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Jail Bait

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on setembro 30, 2016 by canibuk

Jail Bait (“A Face do Crime”, 1954, 71 min.) de Edward D. Wood Jr. Com: Lyle Talbot, Dolores Fuller, Steve Reeves, Herbert Rawlinson e Conrad Brooks.

jailbaitEm “Glen or Glenda?” (1953) Ed Wood explorou o tema do travestismo na sociedade americana, contou a tocante história de pessoas que não se sentiam bem em relação ao sexo em que nasceram e resolveram enfrentar os valores sociais da época de então para serem felizes (e o assunto de troca de sexos continua gerando muita polêmica até nos dias de hoje, mais de 60 anos depois do filme de Ed Wood). Neste “Jail Bait” Wood dá seqüência a sua obsessão por mudanças estéticas contando a história do delinqüente Don Gregor (Clancy Malone) que, após um crime, obriga seu pai (Herbert Rawlinson), um famoso cirurgião plástico, a fazer uma operação caseira com a ajuda de sua irmã (Dolores Fuller) que tinha treinamento básico em enfermagem. Paralelo a todo o drama fantasioso (somente da cabeça de Ed Wood poderia sair uma operação plástica caseira) Don está sendo procurado por uma dupla de homens da lei (Lyle Talbot e Steve Reeves).

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Como todo bom filme Noir, “Jail Bait” tenta ter um clima soturno (é todo filmado a noite dando a ideia de uma noite eterna de várias semanas) e reviravoltas, muitas reviravoltas na estrambólica trama. Don é uma das típicas personagens de Wood, um sujeito marginalizado que diante das circunstâncias acaba fazendo as escolhas erradas e, como Wood nunca condenava as personagens marginalizadas, é impossível ver Don como um típico bandido. Don é apenas um típico filhinho de papai em busca de aventuras para preencher sua existência vazia.

ed-woodEm termos de produção, se compararmos “Jail Bait” com os outros filmes de Wood, é uma produção bem cuidada, com mais acertos do que equívocos. Talvez pela mão da HOWCO, já que o filme foi pago por eles. A HOWCO foi uma produtora/distribuidora dos sócios Joy Newton Houck Sr. (pai do diretor de filmes vagabundos Joy N. Houck Jr. e proprietário de 29 salas de cinema), Ron Ormond (diretor de westerns e exploitations movies) e J. Francis White (proprietário de 31 salas de cinema) que fez com que filmes como “The Brain From Planet Arous” (1957) e “Attack of the Fifty-Foot Woman” (1958), ambos do diretor Nathan Juran, rendessem muito dinheiro. George Weiss (produtor de “Glen or Glenda?”) conta que em troca de um orçamento melhor para o filme, Ed Wood desistiu de sua participação nos lucros (o que mostra a esperteza dos produtores, que se livraram do Ed Wood na partilha de lucros e, ainda, melhoraram seu próprio filme).

jail-bait2Ed Wood talvez seja uma das personalidades mais conhecidas e queridas do cinema exploitation por causa de sua milionária e oscarizada cinebiografia “Ed Wood” (1994), único filme realmente excepcional e memorável do quase sempre morno Tim Burton, baseado no livro “Nightmare of Ecstasy: The Life and Art of Edward D. Wood Jr.” (1992) escrito por Rudolph Grey e responsável pelo fabuloso resgate à memória e arte deste artista único do cinema americano. Ed Wood foi para Hollywood em 1947 onde tentou a sorte na TV e teatro (sua peça teatral “Casual Company” é retratada no início da cinebiografia). Ao contrário do que está no filme de Tim Burton, Ed Wood foi apresentado ao Bela Lugosi por seu então colega de quarto Alex Gordon (roteirista de “Jail Bait”, produtor dos primeiros filmes de Roger Corman para a A.I.P. e irmão de Richard Gordon da Amalgamated Productions)  e deste encontro resultou uma amizade que rendeu 3 parcerias memoráveis: “Glen or Glenda?”, “Bride of the Monster” e “Plan 9 from Outer Space”. Também teríamos tido Bela Lugosi em “Jail Bait” (o papel do cirurgião plástico havia sido planejado para ele), mas por estar ocupado não pode aceitar o papel (que acabou sendo interpretado pelo também ator veterano Herbert Rawlinson, que veio a falecer uma noite após as filmagens terem sido concluídas). Alguns dos filmes não tão famosos de Ed Wood que indico são “Night of the Ghouls” (1959), uma tentativa de realizar um filme de horror sobrenatural onde absolutamente tudo dá errado em, talvez, a comédia mais involuntária da história do cinema (que só foi lançado em 1983); The Sinister Urge” (1960), seu último filme “comercial”, um suspense filmado em apenas cinco dias e que acho bem feito (diante das circunstâncias de uma filmagem de cinco dias); e “Necromania: A Tale of Weird Love!” (1971), uma tentativa de pornô (onde os atores não conseguem nem mesmo uma ereção satisfatória) que tem o mérito de apresentar ao mundo o caixão-cama de Criswell. Ed Wood também assinou mais de 50 roteiros, incluindo o Cult “The Violent Years” (1956), de William Morgan, sobre uma gangue de garotos delinqüentes, e vários para o diretor/produtor Stephen Apostolof.

