Archive for the Museu Coffin Souza Category

Os Discos Voadores Atacam

Posted in Cinema, Fotonovela, Museu Coffin Souza with tags , , , , , , , , , , , , on abril 23, 2012 by canibuk

Em Maio de 1963 a editora Editormex Internacional Ltda (copyright da Editora Ediex) lançou a “Cosmos Aventuras” número 3 que trazia a fotonovela de “Earth Vs. The Flying Saucers” (com título nacional intitulado “Os Discos Voadores Atacam”). Fiz Scanner deste material e compartilho aqui com os leitores do Canibuk. Divirtam-se!

A Milhões de Quilômetros da Terra

Posted in Fotonovela, Museu Coffin Souza with tags , , , , , , , , , on janeiro 18, 2012 by canibuk

Nas décadas de 1950, 60 e 70 as fotonovelas eram extremamente populares, algumas delas eram montadas com frames de filmes, como essa “A Milhões de Quilômetros da Terra” que foi publicada aqui no Brasil pela “Cosmos Aventura” (número 9), baseada no filme “20 Million Miles to Earth” (1957) de Nathan Juran, com efeitos de stop motion do mestre Ray Harryhausen. Canibuk, através do “Museu Coffin Souza”, disponibiliza agora (digitalizada) essa fotonovela para as novas gerações se divertirem com essa arte (quase) extinta. Estamos com mais umas 20 fotonovelas de filmes (todos clássicos sci-fi ou de horror) para digitalizar (mas não digitalizarei mais nenhuma na íntegra porque são revistas antigas demais e a capa desta “A Milhões de Quilômetros da Terra” soltou os grampos enquanto eu realizava o trabalho de digitalização, as próximas vou digitalizar apenas as capas e algumas páginas internas mais empolgantes).

Dois Velhos Inimigos Mortais, Vampiros Dourados do Kung Fu Porreta e o Fim da Hammer

Posted in Cinema, Museu Coffin Souza with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on dezembro 14, 2011 by canibuk

Fundada nos anos 30 por Enrique Carreras e William Hinds, a produtora inglesa Hammer Films transformou-se a partir do final dos anos 50 na maior provedora de filmes de horror e suspense do mundo. Renovando os monstros clássicos (Drácula, Frankenstein, a múmia, etc) imortalizados pela Universal Pictures nas décadas de 30/40, os espertos empresários e seus contratados, acrescentaram cores, sangue e sensualidade no gênero, sem descuidar do clima gótico necessário. Foram revelados grandes diretores como Terence Fisher, Freddie Francis (posteriormente um premiado diretor de fotografia), Roy Ward Baker e uma dupla icônica de astros de terror de grande classe: Peter Cushing e Christopher Lee.

No começo dos anos 70, a produtora já havia experimentado quase todas as variações e novidades para manter o interesse do público em suas criações, e acrescentar mais violência e mais garotas peladas já não fazia diferença nas bilheterias. Procurando desesperadamente se adequar aos gostos e interesses de novos tempos, jovens executivos do estúdio tentaram então trazer um dos seus personagens de maior sucesso, o rei dos vampiros, Conde Drácula, para os dias atuais. “Dracula A.D. 1972” (“Drácula no Mundo da Minissaia”, 1972) de Alan Gibson, com roteiro de Don Hougton, trazia o vampiro de volta, em plena efervescência hippie londrina, ressuscitado por um descendente chamado Johnny Alucard e encontrando um neto de seu eterno inimigo Van Helsing (Peter Cushing). Divertido e estilizado, mesmo assim não fez sucesso e ainda foi uma afronta aos fãs mais radicais de Drácula (e ao próprio ator Christopher Lee) com suas gírias, rock psicodélico (da banda Stoneground) e roupas coloridas. A publicidade também é uma pérola: “O Conde Drácula é o Maior Sarro da Paróquia!”; “Essas quatro menininhas incrementadas fundem ainda mais a cuca do pobre conde.”

Sua continuação “The Satanic Rites of Dracula” (“Os Ritos Satânicos de Drácula”, 1973, lançado em DVD no Brasil pela London Films) da mesma dupla Gibson-Houghton, misturava horror, ação, espionagem e um plano de Drácula para destruir o mundo com uma bactéria mortal. O conde se esconde por trás da identidade de um poderoso industrial, é protegido por uma gang de motociclistas, e a Scotland Yard chama o especialista em cultos satânicos Lorrimer Van Helsing (Cushig) para dar uma mãozinha. Uma “salada de frutas” que foi divulgado primeiro com o incrível título de “Dracula is Dead and Well and Living in London” e demorou cinco nos para ser lançado na América do Norte (aonde é conhecido como “Dracula and his Vampire brides”). Algumas frases sugeridas para a publicidade nos cinemas: “Drácula está de volta com uma guarda de mulheres-vampiro!”, “O príncipe das trevas numa hedionda trama de horror!” e “Rituais de magia negra como nunca o cinema mostrou!”. O mal gera o mal no Sabá dos mortos-vivos!

Encontraram, então, no emergente gênero de filmes de artes marciais (sucesso mundial graças ao ídolo Bruce Lee) a “fórmula perfeita”: terror com Kung-Fu! (ou como diz a publicidade nacional da época “O Primeiro Filme de Caratê e Vampiro!”). A associação natural foi feita com os estúdios dos lendários Shaw Brothers, maiores produtores do gênero pancadaria de Hong Kong. “The Legend of the 7 Golden Vampires” (“ A Lenda dos Sete Vampiros”, 1974) de Roy Ward Baker, com roteiro do agora também co-produtor Don Houghton, colocava o Professor Van Helsing original (novamente e pela última vez vivido por Peter Cushing) combatendo seu nêmesis Drácula em solo oriental nos primeiros anos do século XX. Um dos problemas é que Christopher Lee, depois de ter vivido o vampiro sete vezes para a Hammer (e também em filmes espanhóis e italianos), estava muito descontente com a forma que sua criação clássica estava sendo utilizada e não queria mais vestir a capa preta e os caninos pontiagudos novamente. Foi então escalado o ator John Forbes-Robertson, ligeiramente parecido com Lee e com larga experiência teatral para assumir o posto. Na história, o monge chinês Kah (Chan Chen) faz uma longa viagem até uma parte remota da Europa para pedir ajuda ao poderoso Conde Drácula para restabelecer a força mística de seu templo maligno. Tempos depois, o velho professor Van Helsing é convidado por uma universidade chinesa para uma conferência sobre sua especialidade: o vampirismo. Um monge do bem (um dos veteranos astros do estúdio, David Chiang) convence o professor e seu filho Leyland a viajar para o interior do país, onde uma vila estaria sendo ameaçada por horrendas e putrefatas criaturas que ressurgem das tumbas. Estes mortos-vivos são escravos dos lendários Sete Vampiros Dourados, que andam a cavalo, e usam máscaras e espadas de ouro. Logo começam os embates entre os desmortos e o grupo de sete irmãos guerreiros escalados para proteger os Helsing e a linda Vanessa (Julie Ege) que os acompanha na aventura. Os heróis lutam Kung-Fu, é claro, e destroem as criaturas arrancando o coração de seus corpos apodrecidos. O que Van Helsing descobre é que seu velho inimigo Drácula está por trás de tudo, e incorporado no corpo do monge maligno, está associado com os vampiros chineses. Certamente uma das razões do conde passar grande parte do tempo sendo vivido por um ator chinês é que o Drácula de Forbes-Robertson, com sua maquiagem esverdeada e maneiras afetadas, é uma das piores encarnações do personagem na década. Os vampiros chineses e seus ajudantes zumbis são assustadores e as cenas de lutas (coreografadas por Liu Chia-Liang) bastante efetivas. Mas a direção de Roy Ward Baker perde a mão ao não conseguir misturar o estilo gótico da Hammer com a agitada ação coreografada típica dos irmãos Shaw. Além do roteiro preguiçoso de Houghton, soma-se o fato que grande parte do elenco e equipe técnica não entendia inglês (a maioria das cenas apenas com o elenco oriental foram dirigidas por Chia-Liang, que depois se revelaria um ótimo diretor de filmes de Kung-Fu legítimos), e o filme foi rodado sem som e dublado e re-dublado posteriormente. A Hammer chegou a lançar um disco de vinil com a narração da história por Peter Cushing com a trilha sonora de James Bernard, lançado como “The first Kung Fu horror sound track álbum”. Tudo em vão, pois apesar de ser um sucesso no oriente, a mistura original não foi bem recebida pela distribuidora Warner Brothers que só lançou o filme nos Estados Unidos seis anos depois, com vinte minutos a menos e com o título de “The Seven Brothers Meet Dracula”.

