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Primeiros Trabalhos

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A internet me permitiu ter uma experiência única: consegui encontrar inúmeros trabalhos iniciantes de diretores que viraram grandes lendas do cinema mundial e realizei uma maratona com o intuito de estudar estes filmes. São filmes feitos quando eram crianças, ou filmes de faculdade, ou, em alguns casos, seus primeiros trabalhos profissionais (ou filmes nunca comentados nem por seus mais entusiasmados fãs, caso de alguns que selecionei aqui do David Cronenberg e o último filme de Russ Meyer, por exemplo). Não estou postando crítica sobre estes trabalhos, são apenas observações que quero compartilhar com os leitores do blog (e já pedir desculpas por ter abandonado o blog por tanto tempo, mas realmente não estou encontrando tempo livre para me dedicar do jeito que deve ser). Também posto aqui alguns links com os filmes para um conferida e ao final da lista, também, meu curta inicial, Detritos (realizei em vídeo em 1995).

00- Secret Weapons

Secret Weapons (1972/21’/Canada) de David Cronenberg. É um episódio da série de TV Programme X onde ficamos sabendo que em 1977 a América está vivendo uma Guerra Civil e um cientista cria uma droga que aumenta as habilidades de lutar dos soldados (e com isso a vontade de matar). Mas não espere cenas de luta, é um filme de bastidores da guerra, remetendo a resistência na Segunda Guerra Mundial (gangues de motociclistas são os rebeldes nessa guerra civil). Com uma linda abertura, este curta já dava apontamentos de que rumo a carreira de Cronenberg iria seguir. Os cenários são bem bacanas, remetendo à escombros, fábricas velhas com decorações feitas de fios elétricos e adereços indústrias. Recomendo.

 

1- Boy and Bicycle

Boy and Bicycle (1965/26’/Inglaterra) de Ridley Scott. Com: Tony Scott. Filme bem agradável. Todo feito com câmera na mão e usando os recursos disponíveis para não se gastar dinheiro (que possivelmente estava reservado pra rolos de filmes virgens, revelação e outros detalhes técnicos), assim a estrela do curta é Tony, irmão de Ridley Scott (e que depois se tornou cineasta de sucessos comerciais também), e os cenários são a cidade onde moram, seus prédios, suas praias, etc. É um filme pobre, mas visualmente bonito, já revelando um cineasta mais preocupado com o impacto das imagens do que com uma boa história.

2- Xenogenesis

Xenogenesis (1978/12’/USA) de James Cameron. Sci-fi de baixo orçamento já tentando ser uma produção grandiosa, com muitos efeitos, robôs gigantescos, máquinas (tem uma que remete as máquinas usadas no Aliens – O Resgate) e produção que não fica devendo em nada  para os filmes do Roger Corman da época. A história é bem simplória, até porque fiquei com a impressão de que era um curta só pra mostrar os efeitos especiais. Recomendo.

3- From the Drain

From the Drain (1967/13’/Canada) de David Cronenberg. Um Cronenberg embrionário, aparentemente feito sem dinheiro algum (é um dos curtas que ele realizou na faculdade). Bem amador, com atores bem limitados conversando dentro de uma banheira. É pra ser sério, mas fica parecendo uma sketch sem graça do Monty Python.

4- The Big Shave

The Big Shave (1967/5’/USA) de Martin Scorsese. Depois do filme de banheiro de Cronenberg, vamos para o filme de banheiro do Scorsese (até acho que dava pra lançar um DVD só com curtas filmado dentro de banheiros). Mas aqui a trilha sonora já dá o tom do humor ítalo americano, o que lhe confere um sabor de pastiche a la George Kuchar. Scorsese realizou um curta gore sobre o ato de se barbear. The Big Shave tem um senso de humor bizarro, culminando (literalmente) num banho de sangue. Recomendo.

5- The Heisters

The Heisters (1964/10’/USA) de Tobe Hooper. “Este cinema anuncia que a próxima atração é ridícula”, é assim que inicia este curtinha fantástico. Tobe Hooper sempre teve um senso de humor ótimo. Visualmente apurado, edição dinâmica e ritmo frenético, The Heisters é muito, mas muito idiota. 10 anos antes de filmar The Texas Chainsaw Massacre, seu grande clássico, Hooper já se revelava um cineasta com grande domínio narrativo. The Heisters é macabro, e para nossa sorte, adoravelmente idiota, uma espécie de cruza entre a Família Addams e os desenhos animados do Chuck Jones. Foi uma pena que Tobe Hooper não tenha feito mais comédias. O curta é editado, escrito, produzido e dirigido por Hooper. Recomendo.

6- Firelight

Firelight (1964/4’/USA) de Steven Spielberg. São os 03’:48” que “sobreviveram” deste curta juvenil de Spielberg que já trazia muitos efeitos especiais. Feito quando Spielberg tinha entre 15 e 16 anos, Firelight pode ser considerado o embrião de Contatos Imediatos do Terceiro Grau. É bem amador, feito em super 8 com ajuda dos amigos, mas vale pela curiosidade (e por já trazer todos os elementos que, depois, Spielberg amadureceu de modo espetacular).

7- Electronic Labyrinth thx 1138 4eb

Electronic Labyrinth THX 1138 4EB (1967/15’/USA) de George Lucas. Com este curta Lucas estava treinando para seu grande clássico (na minha opinião) THX 1138. No curta Lucas ainda não contava com um visual tão apurado quanto o longa teve, mas demonstrava ser um cineasta bastante maduro e com ambições. O curta todo é a perseguição ao cidadão 1138 (interpretado por Dan Natchsheim, também editor do curta). Recomendo.

8- The Sun Was Setting

The Sun Was Setting (1951/13’/USA) de Edward D. Wood Jr. Essa incursão de Wood ao fabuloso mundo dos curtas-metragens é um drama sério e com tudo bem correto, de interpretações a cenários (não amigos, aqui eles não balançam), por isso nunca foi celebrado pelos fãs de trasheiras. Aliás, este curta tem co-direção de um tal de Ben Brody, então sabe-se lá o quanto este cara não tenha interferido para que o curta ficasse correto e dentro dos padrões do cinema profissional da década de 1950.

9- Dorothy the Kansas City Pothead

Dorothy – The Kansas City Pothead (1968/1’/USA) de John Waters. São os 01’:15” que “sobreviveram” deste curta juvenil de Waters. Pat Moran (habitué nos filmes do Waters, é produtora dos filmes mais profissionais do Waters, como Hairspray, Cry-Baby e outros) faz o papel de Dorothy e George Figgs (figurante em vários filmes de Waters) faz o papel do Espantalho. É um curta bem amador (até para os moldes do John Waters) e não tem nenhuma bizarrice neste pouco mais de um minuto que restou do curta. Odeio quando um trabalho, por mais medíocre que seja, se perde.

10- Murder1

Murder! (1967/4’/USA) de Don Dohler. Não dá pra procurar por material inédito do cineasta número 1 de Baltimore e deixar de lado o cineasta número 2. Baltimore precisa ser estudada, deve ter algo na água de lá. Então já tratei de achar, também, curtas do Don Dohler que é um gênio das produções de sci-fi de baixo orçamento e neste curta (onde ele também dá as caras de ator) temos ele em grande forma. O roteiro é um primor do estilo EC Comics, Don coloca veneno no copo d’água de sua esposa Pam e quando vai tomar banho é assassinado a facadas por ela que, após a matança, bebe água envenenada. Dohler é ótimo! Recomendo.

11- Woton's Wake

Woton’s Wake (1962/27’/USA) de Brian de Palma. É uma produção crua e deficiente que acompanha um louco assassinando algumas pessoas. O curta tem um clima de farsa, ótimos momentos de humor nonsense típicos da década de 1960 e é o embrião do Fantasma do Paraíso que De Palma desenvolveu anos mais tarde (William Finley, que faz o Fantasma, é o Woton, personagem principal deste curta). Também tem um clima de cinema expressionista, o que não o impede de ter cenas de “torta na cara”, a exemplo do The Heisters do Hooper (na década de 1960 torta na cara ainda arrancava gargalhadas da audiência). E para finalizar, Woton’s Wake ainda tem uma deitação com O Sétimo Selo do Bergman e outra zoeira com o King Kong (os aviõezinhos de papel são muito retardados). É bem amador, mas cheio daquela energia maravilhosa que os jovens cineastas possuem.  Recomendo.

http://fr.fulltv.tv/woton-s-wake.html

12- The Girl Who Returned

The Girl Who Returned (1969/62’/USA) de Lloyd Kaufman. Um Kaufman com uma narração que lembra os filmes do John Waters, mas que no decorrer da projeção vai ficando estranho, até meio sério e artístico demais (levando-se em conta todas as grosserias que Lloyd fez depois). Gostei muito da maneira que Lloyd editou o som do filme, que lhe conferiu um tom de deboche. Não é trash, não é cinema de arte, não é experimental, Lloyd ainda não fazia idéia de que tipo de cineasta era, por isso The Girl Who Returned tem um pouquinho de cada um destes estilos, o que lhe confere um ar de peça única. O filme possuí ótimos momentos de monguices, mas aviso:  não é um filme para os fãs do Lloyd Kaufman da Troma, principalmente após Stuck on You! e The Toxic Avenger, onde ele descobriu a fórmula do sucesso. É ruim, mas é bom!

