Archive for the Anarquismo Category

Diversões do Cacete

Posted in Anarquismo, Fanzines, Quadrinhos with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , on junho 28, 2013 by canibuk

A HQ “Bludgeon Funnies” foi pensada por Robert Williams na década de 1960, inspirada nos protestos de rua por direitos civis que ainda hoje continua atual (principalmente no Brasil de agora).

Robert Williams nasceu em Albuquerque, Novo México, e era um arruaceiro exemplar (a base que todo bom artista precisa). No início da década de 1960 se mudou para Los Angeles onde fez aulas de arte. Em seguida juntou-se ao pessoal que editava a “Zap Comix”, revista de quadrinhos contracultura que o deixou famoso no underground artístico.

Neste ano foi lançado o documentário “Robert Williams Mr. Bitchin”, dirigido pelo grupo Mary C. Reese, Doug Blake, Nancye Ferguson, Michael LaFetra e Stephen Nemeth, que faz um apanhado da carreira de Williams.

Segue a HQ “Bludgeon Funnies” que digitalizei do álbum “Zap Comix” lançado no Brasil alguns anos atrás pela Conrad Editora. “E lembre-se… A violência sempre se justifica, se você for o vencedor!”.

Diversões do Cacete1

Diversões do Cacete2

Diversões do Cacete3

Diversões do Cacete4

A Luta em Marcha

Posted in Anarquismo, Literatura with tags , , , , , , , , , , , , , , , on junho 19, 2013 by canibuk

Não há cutelo que corte

Folhas à nova semente

Já que a acha do mais forte

Vai ruindo lentamente.

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Soam os gritos de guerra

Do servo, branco ou preto,

Que bradam por toda a terra

O seu direito de veto.

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O povo trabalhador

Não aceita a opressão

Marcha contra o opressor

Aos gritos de revolução.

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A mulher escravizada

No mesmo pé de igualdade

Ergue na santa cruzada

O pendão da liberdade

.

Cavaleiros do futuro

Em destemidos corcéis

Vão desbravando o monturo

Desses destinos cruéis.

.

Destruir pra construir

É sua nobre missão

Como forças do porvir

Na guerra da redenção.

.

O estado e as camarilhas

Hão-de rolar pela terra

À luz de novas cartilhas

A razão da nossa guerra.

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Pão, justiça, igualdade!

Jamais a lei do mais forte!

Pelo sol da liberdade

Contra o reinado da morte!…

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poesia de Artur Modesto.

Declaração Prévia

Posted in Anarquismo, Arte e Cultura, Surrealismo with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on setembro 5, 2012 by canibuk

Surrealistas, não cessamos de consagrar à trindade Estado-Trabalho-Religião, uma execração que amiúde nos levou ao encontro dos camaradas da Federação Anarquista. Essa aproximação conduz-nos hoje a nos exprimir no Libertaire. Felicitamo-nos ainda mais porque acreditamos que esta colaboração nos permitirá extrair algumas das grandes linhas de força comuns a todos os espíritos revolucionários.

Estimamos que uma ampla revisão das doutrinas se impõe com urgência. Esta só será possível se os revolucionários examinarem juntos todos os problemas do socialismo com o objetivo, não de encontrar ali uma confirmação de suas próprias idéias, mas dali fazer surgir uma teoria capaz de dar um impulso novo e vigoroso para a revolução social. A libertação do homem não poderia, sob pena de se negar imediatamente após, ser reduzida apenas ao plano econômico e político, mas deve ser estendida ao plano ético (saneamento definitivo das relações dos homens entre si). Está ligada à tomada de consciência, pelas massas, de suas possibilidades revolucionárias e não pode, sob nenhuma condição, levar a uma sociedade em que todos os homens, como o exemplo da Rússia, seriam iguais na escravidão.

Irreconciliáveis com o sistema de opressão capitalista, quer se exprima sob a forma dissimulada da “democracia” burguesa e odiosamente colonialista, quer assuma o aspecto de um regime totalitário nazista ou stalinista, não podemos deixar de afirmar uma vez mais nossa hostilidade fundamental para com os dois blocos. Como toda guerra imperialista, a que eles preparam para resolver seus conflitos e aniquilar as vontades revolucionárias não é a nossa. Dela só pode resultar um agravamento da miséria, da ignorância e da repressão. Esperamos exclusivamente da ação autônoma dos trabalhadores a oposição que poderá impedi-la, e conduzir à subversão – no sentido de remanejamento absoluto – do mundo atual.