O produtor Michael Carreras pretendia rodar também no oriente um thriller policial moderno e uma nova aventura do Van Helsing de Cushing que se chamaria “Kali: Devil Bride of Dracula” (projeto bastante divulgado na época), mas o fracasso da produção cancelou a associação. David Chiang voltou a trabalhar com sua própria produtora de artes marciais; os Shaw Brothers continuaram com suas aventuras e, em busca de um sucessor de Bruce Lee, acertaram com seu primeiro terror genuinamente oriental , o gore e clássico “Black Magic” (“Magia Negra Oriental”, 1974) de Ho Meng-Hua . A Hammer tentaria uma nova abordagem e mirando no sucesso internacional de “O Exorcista” (1974) cometeriam “To the Devil a Daughter” (“Uma Filha para o Diabo”, 1976, lançado em DVD no Brasil pela Cult Classic) de Peter Sykes com Chistopher Lee e a linda e jovem Nastassja Kinski. Sendo que a única cena que é lembrada deste filme até hoje é um rápido strip tease da ninfeta vestida de freira, não é de estranhar que seria o último filme para o cinema da famosa “Casa do Horror” inglesa.

Escrito por Coffin Souza.

Material de divulgação que as distribuidoras enviavam para os cinemas:

Dracula AD 1972 (página 2).

Dracula AD 1972 (página 3).

Dracula AD 1972 (página 4).

Black Magic (página 2).

The Satanic Rites of Dracula (página 2).

The Satanic Rites of Dracula (página 3).

The Satanic Rites of Dracula (página 4).

Luchadores & Monstruos!!!

Posted in Cinema, Museu Coffin Souza with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on dezembro 1, 2011 by canibuk

Se os americanos têm os super-heróis como Batman, Superman, Spiderman ou os X-Man; a Itália tem os forçudos Hércules, Maciste ou Golias (gênero chamado Peplum, aguardem); os Britânicos o super-espião James Bond, o Japão seus invencíveis samurais e super-heróis alienígenas como Ultraman, Spectreman, Jaspion e uma centena de outros, o que teria o México? Um país latino, fronteira turbulenta com uma das maiores economias do mundo, com uma herança perdida dos avançados Maias, catolicismo forçado, folclore riquíssimo e uma obsessão pela morte que beira a necrofilia; o México tem uma indústria cinematográfica que remonta ao ano de 1895, e que tomou força nos anos de 1960. O cinema de Gênero mexicano tem influência dos filmes de terror e aventura dos EUA, Itália e Inglaterra com um colorido típico, ingenuidade quase infantil e um molho caliente.

Um gênero altamente popular no México – e talvez o mais conhecido fora do país – é a “Lucha Libre”, ou filmes com heróis lutadores de ringue. As lutas profissionais foram introduzidas no país nos anos 30 pelo empresário Salvador Lutteroth, que importou da América do Norte o conceito de lutadores mascarados. A Lucha Libre se tornou um esporte bastante popular e os campeões profissionais verdadeiros ídolos da cultura em geral, tanto que até os partidos políticos mexicanos possuem seus luchadores com máscaras e cores específicas nos uniformes. A popularidade dos astros do ringue os levaram as histórias em quadrinhos e depois ao cinema, com uma diferença em relação aos super-heróis anglo saxônicos ou japoneses, o conceito de identidade secreta é levada ao extremo! Como escreveu David Wilt no seminal livro “MONDO MACABRO – Weird & Wonderful Cinema Around the World” (Pete Tombs, 1997): “Em sua forma pura, estes filmes apresentam um protagonista que é ao mesmo tempo lutador mascarado e super-herói combatente do crime… Se o playboy Bruce Wayne se transforma no Batman para combater o crime, El Santo, por exemplo, é sempre El Santo. Em seus filmes, histórias em quadrinhos e em sua carreira profissional, sua verdadeira identidade e aparência permanece um segredo fortemente guardado.”

O primeiro filme de Lucha Libre foi “Huracán Ramírez” (ou “La Bestia Magnifica”, Prodduciones Hidalgo, 1952), sobre dois irmãos que treinam para serem campeões nos ringue e um deles se volta para o mal. Com o sucesso de público, o muchacho Huracán vendeu seu nome e imagem (sua enfeitada máscara azul e branca) para os produtores e em filmes posteriores seria interpretado pelo também lutador David Silva. Do mesmo ano é o seriado “El Enmascarado de Plata” de René Cardona, com o lutador Medico Asesino enfrentando um cientista louco (também mascarado), baseado nos quadrinhos de El Santo. Existem muitas publicações que creditam este como o primeiro filme de Santo, o Mascarado de Prata, por causa da semelhança da máscara, mas depois do filme, o Medico Asesino teve que mudar a sua para uma totalmente branca. Mas afinal quem era El Santo ? Atenção! O que será contado a seguir permaneceu em segredo durante muitos anos… Santo nasceu 13 de setembro de 1915, em Turlancingo, uma pequena vila no estado de Hidalgo, México. Seu nome verdadeiro era Rodolfo Guzmán Huerta, descendente de indígenas mexicanos (como quase todos os luchadores) e começou sua carreira com o nome de Constantino, depois foi El Hombre Rojo e ainda El Murciélago Enmascarado II. Quando o verdadeiro Murciélago protestou pelo uso de seu nome, Rodolfo teve que procurar um novo nome e baseado na forte religiosidade mexicana virou o Santo. Depois que venceu seu primeiro campeonato nacional em 1942, Huerta defenderia o título até se retirar dos ringues no final da década seguinte pra se dedicar ao cinema, tornado-se uma lenda! Seus primeiros filmes foram rodados por razões econômicas em Cuba . ”Santo Contra Los Hombres Infernales” (ou “Cargamento Blanco”, 1958) e “Santo Contra El Cerebro Del Mal” (1958), ambos de Joselito Rodriguez, continham pouco dos elementos que mais tarde seriam seu sucesso; nenhuma cena de luta no ringue, nenhum elemento fantástico e mesmo El Santo aparecia muito brevemente.

Outro popular super-herói mexicano da época foi Neutron, vivido pelo ex-lutador Wolf Ruvinsksis e exibido internacionalmente (inclusive no Brasil, pela distribuidora especializada PelMex). Calcado fortemente nos modelos de heróis em quadrinhos mais tradicionais, Neutron é a identidade secreta do empresário Carlos Marquez, que para ajudar seu amigo, o jovem chefe de policia Alberto, se transforma no audaz mascarado para combater as ameaças do gênio criminoso Dr. Caronte (feito pelo também lutador Roberto Rodriguez, conhecido com sua máscara branca como Beto El Boticário!)l). Em “Neutron Contra El criminal Sádico” (“Neutron, O Mascarado Negro”, 1960); “Neutron Contra El Dr.Caronte”(1960) e “”Las Automatas de La Muerte” (1960), todos dirigidos por Federico Curiel (1917-1985), as aventuras envolvem o desenvolvimento de uma perigosa bomba de nêutrons e os autômatos criados pelo cientista para protegê-lo.

