Arquivo para setembro, 2012

Hediondo

Posted in Literatura with tags , , , , , , , , , on setembro 29, 2012 by canibuk

I.

Não quero mais ser humano. Odeio está vil humanidade e não quero mais fazer parte dela. Sou desprezível pelo simples fato de ter nascido humano, pelo simples fato de ter a aparência destes racionais irracionais comandados pela insanidade coletiva. Não quero mais ser humano, não quero mais ser racional. Meu eventual fim acabará com a eterna maldição de ter nascido com está desgraçada forma.

II.

Não quero mais ser humano. Não quero mais ser racional. Quero apenas meu aniquilamento completo. Estou preparado para meu extermínio, para meu suspiro final, para minha decomposição derradeira. Hoje decidi que finalmente irei padecer. E somente após minha morte é que deixarei de vegetar sobre este planetinha que apenas me trouxe angustias e tormentos malditos. Hoje comerei fezes de porcos até passar mal, daí então, vomitarei minhas entranhas sobre o chão sujo de algum cubículo mal iluminado, transformando-o em meu túmulo. Feliz irei apodrecer. Feliz serei o banquete de seres insignificantes. Feliz serei esquecido por estas pessoas vazias que hão de continuar lutando por sonhos capitalistas devidamente estúpidos e desnecessários, anseios fúteis ótimos para grandes corporações neoliberais…

Por Uzi Uschi.

Eu

Posted in Literatura with tags , , , , , , , , , , , , , on setembro 26, 2012 by canibuk

mulheres não sabem como amar,

ela me disse.

você sabe como amar

mas mulheres só querem

parasitar.

sei disso porque sou

mulher.

.

hahaha, eu ri.

.

por isso não se preocupe por ter terminado

com Susan

porque ela apenas irá parasitar

outro homem.

.

falamos um pouco mais

então eu me despedi

desliguei o telefone

fui ao banheiro

e mandei uma boa merda de cerveja

basicamente pensando, bem,

continuo vivo

e tenho a capacidade de expelir

sobras do meu corpo.

e poemas.

e enquanto isso acontecer

serei capaz de lidar com

traição

solidão

unhas encravadas

gonorreia

e o boletim econômico do

caderno de finanças.

com isso

me levantei

me limpei

dei a descarga

e então pensei:

é verdade:

eu sei como

amar.

.

ergui minhas calças e caminhei

para a outra peça.

poema de Charles Bukowski.

História de um Brâmane

Posted in Literatura with tags , , , , , , , , , , , , , , , , on setembro 24, 2012 by canibuk

Durante as minhas viagens encontrei um velho brâmane – homem muito sábio, cheio de espírito e erudição; além do mais, era rico, e portanto mais sábio ainda, já que, como não lhe faltava nada, não precisava enganar ninguém. Sua casa era otimamente governada por três lindas mulheres que faziam de tudo para agradá-lo; e quando não se divertia com elas, sua ocupação era filosofar.

Perto de sua moradia, que era bonita, bem decorada e cercada de encantadores jardins, morava uma velha hindu, muito devota, imbecil e extremamente pobre.

– Quem me dera não ter nascido! – disse-me um dia o brâmane. Perguntei-lhe por quê. – Faz quarenta anos que eu estudo – respondeu-me -, e foram quarenta anos perdidos: ensino aos outros, e ignoro tudo; esse estado me enche a alma de tanta humilhação e desgosto que faz com que minha vida seja insuportável. Nasci, vivo no tempo, e não sei o que é tempo; encontro-me num ponto no meio das duas eternidades, como dizem os nossos sábios, e não tenho a mínima idéia do que seja a eternidade. Sou feito de matéria, penso, e nunca pude saber o que é que produz o pensamento; ignoro se o meu entendimento é em mim uma simples faculdade, como a de caminhar, de digerir, e se penso com a minha cabeça como seguro com as minhas mãos. Não apenas o princípio de meu pensamento me é desconhecido, mas também o proncípio dos meus movimentos: não sei por que existo. Não obstante, cada dia me fazem perguntas sobre todos esses pontos; é preciso responder; nada tenho que preste para lhes comunicar; falo bastante, e fico confuso e envergonhado de mim mesmo depois de haver falado. O pior é quando me perguntam se Brama foi produzido por Vixnu, ou se ambos são eternos. Deus é testemunha de que nada sei a respeito, o que bem se vê pelas minhas respostas. “Ah! Meu reverendo”, imploram-me, “dizei-me como é que o mal inunda toda a Terra.” Sinto-me nas mesmas dificuldades que aqueles que me fazem tal pergunta: digo-lhes algumas vezes que tudo vai o melhor possível; mas aqueles que foram arruinados ou mutilados na guerra não acreditam nisso, nem eu tampouco; retiro-me abatido pela curiosidade e pela minha ignorância. Vou consultar nossos antigos livros, e estes duplicam minha escuridão. Vou consultar meus companheiros: respondem-me alguns que o essencial é gozar a vida e zombar dos homens; outros acreditam saber alguma coisa, e perdem-se em divagações; tudo contribui para aumentar o doloroso sentimento que me domina. Às vezes me sinto à beira do desespero, quando penso que, depois de todas as minhas pesquisas, não sei nem de onde venho nem para onde vou nem no que me transformarei.