Esta subversão, o surrealismo foi e permanece o único a empreendê-la no terreno sensível que lhe é próprio. Seu desenvolvimento, sua penetração nos espíritos colocaram em evidência a falência de todas as formas de expressão tradicionais e mostrou que elas eram inadequadas à manifestação de uma revolta consciente do artista contra as condições materiaise morais impostas ao homem. A luta pela substituição das estruturas sociais e a atividade desenvolvida pelo surrealismo para transformar as estruturas mentais, longe de se excluírem são complementares. Sua junção deve apressar a vinda de uma época liberada de toda hierarquia e opressão.

Manifesto de Jean-Louis Bédouin, Robert Benayoun, André Breton, Roland Brudieux, Adrien Dax, Guy Doumayrou, Jacqueline Duprey, Jean-Pierre Duprey, Jean Ferry, Georges Goldfayn, Alain Lebreton, Gérard Legrand, Jehan Mayoux, Benjamin Péret, Bernard Roger, Anne Seghers, Jean Schuster, Clovis Trouille no Le Libertaire de 12 de outubro de 1951.

Declaração Pirata

Posted in Anarquismo, Literatura with tags , , , , , , , , , , , on maio 21, 2012 by canibuk

Daniel Defoe, escrevendo sob o pseudônimo de capitão Charles Johnson, escreveu o que se tornou o primeiro texto histórico sobre os piratas, A General History of the Robberies and Murders of the Most Notorious Pirates (Uma história Geral dos Roubos e Assassinatos dos Mais Notórios Piratas). De Acordo com Jolly Roger (a bandeira pirata), de Patrick Pringle, o recrutamento de piratas era mais efetivo entre os desempregados, fugitivos e criminosos desterrados. O alto-mar contribuiu para um instantâneo nivelamento das desigualdades de classe. Defoe relata que um pirata chamado capitão Bellamy fez este discurso para o capitão de um navio mercante que ele tomou como refém. O capitão tinha acabado de recusar um convite para se juntar aos piratas:

Sinto muito que eles não vão deixar você ter sua chalupa de volta, pois eu desaprovo fazer mesquinharia com qualquer um, quando não é para minha vantagem. Dane-se a chalupa, nós vamos naufragá-la e ela poderia ser de uso para você. Embora você seja um cachorrinho servil, e assim são todos aqueles que se submetem a ser governados por leis que os homens ricos fazem para sua própria segurança; pois os covardes não têm coragem nem para defender eles mesmos o que conseguiram por vilania; mas danem-se todos vocês: danem-se eles, um monte de patifes astutos e vocês, que os servem, um bando de corações de galinha cabeças ocas. Eles nos difamam, os canalhas, quando há apenas esta diferença: eles roubam os pobres sob a cobertura da lei, sem dúvida, e nós roubamos os ricos sob a proteção de nossa própria coragem. Não é melhor tornar-se então um de nós, em vez de rastejar atrás desses vilões por emprego?

Quando o capitão replicou que a sua consciência não o deixaria romper com as regras de Deus e dos homens, o pirata Bellamy continuou:

Você é um patife de consciência diabólica, eu sou um príncipe livre e tenho autoridade suficiente para levantar guerra contra o mundo todo, como quem tem uma centena de navios no mar e um exército de 100 mil homens no campo; e isto a minha consciência me diz: não há conversa com tais cães chorões, que deixam os superiores chutá-los pelos convés a seu belprazer.

Capitão Bellamy & Hakim Bey* (do livro TAZ – Zona Autônoma Temporária, editora Conrad).

* Hakim Bey é pseudônimo do historiador Peter Lamborn Wilson.

Cultura: Vide Bula

Posted in Anarquismo, Arte e Cultura, Literatura with tags , , , , , , , , , , , , , , , , on maio 6, 2012 by canibuk

CULTURA

Uso Geral.

COMPOSIÇÃO:

Cada dose de Cultura pode conter:

Leituras Diversas e Instigantes………………………………………..500mg

Música, Cinema, Vídeo, Teatro, Folclore, Artes em geral………250mg

Excipientes: Criatividade, Informação, Dúvidas, Pesquisas, Ceticismo, Auto-Crítica, Subversão, Contestação, Conversas Produtivas e Diversão.