13- The Diane Linkletter Story

The Diane Linkletter Story (1969/10’/USA) de John Waters. Revisão. É um curta bem tosco e sem cuidados técnicos (como são todos os filmes da fase inicial de Waters – seu primeiro filme mais profissional foi o Desperate Living), mas extremamente divertido. Richard Kern copiou a idéia, anos depois, no seu curta You Killed me First (1985). Este curta do Waters também tenho em VHS, anos atrás saiu numa edição canadense, e a cópia VHS está melhor do que este arquivo que baixei agora. No elenco de The Diane Linkletter Story, além de Divine, está todo o resto da gang de delinqüentes do Waters, como David Lochary e Mary Vivian Pearce. Uma pena que este seja o único curta completo de Waters, os outros estão perdidos.Este curta foi realizado após o longa Mondo Trasho. Recomendo.

14- The Power

The Power (1968/7’/USA) de Don Dohler. Super 8. Dohler fez seu Scanners adolescente alguns anos do Cronenberg. Tá, tudo bem, não tem nada haver um com o outro. Aqui, após descobrir seus poderes mentais, um adolescente fica aprontando os diabos, até que materializa o próprio (a caracterização do diabo de Dohler é muito teatrinho escolar) e, como não consegue mais desfazer a confusão, danou-se.

Sponsor Card – Television Commercial (1953/4’/USA) de Edward D. Wood Jr. Ed Wood era pau pra toda obra. Aqui uma série de comerciais que realizou para o Sponsor Card. Um destes comerciais, “Magic Man”, é bem divertido, revelando os talentos de Wood para a comédia. Achei estes comerciais enquanto procurava pelo curta Boots (1953), um dos poucos de Wood que ainda não consegui ver. No início da carreira Ed Wood era bem eficiente, mas logo em seguida algo deu errado (ou, pra nossa sorte, “certo”) e todas suas produções passaram a ser muito vagabundas.

https://archive.org/details/edwoodtvads

16- Six Men Getting Sick

Six Men Getting Sick (1966/4’/Canada) de David Lynch. Revisão. É uma boa animação experimental de Lynch, com toques escatológicos. Prefiro a fase antiga de Lynch, quando ele era um cineasta mais estranho e interessante. Depois do O Homem Elefante perdi o interesse pela obra dele.

17- Amblin

Amblin (1968/25’/USA) de Steven Spielberg. Este curta é a primeira experiência profissional de Spielberg, já mais amadurecido, revelando uma narrativa cheia de elementos reutilizados depois em Encurralado. É legal ver um Spielberg com erro descarado de continuidade (num momento a mocinha está de chapéu, no take seguinte aparece sem chapéu, para logo em seguida estar novamente de chapéu), grandes diretores da indústria cinematográfica já foram humanos. Em sintonia com a década de 1960, a trilha sonora é uma delícia (não, não é do John Williams) e Spielberg até mostra os jovens protagonistas fumando maconha, nada mal pro cineasta família. Amblin tem uma história bem positiva, carregada de um senso de humor bem leve e simpático. É um romance bem bobinho e inocente que cativa, vale a pena conhecer.

18- Herakles

Herakles (1962/9’/Alemanha) de Werner Herzog. Neste curta temos o Herzog em estado bruto se exercitando num mundo em ruínas (que está se decompondo) enquanto homens cultuam seus físicos, suas aparências. Essas cenas de culto ao corpo são editadas alternadamente com cenas de acidentes reais e Herzog, que sempre teve a mão meio pesada, não tem o pudor de cortar a exposição das vítimas (até porque, creio, quisesse chocar ou chamar atenção da audiência para seu curta). É um curta bem interessante.

19- Antonijevo Razbijeno Ogledalo

Antonijevo Razbijeno Ogledalo (1957/11’/Iugoslávia) de Dusan Makavejev. 16mm, sem som. Ainda discreto na escatologia, Makavejev realizou um curta onde a realidade e fantasia se misturam, para contar a história do romance do maluco da cidade e uma manequim exposta numa vitrine. Não é maravilhoso, mas é o início da obra do cineasta que relegou ao mundo clássicos como Sweet Movie e o genial Montenegro.

20- Geometria

Geometria (1987/9’/México) de Guillermo Del Toro. Moleque que não quer reprovar em geometria invoca um demônio e faz dois pedidos: que seu pai volte dos mortos e para passar nas provas de geometria do colégio. Não é amador, mas também ainda não revela o amadurecimento que Del Toro esbanjava no Cronos, seu longa de estreia. Tem demônio, tem zumbi, tem humor cretino (o final do curta é muito bom, com o demônio dando uma importante lição de geometria no garoto), ou seja, vale uma conferida ainda hoje.

21- Attack of the Helping Hand

Attack of the Helping Hand! (1979/5’/USA) de Scott Spiegel. Com: Sam Raimi (no papel do leiteiro). Fotografia de Bruce Campbell e Sam Raimi. Uma “mão amiga” sorridente e feliz ataca uma mulher nesta produção em super 8 da turma do Raimi-Campbell. Imagino que foi deste curta que Raimi tirou toda a ideia para a mão decepada de Evil Dead 2, já está toda a situação presente (de maneira bem amadora) neste curta. Aliás, Raimi está muito bem na ponta como o leiteiro imbecil e tem uma morte dignamente canastrona.

22- Bedhead

Bedhead (1991/9’/México) de Robert Rodrigues. Estrelado pela família Rodrigues: Rebecca Rodrigues, David Rodrigues (também co-autor do roteiro), Mari Carmen Rodrigues e Elizabeth Rodrigues. A animação que dá origem aos créditos iniciais é ótima, revelando toda a energia que Rodrigues sempre demonstra ao realizar um filme. De ritmo frenético (várias ideias ele viria a reaproveitar logo em seguida no El Mariachi), este curta amador estrelado por crianças é um exercício de montagem e estilo.

23- Die Ungenierten Kommen

Die Ungenierten Kommen – What Happened to Magdalena June? (1983/13’/Alemanha) de Cristoph Schlingensief. É uma produção feita no tempo em que estava na faculdade, mas que já revela um Schlingensief tentando ser histérico, buscando um jeito de despejar inúmeras informações a cada frame projetado. Ainda não estava conseguindo aquele ritmo perfeito que conseguiu em filmes posteriores (como no clássico United Trash de 1995), mas o experimentador, o inventor, o abusado Schlingensief já está aqui sem medo de experimentar. É errando que se acerta. Em tempo: conta a história de uma garota que pode voar.

24- Ubiytsy

Ubiytsy (1956/21’/Russia) de Andrei Tarkovsky. The Killers é o primeiro filme de Tarkovsky, foi feito quando estava na faculdade e, por conta da faculdade não ter equipamento para todos os alunos, teve co-direção de Alexander Gordon e Marika Beiku. Recomendo que você pesquise aí a história do filme que é bacana. O que posso dizer? Tarkovsky já nasceu maduro e este seu primeiro trabalho já tem um domínio de linguagem que só evoluiu com o passar dos anos. Recomendo.

25- Love Letter to Edie

Love Letter to Edie (1975/4’/USA) de Robert Maier. Com: Edith Massey.  Edie é uma mulher adorável e este é um curta-documentário sobre ela. Aqui ela se apresenta como atriz dos filmes de John Waters, seguido de um número de dança numa casa noturna e, em cenas simuladas, sofre com o preconceito de peruas frescas. Edith Massey foi uma mulher extremamente interessante, além dos filmes de Waters, também foi vocalista da banda punk Edie and the Eggs. Só consegui, por enquanto, essa versão de 4 minutos (o curta tem uma duração maior). Recomendo.