dolores-fuller

steve-reevesAssim como em seus outros filmes, Wood sempre se cercou de técnicos baratos, mas que tinham muita experiência. No elenco de “Jail Bait” vemos Lyle Talbot (que começou sua carreira na década de 1930 e esteve no elenco de mais de 300 produções); Steve Reeves (que anos depois de trabalhar com Wood ficaria marcado pela interpretação da personagem Hércules em uma série de filmes italianos); Dolores Fuller (sua então esposa na época, mas que já era uma veterana na arte da interpretação, tendo integrado o elenco (não creditada) do clássico “It Happened One Night/Aconteceu Naquela Noite” (1934) do genial Frank Capra) e Conrad Brooks (amigo de Wood que sempre esteve nas suas produções, tendo aparecido inclusive no “Ed Wood” de Tim Burton e na refilmagem “Plan 9” (2015) de John Johnson). A trilha sonora é de Hoyt Curtin (que são as músicas da trilha sonora de “Mesa of the Lost Women” (1953), de Ron Ormond e Herbert Tevos, re-aproveitadas em novo contexto). O diretor de fotografia é o veterano William C. Thompson que também fotografou todos os outros filmes de Wood até “The Sinister Urge” (seu último filme). Thompson, que começou no drama mudo “Absinthe” (1914) de Herbert Brenon e George Edwardes-Hall, sempre esteve envolvido no mercado de exploitations. As maquiagens são de Harry Thomas que sempre soube trabalhar bem com orçamentos apertados e assinou as maquiagens em clássicos do trash como “Cat-Women of the Moon” (1953) de Arthur Hilton; “Killers From Space” (1954) de W. Lee Wilder; “The Unearthly” (1957) de Boris Petroff e “The Little Shop of Horrors” (1960) de Roger Corman.

“Jail Bait” foi lançado no Brasil em VHS e DVD pela Continental Home Vídeo e merece ser conferido justamente por ser o filme menos vagabundo do lendário pior diretor de todos os tempos.

Escrito por Petter Baiestorf para seu livro “Arrepios Divertidos”.

Assista Jail Bait aqui:

Harry Thomas: Monstros Bananas à Preços Idem

Posted in Cinema, Museu Coffin Souza with tags , , , , , , , , , , , , , , , , on novembro 18, 2011 by canibuk