O estado desse excelente homem me causou verdadeira compaixão: ninguém tinha mais senso e boa-fé. Compreendi que, quanto mais luzes havia no seu entendimento e mais sensibilidade no seu coração, mais infeliz era ele.

Vi no mesmo dia a velha sua vizinha: perguntei-lhe se alguma vez havia ficado aflita por querer saber como era a sua alma. Ela nem entendeu a minha pergunta: jamais em sua vida refletira um instante sobre um só dos pontos que atormentavam o brâmane; acreditava de todo o coração nas metamorfoses de Vixnu e, desde que algumas vezes pudesse conseguir água do Ganges para se lavar, considerava-se a mais feliz das mulheres.

Impressionado com a felicidade daquela pobre criatura, voltei ao meu filósofo e lhe disse:

– Não te envergonhas de ser infeliz, quando mora à tua porta um velho autômato que não pensa em nada e vive feliz?

– Tens razão – respondeu-me ele. – Mil vezes eu disse a mim mesmo que seria feliz se fosse tão tolo como a minha vizinha, contudo não desejaria tal felicidade.

Essa resposta me impressionou mais que todo o resto; consultei minha consciência e vi que na verdade também não desejaria ser feliz sob a condição de ser imbecil.

Apresentei a questão a filósofos, e eles concordaram com a minha opinião. “Contudo”, dizia eu, “existe uma terrível contradição nessa maneira de pensar”. Pois de que se trata, afinal? De ser feliz. Que importa, então, ter espírito ou ser tolo? Mais ainda: aqueles que estão contentes consigo mesmos estão bem certos de estar contentes; mas aqueles que raciocinam não têm tanta certeza de raciocinar bem. “É claro”, dizia eu, “que se deveria preferir não ter senso comum, desde que este contribua, o mínimo que seja, para o nosso mal-estar.” Todos concordaram comigo, porém não encontrei ninguém que aceitasse se tornar imbecil para se sentir contente. Daí concluí que, se damos muito valor à felicidade, damos mais ainda à razão.

Contudo, pensando bem, parece uma insensatez preferir a razão à felicidade. Como explicar, então, tal contradição? E também todas as outras. Há muito a discutir a respeito disso.

Voltaire.

Rubens Mello – Canções dos Guarus

Posted in Música with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on setembro 23, 2012 by canibuk

Rubens Mello – “Canções dos Guarus” (CD), 11 músicas.

Este post é para indicar o CD de meu amigo Rubens Mello. Não sou muito bom no quesito “resenhar discos”, ainda mais num estilo – POP – que não tenho afinidade nenhuma, já que boa parte da minha vida fui um perseguidor de sons extremos como grindcore ou bandas obscuras estranhas.

O CD do Rubens, “Canções dos Guarus”, é feito para aquele público que curte um barzinho onde rola um músico ao vivo com seu violão e um banquinho. É Pop/MPB para se curtir conversando com amigos entre uma e outra taça de vinho. É som para pessoas de bom gosto. Rubens apresenta o CD, “Canções dos Guarus propõe uma viagem sonora através de composições de artistas guarulhenses consagrados e novos talentos, mesclando diferenças e homogeneizando de forma harmoniosa em seu próprio estilo“, escreve ele no encarte. Há vários sons com um instrumental elétrico, mas penso que se fosse somente voz e violão teriam ficado mais poderosas, como as canções “Cinza e Rosa”, “Teoria” ou “Madalena”. As canções “Encontro Marcado”, “Sai Daqui” e “Alguém” grudam na mente, como uma boa música pop deve ser.