26- Nicky's Film

Nicky’s Film (1971/6’/USA) de Abel Ferrara. Primeiro curta de Ferrara, bem amador, mas que serviu pra ele conseguir dirigir seu primeiro longa, o pornô 9 Lives of a Wet Pussy, do qual gosto bastante. Este arquivo que encontrei para assistir está sem o som, o que prejudica bastante o prazer de ver este filme.

27- Parada

Parada (1962/10’/Iugoslávia) de Dusan Makavejev. Neste curta Makavejev mostra os preparativos pro desfile de primeiro de maio. É quase um documentário daquele dia. Vi porque vejo tudo.

28- Crossroad Avenger

Crossroad Avenger: The Adventures of the Tucson Kid (1953/24’/USA) de Edward D. Wood Jr. Aqui as coisas começaram a dar errado para Ed Wood. Tucson Kid é um western que parece ter sido filmado numa região rural dos Estados Unidos dos anos de 1950. Esperem! Tucson Kid é realmente um western bagunçado filmado na década de 1950, onde nada parece funcionar direito. Exemplo: As construções nos cenários remetem diretamente há um tempo após o western americano ter acontecido. Obrigatório (mas não esperem tantas asneiras quanto no Plan 9, lógico).

https://archive.org/details/crossroadsavengeredwood

29- My Best Fried's Birthday

My Best Fried’s Birthday (1987/36’/USA) de Quentin Tarantino. Este trabalho inicial, amador, de Tarantino já traz seus diálogos metidos a “cool”, mas o bando de atores ruins destrói com todas as possibilidades de se funcionar (quem se sai melhor é o próprio Tarantino, que também está no elenco). A fotografia, a edição, locações, cenários e figurinos não funcionam, o próprio roteiro é bem ruinzinho. Não é uma produção inventiva, mas também não é de todo desprezível (ainda mais porque lá pela metade em diante tudo fica mais dinâmico e funciona bem melhor). Curioso.

30- rozbijemy zabawe

Rozbijemy Zabawe (1957/7’/Polônia) de Roman Polanski. Uma festa de arromba é invadida por penetras e tudo termina numa grande briga. Polanski já tinha um grande domínio técnico em seus curtas iniciais (pelo menos gostei de todos que já vi). Recomendo.

31- Spatiodynamisme

Spatiodynamisme (1958/6’/Itália) de Tinto Brass. Antes de se tornar uma lenda mundial do cinema erótico, Tinto Brass pertencia ao movimento contra cultural italiano. Spatiodynamisme pertence, ainda, a outra fase que Brass teve em sua carreira, é experimental radical, quase numa linha Stan Brakhage. Aqui ele experimenta com formas e espaços. Não rola explicar aqui, assista pra compreender. Recomendo.

32- Spectator

Spectator (1970/10’/Holanda) de Frans Zwartjes. Não conheço nada do cinema de Zwartjes e vou começar a colocar em dia essa deficiência. Este curta é uma experimentação sobre voyeurismo e o desejo carnal. Achei curioso.

33- The Lift

The Lift (1972/7’/USA) de Robert Zemeckis. É o primeiro curta de estudante de Zemeckis que sempre foi um diretor com grande apuro técnico. A história tem uma pegada de humor negro bem bacana. Simples e eficiente.

34- Story Time

Story Time (1968/8’/Inglaterra) de Terry Gilliam. As animações de Gilliam sempre são fantásticas e aqui ele conta a história de uma barata, ou seja, pode assistir que não tem erro. Mas claro que a história pode não ser essa. Ou não. E agora, para algo completamente diferente!

35- Thanatopsis

Thanatopsis (1962/5’/USA) de Ed Emshwiller. Ed é um experimentador em busca de novas sensações para o espectador. Gostei bastante de Thanatopsis. Assista porque não há o que descrever, tua sensação não será minha sensação.

36- O Colírio de Corman

O Colírio do Corman (2017/19’/Brasil) de Ivan Cardoso. Poesia concreta estrelada por Roger Corman, Glauber Rocha, José Mojica Marins, Hélio Oiticica e Ivan Cardoso numa animação feita com riscos de estiletes diretamente na película. Ivan Cardoso é genial e este projeto é fantástico. Não sei que duração este filme terá ao final, essa parte que vi é a inicial do filme que, também, não sei quando ficará pronto e, se, será lançado. Brasil é pequeno demais pra arte do Ivan Cardoso. Recomendo.

37- Torro Torro Torro

Torro, Torro, Torro! (1981/7’/USA) de Josh Becker e Scott Spiegel. É uma comédia bem inventiva com piadas inocentes, bem naquele clima positivo dos vídeos caseiro de Raimi-Spiegel, embora este não seja mais uma produção amadora. Com edição ágil, Torro conta a história de um cortador de grama que apronta as mais altas confusões numa vizinhança do barulho. Tem torta na cara, como não? A produção é de Bruce Campbell. E no elenco dá as caras Scott Spiegel, Bruce Campbell, Ted Raimi, Robert Tapert (produtor do Evil Dead), Josh Becker e Pam Becker. Recomendo.

38- Cigarettes and Coffee

Cigarettes and Coffee (1993/23’?USA) de Paul Thomas Anderson. Dramalhão indie típico da década de 1990, com a parte técnica bem feita, mas aquela chatice de bestas intermináveis. Bem chatinho.

39- Flying Padre

Flying Padre (1951/8’/USA) de Stanley Kubrick. Revisão. Ainda não perfeito, mas profissional, Kubrick fez este dinâmico pequeno documentário sobre as aventuras de um padre voador. Com a narração típica da época o filme acabou ganhando um tom de deboche (não sei se foi proposital, acredito que é coisa da minha cabeça pervertida).

40- Foutaises

Foutaises (1989/7’/França) de Jean Pierre Jeunet. Já com produção profissional, este Foutaises tem vários elementos que, depois, Jeunet reutilizou em longas como Delicatessen e Amélie Poulain. Este curta tem uma decupagem fantástica, texto ótimo e edição bem feita. E Dominique Pinon está no elenco. Recomendo.

41- Phantasus Muss Anders Werden

Phantasus Muss Anders Werden (1983/9’/Alemanha) de Christoph Schlingensief. Como o “alemão da ópera” era hiperativo, este é outro de seus filmes da época de estudante. Inclusive neste filme ele aparece gritando, vestido com uma ridícula camiseta amarela, com um buque de flores nas mãos. Não consegui entender muito bem porque o filme é falado em alemão e consegui legendas em inglês (ou espanhol) para ele. Schlingensief virou um cineasta genial na década de 1990.

42- Piesn Triumfujacej Milosci

Piesn Triumfujaces Milosci (1969/26’/Polônia) de Andrzej Zulawski. Assim como Tarkovsky, Zulawski é outro cineasta que parece já ter nascido pronto. Eu não gostei deste curta, uma produção para a TV infelizmente com linguagem clássica quadradinha (eu esperava algo mais viril e estranho e maluco). Mas assista porque quem curta o formato linear no cinema, e estiver acostumado com novelas, pode gostar.

43- The Sound of Bells

The Sound of Bells (1952/25’/USA) de Robert Altman. Um filme natalino do Altman ainda sem aquela pegada de humor ácido que deixa seus filmes únicos. Chatinho e longo demais.

44- Valley

Valley (1985/4’/Italia) de Michele Soavi. É um vídeo clip para a música de Bill Wyman presente na trilha sonora de Phenomena de Dario Argento. Soavi misturou imagens de Phenomena, e do making off de Phenomena, com imagens que gravou para o vídeo clip, conseguindo um ótimo resultado graças a edição espirituosa.

45- Within the Woods

Within the Wood (1978/31’/USA) de Sam Raimi. Com: Bruce Campbell e Ellen Sandweiss. Revisão. Este curta é genial (em minha opinião, inclusive, deveria estar sempre como material extra nos lançamentos do primeiro Evil Dead). Foi filmado em super 8 e este curta deu alguma visibilidade para a turma do Raimi-Campbell-Tapert junto à investidores e distribuidores de cinema. Evil Dead é o clássico que é por dois motivos, principalmente: 1) este Within the Woods funcionou como um laboratório para eles experimentarem o que funcionava ou não; 2) A edição (de Edna Ruth Paul), que em Evil Dead imprimiu um ritmo profissional que Within ainda não tinha. Mas Within the Woods está cheio de bons momentos, é um trabalho obrigatório para os fãs da série Evil Dead. Scott Spiegel também está no elenco. E na equipe-técnica Tom Sullivan faz os efeitos e o Ted Raimi também dá alguns pitacos. Recomendo.