Então em 1961 foi rodado “Santo Contra Los Zombies” de Benito Alazraki, onde um vilão encapuzado trás criminosos de volta a vida e os domina por controle remoto. Santo é chamado pelas autoridades para ajudar e interrompe suas lutas para resolver o problema do seu jeito, ou seja, no soco! Estava criada uma mitologia, o lutador, que nos ringues nem sempre foi o “bonzinho”, fazendo mais o tipo que é conhecido lá por “rudo” (ou seja, um lutador vilão), agora era um esperto combatente do crime, com direito a laboratório, carros velozes e mocinhas apaixonadas. Nem todos os filmes do Santo e de outros lutadores mexicanos continham elementos de terror e ficção científica, mas foram estes os mais vistos, cultuados e de nosso interesse. Santo começou esta época uma carreira internacional e em muitos países ganhou um novo nome: nos EUA foi chamado “Samson”, na Alemanha Superheld (Super-herói), na Itália “Argos” e na França “Superman”! Em “Santo em El Hotel de La Muerte” (1961) de Federico Curiel (1917-1985), onde um assassino mascarado chamado Professor Corbera, assassina mulheres no antigo Hotel Vasco, Santo é apenas coadjuvante para a dupla Casanova & Boticario e só aparece na segunda metade do filme. Já em “Santo Contra El Cerebro Diabolico” (1962) de Federico Curiel, ele enfrenta o criminoso La sombra Negra, que para se apossar de uma mina de ouro, contrata um cientista que constrói oponentes para Santo à lá Frankenstein, com pedaços de corpos humanos. Um grande sucesso foi “Santo Contra Las Mujeres Vampiro” (“Santo Enfrenta as Mulheres Vampiro”, 1962) de Alfonso Corona Blake (1919-1999), com as deliciosas mexicanas Lorena Velazquez (Maria de La Concepción Lorena Villar Dondé, 1937) e Maria Duvall (Maria Dussange Ortiz, 1939), entre outras vampiresas que procuram uma nova rainha e descobrem que El Santo é o descendente do homem mascarado que derrotara seu culto sangrento a 200 anos.

O sucesso da fórmula levou a uma crescente multiplicação de similares que tiveram vida curta. O heróico Tormenta apareceu em “Señor Tormenta” (1962) e em “Tormenta Em El Ring” (1962); “La Sombra Blanca” (1963) foi a única aparição deste herói, assim como Gold Mask, El Enmascarado de Oro que sumiu após “El Asesino invisible” de 1963. Esperto foi o diretor René Cardona, que junto com o roteirista Alfredo Salazar decidiram dar uma “apimentada” no gênero e colocar “unas chicas” em uniformes apertados para enfrentarem monstros e cientistas malévolos. A bela Lorena Velazquez e a muito gostosa Elizabeth Campbell estrelaram “Las Luchadoras Vs. El Medico Asesino” (no Brasil “Gomar, O Monstro Assassino”, 1962) de René Cardona (1906-1988), onde um médico doido tenta transplantar um cérebro humano para o corpo de um gorila, auxiliado por Gomar, meio homem-meio macaco, fruto de uma experiência anterior. Gloria Vênus (a ex-miss México Velazquez) e sua parceira nos ringues Golden Ruby (Campbell) fizeram sucesso e retornaram em “Las Luchadoras Contra La Momia” (1964) de René Cardona, agora para combaterem a múmia rediviva da princesa asteca Xochitl que possuía o poder de se transformar em cobra ou em morcego, além de uma dupla de perigosas lutadoras de artes marciais japonesas. O filme foi um enorme sucesso na TV americana, exibido dezenas de vezes em sessões noturnas e as Luchadoras voltariam para mais aventuras anos depois.

Enquanto isto, Santo continuava suas atividades, agora envolvido com uma versão mexicana do Fantasma da Ópera. Em “Santo Contra El Estrangulador” (“Santo enfrenta o Estrangulador de Mulheres”, 1963) e “Santo Contra El Espectro Del Estrangulador” (“Santo enfrenta o Fantasma Assassino”, 1963) ambos de Alfonso Corona Blake, um ilusionista maníaco, estrangula várias beldades do Teatro de Variedades para se vingar de uma vedete que lhe deformara o rosto (Conheci o personagem Santo, quando assisti estes dois filmes em seqüencia numa reprise de um cinema pulgueira do bairro em que morava em Porto Alegre quando criança, imaginem o impacto para um “piá” de 12 anos ver esta combinação de terror, luta livre e mulheres gostosas em perigo!). Já em “Santo Em El Museo De Cera” (“Santo contra os Monstros do Museu de Cera”, 1963) do mesmo Corona Blake, nosso herói enfrenta vários monstros clássicos (Frankenstein, Quasímodo, Yeti, o Fantasma da Ópera, Barbazul) que na verdade são pessoas comuns transformadas e manipuladas pelo maligno Dr. Karol através de injeções de uma droga experimental. Santo foi chamado para dar uma força no lançamento de outro lutador popular (e oponente seu nos ringues) chamado Blue Demon. Alejandro Muñoz Moreno (22/04/1922), já havia estrelado seu primeiro filme “Blue Demon El Demonio Azul” (1963) de Chano Urueta (1904-1979) onde enfrentava um lutador transformado em lobisomem por um cientista, mas apesar da direção do criativo Urueta (“El Barón Del Terror”), a produção não chamara a atenção. Assim, em “Blue demon Vs. El Poder Satanico” (1964) de Chano Urueta, Blue, além de enfrentar um misterioso inimigo com poderes sobrenaturais, é envolvido na morte de um oponente durante uma luta. Numa participação relâmpago, El Santo entra no camarim de Blue Demon para elogiá-lo e prometer ajuda no combate ao crime. O público adorou ver o santo e o demônio juntos e foi estabelecida uma duradoura parceria. O mesmo ano marca o aparecimento da figura gigante de Mil Máscaras (Aaron Rodriguez Arellano, São Luis Potosí – 15/07/1942), fisiculturista, Mister México 1961 e participante da Olimpíada de Tóquio de 64. Mais jovem que seus colegas, Rodriguez queria ser toreador, até que assistiu uma luta com El Santo e criou sua persona para os ringues. Diferente dos outros enmascarados, ele não tinha uma máscara fixa, e sim dezenas de modelos e cores, mantendo apenas uma letra M estilizada gravada na testa. Ele também não costumava utilizar suas máscaras em público, como contou em uma entrevista para David J.Schow na revista Fangoria #148: “Quando eu vestia minha máscara, eu era o Mil Máscaras, mas quando eu a tirava, eu me transformava no empresário do Mil Máscaras!”. As primeiras aventuras do novo herói foram contra inimigos normais, em “Mil Mascaras” (1964) ele combate um bando criminoso liderado por um lutador, e em “Los Canallas” (“Anjos Infernais”, 1965) de Federico Curiel, uma gang de jovens motoqueiros delinqüentes. Aaron nunca foi fã dos diretores de cinema, que reclama gostavam de abusar e explorar os atores: “Eu acho muito mais fácil enfrentar uma platéia de 20.000 pessoas em uma arena de luta que um diretor de filmes.” (Fangoria Magazine).

Mas a busca por novos personagens (e bilheteria) continuava. O malandro Alfredo B.Crevenna (1914-1996), aproveitando a anunciada associação de Santo & Blue Demon, criou sua dupla de lutadores “místicos”, Karloff Lagarde (!?) com sua máscara vermelha com chamas saindo de uma letra S, virou Satã, seu companheiro René “Copetes” Guajardo com um A com asas (cópia do símbolo do Capitão América) e máscara azul… o Anjo! Os dois apareceram em “Los Endemoniados Del Ring” (“Os Demônios do Ringue”, l964) e em “Mano Que Aprieta” (1964). Outra tentativa foi feita pela dupla René Cardona /Abel Salazar em “Las Mujeres Pantera” (“O Anjo enfrenta as Mulheres Pantera” (1965), agora as Luchadoras encaram uma seita Druida com muchachas que são metade panteras (ecos de Cat People, de Val lewton) e são auxiliadas pelo misterioso lutador El Angel, que não é o mesmo da dupla anterior, nem o homônimo que fez uma participação no antigo terror “La Maldición de La Momia azteca” (1957), escrito por Salazar!