Rubens Mello foi o vencedor do concurso do Mojica que escolhia o sucessor do Zé do Caixão, depois apareceu em alguns filmes importantes como “Encarnação do Demônio” (2008) de José Mojica Marins, onde interpretou um dos assistentes do Zé, e “Ivan” (2011) de Fernando Rick, onde interpretou um travesti de maneira brilhante. Criado no teatro, na cidade de Guarulhos/SP, Rubens aprendeu a cantar e encantar com seu timbre de voz único. Paralelo a sua carreira de ator de teatro/cinema e músico, Rubens também dirigiu alguns interessantes curtas de horror (assim que for possível farei entrevista com ele sobre seus filmes), como “Lâmia” (2004), “A História de Lia (2009) e “Vermibus” (2012). Também é o organizador e incentivador da Mostra Guarú Fantástico, evento de cinema que prima pela exibição de filmes brasileiros independentes.

Fica aqui a dica do CD do Rubens Mello, se você curte um pop bem executado, com uma pegada de MPB, é imperdível. Para comprar o CD, ou contratar o Rubens Mello para shows, entre em contato com ele via facebook ou pelo fone (11) 97403-2797. Cinco sons do Rubens podem ser conferidos no seu My Space.

A Morte de Anderson R.

Posted in Quadrinhos with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on setembro 21, 2012 by canibuk

Em março de 2006 a dupla de trombadinhas Paulo Gerloff e Luimar editaram e lançaram a revista de quadrinhos de humor “Banda Grossa” na cidade de Joinville/SC e resolvi resgatar aqui no Canibuk uma das HQs, “A Morte de Anderson R.” (de autoria de Gerloff), para apresentar aos leitores essa estupenda revista que, infelizmente (até onde sei), só teve seu primeiro número editado. Como no expediente da revista diz “Banda Grossa é uma publicação sem periodicidade da Esprito de Porco Quadrinhos” (sim, “Esprito” escrito assim mesmo, não é erro de digitação), espero que este post renove as energias da dupla de editores e que a número 2 saia logo pois nada impede que uma revista seja lançada de seis em seis anos, coisas de mercado brasileiro, lógico!

Como diz Luimar no editorial: “Não somos bons, ou do bem, ou bonitos (não, bonito eu sou), mas queria ter feito desenhos instantâneos que efetivassem todo o reconhecimento pela participação dos animados e inanimados nesta revista. Desde os seres unicelulares até a internet (esta é cria do capeta e ninhuém tasca). Desta feita: você que enxerga pode constatar que não rolou. Você que não enxerga pode passar o dedo no braille e sentir que necas. Você que não enxerga e é leproso ou não têm mãos mesmo, pede prá alguém ler e também confirmará que lhufas. Você que não enxerga, não têm mãos e não ouve, já sentiu o cheiro da revista e finalmente sacou o esprito da coisa. Então berre: esta revista é prá pessoas que tão a fim duma putaria!!! Como Você.”

Ou seja, senso de humor bizarro 100% catarina, o estado dos débeis, idiotas e imbecis! Sejam bem-vindos à “Banda Grossa”.

Cinema de Bordas 3

Posted in Cinema, Literatura, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on setembro 19, 2012 by canibuk

“Cinema de Bordas 3” (2012, 245 páginas, Editora A Lápis), coletânea de textos sobre cinema independente organizada por Gelson Santana.

“Este livro não pergunta nem explica. Apenas se debruça sobre temas e filmes capazes de dar uma amostragem do que consideramos cinema de bordas. Foi com essas palavras que encerramos a introdução de Cinema de Bordas, publicado em 2006, que reuniu artigos de estudiosos, apaixonados por um tipo específico de cinema periférico, produzido em cidades interioranas ou lugares distantes dos grandes centros produtivos, quase invisível e espalhado por todo o país. Pois hoje, seis anos depois e mais a publicação, em 2008, da coletânea Cinema de Bordas 2, esse pensamento de mobilidade, fluidez e leveza é o mesmo que serve de guia a este outro livro, Cinema de Bordas 3“, nos diz o organizador Gelson Santana na introdução do novo livro que versa sobre o cinema independente brasileiro, que há várias décadas anda a margem do cinema nacional mantido com o dinheiro de seu imposto.