46- Bife Titanik

Bife Titanik (1979/61’/Iugoslávia) de Emir Kusturica. Os primeiros filmes do Kusturica eram uns dramalhões com narrativa e situações bem normais. Sou mais da fase de realismo fantástico dele com obras primas como Underground. Achei ok este aqui, nada mais do que isso.

47- O Candinho

O Candinho (1976/33’/Brasil) de Ozualdo Candeias. O cinema nacional precisa urgente de um trabalho de restauração a partir dos negativos originais, e afirmo isso pensando em toda a produção nacional, não só meia dúzia de abençoados pelas panelinhas. Candeias é um dos meus cineastas preferidos aqui do Brasil, Zézero (1974) é genial (este Candinho me parece uma variação do Zézero), A Margem idem, meu Nome é Tonho também e assim por diante. Candeias é um cineasta único, então qualquer filme dele merece atenção (sem contar que ele não era um playboy se aventurando no cinema como 99% dos outros cineastas nacionais que são tudo classe média alta). Aqui um homem com problemas mentais vai do campo para a cidade grande em busca de um cabeludo barbudo. Quando acha o tal cabeludo barbudo, a decepção. Visceral como toda a obra de Candeias. Recomendo.

48- A Cidade de Salvador - Petróleo Jorrou na Bahia

A Cidade de Salvador (Petróleo Jorrou na Bahia) (1981/9’/Brasil) de Rogério Sganzerla. Curta institucional com uma narração pontuada de uma maneira que fica parecendo um discreto deboche. Ou não. Talvez só eu que quero acreditar que estes caras do cinema marginal eram fodões, quando na verdade só estavam atrás de dinheiro como todo mundo. É ruim, mas acaba sendo um curioso panorama cultural da Salvador da década de 1970.

49- Carta a uma Jovem Cineasta

Carta a uma Jovem Cineasta (2014/24’/Brasil) de Luiz Rosemberg Filho. Experimentação a La Rosemberg, ou você ama ou você odeia.

50- The Flicker

The Flicker (1966/28’/USA) de Tony Conrad. Revisão. Experimentalismo. Este trabalho alterna frames brancos e escuros criando um efeito estroboscópio. Veja no escuro que o efeito fica mais legal e quem sabe você consiga ter um ataque epilético, eu só acho agradável este efeito. Recomendo a experiência.

51- Hold me While i'm Naked

Hold me While i’m Naked (1966/14’/USA) de George Kuchar. Revisão.Talvez seja o grande clássico de George. Tenho adoração pelo clima de pastiche que este curta possui e recomendo porque vai lhe dar uma sensação reconfortante.

51- Geek Maggot Bingo

Geek Maggot Bingo (1983/73’/USA) de Nick Zedd. Com: Zacherle e Richard Hell. Revisão. Um dos poucos longas de Zedd, o principal nome do cinema transgressor nova iorquino da década de 1980. É uma desconstrução do gênero de horror. É cinema de invenção. É ruim, mas é bom.

53- The Cattle Mutilations

The Cattle Mutilations (1983/23’/USA) de George Kuchar. Neste The Cattle Mutilations George desconstrói a sci-fi em uma história vibrante de metalinguagem. Kuchar é genial.

54- The Italian Machine

The Italian Machine (1976/24’/Canada) de David Cronenberg. Episódio para a série de TV Teleplay onde Cronenberg explora a relação do homem com as máquinas automobilísticas, aqui na forma de uma moto italiana – por isso este título. Cronenberg voltou a este tema em Fast Company (1979) e depois, de forma mais radical, em Crash (1996).

55- John Carpenter super 8

John Carpenter Silent Comedy ( ? /2’/USA) de John Carpenter ? Aparentemente é pra ser um curta metragem de comédia (ou o que restou dele) feito por um John Carpenter adolescente – muito antes de Dark Star o Carpenter fez, pelo menos, 6 curtas amadores, estou atrás destes trabalhos. Alguém?

56- O Rei do Cagaço

O Rei do Cagaço (1977/10’/Brasil) de Edgar Navarro. Revisão. Navarro é o John Waters brasileiro. Seus filmes são cheios de uma energia punk autêntica, com senso de humor doentio e muita inteligência. Este é o famoso curta que tem um cu, em close, cagando. É um curta excremental. Neste filme Navarro ensina que, se você já se fodeu socialmente, pode cagar num jornal, embrulhar e atirar sua merda dentro dos carros dos riquinhos de sua cidade. Terrorismo urbano para mendigos. Assim deve ser o cinema: Criminoso.

57- Peepshow

Peepshow (1956/21’/Inglaterra) de Ken Russell. Este primeiro curta de Ken Russell é bem amador, mas inventivo e cheio de boas idéias, já com ritmo bem anárquico e barulhento (apesar de mudo). Não à toa, depois, fez tanto clássicos do cinema mundial: The Devils (1971), Mahler (1974), Tommy (1975), Lisztomania (1975), Altered States (1980), Gothic (1986), entre outros. O mais legal é perceber que o senso de humor de Russell já está presente, intacto.

58- The Resurrection of Broncho Billy

The Resurrection of Broncho Billy (1970/21’/USA) de James R. Rokos. John Carpenter é um dos roteiristas deste premiado curta metragem. O roteiro é uma grande homenagem ao gênero western, aqui visto com nostalgia por Rokos, ao contar a história de um jovem da década de 1960 fanático por histórias do velho oeste. É um filme triste, sobre estar deslocado no tempo (me sinto um pouco assim em relação à tecnologia, gostaria muito de estar vivendo numa época sem internet – apesar de que, olha a gostosa contradição, foi a internet quem me possibilitou essa incrível maratona deste final de semana). Além do roteiro, Carpenter também editou e compôs da trilha sonora. Nick Castle foi o diretor de fotografia. Recomendo.

59- Freiheit

Freiheit (1966/3’/USA) de George Lucas. Curta profissional sobre fronteiras. É um filme político com mensagem bem forte e direta. Sempre achei o George Lucas um artista mais interessante antes de fazer a interminável saga do Star Wars (gosto bem mais de THX 1138 e de American Graffiti do que todos os Star Wars juntos). A curiosidade maior fica por conta do futuro diretor Randal Kleiser no elenco (ele é a personagem principal), que vários anos depois seria o responsável por grandes sucessos de bilheteria, como Grease e A Lagoa Azul. Recomendo.

60- This is my Railroad

This is my Railroad (1946/17’/USA) de Gene K. Walker. É um filme institucional que quis ver porque é o primeiro trabalho de Russ Meyer como câmera no pós-guerra. E o trabalho de fotografia é primoroso, com enquadramentos típicos do genial Russ Meyer. O legal é que ele treinou sua técnica neste tipo de filme e quando começou a produzir seus próprios trabalhos estava maduro e sabendo o que fazer. Em tempo: não tem nudez.

61- Knights on Bikes

Knights on Bikes (1956/4’/Inglaterra) de Ken Russell. Um filme de época surreal com toques de humor nonsense. Tem bicicletas e cadeiras de rodas. Russell sempre acerta em cheio. Recomendo.

62- Superoutro

Superoutro (1989/45’/Brasil) de Edgar Navarro. Revisão. “Acorda humanidade!” que este filme é fantástico, arisco dizer que é um dos melhores já lançado no Brasil. Provocação com a sociedade, com a religião, com a polícia, com todo mundo. Cinema anarquista por excelência. A Bahia produz o melhor cinema brasileiro tem anos. Neste filme Navarro repete uma idéia do curta O Rei do Cagaço: Cague num jornal, embrulhe a merda e atire dentro do carro de um riquinho qualquer. Perto do final tem um discurso do “nosso herói” travestido de superman, que é interrompido por uma fanática religiosa com seu discurso absurdo sobre anjos, que é interrompido pelo discurso de um militante de esquerda, criando um momento hilário monty pythiano. “Abaixo a Gravidade!”. Recomendo.

63- Mario Banana

Mario Banana (1964/6’/USA) de Andy Warhol. Revisão. Mario come uma banana. Como provocar a sociedade com uma banana e um travesti.