O norte americano Harry Thomas, nascido na Pensylvania em 22 de setembro de 1909, se envolveu com a indústria do cinema primeiro como figurante em filmes como “Pardon Us” (1931), com a dupla humorística Laurel & Hardy (O Gordo & O Magro) e depois se interessou por maquiagem, sendo treinado por William Tutle e Jack Dawn, chefes do departamento da MGM. Durante a fase clássica de filmes de terror da Universal, trabalhou sob ordens de Jack Pierce, que ele considerava seu verdadeiro mestre. Sua vocação para trabalhos rápidos e de baixo custo o levou a televisão, onde foi responsável pela maquiagem em 52 episódios da série “Adventures of Superman” (1951-1954) e pelo filme de cinema realizado para divulgar o programa “Superman and The Mole Man” (1951) de Lee Sholem. Nesta aventura tipicamente “B”, o super-herói vindo do planeta Krypton (vivido pela primeira vez por seu mais famoso intérprete George Reeves) enfrenta a ameaça dos terríveis homens toupeiras, que surgem do fundo da terra para ameaçar os humanos com suas armas de raios. As criaturas, que no final estavam apenas protegendo seu habitat, foram vividas por anões com falsas cabeças pontudas e grossas sobrancelhas. Harry Thomas estava criando seu estilo. Em “Cat Women of the Moon” (“As Mulheres-Gato da Lua”, 1953 em 3D) de Arthur Hilton,Thomas precisou construir duas aranhas gigantes com chifres, já que as telepáticas mulheres-gato da lua que tentavam dominar astronautas terrenos, eram garotas com uniformes colantes pretos com quase nada que lembrasse gatos ou felinos na maquiagem, a não ser longas unhas feitas de pedaços de celulóide cortados e pintados. Sua primeira criação mais complexa surgiu no terror “The Neanderthal Man” (“O Homem Fera”, 1953) de E.A. DuPont, sobre um cientista maluco que desenvolve um soro que o faz regredir a um estágio pré-histórico. A cena de transformação, realizada quadro a quadro, enquanto Thomas ia maquiando o ator Robert Shayne, ao estilo das maquiagens de Jack Pierce para a série de lobisomens dos anos 40, é bastante eficiente, mas destoa totalmente em visual com a pesada (e sem movimentos) máscara feita com algodão, cola, pelos e cascas de laranja secas (fazendo os dentes disformes), além de uma peruca ridícula, construída para o dublê e treinador de animais que precisava no final enfrentar um também muito falso tigre-de-dentes-de-sabre.

Harry Thomas conta no livro “Nightmare of Ecstasy – The Life and Art of Edward D. Wood, Jr.” (Feral House Books, 1992) de Rudolph Grey, que foi convidado pelo jovem cineasta para ir até sua casa para receber o roteiro de seu novo filme. “Eu peguei o endereço e bati na porta. Uma mulher alta, bem vestida me atendeu , mandou sentar e me serviu uma xícara de chá. Eu perguntei se Eddie estava em casa e ela me disse: ”Eu sou Ed Wood”. E eu estava chocado e perguntei “Oh! Você não é a irmã de Ed?“ -“Não, eu sou realmente Ed. É desta forma que quero aparecer em “Glen or Glenda””. Assim, o maquiador acostumado apenas com filmes de ficção científica e monstros teve que trabalhar com cosméticos femininos e embelezar Wood Jr. em seu épico sobre travestismo “Gen or Glenda?” (1953). Além disto, Thomas faz uma ponta na cena em que o personagem Glen tem um pesadelo onde várias pessoas e o demônio (Captain De Zita) o atormentam (ele é o personagem de bigodes, creditado como: “Man in nightmare”). “Glen or Genda estava divorciado completamente do que eu fazia, mas foi divertido.”

Então Harry foi contratado para criar os alienígenas do planeta Astron Delta, que dominam um cientista (Peter Gaves) para ser seu espião no ultra-barato “Killers From Space” (“Mundos Que Se Chocam”, 1954) de W.Lee Wilder. Completamente sem orçamento, ele colocou o que se convencionou chamar de “olhos-de-ping-pong” em senhores de meia idade com macacões pretos e cintos coloridos. Na verdade Thomas utilizou as cavidades de caixas de ovos de plástico pintadas e com pequenos orifícios para os pobres extras poderem enxergar e disfarçou-as com espessas sobrancelhas, sua marca pessoal.