Este terceiro volume traz os seguintes artigos: “Cinema de Bordas, Manual do Usuário” de Alfredo Suppia, um estudo do fenômeno audiovisual popular; “A Visibilidade Bruta nos Filmes de Seu Manoelzinho” de Bernadette Lyra, sobre o cinema realizado por Seu manoelzinho em VHS numa pequena cidadezinha do ES; “A Saga Épica da Cristo Filmes” de Carlos Primati, uma introdução aos filmes realizados por David Rangel que já produzia, de modo a usar um curioso sistema de som, desde 1964; “Rambú da Amazônia” de Gelson Santana, versando sobre o “Rambo” brasileiro; “O Cinema de Bordas, A Estética Trash e o Paracinema” de Laura Cánepa, dando uma geral sobre a produção independente; “Horror à Mineira” de Lúcio Reis, uma interessante introdução aos filmes de horror produzidos na cidade mineira de Pedralva de 12 mil habitantes; “Zumbificando o Réquiem” de Luiz Vadico, punhetagem sobre o “Mangue Negro” (assista o filme que é maravilhoso, este artigo pode te deixar sem vontade de assisti-lo); “Um Olhar Impressionista Sobre Afonso Brazza” de Maria Magno; “Para Além dos Gêneros : Humor e Amor em Filmes de Bordas” de Rosana Soares, com algumas informações sobre alguns filmes do Simião Martiniano; “Imagens e Sons da CUICA” de Zuleika Bueno, sobre a Companhia Ubiratanense Independente de Cinema Amador.

Descontando o teor acadêmico dos textos, “Cinema de Bordas 3” é imperdível como fonte de material para pesquisadores e cinéfilos interessados na cena independente brasileira. Os melhores textos (mais informativos, diretos e soltos) são os de autoria de Carlos Primati (não por acaso jornalista) e Lucio Reis (não por acaso fanzineiro) que informam, divertem e acrescentam detalhes relevantes sobre os cineastas abordados por eles. Cinema de bordas, cinema de garagem, cinema caseiro, paracinema, cinema independente, não importa como são chamados estes fantásticos filmes que transgridem a ordem pré-estabelecida pelo simples fato de existirem, o importante é existir mais livros sobre o tema, mais realizadores produzindo, mais mostras/festivais e outros canais de distribuição/visualização deste cinema independente que não depende de nada para continuar existindo. Como diz Santana: “(esperamos) que Cinema de Bordas 3 sirva para despertar outras iniciativas que somem conosco no resgate de toda essa produção periférica, muitas vezes perdida, escondida e quase invisível, mas tão vital e tão necessária aos estudos de cinema em nosso país.”

Em tempo: A capa deste terceiro volume traz a figura emblemática de Jorge Timm, uma justa homenagem ao ator que faleceu no dia 18 de junho passado e que desde 1995 embelezava o cinema independente com sua gargalhada carismática e talento ímpar.

Para conseguir um exemplar de “Cinema de Bordas 3” (minha sugestão é você comprar todos os volumes do livro) entre em contato com Bernadette Lyra via seu facebook.

por Petter Baiestorf.

Schlock: O Terror do Bananal

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on setembro 17, 2012 by canibuk

“Schlock” (1973, 80 min.) de John Landis. Com: John Landis, Saul Kahan e Joseph Piantadosi.

No cinema muitos dos grandes diretores começaram pequenos em produções de baixo orçamento, mas que transbordavam vontade de (se) divertir. John Landis, diretor responsável por inúmeros filmes com um humor prá lá de incorreto da década de 1980, começou sua carreira de diretor com um pequeno trash-movie intitulado “Schlock”, que contava a história de um homem macaco (John Landis) que se apaixona por uma adolescente cega (uma década antes de Toxie da Troma se apaixonar por outra cega) e aterroriza um subúrbio do sul da Califórnia. Landis, um apaixonado por sketches de humor maluco, estruturou seu roteiro em um punhado de situações absurdas que dialogavam com clássicos do cinema como “King Kong” (1933) de Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack, deixando tudo mais frenético-histérico como a cartilha do cinema dos anos de 1970 pedia. “Schlock”, o macaco apaixonado, toca piano, dá entrevistas para a TV e luta contra o exército americano enquanto a menina cega acha que ele é um cachorro gigante. Impossível não gostar de uma trama imbecil destas.

“Schlock” é o primeiro longa-metragem de Landis onde, apesar da produção capenga, já percebemos seu típico jeito de contar histórias cômicas cheias de situações absurdas. O orçamento do filme foi de 60 mil dólares, o que levou Landis a discutir com Rick Baker, em um de seus trabalhos iniciais, sobre os custos (500 dólares) do traje do macaco (que no filme é interpretado pelo próprio John Landis revelando todo seu amor pelos símios já que naquele mesmo ano também atuou em “Battle for the Planet of the Apes/Batalha do Planeta dos Macacos” de J. Lee Thompson). O baixo orçamento do filme, aliado ao seu senso de humor alucinadamente cretino, fez de “Schlock” uma maravilhosa paródia-homenagem aos filmes da década de 1950.