O sempre muito ocupado Mascarado de Prata nem tinha tempo para se preocupar com imitadores, já que enfrentava feiticeiras em “Santo em Atacan Las Brujas” (1964); ladrões de cadáveres em “Profanadores de Tumbas” (1965) e um clone do conde Drácula em “Santo Contra El Barón Brakola” (1965), todos de José Dias Morales. Então, de repente, os inimigos começaram a chegar do espaço! “Santo Contra La Invasión de Los Marcianos” (“Santo Combate os Marcianos”, 1966) de Alfredo B. Crevenna, um dos filmes mais populares (e Trash) do herói, o coloca enfrentando alienígenas altos, sarados, loiros, que praticam luta-livre e estão armados com um raio mortal que disparam de seus “olhos Astrais” (dispositivo na ridícula touca que usam ao invés de capacetes espaciais). Descontando que metade do tempo do filme são cenas de arquivo de lutas nos ringues, o que sobra da bagaceirada mexicana é realmente muito divertido. O Demônio Azul também se enfrentou com alienígenas no surpreendente “Arañas Infernales” (1966) de Federico Curiel. Quando os habitantes de um planeta habitado por avançada espécime de aracnídeos vê sua rainha definhar por falta de seu alimento principal, ou seja, cérebros, eles assumem a forma humana e passam a caçar na terra, em busca de um exemplar avançado para saciá-la. Não é que o lutador Blue Demon possui exatamente o cardápio da aranha gigante? Depois de ver seus primeiros emissários serem despachados a porradas, a gostosa líder da expedição manda chamar do distante planeta seu príncipe, que além de muito forte, tem a habilidade de transformar sua mão direita em uma aranha venenosa para enfrentar Blue no ringue. No final, graças a seu cérebro privilegiado, o lutador consegue manipular os intrincados instrumentos da nave extraterrestre, mandando os monstros literalmente para o espaço.

Em 1967 o produtor Luis Enrique Vergara (1939-2011) contratou o veterano astro de filmes de terror americano John Carradine (1906-1988) para estrelar uma série de produções chicanas, duas delas veículos para o lutador Mil Máscaras. A primeira, “Enigma de La Muerte” (na TV: ”Enigma da Morte”, 1967) de Federico Curiel é um drama de suspense que se passa em um circo e envolve um grupo de neo-nazistas liderados por um palhaço (Carradine), já “Las Vampiras” (1967) de Curiel, coloca Mil Máscaras tentando destruir um covil de mulheres sanguessugas, tão cruéis que mantêm seu líder original o Conde Drácula (Carradine), velho e enfraquecido, preso a uma jaula. O famoso conde, no entanto estava em plena forma ao ser vivido pelo galã de telenovelas vindo da Itália, Aldo Monti (1929) em “Santo Y El Tesoro de Dracula” (“Santo contra o Drácula”, 1967) de René Cardona. Quando o físico Dr. Sepúlveda inventa uma máquina do tempo e viaja nela com sua filha, acabam se encontrando com o famigerado rei dos vampiros. Salvos por Santo, eles precisam então encontrar o tesouro de Drácula nos dias de hoje para acabar com seu poder maligno. Uma versão do filme com mais cenas de sexo e nudez foi lançada para o mercado europeu como “El Vampiro Y El Sexo”. Finalmente a parceria tão esperada tem início, “Santo Contra Blue Demon em La Atlantida” (“Santo Desafia os Demônios da Atlântida”, 1968) de Julian Sóler é uma ventura de ficção científica, onde o vilão Aquiles, líder do reino perdido de Atlântida, pretende destruir o mundo e tem que enfrentar o super agente secreto X21, nada mais nada menos que El Santo, em novos tempos posando de James Bond latino. Através de poderes hipnóticos, o vilão imortal, domina Blue Demon e o lança contra seu amigo (situação repetida em outros filmes da dupla, para poderem trocar uns sopapos como na época dos ringues), mas claro que no final a justiça prevalece. Para resolver a questão dos complicados cenários futuristas da cidade perdida, o produtor Jesus Sotomayor roubou uma grande quantidade de cenas do filme japonês “Kaiju Daisenso” (1965) de Ishiro Honda, que era mais uma das aventuras do monstro Gojira e seus amigos, mas teve a honradez de incluir o nome de Eiji Tsuburaya nos créditos como responsável pelos efeitos especiais. “Santo y Blue demon en el Mundo de los Muertos” (“Santo no Mundo dos Mortos”, 1968) de Gilberto Martinez Solares (1906-1997), começa na idade média, onde a serviço da inquisição, o Cavaleiro Mascarado de Prata destrói a poderosa bruxa Dona Damiana. No séc. XX, Santo, é claro, é o descendente direto do tal cavaleiro, e a feiticeira reencarna na deliciosa Alisia (Pilar Pellicer) que conclama um exército de zumbis chamados Insepultos. Blue Demon dá uma mãozinha para resolver o imbróglio macabro.

René Cardona trás de volta Las Luchadoras para mais dois épicos, agora com um elenco diferente de chicas calientes. Em Las Luchadoras Contra El Robot Asesino” (“O Louco Criador de Monstros”, 1968), Regina Thorne (Gaby) e Malu Reyes (Gema) enfrentam a ameaça do Dr.Orlak, que além de construir um andróde perigoso, também domina um zumbi deformado chamado Karfax. “La Horripilante Bestia Humana” (“Gomar, o Homem Gorila”, 1968) também conhecido como “Horror Y Sexo”, fez fama internacional por juntar exatamente estes dois elementos: muitas garotas nuas e cenas gore de transplantes. O eminente cirurgião Dr. Krauman tenta salvar a vida de seu filho que sofre de leucemia lhe transplantando o coração de uma lutadora e lhe fazendo uma transfusão do sangue de um gorila. O rapaz recupera a saúde, mas se transforma em um monstro meio símio (que a tradução nacional faz pensar ser o mesmo Gomar, criado em 1962) e comete vários assassinatos, sendo despachado por uma saraivada de balas da polícia. Ah, sim! Também existe uma luchadora mascarada (Norma Nazareno), mas ela pouco faz além de lutar no ringue e ajudar seu noivo, o policial encarregado do caso.

A reunião de vários monstros clássicos em um mesmo filme como fez a Universal no final do seu ciclo de Terror nos anos 40, foi sempre uma grande inspiração para o cinema fantástico mexicano. Várias comédias, filmes infantis (existe até um “Chapéuzinho Vermelho e Pequeno Polegar contra os Monstros”!!?) e é claro “Santo Y Blue Demon Contra Los Monstruos” (“Santo Contra os Monstros de Frankenstein”, 1969) de Gilberto Martinez Solares. Um cientista louco (mais um…) é revivido por seu assistente anão e trás de volta um monstro de Franquestein (escrito assim mesmo…) bigodudo, um lobisomem negro, Drácula (e duas vampiras), uma múmia, um alienígena cabeçudo (que originalmente apareceu no clássico mexicano “La Nave de los Monstruos“), um ciclope e um quarteto de zumbis. Como mesmo assim ele não consegue enfrentar o intrépido mascarado de prata, ele cria ainda um clone de Blue Demon sob seu comando! Nesta época os filmes de lucha libra em geral passaram a conter mais elementos “adultos” em sua iconografia, apesar dos argumentos ingênuos e em grande parte das vezes reciclado. “Santo Em La Venganza de las Mujeres Vampiro” (“Santo Desafia a Maldição das Mulheres Vampiro”, 1969) de Federico Curiel, aposta no sex appeal das vampiras lideradas pela bela Gina Romand, mas é basicamente uma versão revisada de “Santo em Atacan Las Brujas” de 1964. O cientista louco Dr.Brancor revive a condessa vampiro Mayra (Romand), que pretende destruir Santo, por ele ser o descendente do guerreiro que empalou seus ancestrais na Transilvânia em 1630. Além dela recrutar um exército de vampiras e vampiros, o Dr. ainda dá uma forcinha criando um monstro à lá Frankenstein chamado Razos. Troca-se vampiras por bruxas e o monstro por um demônio, e o roteiro é o mesmo! Mas mesmo assim Curiel caprichou na ambientação e em detalhes, tentando reviver o clima mais gótico das primeiras aventuras em preto & branco do herói. Como a expressão “correção política” ainda não existia nesta época, a próxima aventura acabou sendo uma das mais absurdamente incorretas do mascarado. Em “Santo Contra Los Jinetes Del Terror” (1969) de René Cardona, com roteiro e idéias do também lutador Jesus Velásquez (El Murciélago), a história se passa no sec. XIX, onde um grupo de leprosos foge de um sanatório e se tornam criminosos, roubando e estuprando a população local. Santo, posando de cowboy, mete socos e balas nos leprosos! Para piorar ainda foi rodada uma versão mais Hard, aumentando as cenas dos doentes com garotas nuas chamada “Los Leprosos y El Saxo”.