INFORMAÇÕES AO PACIENTE:

Cultura é uma formulação antiemburrecedora, antiidiótica e analgésica para uso geral e indiscriminado, a eficácia da terapêutica depende da regularidade do uso e dosagens do medicamento.

CUIDADOS DE ARMAZENAGEM:

Conserve o produto em local público e de fácil acesso, evitando no entanto sua manipulação pelos poderes constituídos, capital exploratório, organismos religiosos e militares. Somente o calor das idéias não é excessivo.

PRAZO DE VALIDADE:

Não existe prazo de validade para Cultura.

REAÇÕES ADVERSAS:

De um modo geral, Cultura é muito bem absorvido e tolerado e as reações são leves não representando problemas. As mais comumente observadas são: Insatisfação, Isolamento, Febre de Idéias, Hiperatividade Intelectual, Anticonvencionalismo, Transgressão, Anarquismo e Humor Mordaz.

ESTE MEDICAMENTO DEVE SER MANTIDO AO ALCANCE DAS CRIANÇAS.

Cultura é indicado para: Tratamento dos sinais e sintomas da burreortrite e idiotite mongolóide; alívio da dor aguda da falta de criatividade; alívio dos sintomas de incompetência intelectualóide; também indicado na redução do ócio mental, preguiça cerebral e danos causados pela falta de leituras e informações precoces. Combate também com resultados satisfatórios a infobatização internetal aguda.

POSOLOGIA:

Adultos – Para burrice aguda e idiotice encefálica, altas doses de Cultura devem ser adaptadas para cada paciente. Estas doses podem ser administradas independentemente dos horários das refeições, lazer, sono e sexo.

Idosos – Não há necessidade de ajuste das doses.

Uso Pediátrico – É recomendada boa dose de Cultura em indivíduos abaixo de 18 anos de idade, que será bem absorvida quando empregada concomitantemente com diversão e bom humor.

SUPERDOSAGEM:

Os pacientes devem ser tratados com doses de distração, passeios aleatórios, conversas irresponsáveis, brincadeiras desopilantes e sexo puro, descomprometido e radical.

SIGA CORRETAMENTE O MODO DE USAR; OCORRENDO REAÇÕES ADVERSAS IMPREVISÍVEIS, OS AMIGOS DEVEM SER NOTIFICADOS.

NÃO DESAPARECENDO OS SINTOMAS, PROCURE ORIENTAÇÃO SOBRE EUTANÁSIA.

Dr. Coffin Souza (Farmacêutico responsável – CRF-SC 5010).

2004, para Urtiga.

Kanibaru Sinema

Posted in Anarquismo, Cinema, Livro, Manifesto Canibal with tags , , , , , , , , , , , , , , , , on fevereiro 22, 2012 by canibuk

(ou métodos para fazer filmes sem dinheiro).

Você não precisa ser mais um capacho do sistema se agora já pode ser um messias do caos com a missão de destruir os valores sagrados do cinema milionário que estão implantando no Brasil!

O fazedor de filmes alucinados, que não está contente com os rumos do cinema brasileiro, lhes dá aqui algumas dicas básicas de como produzir sua obra sem utilizar-se do tal dinheiro:

FIGURINOS: Pegue-os nas campanhas de arrecadação de roupas para pobres (de preferência às campanhas de inverno, quando as roupas são melhores). Peça roupas velhas aos parentes e amigos. Roube uniformes militares nos quartéis (os recrutas costumam negociar apetrechos militares por um precinho bem camarada). Faça seus figurinos exclusivos utilizando-se de lixo, como plástico, latas, restos de tecido, cascas de árvores, lonas, etc. Outra opção ótima é colocar seus atores interpretando pelados.

CENÁRIOS/LOCAÇÕES: Ache coisas velhas no lixo/ferros-velhos e crie artefatos futuristas. Utilize a casa dos amigos. Consiga um porão úmido abandonado e dê vida ao mundo que habita seu cérebro. Filme em locais públicos, como ruas, calçadas, matas, praias, esterqueiras, praças, reservas florestais, botecos, casas destruídas/abandonadas, desertos, prédios públicos, parques de diversão, shoppings, puteiros, desfiles patrióticos, cemitérios, etc (mas se você gostar de alguma propriedade privada, você pode invadir e quando a polícia chegar diga que achou que o local era público ou inicie uma discussão com a polícia dizendo que “Toda Propriedade é um Roubo!”, ser preso ajuda na divulgação de sua obra!).