John Landis (1950) desde garoto sempre foi apaixonado pelo cinema. Em 1969 se destacou trabalhando como assistente de direção de Brian G. Hutton no filme “Kelly’s Heroes”, comédia de guerra filmada na Iuguslávia e estrelada por Clint Eastwood e Telly Savalas. Depois disso se associou ao produtor picareta Jack H. Harris e conseguiu tornar realidade “Schlock”, que filmou com apenas 21 anos de idade. Como seu primeiro filme foi um fracasso de público, Landis ficou alguns anos sem conseguir dirigir nada, até que, inspirado pelo grupo de humor Monty Python, em 1977 conseguiu levantar a produção de “Kentucky Fried Movie” (com roteiro do trio David Zucker, Jim Abrahams e Jerry Zucker, o ZAZ que nos anos de 1980 criou inúmeros clássicos da comédia como “Top Secret!”, “Apertem os Cintos… O Piloto Sumiu” e “Corra que a Polícia Vem aí!”). Foi o suficiente para ser contratado pela Universal Studio para dirigir “Animal House/O Clube dos Cafajestes” (1978) com base em material da National Lampoon e o colocar em contato com gente talentosa como John Belushi e Harold Ramis. “Animal House” foi um sucesso mundial e abriu as portas para Landis filmar “The Blues Brothers/Os Irmãos Cara de Pau” (1980), novamente estrelado por Belushi, ao lado do roteirista Dan Aykroyd, e com participações especiais de músicos como James Brown, Aretha Franklin, Ray Charles e John Lee Hooker, numa produção que marcou época e preparou terreno para o grande clássico de John Landis: “An American Werewolf in London/Um Lobisomem Americano em Londres” (1981), onde seu amigo Rick Baker finalmente pode mostrar do que era capaz com um orçamento decente em mãos. O filme, que dosava magistralmente humor e horror, foi sucesso mundial. Mas as vezes sucesso demais faz mal e a partir daí Landis começou uma parceria com Eddie Murphy em comédia inofensivas como “Trading Places/Trocando as Bolas” (1983), “Coming to America/Um Príncipe em Nova York” (1988) e “Beverly Hills Cop 3/Um Tira da Pesada 3” (1994). Seus outros grandes momentos são filmes como “Three Amigos!/Três Amigos!” (1986), western cômico estrelado pelo impagável trio de humoristas formado por Steve Martin, Chevy Chase e Martin Short (e o diretor de cinema Alfonso Arau no papel do vilão Em Guapo) e “Amazon Women on the Moon/As Amazonas na Lua” (1987), filme em episódios que Landis co-dirigiu em parceria com Joe Dante, Carl Gottlieb, Peter Horton e Robert K. Weiss, que trazia em seu elenco gente talentosa como Russ Meyer, Paul Bartel, Monique Gabrielle, Forrest J. Ackerman, Sybil Danning, B.B. King, Henry Silva, Rip Taylor, Dick Miller, Lyle Talbot e até Bela Lugosi com ajuda de cenas de arquivo. Outro grande momento da carreira de John Landis foi quando ele dirigiu o curta-vídeo clip “Thriller” do lendário Michael Jackson, talvez o clip mais famoso de todos os tempos.

“Schlock” é um dos primeiros trabalhos do maquiador Rick Baker (que havia estreado no cinema em 1972 com o filme “Bone” de Larry Cohen e repetido a parceria no ano seguinte em “Black Caesar”). Nascido em 1950, ainda adolescente começou criando maquiagens caseiras na cozinha da casa de seus pais. Trabalhou no clássico “Squirm” (1976) de Jeff Lieberman, “King Kong” (1976) de John Guillermin e “Star Wars/Guerra nas Estrelas” (1977) de George Lucas, sempre nas equipes de segunda unidade. Em 1977 foi responsável pelos incríveis efeitos de derretimento em “The Incredible Melting Man/O Incrível Homem Que Derreteu” de William Sachs e chamou atenção para seu talento. Por seu trabalho em “Um Lobisomem Americano em Londres” recebeu o primeiro Oscar de muitos e não parou mais de surpreender com maquiagens cada vez mais realistas. Alguns outros grandes momentos de Rick Baker: “The Funhouse” (1981) de Tobe Hooper, “Videodrome” (1983) de David Cronenberg, “Greystoke” (1984) de Hugh Hudson, “Ed Wood” (1994) e “Planet of the Apes” (2001), este dois últimos de Tim Burton.