As múmias sempre estiveram presentes no fantástico mexicano desde os anos 50. “Santo em La venganza de La Momia” (1970) de René Cardona foi uma das minhas maiores decepções quando o assisti em uma das várias reprises no extinto Cinema Rosário (meu grande templo de tranqueiras quando jovem) em Porto Alegre. Uma aventura nas selvas, com intermináveis caminhadas, uma múmia com uma máscara de papier maché e vestida em farrapos e que no final se revela uma farsa. Já “Las Momias de Guanajuato” (1970) de Federico Curiel é pura diversão e foi um sucesso em uma época em que o gênero já estava decaindo. Guanajuato é uma pequena cidade na parte central do México, fundada durante a época colonial. Devido a certas particularidades do solo e do ar local, muitos corpos enterrados lá sofreram um processo natural de mumificação e são expostas até hoje em um visitado museu. Isto é um fato real, já na ficção, os corpos desidratados e rígidos voltam misteriosamente à vida e passam a atacar os locais e turistas. Blue Demon e Mil Máscaras juntos, tentam de todo o jeito conter a invasão dos cadáveres, até que quando tudo parece perdido, surge El Santo nos últimos minutos e armado de uma pequena e moderna pistola de raios incendeia os monstros.

A reunião de vários heróis em uma mesma aventura inspirou o produtor Rogélio Agrasánchez a criar o grupo “Los Campeones Justicieros” (1970) de Federico Curiel, onde para enfrentar o super-vilão Mano Negra, se reúnem: Mil Máscaras, Blue Demon, El Medico Asesino, Sombra Vengadora e Tinieblas – EL Gigante (Manuel Leal, 1939, que não era lutador de verdade, apenas ator). Na seqüencia, “Vulven Los Campeones Justicieros” (1972) de Curiel, rodado na Guatemala, Blue & Mil Máscaras são auxiliados por Rayo de Jalisco, Fantasma Blanco e El Avispón, ao enfrentarem mais um cientista demente (deveria haver um em cada esquina do México!) que cria uma raça de homens-ratos poderosos (anões fantasiados).

René Cardona inventou uma versão chicana de “A Noite dos Mortos Vivos” que começou a rodar com o famoso mágico escapista e especialista em artes marciais Zovék (Francisco Javier Chapa Del Bosque). No meio das filmagens o mágico morreu em um acidente automobilístico e a solução foi editar cenas não aproveitadas com Blue Demon e fazer “Blue Demon y Zovék en La Invasión de los Muertos” (1971). O resultado não podia ser uma bagunça maior, enquanto as criaturas revividas por um meteoro radioativo enfrentadas pelo afetado mágico parecem mesmo zumbis, os monstros que Blue combate são nitidamente vampiros e homens-lobo! Nitidamente melhor é “Santo Contra La Hija de Frankenstein” (“Santo Contra a Filha de Frankenstein”, 1971) de Miguel M. Delgado, onde Gina Romand vive a cientista que se mantêm jovem graças ao sangue de mulheres. Ela cria um homem-gorila chamado Truxon (o brutamontes Gerardo Zepeda) para conseguir o sangue “poderoso” de Santo. O mascarado, que no começo havia vencido o monstro original chamado Ursus (Zepeda também), consegue a ajuda da criatura para destruir a nova criação e sua mestre. Blue Demon voltou a fazer parceria com Santo para enfrentar seus inimigos mais tradicionais e perigosos em “Santo y Blue demon Contra Dracula y El Hombre Lobo” (1972) de Miguel M. Delgado, onde um corcunda revive o conde (Aldo Monti) e o lobisomem Rufus (que usa uma camisa de seda amarelo-ouro!).

O sucesso de “Las Momias de Guanajuato” gerou uma série dos Studios Agrasanchez, que começou com “El Robo de las Momias de Guanajuato” (1972) de Tito Navarro, seguiu com “El Castillo de las Momias de Guanajuato” (1973) de Julian Sóler; “Las Momias de San Angel” (1973) de Arturo Matinez; “Leyendas Macabras de La Colonia” (1973) de Arturo Martinez e “La Mansion de las Siete Momias” (1975) de Rafael Lanuza, sempre com um mix pouco variável de heróis mascarados de segunda linha, liderados por Mil Máscaras, com exceção do último estrelado por Blue Demon e Superzán (Alfonso Mora Veyta (?-2006). Um detalhe curioso nas produções made in Agrasanchez é a presença constante de vários anões em papéis de vilões. Aparentemente, no México, os baixinhos sempre foram considerados “sinistros” e em toda a longa filmografia do gênero fantástico sempre estiveram ativos provocando sustos e risos. Mas neste caso específico estas participações tomaram rumos totalmente Trash, como em “Los Vampiros de Coyacán” (1973) de Arturo Martinez, onde Mil Máscaras e Superzán (este herói foi criado para o cinema e diferia de seus amigos luchadores por ter uma “origem alienígena”) enfrentavam um Barão vampiro, seus dois filhos vampiros afeminados e seus assistentes vampiros-anões!

Esta época começou o rápido colapso dos filmes de heróis-lutadores, com o público cansado das convenções e clichês do gênero, mesmo assim, muitos ainda seriam produzidos no México ou na Turquia! (!?!). “Üç Dev Adam” (“Three Mighty Men”, 1973) de T.Fikret Uçak, mostra como El Santo (Yavuz Selekman) e o Capitão América (Deniz Erkanat) são chamados em Istanbul para combater o terrível vilão… o Homem-Aranha! O cinema turco, possivelmente o mais trash do mundo, sempre foi pródigo em produzir suas versões não autorizadas de filmes e personagens de sucesso estrangeiros. Tarzan, Zorro, James Bond, Bat-Girl, E.T., “Star Wars”, “Star Trek”, entre muitos, foram canibalizados pelos turcos, graças a suas leis que não respeitam direitos autorais. Assim o Mascarado de Prata acabou na Turquia em uma aventura que mistura muita pancadaria com cenas de legítimo Splatter.