ILUMINAÇÃO: Filme durante o dia aproveitando a luz solar que é de graça. Se necessitar de cenas internas e/ou noturnas, ilumine com luz normal. Você ainda pode utilizar-se de liquinhos, tochas, velas, luzes de carro, etc… O importante é criar uma fotografia diferente/estranha. Outra saída é pedir iluminações profissionais emprestadas aos amigos cineastas que possuem equipamento, encha o saco deles, geralmente eles emprestarão o material para que você pare de encher.

PESSOAL/ELENCO: Utilize seus amigos e freaks em geral. Punks, putas, aleijados reais e mendigos sempre são uma ótima opção, mas guarde uma parte de seu minguado orçamento para pagar a eles um cachê, mesmo que simbólico. Certifique-se antes de que seus atores improvissados e amigos tenham idéias ideológicas parecidas com as suas, caso contrário eles acabam atrapalhando mais do que ajudam (mas mesmo assim você pode utilizá-los como figurantes).

EQUIPE-TÉCNICA: Faça você mesmo tudo, assim o filme sai do jeito que você quer. Se você precisar de ajuda chame estudantes de cinema que precisam estagiar, são ótimos profissionais que trabalham de graça!

ROTEIRO: Crie sempre histórias originais com críticas sociais, mesmo que suas histórias sejam um tanto excêntricas. Lembre-se sempre que a Igreja, O Governo/Estado, os militares, os religiosos em geral, a classe-média boçal, etc, estão aí para serem esculhambados sem dó nem piedade. Importante, às vezes a criação de um roteiro coletivo, com idéias de todo elenco, pode ser inspirador para interpretações mais viscerais, primitivas e raivosas.

EQUIPAMENTOS: Utilize qualquer tipo de câmera. Se você não tiver uma, arranje emprestado. Nos dias de hoje as câmeras de vídeo são mais comuns do que pessoas de boa índole, então é fácil conseguir uma. Para editar seu filme há várias opções que não envolvem dinheiro, as placas de vídeo estão cada vez mais baratas e acessíveis e os programas de edição por computador podem ser baixados via versões piratas. Provavelmente você tem algum amigo que edita vídeozinhos para postar no youtube, use este potencial dele e torne-o seu sócio. Outra opção é editar na câmera de vídeo mesmo. Se você filmar em VHS pode editar seu filme com a utilização de dois vídeo cassetes, mas essa técnica já está ultrapassada. Sua mensagem é o que importa, qualidade é coisa de cara reprimido!!!

ORÇAMENTO: Produza com o que você tiver a disposição. Poupe seu salário, faça vaquinha entre seus amigos, venda rifas, faça programas sexuais, seja criativo e se surpreenda. Falta de dinheiro nunca foi empecilho na vida artística dos gênios!!!

MAQUIAGENS: Faça seus make-ups se utilizando de alimentos, comida é uma ótima fonte de maquiagem amadora barata. Melado com anilina vermelha vira sangue denso e grosso, farinha e água deformam qualquer rosto e vísceras reais dão uma ótima imagem de choque. Uma opção viável é descobrir produções que finalizaram suas filmagens e ficar pedindo para que o maquiador lhes dê seu lixo, com criatividade você consegue disfarçar essas maquiagens já usadas e reutilizá-las no seu filme como se fossem inéditas.

TRILHA SONORA: Dê preferência a bandas e músicos ainda não cooptados pelo mercado capitalista. Discos velhos podem conter músicas maravilhosas completamente esquecidas. Pegue um instrumento e grave ruídos estranhos com ele e encaixe no seu filme. Músicas estranhas, regionais, experimentais e não comerciais (como gore grind, industrial harsh, noise ou a banda Os Legais) sempre dão um clima ótimo!

DIVULGAÇÃO: Pode e deve ser feita através de fanzines, flyers, revistas e jornais undergrounds e independentes. Use a internet para fazer com que seu filme pareça uma produção maior do que realmente é criando notícias relacionadas às exibições que seu filme tiver. Divulgue tudo sempre e crie seu próprio star system, as pessoas comuns adoram endeusar qualquer coisa mesmo!