Acostumado com as extravagâncias de Ed Wood, Harry Thomas recebeu um roteiro promissor, afinal “The Bride of the Monster” (1955) prometia Bela Lugosi como um cientista louco com um assistente deformado chamado Lobo (o lutador Tor Johnson), um polvo gigante e etc. Mas novamente as imposições de orçamento foram mais fortes, e as pressas nas filmagens ficam visíveis na maquiagem de Tor, que muda de cena para cena e o polvo na verdade foi roubado do depósito de um estúdio, numa história hoje já clássica. Thomas acabou ficando amigo da trupe mambembe de Wood, e além de confidente das lamúrias do pobre Lugosi, passou a freqüentar a casa de Tor Johnson, onde conta ele teve que certa vez fugir para não passar mal ao acompanhar a família do gigante suíço em uma refeição: “… eles tinham cadeiras especiais para sentar, já que cadeiras comuns quebrariam. O tempo todo Tor dizia – “Comam, comam, comam para ficarem grandes e fortes”. Eu já não agüentava tanta comida e ele queria que eu comesse a metade de uma melancia, quando recusei ele me informou que depois de uma breve soneca teríamos mais um lanche! Eles se pareciam com uma família de grandes ursos!” (R. Grey.). Num dos últimos filmes da produtora classe “Z” Republic, “The Unearthly” (na TV: “O Extraordinário”, 1957) de Brooke L.Peters, John Carradine vivia pela enésima vez um cientista louco, agora fazendo experimentos com transplantes glandulares auxiliado por seu assistente gigante-retardado chamado… Lobo (Tor Johnson, é claro!). Se Johnson atuou ao natural, apenas com seu físico avantajado, no final seu personagem redimido, ajuda a linda mocinha (Allison Hayes) a escapar de um grupo de mutantes deformados que o médico escondia no porão. O principal deles, com uma maquiagem grotesca (no “bom” sentido) feita por Harry Thomas com pedaços de látex e adesivos cirúrgicos era um jovem gigante chamado Carl Johnson, o “little Karl”, filhinho comilão de Tor.

Nesta época, Harry Thomas trabalhou brevemente junto com outra lenda das maquiagens e efeitos vagabundos: Paul Blaisdell (o maquiador preferido de Roger Corman). Em “Voodoo Woman” (1957) de Edward L. Cahn, eles tiveram que reciclar uma fantasia criada por Blaisdell um ano antes para “She Creature” do mesmo Ed Cahn. O antes monstro marinho feminino, ganhou uma nova cabeça, semelhante a uma caveira deformada, uma peruca loira (!) e um vestido feito de sacos de linhagem. No bizarro “From Hell It Came” (“Veio do Inferno”, 1957) de Dan Milner, um príncipe de uma ilha do Pacífico sul reencarna em uma árvore que caminha e ataca pessoas e é chamada de Tabonga. O monstro vegetal parece o pesadelo de uma criança de 5 anos, ou poderia ter saído de algum conto de fadas mais sinistro. Durante muitos anos, lendas sobre a construção/concepção da criatura apareceram em diversas publicações e entrevistas, mas J.J. Johnson no espetacular livro “Cheap Tricks and Class Acts” (McFarland Books, 1996) esclarece o mistério: Paul Baisdell desenhou , a fábrica de máscaras de Halloween e objetos de cena para filmes Don Post Studios, fabricou e Harry Thomas pintou e fez acabamentos no monstro, além de ter feito todas as maquiagens dos nativos da história.

“The Bride and the Beast” (1958) de Adrian Weiss parece uma história escrita por Ed Wood… e é! Precisando de dinheiro, ele vendeu seu roteiro sobre uma mulher (Charlotte Austin) que durante um safári na África, descobre aos poucos que é a reencarnação de uma gorila, para no final reverter ao seu estado primitivo e ir viver feliz no meio das selvas com seus parentes! Como o dublê e performance de gorilas Steve Calvert, já possuía sua fantasia pronta, coube a Harry adicionar mais pêlos, fazer alguns ajustes nos olhos e repintar o primata para ele não parecer exatamente igual a por exemplo “Bride of the Gorilla”(1951), onde já havia sido utilizado.