Em casa os heróis legítimos continuam com seus problemas com uma certa família de fazedores de monstros. Em “Santo y Blue Demon Contra El Dr. Frankenstein” (1973) de Miguel M. Delgado, a dupla de mascarados enfrenta um casal de monstros criados por um descendente do seminal médico louco. É mais do mesmo, mas uma participação no elenco tem destaque: o assistente bigodudo do cientista, vivido por Rúben Aguirre (1934-2011). Quem? Ora, apreciadores da cultura popular mexicana, o célebre “Professor Girafales” da trupe imortal da Turma do Chaves! E ele se sai bem no papel vilanesco, tanto que fez mais uma participação em “Santo Contra El Dr. Muerte” (1974) de Rafael Romero Marchen, onde um dos mais exóticos cientistas loucos de todos os tempos utiliza um soro extraído a partir de tumores induzidos em jovens mulheres para fazer falsificações perfeitas de pinturas famosas. Seguiram-se várias aventuras com El Santo contra mafiosos, lutadores de Karatê e até figuras macabro-mitológicas mexicanas como “La Llorona”, mas além da decadência do gênero, Rodolfo Huerta já tinha esta época, quase 60 anos. Portanto, existe fundamento nas teorias que afirmam, que sem o público perceber, Huerta se retirou das telas, mas foi substituído atrás da máscara primeiro por Eric Del Castillo e depois por seu próprio filho Jorge Guzmán. Em 1981, os filmes com mascarados forçudos já não eram mais mania, mas nunca eram esquecidos. Uma tentativa de renovação de gerações começou com o lançamento de “Chanoc y El Hijo Del Santo Contra los Vampiros Asesinos” de Rafael Perez Grovas. Chanoc era outro personagem popular em aventuras fantásticas do país, era uma espécie de Jim das Selvas chicano, criado pelo diretor Rogélio Gonzales em 1966, sem máscara e interpretado por atores variados, o mais duradouro Nelson Velásquez atuando aqui ao lado de Jorge Guzmán, oficialmente o filho do Santo (em uma trivia obrigatória, consta informar que em cinco filmes com Chanoc, ouve a participação em papéis variados de outro conhecido do público brasileiro, Ramón Valdéz- 1923-1988, o “Seu Madruga”). El Hijo chegou a contracenar com Mil Máscaras em “El Hijo Del Santo en La Frontera Sin Ley” (1983) de Rafael Péres Grovas, mas em fevereiro de 1984, após uma apresentação ao vivo, Rodolfo Guzmán Huerta sentiu-se mal e teve um ataque cardíaco. O herói que sobreviveu a todo o tipo de monstros e vilões por décadas, foi vítima de seu coração e faleceu. Assim como Bela Lugosi exigiu em testamento ser enterrado com a capa que usara em “Drácula”, El Santo foi velado e enterrado com sua máscara prateada como queria, e um cortejo de milhares de fãs tomaram as ruas da cidade do México para suas últimas homenagens ao atlético herói nacional.

Além de seu filho, outros lutadores tentaram preencher o vácuo da morte de El santo: Octágon, Atlantis, Máscara Sagrada, Canek e mesmo Blue Demon Jr., sem sucesso. No drama policial passado no mundo das lutas chamado “La Llave Mortal” (1990) de Francisco Guerrero, Mil Máscaras contracena com seu irmão, o Dos Caras e também com Blue Demon Jr e Black Shadow Jr enfrentando um mestre em artes marciais criminoso, numa verdadeira empreitada familiar. “Santo La Leyenda Del Enmascarado de Plata” (1993) do diretor/roteirista Gilberto de Anda não é como o título sugere uma biografia do lutador, mas um melodrama sobre o problema dos sem- terra mexicanos, que sem o PT, contam com ajuda de El Hijo Del Santo, Blue Panther Jr., Espanto Jr e o ator Daniel Garcia fazendo uma participação especial como o próprio El Santo. Tentando se adaptar aos novos tempos e aos efeitos digitais no lugar dos monstros e cenários de papier maché, “Infraterrestrial” (2000), de Hector Molinar, começa com El Santo passando sua máscara para seu filho. Logo, o novo Santo descobre uma conspiração de uma raça de répteis alienígenas que planejam invadir a terra. Eles criam uma réplica robot do lutador Blue Panther e, auxiliado por alta tecnologia (incluindo um ridículo carro voador em precário CGI), o herói faz juz ao seu legado e despacha os monstruosos invasores. Em 16 de Dezembro de 2000 morre Blue Demon. Em 2007 morre Alejandro Cruz, o Black Shadow. Em 1948, os dois Alejandros (Cruz e Munõz Moreno) criaram para os ringues a dupla Los Hermanos Shadow. Em 1956, Black Shadow apareceu como ele mesmo no clássico terror “Ladrón de Cadáveres” de Fernando Mendez, uma das mais antigas participações de luchadores enmascarados em filmes de horror. Mesmo tendo criado seu personagem próprio e fazendo sucesso, Blue Demon nunca esqueceu seu hermano dos ringues, e Alejandro Cruz fez várias participações em seus filmes. Assim como El santo, que nunca expunha seu nome verdadeiro, Blue Demon também o fazia. Como em muitos de seus filmes aparecia o nome de Alejandro Cruz, muitos pesquisadores e publicações divulgaram por anos a fio, seu nome como sendo o do homem atrás da máscara azul (Fangoria, Aurum Film Encyclopedia, The Illustrated Werewolf, Vampire, Frankenstein Movie Guide e outros), e eu mesmo tenho uma grande parte de minha pesquisa mais antiga com este erro. Agora reparado, graças às preciosas informações do site oficial em memória do lutador, mantido por Blue Demon Jr.

Mil Máscaras continua vivo e ativo. Cultuado dentro e fora do México, principalmente no Japão, onde possui uma legião de fãs desde os anos 60. No ano de 2001 o diretor independente Lee Demarbre realizou o divertido “Jesus Christ Vampire Hunter” onde uma referência ao Santo (creditado no IMDB como “Santo – El Enmascarado de Plata) ajuda Jesus Cristo em pessoa à derrotar hordas de vampiros. Em 2005, o diretor americano Jeff Burr rodou “Mil Mascaras Vs. The Aztec Mummy”, uma tentativa de reviver o gênero com o próprio lutador veterano em ação contra uma das lendas do horror mexicano. Melhor se saiu Jared Hess com a comédia “Nacho Libre” (2008), onde um cozinheiro de um monastério no interior do México (o balofo Jack Black) sonha em ser um lutador mascarado de sucesso, ajudar os órfãos que alimenta e conquistar o coração de uma linda freirinha. Rodado em locações verdadeiras e com grande participação de diversos luchadores atuais, é uma homenagem e sátira ao mesmo tempo, e de grande sucesso internacional. Já o terror americano “Wrestlemaniac” (“O Homem Mascarado”, 2008) utilizou o campeão de lutas Rey Mistério para fazer uma espécie de “Jason com máscara de pano”, decepcionante. Uma breve homenagem aos heróis mexicanos aparece em “Vadias do Sexo Sangrento” (2008) de Petter Baiestorf, a personagem Mirza (Lane ABC), utiliza em duas cenas uma réplica de uma das centenas de máscaras de Mil Máscaras, adquirida no México e emprestada pelo fã do gênero Carlos de Anda.

Em tempos de super-heróis digitais e vampiros e lobisomens delicados, todos os músculos e pancadarias coreografadas nos filmes de Lucha Libre parecem anacrônicos. Assim como seus monstros falsos, vampiras gostosas e cientistas bigodudos. Por isso mesmo é um refresco para a cabeça voltar ao tempo em que heróis eram de carne e ossos… e máscaras (E olha que eu nem falei sobre El Zorro Escarlata, El Látigo Negro, Rocambole, El Charro de Las Calaveras, La Mujer Murciélago, Los Jaguares, Leones Del Ring, Fantasma Negro…).

Pesquisa e texto de Coffin Souza.

Harry Thomas: Monstros Bananas à Preços Idem

Posted in Cinema, Museu Coffin Souza with tags , , , , , , , , , , , , , , , , on novembro 18, 2011 by canibuk