64- Pandora Peaks

Pandora Peaks (2001/25’/USA) de Russ Meyer. Revisão. Em vídeo, aos moldes de seu clássico Mondo Topless, marca a despedida de Russ Meyer no cinema. Vale uma conferida pela edição. Russ Meyer é o caso do cineasta que não tem nenhum filme ruim em sua filmografia. Recomendo.

Detritos (1995/9’/Brasil) de Petter Baiestorf. Este foi o primeiro curta-metragem que realizei (os filmes anteriores à 1995 eram longas ou médias). Por muito tempo ele ficou perdido (o master foi destruído pelo tempo), até que neste ano (2017) achei uma cópia em VHS dele e Adriano de Freitas Trindade o digitalizou. Estou disponibilizando-o somente a título de curiosidade, foi uma experiência que realizei em 1995 com ajuda de Leomar Wazlawick, Marcos Braun, Claudio Baiestorf, E.B. Toniolli, Carli Bortolanza, Loures Jahnke, Onésia Liotto, Ivan Pohl e Susana Mânica.

Pesquisa, seleção e textos por Petter Baiestorf.

 

O Monstro Nuclear de Yucca Flats

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on dezembro 12, 2016 by canibuk

The Beast of Yucca Flats (1961, 54 min.) de Coleman Francis. Com: Tor Johnson, Douglas Mellor, Barbara Francis e Conrad Brooks.

the-beast-of-yucca-flats1Quando assassinos da KGB vão a Yucca Flats para matar o cientista Joseph Javorsky (Tor Johnson) mal sabiam eles que, tomado pelo desespero, Javorsky fugiria para o deserto e seria contaminado pela radiação de um teste nuclear americano que estava acontecendo no local, tornando-o a besta sanguinária de Yucca Flats num dos filmes considerado pela crítica como uma das piores sci-fi já realizadas na história do cinema (nada mal para Tor Johnson que mantêm um padrão invejável, já que também está no elenco de “Plan 9 From Outer Space”, 1959, de Edward D. Wood Jr.).

the-beast-of-yucca-flatsMas “The Beast of Yucca Flats” não é tão ruim assim, principalmente quando comparado a outros filmes analisados neste livro. Parte do seu charme brejeiro está no fato de ter sido filmado sem o som para cortar custos, tendo a narração, diálogos e alguns poucos efeitos sonoros adicionados na pós-produção e, para evitar a sincronia das falas com as bocas das personagens, todos dizem seus diálogos quando estão fora da tela ou a uma distância segura da câmera para que a falta de sincronia não seja percebida pela audiência (essa técnica foi muito utilizada pelos produtores brasileiros da Boca do Lixo anos depois).

the-beast-of-yucca-flats2Coleman C. Francis (1919-1973), o inútil responsável pela realização de “The Beast of Yucca Flats”, foi ator e, eventualmente, fazia algumas tentativas como roteirista/produtor/diretor. Além deste ainda realizou “The Skydivers” (1963), um drama que, a exemplo de seu filme anterior, também foi filmado na região de Santa Clarita (California) com um orçamento igualmente medíocre; e, “Night Train to Mundo Fine” (1966), um thriller político mais conhecido pelo título alternativo de “Red Zone Cuba”, tão ruim quanto seus outros filmes (e politicamente tão irrelevante quanto “Creature from the Haunted Sea/Criaturas do Fundo do Mar”, 1961, de Roger Corman). Como ator fez papéis não creditados em vagabundagens como “Killer From Space/Mundos Que se Chocam” (1954), uma sci-fi trash de W. Lee Wilder, e “This Island Earth/Guerra Entre Planetas” (1955) de Joseph M. Newman e Jack Arnold (não creditado). Depois de vários papéis em séries de TV, virou o narrador do filme “The Thrill Killers” (1964) de Ray Dennis Steckler, outro lendário diretor ruim, com quem ainda trabalhou em “Lemon Grove Kids Meets the Monster” (1965) e “Body Fever” (1969). Em 1965 Coleman conheceu Russ Meyer e trabalhou em “Motorpsycho!” (1965), um biker movie estrelado pela beldade Haji, e “Beyond the Valley of the Dolls/De Volta ao Vale das Bonecas” (1970), uma comédia musical sexploitation alucinada já lançada em DVD duplo no Brasil pela distribuidora Fox que acabou sendo seu último trabalho no cinema.

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tor-johnsonNo elenco de “The Beast of Yucca Flats” temos o gigante sueco Tor Johnson reprisando o mesmo papel de sempre de sua carreira. Ao contrário do que a cinebiografia “Ed Wood” (1994), de Tim Burton, deixa transparecer, não foi Edward D. Wood Jr. quem levou Johnson para as telas. Sua estreia, de acordo com o site IMDB, foi no drama “Registered Nurse/Abnegação” (1934) de Robert Florey, onde interpretava Sonnevich, o terrível búlgaro. Depois de aparecer em mais de 10 filmes sem receber créditos na tela, estrelou “Alias The Champ/Choque de Gigantes” (1949) de George Blair, onde “interpretava” o lutador The Swedish Angel, ou seja, ele mesmo. Mas seu grande papel na tela foi mesmo a personagem Lobo no hoje Cult “Bride of the Monster/A Noiva do Monstro” (1955) pelas mãos de Edward D. Wood Jr., com quem ainda fez os clássicos “Plan 9 From Outer Space” e “Night of the Ghouls/Noite das Assombrações” (1959), uma inacreditável tranqueira cinematográfica ainda mais divertida do que os filmes anteriores de Ed Wood, onde reprisou o papel de Lobo. Outros filmes imperdíveis que Johnson estrela são “The Black Sleep/A Torre dos Monstros” (1956) de Reginald Le Borg; “The Unearthly” (1957) de Boris Petroff (sob pseudônimo de Brooke L. Peters) e a comédia musical “Head/Os Monkees Estão de Volta” (1968) de Bob Rafelson. Conrad Brooks, outro ator da trupe de Ed Wood, também dá as caras em “The Beast of Yucca Flats” e o diretor/ator Titus Moede (o Boo Boo de “Rat Pfink a Boo Boo”, 1966, de Ray Dennis Steckler) foi o responsável pela mixagem do som deste incrível filme ruim.

Por Petter Baiestorf.

Assista The Beast of Yucca Flats aqui:

Caranguejos Ensandecidos

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on outubro 27, 2016 by canibuk

Island Claws (1980, 90 min.) de Hernan Cardenas. Com: Robert Lansing, Steve Hanks, Nita Talbot e Barry Nelson.

islandclawsUm grupo de cientistas realiza experimentos biológicos em algum lugar da Florida que se revelam nocivos aos caranguejos. Os pacatos crustáceos ficam irritados e começam atacar os humanos que encontram pelo caminho, até um deles crescer além da conta e virar um horrendo gigante sedento por sangue nesta produção que arranca muitas risadas involuntárias da plateia com suas cenas de suspense e pavor nulas – nada funciona direito no filme.

island-claws_poster1“Island Claws” segue a melhor tradição de “Night of the Lepus/A Noite dos Coelhos” (1972), de William F. Claxton, e transforma um bicho inofensivo em potencial assassino. A primeira morte é um exemplo perfeito do quanto “ameaçador” um bando de caranguejos pode ser: um tocador de banjo que mora num ônibus volta para casa após uma noitada e ao encontrar os bichos no seu amado lar – que não oferecem perigo nenhum, diga-se de passagem – se desespera e, chutando os bichos para todos os lados, acaba tocando fogo em tudo e morre carbonizado junto dos azarados crustáceos. Depois de outras mortes risíveis, típicas do cinema bagaceiro, temos o maravilhoso final com o caranguejo gigante finalmente aparecendo, em referências explícitas ao clássico “Attack of the Crab Monsters” (1957) de Roger Corman, outro filmaço envolvendo caranguejos mutantes assassinos. O caranguejo gigante, feito a um custo de 500 mil dólares e manejado com ajuda de um trator hidráulico, finalmente é uma criatura ameaçadora no filme, ao contrário de seus irmãos normais que são pequenos, lentos e fáceis de serem esmagados com uma simples pisada.