Finalmente um Clássico! Em 1956, Ed Wood Jr., teve uma idéia brilhante: utilizar umas poucas cenas que havia rodado com seu recém falecido amigo Bela Lugosi para um filme que seria chamado “The Vampire’s Tomb” em uma produção totalmente diferente sobre alienígenas que conseguiam ressuscitar cadáveres humanos para dominar a terra. “Grave Robbers from Outer Space” teria além da participação póstuma de Lugosi, vários outros colaboradores da trupe habitual de Ed, além da presença de uma apresentadora de um programa de filmes de terror da TV chamada Maila Nurmi, mais conhecida como Vampira. Depois de ser financiado por um pastor de uma igreja evangélica, o filme seria renomeado “Plan 9 From Outer Space”(1956/1959) e muito já foi dito e escrito sobre suas filmagens, lançamento e trajetória, que o levaram a fama de ser um dos piores filmes da história do cinema. Fama injusta, já que é muito divertido e extremamente criativo, mas a parte que nos cabe retomar aqui foi contada por Harry Thomas em “Nightmare of Ecstasy” e também no ótimo documentário “Flying Saucers Over Hollywood: Plan 9 Companion” (1992) de Mark P. Carducci. Munido do roteiro, Thomas foi até Ed Wood cheio de idéias sobre a aparência dos alienígenas e argumentou que com adesivo cirúrgico e alguns cosméticos poderia mudar sua cor, olhos e faces, além de saber como alterar suas vozes para não parecerem tão humanos. A resposta de Ed foi clara e precisa e ofendeu o econômico fazedor de monstros: “Harry, nós não temos tempo, nem dinheiro” (ponto final.)

O trabalho de Harry Thomas não era ruim por incompetência sua, mas por tempos reduzidos e orçamentos apertados. Ele se dedicava a desenvolver maquiagens de qualidade, mas a parte financeira e a pressa de diretores e produtores dos filmes vagabundos para que era contratado comprometiam seu trabalho. Quando foi chamado para fazer “Frankenstein’s Daughter” (“A Filha de Frankenstein”, 1958) de Richard E. Cunha, Thomas trabalhou sem um roteiro, criando uma make up bastante expressiva cheia de deformações e cicatrizes para o corpulento ator Harry Wilson. O que o produtor se esquecera de informar era que a criatura seria uma fêmea, vivida antes da transformação pela atriz Sally Todd. Como já havia maquiado para o mesmo filme a jovem Sandra Knight (com sua combinação clássica: dentes enormes deformados mais sobrancelhas peludas), acreditou que ela seria a tal “monstra”! Assim, a solução foi colocar uma enorme quantidade de batom nos lábios deformados do monstro, que para piorar usava uma roupa que parecia a de um Papai-Noel espacial! Para providenciar uma sessão dupla para o lançamento de “A Filha de Frankenstein”, Richard Cunha reescreveu sua história básica terráqueos-enfrentam-uma-raça-de-mulheres-alienígenas gostosas (vista antes em “Cat Women of the Moon”) e Thomas foi encarregado de ajudar a criar uma dupla de homens-rocha e a disfarçar uma aranha gigante fabricada pela Universal para promover seu clássico “Tarântula” (1955), fazendo-a agora a principal ameaça para as garotas da Lua. Uma nova cara e um acréscimo de pêlos só fizeram piorar os já limitados movimentos do bicho movido a fios de nylon. E assim nasceu, então, “Missile to the Moon” (1958), disponível em DVD no Brasil.

Harry Thomas voltou a trabalhar para Ed Wood e criou uma maquiagem deformada para a volta do personagem Lobo (Tor Johnson) do mundo dos mortos em “Night of the Ghouls”, filmado em 1958 e nunca lançado nos cinemas. Um médium picareta chamado Dr.Acula promete fazer contato com entes queridos falecidos de seus clientes, mas acaba provocando a vingança dos mortos (seu título original “Revenge of the Dead”). A confusa seqüencia de acontecimentos sobrenaturais vividas entre cenários de papelão teve “ajuda” na edição de Phil Tucker (de “Robot Monster”, outro épico Trash clássico) e foi o penúltimo filme de Ed Wood Jr.

Harry Thomas esteve na equipe que fez “The Little Shop of Horrors” (1960) de Roger Corman, mas apenas fazendo maquiagens faciais. Teve sua oportunidade de fazer suas próprias recriações dos monstros clássicos (Drácula, o lobisomem e a criatura de Frankenstein) no filme adulto “House on Bare Mountain” (1962) de R.Lee Frost, mas o orçamento para o mais caro filme “Nudie” feito naquela época (72.000 dólares) tinha pouco disponível para maquiagens decentes, principalmente porque o que mais interessava era os corpos nus das belas garotas de uma escola para moças assombrada.