O norte americano Harry Thomas, nascido na Pensylvania em 22 de setembro de 1909, se envolveu com a indústria do cinema primeiro como figurante em filmes como “Pardon Us” (1931), com a dupla humorística Laurel & Hardy (O Gordo & O Magro) e depois se interessou por maquiagem, sendo treinado por William Tutle e Jack Dawn, chefes do departamento da MGM. Durante a fase clássica de filmes de terror da Universal, trabalhou sob ordens de Jack Pierce, que ele considerava seu verdadeiro mestre. Sua vocação para trabalhos rápidos e de baixo custo o levou a televisão, onde foi responsável pela maquiagem em 52 episódios da série “Adventures of Superman” (1951-1954) e pelo filme de cinema realizado para divulgar o programa “Superman and The Mole Man” (1951) de Lee Sholem. Nesta aventura tipicamente “B”, o super-herói vindo do planeta Krypton (vivido pela primeira vez por seu mais famoso intérprete George Reeves) enfrenta a ameaça dos terríveis homens toupeiras, que surgem do fundo da terra para ameaçar os humanos com suas armas de raios. As criaturas, que no final estavam apenas protegendo seu habitat, foram vividas por anões com falsas cabeças pontudas e grossas sobrancelhas. Harry Thomas estava criando seu estilo. Em “Cat Women of the Moon” (“As Mulheres-Gato da Lua”, 1953 em 3D) de Arthur Hilton,Thomas precisou construir duas aranhas gigantes com chifres, já que as telepáticas mulheres-gato da lua que tentavam dominar astronautas terrenos, eram garotas com uniformes colantes pretos com quase nada que lembrasse gatos ou felinos na maquiagem, a não ser longas unhas feitas de pedaços de celulóide cortados e pintados. Sua primeira criação mais complexa surgiu no terror “The Neanderthal Man” (“O Homem Fera”, 1953) de E.A. DuPont, sobre um cientista maluco que desenvolve um soro que o faz regredir a um estágio pré-histórico. A cena de transformação, realizada quadro a quadro, enquanto Thomas ia maquiando o ator Robert Shayne, ao estilo das maquiagens de Jack Pierce para a série de lobisomens dos anos 40, é bastante eficiente, mas destoa totalmente em visual com a pesada (e sem movimentos) máscara feita com algodão, cola, pelos e cascas de laranja secas (fazendo os dentes disformes), além de uma peruca ridícula, construída para o dublê e treinador de animais que precisava no final enfrentar um também muito falso tigre-de-dentes-de-sabre.

Harry Thomas conta no livro “Nightmare of Ecstasy – The Life and Art of Edward D. Wood, Jr.” (Feral House Books, 1992) de Rudolph Grey, que foi convidado pelo jovem cineasta para ir até sua casa para receber o roteiro de seu novo filme. “Eu peguei o endereço e bati na porta. Uma mulher alta, bem vestida me atendeu , mandou sentar e me serviu uma xícara de chá. Eu perguntei se Eddie estava em casa e ela me disse: ”Eu sou Ed Wood”. E eu estava chocado e perguntei “Oh! Você não é a irmã de Ed?“ -“Não, eu sou realmente Ed. É desta forma que quero aparecer em “Glen or Glenda””. Assim, o maquiador acostumado apenas com filmes de ficção científica e monstros teve que trabalhar com cosméticos femininos e embelezar Wood Jr. em seu épico sobre travestismo “Gen or Glenda?” (1953). Além disto, Thomas faz uma ponta na cena em que o personagem Glen tem um pesadelo onde várias pessoas e o demônio (Captain De Zita) o atormentam (ele é o personagem de bigodes, creditado como: “Man in nightmare”). “Glen or Genda estava divorciado completamente do que eu fazia, mas foi divertido.”

Então Harry foi contratado para criar os alienígenas do planeta Astron Delta, que dominam um cientista (Peter Gaves) para ser seu espião no ultra-barato “Killers From Space” (“Mundos Que Se Chocam”, 1954) de W.Lee Wilder. Completamente sem orçamento, ele colocou o que se convencionou chamar de “olhos-de-ping-pong” em senhores de meia idade com macacões pretos e cintos coloridos. Na verdade Thomas utilizou as cavidades de caixas de ovos de plástico pintadas e com pequenos orifícios para os pobres extras poderem enxergar e disfarçou-as com espessas sobrancelhas, sua marca pessoal.

Acostumado com as extravagâncias de Ed Wood, Harry Thomas recebeu um roteiro promissor, afinal “The Bride of the Monster” (1955) prometia Bela Lugosi como um cientista louco com um assistente deformado chamado Lobo (o lutador Tor Johnson), um polvo gigante e etc. Mas novamente as imposições de orçamento foram mais fortes, e as pressas nas filmagens ficam visíveis na maquiagem de Tor, que muda de cena para cena e o polvo na verdade foi roubado do depósito de um estúdio, numa história hoje já clássica. Thomas acabou ficando amigo da trupe mambembe de Wood, e além de confidente das lamúrias do pobre Lugosi, passou a freqüentar a casa de Tor Johnson, onde conta ele teve que certa vez fugir para não passar mal ao acompanhar a família do gigante suíço em uma refeição: “… eles tinham cadeiras especiais para sentar, já que cadeiras comuns quebrariam. O tempo todo Tor dizia – “Comam, comam, comam para ficarem grandes e fortes”. Eu já não agüentava tanta comida e ele queria que eu comesse a metade de uma melancia, quando recusei ele me informou que depois de uma breve soneca teríamos mais um lanche! Eles se pareciam com uma família de grandes ursos!” (R. Grey.). Num dos últimos filmes da produtora classe “Z” Republic, “The Unearthly” (na TV: “O Extraordinário”, 1957) de Brooke L.Peters, John Carradine vivia pela enésima vez um cientista louco, agora fazendo experimentos com transplantes glandulares auxiliado por seu assistente gigante-retardado chamado… Lobo (Tor Johnson, é claro!). Se Johnson atuou ao natural, apenas com seu físico avantajado, no final seu personagem redimido, ajuda a linda mocinha (Allison Hayes) a escapar de um grupo de mutantes deformados que o médico escondia no porão. O principal deles, com uma maquiagem grotesca (no “bom” sentido) feita por Harry Thomas com pedaços de látex e adesivos cirúrgicos era um jovem gigante chamado Carl Johnson, o “little Karl”, filhinho comilão de Tor.

Nesta época, Harry Thomas trabalhou brevemente junto com outra lenda das maquiagens e efeitos vagabundos: Paul Blaisdell (o maquiador preferido de Roger Corman). Em “Voodoo Woman” (1957) de Edward L. Cahn, eles tiveram que reciclar uma fantasia criada por Blaisdell um ano antes para “She Creature” do mesmo Ed Cahn. O antes monstro marinho feminino, ganhou uma nova cabeça, semelhante a uma caveira deformada, uma peruca loira (!) e um vestido feito de sacos de linhagem. No bizarro “From Hell It Came” (“Veio do Inferno”, 1957) de Dan Milner, um príncipe de uma ilha do Pacífico sul reencarna em uma árvore que caminha e ataca pessoas e é chamada de Tabonga. O monstro vegetal parece o pesadelo de uma criança de 5 anos, ou poderia ter saído de algum conto de fadas mais sinistro. Durante muitos anos, lendas sobre a construção/concepção da criatura apareceram em diversas publicações e entrevistas, mas J.J. Johnson no espetacular livro “Cheap Tricks and Class Acts” (McFarland Books, 1996) esclarece o mistério: Paul Baisdell desenhou , a fábrica de máscaras de Halloween e objetos de cena para filmes Don Post Studios, fabricou e Harry Thomas pintou e fez acabamentos no monstro, além de ter feito todas as maquiagens dos nativos da história.

“The Bride and the Beast” (1958) de Adrian Weiss parece uma história escrita por Ed Wood… e é! Precisando de dinheiro, ele vendeu seu roteiro sobre uma mulher (Charlotte Austin) que durante um safári na África, descobre aos poucos que é a reencarnação de uma gorila, para no final reverter ao seu estado primitivo e ir viver feliz no meio das selvas com seus parentes! Como o dublê e performance de gorilas Steve Calvert, já possuía sua fantasia pronta, coube a Harry adicionar mais pêlos, fazer alguns ajustes nos olhos e repintar o primata para ele não parecer exatamente igual a por exemplo “Bride of the Gorilla”(1951), onde já havia sido utilizado.