DISTRIBUIÇÃO: A distribuição de cópias em DVD (ou qualquer outra sigla que venha a ser criada no futuro) pode ser feita utilizando-se dos serviços dos correios. Coloque o filme para download, acredite, não vai atrapalhar em nada suas vendas e ainda ajudará a divulgar seu trabalho. Coloque-o no youtube (mesmo que seja um vídeo somente para maiores, você vai ser censurado e depois poderá ficar divulgando este fato, é bom prá sua auto-promoção). Você também pode realizar exibições em botecos e shows alternativos de todo o Brasil. Exibições com shows de bandas locais undergrounds é ótimo porque garante público para seus primeiros filmes, já que toda e qualquer banda tem seus fãs que comparecem em qualquer coisa que elas façam.

FESTIVAIS: Cada produtor de filmes pode optar por produzir seu próprio festival de filmes, sempre não competitivos (a competição é um vício da sociedade capitalista que deve ser evitado sempre que possível!), fazendo assim um intercâmbio de produções amadoras/undergrounds/experimentais. Outra opção é a união de vários produtores independentes na realização de mostras não competitivas em paralelo aos grandes festivais de cinema, utilizando locais próximos d’onde acontece as babações d’ovos entre os poderosos e atraindo a atenção da imprensa especializada para seu pequeno festival de filmes paralelo. Não se esqueça que os festivais de “cinema oficial” estão por aí para serem invadidos e avacalhados.

LEMBRETE FINAL: Mas lembre-se sempre que não ter equipamento não é desculpa para fazer filmes bobos e/ou ruins, com o mínimo de recursos você pode fazer bons filmes vagabundos com uma produção miseravelmente bem cuidada e original.

escrito por Petter Baiestorf.

junho de 2002.

José Mojica Marins apóia e aprova o "Manifesto Canibal".

Como Viajar de Graça Fazendo Filmes Baratos

Posted in Anarquismo, Arte e Cultura, Nossa Arte, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , on janeiro 17, 2012 by canibuk

Comecei a fazer filmes no ano de 1992, primeiro como uma forma de me divertir com amigos e, logo em seguida, descobri que fazer filmes independentes, mesmo sem grana nenhuma, é uma ótima maneira de convencer as pessoas a te pagarem por viagens. Foi assim que conheci, praticamente de graça, o Brasil inteiro (para minha frustração, ainda não conheço a região norte de nosso país).

Você gostaria de viajar de graça, mas não possuí nem câmera para realizar seu pequeno filme?

Bem, não vejo isso como um empecilho, pois sabemos que hoje bons filmes podem ser feitos sem câmeras. Minha sugestão é você utilizar uma câmera fotográfica digital (pode ser de celular ou aquelas máquinas fotográficas bem baratinhas, tanto faz a definição das imagens) ou um scanner. Tanto com a máquina fotográfica quanto com o scanner, você poderá capturar as imagens e transformá-las em filme usando qualquer programa de edição em computadores (e, hoje em dia, qualquer pessoa possuí um computador a disposição). Mas, se por ventura, você não tiver nada dessas coisas das quais falo aqui, é bom exercitar sua lábia de produtor e convencer as pessoas sobre a necessidade nobre delas te ajudarem a produzir seu filme.

Apesar de que, hoje em dia, se você olhar ao seu redor, vai encontrar com muita facilidade câmeras dos mais variados estilos e qualidade a sua disposição: Câmeras de celular, WEB CAM, câmeras de máquinas fotográficas, câmeras de segurança, etc. Por exemplo, para ilustrar minha linha de raciocínio, você pode construir seu filme combinando todos esses instrumentos que citei aqui, são notas esperando pelo arranjo harmônico. Você pode ter a disposição o computador de seu melhor amigo (que vai ter um scanner acoplado, se não tiver, use o scanner de uma lan house, porra!), com um programa de edição pirata que você baixou da NET. Você pode combinar animação de imagens (capturadas via máquina fotográfica ou scanner) com cenas filmadas através de câmeras de celular, com takes retirados das câmeras de segurança da padaria de seu bairro (o padeiro, além de emprestar as câmeras de segurança para as filmagens necessárias, se bem conversado, ainda poderá patrocinar a alimentação de sua equipe, voltamos ao quesito “fazer filmes sem grana pede que você exercite sua lábia”) e alguma seqüência envolvendo imagens de web cam ou pequenos takes com câmeras fotográficas na função filmar. Seu papel como realizador é ser criativo o suficiente para transformar essa bagunça toda proposta aqui em estética (como parte da lábia de produtor, depois que seu filme estiver finalizado, você precisa ainda criar alguma teoria que justifique a importância de sua obra e crie uma expectativa nos produtores de mostras e festivais de que sua presença palestrando vai engrandecer o evento, isso garante a sua viagem de graça, com passagens aéreas, estadia em hotel bonitão, alimentação e pessoas te pagando bebidas, é uma delícia!).