Em “Schlock” encontramos também a participação especial de duas figurinhas da indústria cinematográfica americana: Jack H. Harris, produtor do filme, no papel do homem lendo uma revista de horror e Forrest J. Ackerman, lendário colecionador de livros e memorabilia do cinema de horror e sci-fi americano, no papel do homem no cinema. O produtor executivo de “Schlock” é George Folsey Jr. que continuou trabalhando com Landis nos anos de 1980. Infelizmente este filme permanece inédito em DVD no Brasil.

por Petter Baiestorf.

Veja o trailer de “Schlock” aqui:

Terror Negro: O Gato Preto

Posted in Quadrinhos with tags , , , , , , , , , on setembro 14, 2012 by canibuk

“Terror Negro” foi uma revista em quadrinhos que trazia trabalhos de horror ao mercado brasileiro dos anos de 1980. Foi editada pela Editorial Cunha Ltda. e não encontrei informações relevantes sobre a história da revista, mas mesmo assim resolvi scannear a versão em quadrinhos de “O Gato Preto”, baseado em texto de Edgar Allan Poe, que saiu neste primeiro número. Também digitalizei a HQ de uma página “A Profecia de Morte”.

Cinema de Garagem – Panorama da Produção Brasileira Independente do Novo Século

Posted in Cinema, Literatura, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on setembro 12, 2012 by canibuk

“Cinema de Garagem – Panorama da Produção Brasileira Independente do Novo Século” (280 páginas, Caixa Cultural), coletânea de textos sobre a produção independente brasileira organizada pela dupla Marcelo Ikeda e Dellani Lima.

O cinema independente brasileiro, nos últimos 10 anos, voltou com força total por conta da facilidade de produção por meios digitais (filmadoras e computadores estão cada vez mais acessíveis).  Novos realizadores estão surgindo em todos os cantos do Brasil, pequenas cidadezinhas começam a se tornar polos de cinema, festivais e mostras são organizadas em capitais e cidades de médio porte do território brasileiro, na net os produtores encontram um local onde escoar sua produção tendo contato direto com um público informado e até alguns livros de teoria cinematográfica, como a série de livros do “Cinema de Bordas” ou este “Cinema de Garagem”, surgem, ainda que timidamente, aqui e ali.

Este “Cinema de Garagem” é um livro-catálogo lançado junto da Mostra de Cinema de Garagem que a Caixa Cultural do Rio de Janeiro realizou, em parceria com a WSET, entre julho e agosto de 2012 com a exibição de 25 longas e uma incrível quantidade de curtas sem nunca repetir os realizadores (de modo que foi possível exibir trabalhos de inúmeros diretores). O livro é uma coletânea de textos escritos por realizadores, críticos e cinéfilos que possuem afinidade com o cinema independente brasileiro e versa sobre os seguintes assuntos: “Cinema Contemporâneo e Artes Plásticas” de Ana Moravi; “Economia de Gestos: Uma Política da Intimidade” de Arthur Tuoto, sobre as possibilidades da câmera; “Minha Memória, Senhor, é como um Depósito de Lixo” de Bruno de Andrade, crítico de cinema aqui de Santa Catarina que versa sobre a crítica e seu olhar ao “novíssimo cinema” (rótulos bestas, nossa crítica é mais perdida que os próprios realizadores); “Mosaico em Construção: Breve Panorama da Nova Produção Audiovisual Cearense” de Camila Vieira; “Filmes de uma Nota Só” da pesquisadora Carla Maia, considerações sobre os filmes “Vida” (2008) de Paula Gaitán e “A Casa de Sandro” (2009) de Gustavo Beck; “Gregarismo e Teatralidade” de Carlos Alberto Mattos sobre a relação entre o cinema independente de agora e o cinema independente brasileiro do passado; “Cinema Inclassificável, Urgente e Afetivo” do realizador Dellani Lima, sobre as formas de produzir/distribuir cinema; “Lições do Fracasso” do professor Denilson Lopes, texto extremamente sóbrio sobre o novo cinema independente brasileiro que coloca no papel o que penso deste novo modo de produzir: Ainda é cedo demais para qualquer tipo de conclusões; “O Cinema Pernambucano Entre Gerações” de Rodrigo Almeida e Fernando Mendonça; “O Nevoeiro”, onde Marcelo Ikeda dá um panorama geral do que está sendo produzido no Brasil; “O Trânsito Intenso nas Garagens de Minas Gerais” de Marcelo Miranda, sobre o cinema mineiro e, fechando o livro, o texto Manifesto Canibal de minha autoria onde teorizei, em 2002, sobre as possibilidades de se fazer filmes independentes com produção caseira e que algumas pessoas levaram a sério (mas prefiro pensar que ninguém me leva a sério porque assim me mantenho jovial).