Finalmente um Clássico! Em 1956, Ed Wood Jr., teve uma idéia brilhante: utilizar umas poucas cenas que havia rodado com seu recém falecido amigo Bela Lugosi para um filme que seria chamado “The Vampire’s Tomb” em uma produção totalmente diferente sobre alienígenas que conseguiam ressuscitar cadáveres humanos para dominar a terra. “Grave Robbers from Outer Space” teria além da participação póstuma de Lugosi, vários outros colaboradores da trupe habitual de Ed, além da presença de uma apresentadora de um programa de filmes de terror da TV chamada Maila Nurmi, mais conhecida como Vampira. Depois de ser financiado por um pastor de uma igreja evangélica, o filme seria renomeado “Plan 9 From Outer Space”(1956/1959) e muito já foi dito e escrito sobre suas filmagens, lançamento e trajetória, que o levaram a fama de ser um dos piores filmes da história do cinema. Fama injusta, já que é muito divertido e extremamente criativo, mas a parte que nos cabe retomar aqui foi contada por Harry Thomas em “Nightmare of Ecstasy” e também no ótimo documentário “Flying Saucers Over Hollywood: Plan 9 Companion” (1992) de Mark P. Carducci. Munido do roteiro, Thomas foi até Ed Wood cheio de idéias sobre a aparência dos alienígenas e argumentou que com adesivo cirúrgico e alguns cosméticos poderia mudar sua cor, olhos e faces, além de saber como alterar suas vozes para não parecerem tão humanos. A resposta de Ed foi clara e precisa e ofendeu o econômico fazedor de monstros: “Harry, nós não temos tempo, nem dinheiro” (ponto final.)

O trabalho de Harry Thomas não era ruim por incompetência sua, mas por tempos reduzidos e orçamentos apertados. Ele se dedicava a desenvolver maquiagens de qualidade, mas a parte financeira e a pressa de diretores e produtores dos filmes vagabundos para que era contratado comprometiam seu trabalho. Quando foi chamado para fazer “Frankenstein’s Daughter” (“A Filha de Frankenstein”, 1958) de Richard E. Cunha, Thomas trabalhou sem um roteiro, criando uma make up bastante expressiva cheia de deformações e cicatrizes para o corpulento ator Harry Wilson. O que o produtor se esquecera de informar era que a criatura seria uma fêmea, vivida antes da transformação pela atriz Sally Todd. Como já havia maquiado para o mesmo filme a jovem Sandra Knight (com sua combinação clássica: dentes enormes deformados mais sobrancelhas peludas), acreditou que ela seria a tal “monstra”! Assim, a solução foi colocar uma enorme quantidade de batom nos lábios deformados do monstro, que para piorar usava uma roupa que parecia a de um Papai-Noel espacial! Para providenciar uma sessão dupla para o lançamento de “A Filha de Frankenstein”, Richard Cunha reescreveu sua história básica terráqueos-enfrentam-uma-raça-de-mulheres-alienígenas gostosas (vista antes em “Cat Women of the Moon”) e Thomas foi encarregado de ajudar a criar uma dupla de homens-rocha e a disfarçar uma aranha gigante fabricada pela Universal para promover seu clássico “Tarântula” (1955), fazendo-a agora a principal ameaça para as garotas da Lua. Uma nova cara e um acréscimo de pêlos só fizeram piorar os já limitados movimentos do bicho movido a fios de nylon. E assim nasceu, então, “Missile to the Moon” (1958), disponível em DVD no Brasil.

Harry Thomas voltou a trabalhar para Ed Wood e criou uma maquiagem deformada para a volta do personagem Lobo (Tor Johnson) do mundo dos mortos em “Night of the Ghouls”, filmado em 1958 e nunca lançado nos cinemas. Um médium picareta chamado Dr.Acula promete fazer contato com entes queridos falecidos de seus clientes, mas acaba provocando a vingança dos mortos (seu título original “Revenge of the Dead”). A confusa seqüencia de acontecimentos sobrenaturais vividas entre cenários de papelão teve “ajuda” na edição de Phil Tucker (de “Robot Monster”, outro épico Trash clássico) e foi o penúltimo filme de Ed Wood Jr.

Harry Thomas esteve na equipe que fez “The Little Shop of Horrors” (1960) de Roger Corman, mas apenas fazendo maquiagens faciais. Teve sua oportunidade de fazer suas próprias recriações dos monstros clássicos (Drácula, o lobisomem e a criatura de Frankenstein) no filme adulto “House on Bare Mountain” (1962) de R.Lee Frost, mas o orçamento para o mais caro filme “Nudie” feito naquela época (72.000 dólares) tinha pouco disponível para maquiagens decentes, principalmente porque o que mais interessava era os corpos nus das belas garotas de uma escola para moças assombrada.

Talvez por já se envolver uma vez com uma árvore que caminhava (em “Veio do Inferno”), o esforçado Thomas foi convocado para ajudar “The Navy Vs. the Night Monsters” (“A Marinha Contra os Monstros”, 1966) dirigido pelo roteirista Michael Hoey. No meio da Antártida, a marinha americana descobre uma zona de calor, e nela estranhas plantas que caminham e devoram seres humanos. Além de ser responsável pelo acabamento nos monstros vegetais, nosso amigo criou uma série de cicatrizes e ferimentos de queimaduras bastante realistas, utilizando materiais baratos. Thomas foi um dos pioneiros na substituição de produtos caros utilizados em maquiagens especiais por materiais caseiros, encontrados principalmente em cozinhas: farinha de trigo com água, calda de chocolate, gelatina e Karo. Ele nunca admitiu a utilização destes produtos por razões financeiras, dizia que muitos atores e atrizes eram alérgicos a certos químicos presentes em certas fórmulas de maquiagens, assim os materiais naturais e comestíveis seriam a melhor opção.

O produtor/diretor Arch Oboler, um entusiasta da 3D (Terceira Dimensão) desde os anos 50 (“Bwana Devil”, 1952) desenvolveu um sistema próprio revolucionário, chamado Space Vision, e escreveu para demonstrá-lo uma ficção científica chamada “The Bubble” (“A Bolha”, 1966), sobre uma pequena cidade em que os habitantes são escravizados por uma estranha bolha de energia que flutua sobre o local (e dentro das salas de cinemas, claro). Harry Thomas foi responsável por desenvolver a bolha plástica alienígena e a aparência zumbificada de suas vítimas. (Assisti a uma reprise deste filme no cinema durante a moda do 3D dos anos 80 e sim, a bolha parecia flutuar na sala de projeção, mas de resto era uma enorme chatice, sem graça e sustos…)

Harry Thomas ainda voltaria a sua criação clássica ao transformar a bela Claire Brennan numa aberração com meio rosto deformado, dentes monstruosos, orelha pontuda e um olho de “ping-pong” em “She Freak” (1966) de Byron Mabe, uma refilmagem picareta de “Freaks” (1932) pelo produtor/roteirista David Friedman, um dos reis do “sexploitaition”. Pena que sua criação apenas apareça poucos minutos no final do filme. Voltou então para a televisão e trabalhou em inúmeras séries e programas, mas nunca foi esquecido pelos diretores e produtores de filmes de horror de baixo orçamento, tanto é que Oliver Stone em sua segunda realização “The Hand” (em vídeo “A Mão”, 1981) o chamou para dar vida à personagem título: a mão decepada de um cartunista que ganha vida própria e comete vários crimes. Algum gore, e com pouco dinheiro… uma mão que parece uma luva de borracha caseira.

Harry Thomas faleceu em 21 de outubro de 1996.

Filmografia Parcial:

Superman and the Mole Man (1951); Invasion U.S.A. (1952); Cat-Women of the Moon (1953); The Neanderthal Man (1953); Port Sinister (1953); Project Moonbase (1953); Glen or Glenda? (1953); Monster from the Ocean Floor (1954); Jail Bait (1954); Killers from Space (1954); Bride of the Monster (1955); Plan 9 from Outer Space” (1956/1959); The Unearthly (1957); Voodoo Woman (1957); The Bride and the Beast (1958); Night of the Ghouls (1958); Terror in the Haunted House (1958); Frankenstein’s Daughter (1958); Missile to the Moon (1958); The Little Shop of Horrors (1960); Raiders from Beneath the Sea (1961); House on Bare Mountain (1962); Space Probe Taurus (1965); The Navy Vs. The Night Monsters (1966); She Freak (1966), The Bubble (1966); Logan’s Run (1976); The Hand (1981).

Texto e pesquisa de Coffin Souza.