island-claws_frame1Nesta produção todos os atores estão péssimos, mas nada que comprometa a diversão planejada pelo diretor Hernan Cardenas, um destes aventureiros que surgem na indústria do cinema de tempos em tempos e nos legam clássicos de gosto duvidoso. Segundo o blog Regional Horror Films, a idéia para “Island Claws” surgiu quando Hernan Cardenas (um pintor expressionista abstrato colombiano) andava de bicicleta com sua esposa. Certo de que iria ganhar rios de dinheiro fazendo cinema, Hernan levantou três milhões de dólares com seus irmãos Dario e Gabriel (este cunhado de Jorge Ochoa, um dos chefões do quartel de Medellín) e não pouparam dinheiro para que o caranguejo gigante ficasse convincente – e ficou uma lindeza que dá muito orgulho, meu sonho é que todo o lucro da cocaína vá sempre para a produção de filmes vagabundos! Ao que parece os irmãos Cardenas não realizaram outros filmes, voltando ao lucrativo mercado das drogas.

island-claws_blu-rayCom dinheiro na mão os Cardenas tentaram se cercar dos melhores técnicos de Hollywood (que são mercenários das artes sempre à venda). O veterano produtor Ted Swanson (1936-2009), que havia trabalhado em “The Omega Man/A Última Esperança da Terra” (1971), de Boris Sagal, e “Rocky” (1976), de John G. Avildsen, foi chamado para colocar ordem no set. Jack Cowden e Ricou Browning (que fez ponta como ator nos três filmes do monstro da lagoa negra), roteiristas da série de TV “Flipper”, foram chamados para escrever o roteiro. Bill Justis, compositor saído de “Smokey and the Bandit/Agarra-me Se Puderes” (1977), de Hal Needham, fez a trilha sonora. James Pergola, que já havia trabalhado com Jerry Lewis em “Hardly Working” (1980), foi o escolhido para a direção de fotografia, e Ronald Sinclair, que editava os filmes de Roger Corman, foi contratado para montar o delírio colombiano.

island-claws_frame2Para o elenco foram chamados bons atores de filmes B, mas a falta de direção deixou-os todos com interpretações confusas e/ou automáticas. Robert Lansing (1928-1994) esteve em episódios de “The Twilight Zone/Além da Imaginação” (1959) e em filmes como “Namu, the Killer Whale/Namu, A Baleia Assassina” (1966), de Laslo Benedek, e “Empire of the Ants/O Império das Formigas” (1977) de Bert I. Gordon. Steve Hanks, que ainda está na ativa estrelando asneiras como “Mega Shark Vs. Mecha Shark” (2014), de Emile Edwin Smith, fez sua estréia no cinema. Nina Talbot já era uma veterana atriz de séries de TV. E Raymond Forchion, que em “Island Claws” interpretava um refugiado haitiano, apareceu rapidamente, no ano seguinte, em “The Funhouse/Pague Para Entrar, Reze Para Sair” de Tobe Hooper e depois virou ator de séries de TV continuando na ativa até hoje.

“Island Claws” é uma produção obrigatória na coleção de qualquer trashmaníaco, é um daqueles filmes que se descobre algo imbecil a cada assistida. Sem contar que é um filme sobre caranguejos mutantes assassinos, o que por si só já o tornaria um item obrigatório na vida de uma pessoa.

escrito por Petter Baiestorf para o livro “Arrepios Divertidos”.

Assista “Island Claws” aqui:

Blood Sabbath

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on outubro 26, 2016 by canibuk

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Blood Sabbath (1972, 86 min.) de Brianne Murphy. Com: Anthony Geary, Dyanne Thorne, Susan Damante, Sam Gilman, Steve Gravers, Kathy Hilton, Jane Tsentas e Uschi Digard.

Um veterano do Vietnã está viajando a pé pelos USA quando sofre um acidente e é encontrado por uma ninfa d’água por quem se apaixona. Alotta (Dyanne Throne), a rainha das bruxas e inimiga da ninfa d’água quer o jovem soldado para ela e, com seu clã de feiticeiras, seduz não só o soldado como, também, um padre e Lonzo, um andarilho da floresta que abrigou o soldado em sua casinha.

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Filmado em apenas 10 dias, “Blood Sabbath” é uma grande diversão que não se leva a sério em momento algum. O roteiro é todo furado, todas as atrizes ficam peladas o tempo todo, o trabalho de câmera é toscão e os diálogos nonsenses foram captados num sistema de som extremamente vagabundo, bem no clima das produções sem grana que produtores exploitations realizavam de qualquer jeito no início dos anos de 1970 para suprir a demanda por lixos cinematográficos em drive-ins e grindhouses.

blood_sabbath2“Blood Sabbath” foi dirigido pela atriz inglesa Brianne Murphy em clima de curtição (o filme parece uma grande brincadeira de amigos). Em 1960 Brianne atuou em “Teenage Zombies” de Jerry Warren e se apaixonou pela produção vagabunda americana (tendo se casado com o ator/produtor/diretor Ralph Brooke que concebeu asneiras como “Bloodlust!” de 1961). Ainda no início da década de 1960 se tornou diretora de fotografia e trabalhou em filmes de Hollywood como “Fatso” (1980) de Anne Bancroft e inúmeras séries de TV. Curiosidade: Brianne foi a primeira diretora de fotografia a trabalhar num grande estúdio de Hollywood (a função é dominada por homens).

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Ainda na equipe técnica de “Blood Sabbath” encontramos Lex Baxter assinando (como Bax) a trilha sonora do filme. Com mais de 100 trilhas nas costas, Baxter já havia trabalhado em filmes como as produções de baixo orçamento “The Bride and the Beast” (1958), de Adrian Weiss, e realizações da A.I.P., muitas dirigidas por Roger Corman, como “House of Usher/O Solar Maldito” (1960); “Tales of Terror/Muralhas do Pavor” (1962) e “The Raven/O Corvo” (1963).

blood-sabbath_frame2No elenco vemos Dyanne Thorne se divertindo horrores no papel da bruxa Alotta. Nascida em 1943 se tornou atriz e surpreendeu no softcore “Sin in the Suburbs” (1964) de Joe Sarno. Sempre adepta das produções de baixo orçamento esteve no pequeno clássico da ruindade “Wham! Bam! Thank You, Spaceman!” (1975), de William A. Levey, e entrou definitivamente para a história do cinema vagabundo ao encarnar a oficial nazista Ilsa em uma série de nazixploitations de Don Edmonds com “Ilsa: The She Wolf of the SS” (1975); “Ilsa, Harem Keeper of the Oil Sheiks” (1976) e “Ilsa the Tigress of Siberia” (1977), desta vez dirigida por Jean LaFleur (sem contar “Greta Haus Ohne Männer/Ilsa – The Wicked Warden” (1977), uma picaretagem do Jesus Franco). Sem nunca ter se livrado da personagem Ilsa, Dyanne Thorne apareceu em “House of Forbidden Secrets” (2013), produção do videomaker Todd Sheets, onde contracenou com Lloyd Kaufman da Troma. Entre as garotas peladas de “Blood Sabbath” encontramos ainda Jane Tsentas (atriz em mais de 40 sexploitations, incluindo deliciosas bobagens como “The Exotic Dreams of Casanova” (1971) de Dwayne Avery e “Terror at Orgy Castle” (1972) do especialista em satanismo retardado Zoltan G. Spencer), Kathy Hilton (atriz em mais de 60 produções, incluindo “Sex Ritual of the Cult” (1970) de Robert Caramico, um filme satânico tão imbecil quanto “Blood Sabbath”; “The Toy Box” (1971) de Ron Garcia e “Invasion of the Bee Girls/Invasão das Mulheres Abelhas” (1973) de Denis Sanders) e, segundo o site IMDB, Uschi Digard (atriz que dispensa apresentações aos fanáticos por filmes bagaceiros), que não consegui identificar na cópia ruim que tenho do inacreditável “Blood Sabbath”.

Por Petter Baiestorf para seu livro “Arrepios Divertidos”.

Assista “Blood Sabbath” aqui:

O Blindado Mortal do Século XXI

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on outubro 7, 2016 by canibuk

Warlords of the Twenty-First Century (“Blindado Mortal”, 1982, 91 min.) de Harley Cokliss. Com: Michael Beck, Annie McEnroe e James Wainwright.

warlordsNo início da década de 1980 o cinema ainda estava embasbacado com o sucesso mundial de “Mad Max” (1979), de George Miller, um pequeno filme australiano que fez boa bilheteria ao redor do mundo. Por isso pesadelos futuristas estavam se tornando temas recorrentes entre os produtores de exploitations movies, afinal, eram produções baratas com lucro certo. Sendo assim, “Warlords of the Twenty-First Century” surgiu para contar a história de um futuro não distante onde a humanidade se consumiu em guerras pelo petróleo (que alcançou o absurdo preço de 59 dólares o litro). É neste cenário que o comandante Straker (James Wainwright) mantém um grupo de mercenários que roda num caminhão de guerra de comunidade em comunidade explorando a todos. Straker tem uma quedinha amorosa pela feiosa Corlie (Annie McEnroe) que, após confrontar o comandante, consegue fugir e encontra o solitário herói do filme, Hunter (Michael Beck, que pode ser visto em clássicos como “The Warriors/Os Selvagens da Noite” (1979, de Walter Hill, e “Xanadu” (1980), de Robert Greenwald), um motoqueiro boa pinta que vive nas montanhas e acaba ajudando a fugitiva.