“Cinema de Garagem” foi organizado por dois realizadores (que juntos já haviam lançado o livro “Cinema de Garagem: Um Inventário Afetivo Sobre o Jovem Cinema Brasileiro do Século XXI“), o que faz com que a abordagem do assunto no livro não seja acadêmica xarope (nada pior do que ler textos acadêmicos sobre cinema). Dellani Lima nasceu em Campina Grande/PB e formou-se em dramaturgia e realização de cinema no Ceará, mas foi em Belo Horizonte/MG que vimos seu cinema vigoroso surgir em grande estilo. Clique em “Dellani Lima e a Arte de Experimentar Sensações” e assista os longas-metragens dele (tive o prazer de ser ator no longa “O Sonho Segue Sua Boca” que Dellani dirigiu em 2008 e pretendo repetir a parceria num futuro próximo). Marcelo Ikeda trabalhou na Ancine entre 2002 e 2010 e já realizou diversos curtas-metragens como “O Posto” (2005) e “Carta de um Jovem Suicida” (2008). É curador da Mostra do Filme Livre, professor de cinema e mantêm o blog Cinecasulofilia.

“Cinema de Garagem” tem sua venda proibida (por ter sido bancado pela Caixa Cultural), não sei como os interessados podem conseguir um exemplar, mas adianto aqui que é um livro imperdível para qualquer cinéfilo ou historiador do cinema independente brasileiro. Estamos, ainda, no comecinho de algo. Para onde iremos ninguém tem como prever. Eu, na qualidade de cinéfilo, espero apenas que bons filmes continuem sendo produzidos e mais canais exibidores sejam criados. O resto é teoria prá passar o tempo enquanto se espera o horário do voo!!!

por Petter Baiestorf.

O Cachorro Descobridor de Fêmeas e seu Menino Maltrapilho

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on setembro 10, 2012 by canibuk

“A Boy and his Dog” (“O Menino e seu Cachorro”, 1975, 91 min.) de L.Q. Jones. Com: Don Johnson, Susanne Benton, Jason Robards e Tim McIntire.

Em 2024 o planeta Terra se auto-aniquilou através de uma guerra nuclear e os poucos sobreviventes que aindam vivem na superfície lutam por água potável, comida, armas, munição, conbustível e o artigo mais raro de todos: Mulheres! (a maioria dos sobreviventes são do sexo masculino). Vic (Don Johnson) é a personagem principal deste mundo devastado, um menino de 18 anos que percorre os escombros nucleares saqueando comida em companhia de um rabugento cachorro chamado “Blood” (com voz de Tim McIntire), que é um ótimo farejador de fêmeas. O cachorro acaba sendo a figura paterna, mesmo que às avessas, que Vic respeita e admira. Após algumas aventuras na superfície devastada a dupla encontra Quilla (Susanne Benton), moradora dos subterrâneos que foi enviada ao solo para atrair um macho saudável para fins de reprodução. A cidade subterrânea, conhecida como “Downunder”, possuí luz artificial, baías hidropônicas para produção de alimentos, hierarquia estruturada por uma série de leis bizarras e até mesmo florestas. Uma vez na cidade Vic fica entusiasmado porque foi o escolhido para fazer sexo com várias mulheres, mas lógico, como alegria de maltrapilho em mundo pós-apocalíptico dura pouco, o que parecia ser o paraíso logo se revela um lugar tenebroso à forasteiros.

“A Boy and his Dog” tem um dos melhores finais de filme que já tive o prazer de presenciar, reforçando os motivos pelos quais a produção recebeu inúmeras acusações de ser machista. Não posso comentar aqui para não estragar a surpresa, mas posso adiantar que a conclusão reforça aquela idéia de que uma boa amizade vale mais do que um grande amor. Baseado numa série de contos do escritor Harlan Ellison (escritor de ficção científica que trabalhou em programas de TV como “The Outer Limits”, “Star Trek” e “The Alfred Hitchcock Hour”) escritos em 1969, o roteiro foi desenvolvido pelo ator L.Q. Jones, também responsável pela direção do filme que se inspira na direção pesada de Sam Peckinpah, com quem já havia trabalhado em filmaços como “The Wild Bunch/Meu Ódio Será sua Herança” (1969), “The Ballad of Cable Hogue/A Morte Não Manda Recado” (1970) e “Pat Garrett and Billy the Kid” (1973). O livro de Ellison ganhou o prêmio Nebula Award quando lançado.