Agora, sou contra fazer um filme que não diga nada. A falta de dinheiro, equipamentos, condições para realizar seu filme não impede que você tenha idéias, seu cérebro, sua criatividade, sua capacidade de criação, são seus instrumentos mais importantes. Na hora de criar você tudo pode, não há limites. E você pode discutir qualquer assunto, qualquer temática, pois qualquer assunto por você abordado terá seus defensores e seus detratores também. A delícia do mundo está nas diferenças. Você precisa se assegurar que seu projeto pareça único e que sua presença na cidade que você escolheu conhecer de graça seja estritamente necessária.

Em 2005, por exemplo, fiz um filme chamado “Palhaço Triste”, que chamei de autobiografia para dar uma polpa no troço todo, fazer com que um filme vazio ficasse parecendo algo importante. Filmei ele com três amigos me ajudando nas filmagens (dei alguma bebida em troca da ajuda), usei uma filmadora super-VHS velha que tinha em casa e editei as imagens com outro amigo me ajudando. O resultado foi um arthouse sobre as frustrações de um cineasta impossibilitado de realizar seus projetos, tudo isso embalado com um efeito digital (que nem sei o nome) que deixou as imagens com um clima de pesadelo surrealista lisérgico. Não me custou nenhum centavo (editei o “Palhaço Triste” em Florianópolis, a 650 km da minha casa, com minhas passagens bancadas pelo governo de Santa Catarina que, naquela semana, havia me contratado para participar de um debate sobre a produção de filmes independentes) e logo que ficou pronto este filme me proporcionou alguns dias de descanso em Belo Horizonte/MG, onde ele foi exibido em clima de festa num festival de cinema, ganhei bebidas, fiquei num hotel maravilhoso, revi amigos mineiros de longa data e ainda participei como ator no longa-metragem “O Sonho Segue sua Boca” do genial cineasta underground Dellani Lima.

Produza seu filme, as possibilidades de tudo dar certo e ser uma experiência positiva são grandes. Estou torcendo por seu filme e, espero, te encontrar viajando de graça na minha próxima viagem gratuita. Longa vida aos filmes sem grana!

escrito por Petter Baiestorf.

Definição de Anarquismo

Posted in Anarquismo with tags , , , , , on setembro 15, 2011 by canibuk

Anarquia é uma palavra grega que significa literalmente “sem governo”, isto é, o estado de um povo sem uma autoridade constituída.

Antes que tal organização começasse a ser cogitada e desejada por toda uma classe de pensadores, ou se tornasse a meta de um movimento, que hoje é um dos fatores mais importantes do atual conflito social, a palavra “anarquia” foi usada universalmente para designar desordem e confusão. Ainda hoje, é adotada neste sentido pelos ignorantes e pelos adversários interessados em distorcer a verdade.

Não vamos entrar em discussões filológicas, porque a questão é histórica e não filológica. A interpretação usual da palavra não exprime o verdadeiro significado etimológico, mas deriva dele. Tal interpretação se deve ao preconceito de que o governo é uma necessidade na organização da vida social.

O homem, como todos os seres vivos, se adapta às condições em que vive e transmite, através de herança cultural, seus hábitos adquiridos. Portanto, por nascer e viver na escravidão, por ser descendente de escravos, quando começou a pensar, o homem acreditava que a escravidão era uma condição essencial à vida. A liberdade parecia impossível. Assim também o trabalhador foi forçado, por séculos, a depender da boa vontade do patrão para trabalhar, isto é, para obter pão. Acostumou-se a ter sua própria vida à disposição daqueles que possuíssem a terra e o capital. Passou a acreditar que seu senhor era aquele que lhe dava pão, e perguntava ingenuamente como viveria se não tivesse um patrão.