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“Battletruck”, como “Warlords” também é conhecido (na Itália ele atende pelo título de “Destructors”), é um filme bastante escuro e parado, com uma narrativa que vai em marcha lenta até os 70 minutos quando, finalmente, a produção engrena e fica cheia de ação e aventura, com nosso solitário herói pilotando um fusquinha turbinado com o qual invade o acampamento dos vilões aprontando altas confusões. É uma pena que este filme não tenha sido encarado como um western futurista já que todos os elementos do gênero estão inclusos na fraca história (há, inclusive, carros sendo puxados por cavalos como se fossem carroças improvisadas).

Assista o trailer de “Warlords of the Twenty-First Century” aqui:

Mesmo assim “Warlords” consegue ser um filme que prende a atenção e lança um olhar mais melancólico sobre o futuro da vida em sociedade no planeta Terra (diferente da visão cínica/sarcástica de clássicos como “A Boy and his Dog/O Menino e Seu Cachorro” (1975), de LQ Jones, ou o já citado “Mad Max”), conseguindo apontar outra direção ao tema “fim do mundo civilizado”. “Warlords” é uma produção americana rodada inteiramente na Nova Zelândia , com técnicos locais, por conta de uma greve de roteiristas que acontecia nos USA. A produção foi filmada ao mesmo tempo em que “Mad Max 2” (cujas filmagens estavam acontecendo na Austrália) e lançado duas semanas antes pela distribuidora New World Pictures, empresa comandada pelo visionário Roger Corman e seu irmão Gene.

le-camion-de-la-mortO diretor Harley Cokliss (que mudou seu sobrenome para Cokeliss por motivos óbvios) foi diretor de segunda unidade em “Star Wars: The Empire Strikes Back/O Império Contra Ataca” (1980), de Irvin Kershner. Em entrevista para o blog Cinema Raiders, Cokliss afirmou: “Tínhamos apenas sete semanas para filmar Warlords, houve algumas seqüências muito complicadas de serem filmadas, o que me fez desejar dez semanas e mais dinheiro para filmar tudo. Na verdade, tivemos que cortar cenas inteiras para terminar as filmagens no prazo!”. Ainda nesta entrevista, Cokliss afirmou ainda que não acha que seu filme compartilhe do pessimismo de “Mad Max”. Ainda, à título de curiosidade, o produtor de “Warlords” (Lloyd Phillips) foi produtor executivo de “Inglorious Basterds/Bastardos Inglórios” (2009) de Quentin Tarantino.

warlords_truckAqui no Brasil “Warlords of the Twenty-First Century” foi lançado em VHS pela distribuidora F.J. Lucas sob o título de “Blindado Mortal” e continua inédito em DVD/Blu-Ray. Nos USA foi lançado na coleção Roger Corman’s Cult Classics em um disco Double feature com “Deathsport” (1978) de Allan Arkush e Nicholas Niciphor. Não sou o maior fã de “Warlords”, mas é um bom filme que merece ser redescoberto (e reavaliado sem estar à sombra de “Mad Max”), nem que seja para se delirar com seus vinte minutos finais.

Escrito por Petter Baiestorf para seu livro “Arrepios Divertidos”.

Assista “Warlords of the Twenty-First Century” aqui:

Humanoides Tarados das Profundezas do Mar Azul

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , on fevereiro 6, 2015 by canibuk

Humanoids From the Deep (“Criaturas das Profundezas”, 1980, 80 min.) de Barbara Peeters. Com: Vic Morrow, Doug McClure, Ann Turkel e Rob Bottin como uma das criaturas.
POSTER - HUMANOIDS FROM THE DEEP (2) - BELGIANNuma pequena comunidade de pescadores o trabalho vai mal, aparentemente os peixes estão todos sumindo. A esperança de emprego para os pescadores parece ser uma fábrica de conservas que está sendo construída na comunidade e que, sem que ninguém saiba, estão realizando experiências com hormônios de crescimento – o que faz com que algumas criaturas das profundezas do oceano evoluam e se tornem humanoides em busca de fêmeas humanas para a procriação. Levantando o problema ecológico temos um índio que luta contra o dono da fábrica, desviando a atenção das criaturas num primeiro instante, até que homens começam a serem mutilados e as mulheres estupradas. E claro que, por ser um filme de baixo orçamento que tenta lucrar com o sucesso de produções como “Jaws/Tubarão” (1975) de Steven Spielberg e “Piranha” (1978) de Joe Dante, “Humanoids” nos reserva um festival (assim como nos dois filmes citados) para as cenas finais onde as criaturas das profundezas realizam seu banquete/orgia em um divertido ataque em massa aos humanos, o que nos leva ao perturbador final do filme com ecos de chupação de “Alien” (1979) de Ridley Scott.
Humanoids1“Humanoids from the Deep” tem tudo que faz a alegria de um fã de filme vagabundo: monstros, cientistas, peitinhos, ataques brutais, cidadezinha isolada, história ágil, putaria, depravação, bestialismo e um monte de cenas memoráveis. Uma cortesia de Roger Corman, que não contente com as cenas de violência filmadas pela diretora Barbara Peeters (originalmente Corman queria que Joe Dante dirigisse), chamou James Sbardellati (que depois realizou a trasheira “Deathstalker” em 1983 e foi assistente de direção em filmes como “The Island of Dr. Moreau/A Ilha do Dr. Moreau” (1996), uma bagunça cinematográfica da dupla Richard Stanley/John Frankenheimer) para filmar os estupros de uma maneira mais brutal/explícita, fato que fez com que muitos dos atores e técnicos do filme passassem a odiar a produção. Aliás, notem como “Humanoids from the Deep” se parece com “The Horror of Party Beach” (1964) de Del Tenney.
humanoids-3Roger Corman foi o produtor executivo de “Humanoids” e para falar da carreira deste mestre do cinema moderno seria preciso um adendo que daria um segundo post. Corman iniciou sua carreira dirigindo filmes para a American International Pictures dos sócios James H. Nicholson e Samuel Z. Arkoff, que são os responsáveis pelos filmes mais divertidos da história do cinema. Do western “Five Guns West/Cinco Revólveres Mercenários” (1955) até “Roger Corman’s Frankenstein Unbound/Frankenstein – O Monstro das Trevas” (1990) foram 56 filmes dirigidos. Corman é um dos produtores mais espertos do cinema mundial, sendo o responsável por mais de 400 produções, de “Highway Dragnet/Consciência Culpada” (1954), de Nathan Juran, até os dias de hoje (sim, Corman continua na ativa, tanto que em 2014 esteve em Curitiba, à convite da produtora Diana Moro, ministrando uma master class), com produções como “CobraGator” (2015) de Jim Wynorski. Corman foi o responsável pela primeira chance de milhares de cineastas americanos, o início de carreira de gente como Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, Ron Howard, Peter Bogdanovich, Paul Bartel, Jonathan Demme, Joe Dante, James Cameron, John Sayles, Monte Hellman, entre muitos outros, foram em produções de Roger Corman.
Humanoids-from-the-Deep-FrLC1Barbara Peeters, a diretora de “Humanoids”, começou na indústria cinematográfica fazendo de tudo um pouco. Foi atriz em “The Gun Runner” (1969) e supervisora de roteiro no biker movie “Angels Die Hard/Motoqueiros Selvagens” (1970), ambos de Richard Compton; gerente de produção em “Night Call Nurses” (1972) de Jonathan Kaplan, e até coordenadora de dublês em “Moving Violation” (1976) de Charles S. Dubin. Estreou na direção em 1970 com o drama exploitation “The Dark Side of Tomorrow”, co-dirigido por Jack Deerson. Foi contratada por Roger Corman para realizar filmes pela New World Picture, o que fez com que sua carreira ganhasse um novo gás. “Humanoids from the Deep” (1980) foi seu último trabalho para Corman, logo após ele encomendar cenas de estupro mais brutais para o filme, Peeters pediu para que seu nome fosse retirado dos créditos, como Corman ignorou o apelo ela se demitiu e passou a dirigir produções para a televisão. Na década de 1990 fundou sua própria produtora, Silver Foxx Films, e desde então passou a realizar comerciais de televisão. Uma pena, já que seus filmes para o cinema sempre eram bem curiosos.
POSTER - HUMANOIDS FROM THE DEEPRob Bottin, o gênio da maquiagem por trás do clássico “The Thing/O Enigma de Outro Mundo” (1982) de John Carpenter, foi o responsável pela criação dos humanóides tarados deste filme (outras de suas criações inesquecíveis foram os lobisomens de “The Howling/Grito de Horror” (1981) de Joe Dante; o policial robô de “Robocop/O Policial do Futuro” (1987) de Paul Verhoeven, e o design dos lagartos em “Fear and Loathing in Las Vegas/Medo e Delírio” (1998) de Terry Gilliam). Em “Humanoids” Bottin interpretou uma das criaturas e foi ajudado pelos assistentes de maquiagens Steve Johnson (que depois fez as maquiagens em produções como “Big Trouble in Little China/Os Aventureiros do Bairro Proibido” (1986) de John Carpenter e “Night of the Demons/A Noite dos Demônios” (1988) de Kevin Tenney), Shawn McEnrou (que trabalhou em filmes como “Night of the Creeps/A Noite dos Arrepios” (1986) de Fred Dekker e “The Texas Chainsaw Massacre 2/O Massacre da Serra-Elétrica 2” (1986) de Tobe Hooper) e Kenny Myers (que fez as maquiagens no trashão “Metalstorm” (1983) de Charles Band e na comédia “Return of the Living Dead 2/A Volta dos Mortos-Vivos 2” (1988) de Ken Wiederhorn). Os efeitos especiais foram do veterano Roger George (que começou lá em 1959 em “Invisible Invaders/Invasores Invisíveis”, de Edward L. Cahn, e na década de 1980 comandou a função em filmes importantes como “The Terminator/O Exterminador do Futuro” (1984) de James Cameron) com ajuda do jovem Chris Wallas que, depois, se tornou diretor em “The Fly/A Mosca 2” (1989).