Talvez por já se envolver uma vez com uma árvore que caminhava (em “Veio do Inferno”), o esforçado Thomas foi convocado para ajudar “The Navy Vs. the Night Monsters” (“A Marinha Contra os Monstros”, 1966) dirigido pelo roteirista Michael Hoey. No meio da Antártida, a marinha americana descobre uma zona de calor, e nela estranhas plantas que caminham e devoram seres humanos. Além de ser responsável pelo acabamento nos monstros vegetais, nosso amigo criou uma série de cicatrizes e ferimentos de queimaduras bastante realistas, utilizando materiais baratos. Thomas foi um dos pioneiros na substituição de produtos caros utilizados em maquiagens especiais por materiais caseiros, encontrados principalmente em cozinhas: farinha de trigo com água, calda de chocolate, gelatina e Karo. Ele nunca admitiu a utilização destes produtos por razões financeiras, dizia que muitos atores e atrizes eram alérgicos a certos químicos presentes em certas fórmulas de maquiagens, assim os materiais naturais e comestíveis seriam a melhor opção.

O produtor/diretor Arch Oboler, um entusiasta da 3D (Terceira Dimensão) desde os anos 50 (“Bwana Devil”, 1952) desenvolveu um sistema próprio revolucionário, chamado Space Vision, e escreveu para demonstrá-lo uma ficção científica chamada “The Bubble” (“A Bolha”, 1966), sobre uma pequena cidade em que os habitantes são escravizados por uma estranha bolha de energia que flutua sobre o local (e dentro das salas de cinemas, claro). Harry Thomas foi responsável por desenvolver a bolha plástica alienígena e a aparência zumbificada de suas vítimas. (Assisti a uma reprise deste filme no cinema durante a moda do 3D dos anos 80 e sim, a bolha parecia flutuar na sala de projeção, mas de resto era uma enorme chatice, sem graça e sustos…)

Harry Thomas ainda voltaria a sua criação clássica ao transformar a bela Claire Brennan numa aberração com meio rosto deformado, dentes monstruosos, orelha pontuda e um olho de “ping-pong” em “She Freak” (1966) de Byron Mabe, uma refilmagem picareta de “Freaks” (1932) pelo produtor/roteirista David Friedman, um dos reis do “sexploitaition”. Pena que sua criação apenas apareça poucos minutos no final do filme. Voltou então para a televisão e trabalhou em inúmeras séries e programas, mas nunca foi esquecido pelos diretores e produtores de filmes de horror de baixo orçamento, tanto é que Oliver Stone em sua segunda realização “The Hand” (em vídeo “A Mão”, 1981) o chamou para dar vida à personagem título: a mão decepada de um cartunista que ganha vida própria e comete vários crimes. Algum gore, e com pouco dinheiro… uma mão que parece uma luva de borracha caseira.

Harry Thomas faleceu em 21 de outubro de 1996.

Filmografia Parcial:

Superman and the Mole Man (1951); Invasion U.S.A. (1952); Cat-Women of the Moon (1953); The Neanderthal Man (1953); Port Sinister (1953); Project Moonbase (1953); Glen or Glenda? (1953); Monster from the Ocean Floor (1954); Jail Bait (1954); Killers from Space (1954); Bride of the Monster (1955); Plan 9 from Outer Space” (1956/1959); The Unearthly (1957); Voodoo Woman (1957); The Bride and the Beast (1958); Night of the Ghouls (1958); Terror in the Haunted House (1958); Frankenstein’s Daughter (1958); Missile to the Moon (1958); The Little Shop of Horrors (1960); Raiders from Beneath the Sea (1961); House on Bare Mountain (1962); Space Probe Taurus (1965); The Navy Vs. The Night Monsters (1966); She Freak (1966), The Bubble (1966); Logan’s Run (1976); The Hand (1981).

Texto e pesquisa de Coffin Souza.