Da mesma forma, um homem cujos membros foram atados desde o nascimento, mas que mesmo assim aprendeu a mancar atribui a estas ataduras sua habilidade para se mover. Na verdade, elas diminuem e paralisam a energia muscular de seus membros.

Se acrescentarmos ao efeito natural do hábito a educação dada pelo seu patrão, pelo padre, pelo professor que ensinam que o patrão e o governo são necessários; se acrescentarmos o juiz e o policial para pressionar aqueles que pensam de outra forma, e tentam difundir suas opiniões, entenderemos como o preconceito da utilidade e da necessidade do patrão e do governo são estabelecidos. Suponho que um médico apresente uma teoria completa, com mil ilustrações inventadas, para persuadir o homem de que com suas pernas livres ele não poderia caminhar nem viver. O homem defenderia suas ataduras furiosamente e consideraria todos que tentassem tirá-las inimigos.

Portanto, se considerarmos que o governo é necessário e que sem governo haveria desordem e confusão, é natural e lógico, que a anarquia, que significa ausência de governo, também signifique ausência de ordem.

Existe, fatos paralelos na história da palavra. Em épocas e países onde se considerava o governo de um homem (monarquia) necessário, a palavra “república” (governo de muitos) era usada exatamente como “anarquia”, implicando desordem e confusão. Traços deste significado ainda são encontrados na linguagem popular de quase todos os países.

Quando esta opinião mudar, e o público estiver convencido de que o governo é desnecessário e extremamente prejudicial, a palavra”anarquia”, justamente por significar “sem governo”, será o mesmo que dizer “ordem natural, harmonia de necessidades e interesses de todos, liberdade total com solidariedade total”.

Portanto, estão errados aqueles que dizem que os anarquistas escolheram mal o nome, por ser este mal compreendido pelas massas e levar a uma falsa interpretação. O erro vem disto e não da palavra. A dificuldade que os anarquistas encontram para difundir suas idéias não depende do nome que deram a si mesmos. Depende do fato de que suas concepções se chocam com os preconceitos que as pessoas têm sobre as funções do governo, ou o “Estado”, como é chamado.

escrito por Errico Malatesta (revista “Letralivre” número 43).

Pernas Atadas

Posted in Anarquismo, Literatura with tags , , , on setembro 4, 2011 by canibuk

Como todos os animais, o homem adapta-se, habitua-se às condições nas quais vive, e transmite por hereditariedade os hábitos adquiridos. Nascido e vivendo na escravidão, herdeiro de uma longa linhagem de escravos, o homem, quando começou a pensar, acreditou que a escravidão fosse uma condição essencial de vida: a liberdade pareceu-lhe impossível. É assim que o trabalhador coagido há séculos a esperar trabalho, isto é, o pão, do bel-prazer de um amo, habituado a ver sua vida continuamente à mercê daquele que possui terra e capital, acabou por crer que é o patrão que lhe dá de comer; ingênuo, ele se diz: o que faria para viver se os amos não existissem?

Tal seria a situação de um homem que tivesse suas pernas atadas desde o nascimento, mas de modo a poder ainda assim caminhar um pouco; ele poderia atribuir a faculdade de se mover a suas ligaduras que só fazem, entretanto, diminuir e paralisar a energia muscular de suas pernas.

E, se aos efeitos naturais do hábito, eu acrescento a educação dada pelo patrão, pelo padre, pelo professor, etc., que estão todos interessados em pregar que os governos e os amos são necessários, se incluírmos o juiz e o policial que se esforçam para reduzir ao silêncio aquele que pensa de forma diferente e quer propagar seu pensamento, compreender-se-á de que maneira, no cérebro pouco culto da massa, enraizou-se o preconceito da utilidade, da necessidade do patrão e do governo.

Imaginem, pois, que ao homem de pernas atadas, do qual falamos, o médico expõe toda uma teoria e dá mil exemplos habilmente inventados para persuadi-lo de que com suas pernas livres ele não poderia caminhar nem viver. Este homem defenderia enraivecidamente suas correntes e consideraria como inimigo aqueles que quisessem arrebentá-las.

escrito por Errico Malatesta (revista “Letralivre” número 33).