O cenário pós-apocalíptico necessário para o filme foi encontrado no deserto de Mojave, numa região conhecida como Coyote Dry Lake, com produção da própria empresa de L.Q. Jones. De certo modo “A Boy and his Dog” foi o grande percussor das inúmeras produções futuristas, de “Mad Max” (1979) de George Miller e “Escape from New York/Fuga de Nova York” (1981) de John Carpenter até as italianadas como “1990: I Guerrieri del Bronx/Os Guerreiros do Bronx” (1982) de Enzo G. Castellari, que tomaram conta dos anos de 1980 com seus vilões punks sádicos que deixaram saudades. Na época Jones tentou produzir uma seqüência do filme mas a produção acabou não decolando, em seu lugar o escritor Ellison continuou a história do filme numa graphic novel chamada “Vic and Blood” ilustrada por Richard Corben.

Antes de dirigir “A Boy and his Dog”, Jones havia experimentado a função com o western dramático “The Devil’s Bedroom” (1964), assinado com seu nome de batismo, Justus McQueen. Jones começou a vida adulta como trabalhador ferroviário até estreiar como ator em “Battle Cry” (1955), drama de guerra dirigido por Raoul Walsh. Após inúmeros trabalhos na televisão assinados com seu nome real, por sugestão dos produtores de um filme, adotou o nome de L.Q. Jones que era mais pomposo. Por muitos anos alternou trabalhos sem importância na TV e cinema classe “A” (dá as caras em filmes estrelados por astros como Henry Fonda, Anthony Quinn, Elvis Presley e outros) até ser chamado por Sam Peckinpah que melhor soube aproveitá-lo na tela. Geralmente associado à filmes de guerra e westerns, Jones também estrelou alguns filmes de horror, como “The Witchmaker” (1969) de William O. Brown, tranqueira onde um psiquiatra investiga uma série de assassinatos de jovens garotas onde pediu para não ser creditado e “The Brotherhood of Satan” (1971) de Bernard McEveety, horror sobre uma família que encontra adoradores de satan no deserto, com roteiro do próprio Jones em parceria com Sean MacGregor. Também vale a pena destacar suas ótimas participações nos clássicos “Hang’em’High/A Marca da Forca” (1969) de Ted Post, onde contracena com Clint Eastwood e o impagável “Lone Wolf McQuade/McQuade – O Lobo Solitário” (1983) de Steve Carver, ação (com comédia involuntária) de Chuck Norris.

No elenco de “A Boy and his Dog” destaque para o sempre ótimo Jason Robards (1922-2000), ator em cerca de 130 filmes sempre interpretando tipos durões. Nos anos de 1950 e 1960 fez muitos trabalhos para a televisão até que em 1968 o diretor italiano Sergio Leone o convidou para viver a personagem Cheyenne no clássico “C’Era una Volta il West/Era Uma Vez no Oeste”, que trazia em seu elenco atores geniais como Henry Fonda, Claudia Cardinale, Charles Bronson e Woody Strode. Depois começou a dar as caras em vários filmaços que se tornaram grandes clássicos do cinema, como “The Ballad of Cable Hogue/A Morte Não Manda Recado” (1970), western genial de Sam Peckinpah que a maioria dos cinéfilos não soube apreciar (está entre meus preferidos); “Tora! Tora! Tora!” (1970) de Richard Fleischer e Kinji Fukasaku, único filmaço sobre o ataque japonês à Pearl Harbor que presta; “Johnny Got His Gun/Johnny Vai à Guerra” (1971) de Dalton Trumbo, o filme de guerra obrigatório para todo aspirante a uma carreira militar; “Murders in the Rue Morgue” (1971) de Gordon Hessler inspirado em Edgar Allan Poe; “All the President’s Men/Todos os Homens do Presidente” (1976) de Alan J. Pakula, sobre o escândalo de Watergate; até “Magnolia” (1999) de Paul Thomas Anderson, um de seus últimos filmes.

“A Boy and his Dog” está em domínio público. Não foi sucesso na época de seu lançamento mas nos dias de hoje atingiu status de cult movie. Aqui no Brasil foi lançado em DVD pela distribuidora Platina Filmes em cópia horrível, sua qualidade consegue ser ainda pior do que a cópia em VHS lançada por aqui pela Nacional Vídeo. Lamentável ver grandes clássicos do cinema de sci-fi sendo tratados tão mal por aqui.

por Petter Baiestorf.

Veja “A Boy And His Dog” aqui: