do cineasta americano (o que não é verdade, creio).  Meus sinceros parabéns ao César Almeida pela organização deste segundo volume de “Cemitério Perdido dos Filmes B”, a editora Estronho pelo lançamento e aos co-autores desta pequena maravilha. E que venham os próximos volumes o quanto antes.

Petter Baiestorf.