O Carro e a Liberdade Burguesa

Posted in Anarquismo, Anti-Carros with tags , , , , , , , on agosto 9, 2011 by canibuk

Crossland, o grande político trabalhista dos anos 1950, que viu no acordo pós-guerra o advento do socialismo, disse uma vez: “Por trás de um voto, um homem: de um homem, um carro!”. Claramente, para os ideólogos do pós-guerra, de Crossland a Thatcher, o carro é a epítome da liberdade e da democracia, e nós certamente concordaríamos!

Para o indivíduo, a posse de um carro oferece um salto para a liberdade e a oportunidade. A liberdade para ir aonde e quando quiser. Uma liberdade impensável para as pessoas das primeiras gerações da classe trabalhadora. Certamente, para o homem, aprender a dirigir é a principal ruptura com as restrições sufocantes da família e o primeiro passo para chegar à idade adulta.

Contudo, esse aumento da liberdade individual serve para reduzir a liberdade de todos os demais. Outros motoristas de carros passam a enfrentar muito mais congestionamentos e atrasos. Os pedestres acabam ficando mais limitados pelo medo de morrer ou de ferir-se gravemente por um carro, enquanto as pessoas sofrem com mais barulho do tráfego e muito mais poluição.

A liberdade de movimento oferecida pelo carro torna-se cada vez mais uma liberdade formal, uma representação da liberdade, assim como todos os lugares se tornam os mesmos tão logo sejam asfaltados e poluídos para se tornarem caminhos para o carro. À medida que o carro se torna a norma, a sua própria liberdade transforma-se numa necessidade, uma vez que atos mundanos, como fazer compras, tornam-se impossíveis sem acesso a um carro. Já é o caso em Los Angeles, Londres ou São Paulo, com o crescimento de megalojas fora da cidade.

Por delinear-nos como cidadãos consumidores, a liberdade do carro, como todas as liberdades burguesas, nos joga em uma guerra de todos contra todos, em que os outros motoristas aparecem meramente como obstáculos e limitações ao nosso próprio direito inalienável de movimento. Esse direito inalienável de movimento, conseqüentemente, implica o dever de obedecer ao código rodoviário e às leis de trânsito, que, por sua vez, são reforçados e garantidos pelo Estado. Policiando as estradas e se comprometendo a continuamente fornecer mais espaço para elas, o Estado assegura a liberdade burguesa de movimento.

Contudo, como o volume de tráfego cresce a uma taxa mais rápida do que a construção de estradas, o carro não tem aonde ir (exceto para levar o seu proprietário ao trabalho), mas tem algo importante a dizer. O carro há muito tempo tem se tornado menos um meio de transporte e cada vez mais um meio de identidade. Reduzindo a possibilidade de uma comunicação direta, o carro deve dizer o que somos por nós. Quer sejamos um ascendente social ou um ecologista consciente, o carro diz tudo.

Apesar da ofensiva da classe trabalhadora dos anos 1960 e 1970, que levou o modo fordista de acumulação à crise e forçou uma maior reestruturação do capital, a contínua centralidade do carro não foi afetada. Certamente, a luta associada das mulheres e da juventude contra a antiga estrutura da família patriarcal, que encontrou sua expressão material moderna no carro dirigido pelo pai de família, com projeto incluindo esposa e dois filhos, foi há muito tempo recuperada no direcionamento da venda de carros às mulheres e aos jovens (e aos que querem ser jovens).

Assim o carro tornou-se não somente central à acumulação de capital nos últimos cinqüenta anos, mas também um meio vital de consolidação do compromisso de classe que tornou tal acumulação possível. A promessa de liberdade física e de mobilidade oferecida pelo carro levou à desmobilização política da classe trabalhadora.

Ned Ludd, livro “Apocalipse Motorizado” (Ed. Conrad).

Canibuk defende o aumento de impostos na gasolina e nas vendas de automóveis/caminhões e que esses impostos sejam usados para a construção de ciclovias e no barateamento das bicicletas. Também defendemos a isenção do imposto aos produtos da cesta básica e defendemos Saúde e Educação gratuíta à todos durante a vida inteira.