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Alguns dos técnicos que também trabalharam em “Humanoids” foram Jimmy T. Murakami, que dirigiu algumas cenas e, no mesmo ano, dirigiu o pequeno clássico “Battle Beyond the Stars/Mercenários das Galáxias”; Martin B. Cohen foi produtor/roteirista (ele foi diretor do biker movie “The Rebel Rousers” (1970), estrelado por Jack Nicholson, e produtor executivo do lixo Cult “Blood of Dracula’s Castle” (1969) do sempre ruim Al Adamson) ao lado de Hunt Lowry (que depois se tornou produtor dos filmes de comédia do amalucado trio David Zucker, Jim Abrahams e Jerry Zucker e, também, foi produtor executivo do Cult movie para jovens moderninhos “Donnie Darko” (2001) de Richard Kelly). Mark Goldblatt foi o editor (antes já havia montado o “Piranha” e depois montou “The Terminator”) e Gale Anne Hurd, que depois viria a se tornar uma das mais importantes produtoras das décadas de 1980/1990, foi assistente de produção neste pequeno clássico do Corman.
“Humanoids from the Deep”, que na Europa é conhecido pelo título “Monster” (não confundir com a produção de Kenneth Hartford, também de 1980), é uma exemplar sci-fi de horror típica de uma época em que o cinema tinha como obrigação ser despretensioso e muito eficiente na arte de, simplesmente, entreter o público.

por Petter Baiestorf para o livro “Arrepios Divertidos”.

veja o trailer de “Humanoids from the Deep” aqui:

Nos Domínios do Amor Perverso

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on outubro 5, 2012 by canibuk

“Twice-Told Tales” (“Nos Domínios do Terror”, 1963, 120 min.) de Sidney Salkow. Com: Vincent Price, Joyce Taylor, Sebastian Cabot e Beverly Garland.

Este filme deveria se chamar “Nos Domínios do Amor Perverso”. Com três histórias baseadas em contos do escritor Nathaniel Hawthorne, “Twice-Told Tales” é um filme em episódios que explora o sadismo do amor relacionando-o ao macabro e a ciência. Roteirizado e produzido por Robert E. Kent, somos introduzidos no universo amoroso-tétrico de Hawthorne. No primeiro segmento, intitulado “A Experiência do Dr. Heidigger”, somos apresentados a dois amigos idosos que estão bebendo e relembrando o passado enquanto uma pesada tempestade castiga a noite. Ao fim da tempestade eles percebem que a tumba onde está enterrada Sylvia há 30 anos está aberta e resolvem ir lá ver se a tempestade não causou danos. Assim os dois velhos amigos descobrem que a morta está perfeitamente conservada no caixão e o ex-noivo, agora um renomado médico, desconfia que a água que pinga sobre o cadáver seja o responsável pela conservação do corpo. Após rápidos testes, onde a dupla reanima uma rosa seca, ambos bebem o precioso líquido coletado na tumba e voltam a ser jovens. Animados com o líquido milagroso, injetam no corpo da defunta que volta a vida revelando detalhes sórdidos, macabros e sujos de um triângulo amoroso mortal.

No segundo segmento, “A Filha de Rappaccini”, um pai mantém sua filha prisioneira em seu jardim, até o dia em que um jovem vizinho da casa ao lado se apaixona pela moça e descobre que ela foi vítima de experimentos de seu pai, um renomado cientista que no passado foi traído pela esposa libidinosa, e que transformou sua bela filha numa criatura radioativa que não pode encostar em nada vivo sem matá-lo horrivelmente queimado. Perdidamente apaixonado pela mortal beldade o vizinho tenta de tudo para salvar sua amada da loucura paterna (seu pai fez o que fez para evitar que a filha seguisse os passos pecadores da mãe). Ludibriado pelo cientista o jovem apaixonado é transformado em uma criatura radioativa tal como sua amada (assim nenhum dos jovens poderia trair o parceiro com relacionamentos extra-casamento) e um final explosivo, nos moldes de “Romeu e Julieta” só que mais atômico, acontece na melhor história do longa.

O terceiro segmento, e mais fracos, é “A Casa dos Sete Telhados”, sobre um picareta que volta à casa assombrada de sua família em busca de um cofre maldito que teria o dinheiro necessário para ele pagar suas dívidas de jogo. Sua esposa, que nada sabe, parece ser a resposta para a assombração que persegue aquela maldita casa à gerações. Aos poucos o expectador fica sabendo detalhes da história de amor por traz da maldição da casa dos sete telhados e de como a família do viciado em jogos conseguiu ficar com a casa (através de denúncias de bruxaria, onde o patriarca da família teria “roubado” a propriedade, traçando paralelos com a vida pessoal do escritor Hawthorne). Não sou chegado em historinhas espíritas de fantasminhas, talvez por isso eu não tenha curtido tanto este episódio final.

Vincent Price faz o papel principal (e a narração) em todos os episódios e nos lega interpretações fantásticas, se revelando em grande forma. Filmado no início dos anos de 1960, “Twice-Told Tales” tem aquele climão gótico dos filmes que Roger Corman fez baseado em contos de Edgar Allan Poe para a AIP, e assim como todos estes filmes de Corman, “Twice-Told Tales” faz excelente uso dos cenários belíssimos que são explorados de maneira bem criativa (cada episódio se passa num único cenário), aliados aos efeitos especiais, atuações, roteiro e figurinos que funcionam de modo colaborativo para que o filme seja uma grande diversão macabra do mais alto nível. O título de trabalho do filme foi “The Corpse Makers”, depois alterado para “Twice-Told Tales”, título de um livro coletânea de contos de Hawthorne (que trazia em suas páginas apenas o conto “A Experiência do Dr. Heidigger”). Nos USA o filme foi lançado em um DVD double feature com o clássico “Tales of Terror” (1962) de Roger Corman, verdadeiro objeto de orgasmo aos fãs fanáticos de Vincent Price.

Nathaniel Hawthorne (1804-1864) foi um romancista/contista descendente de John Hathorne (sem o “w”), único juiz envolvido nos julgamentos das bruxas de Salem que nunca se arrependeu de suas ações. Bom material para o escritor Hawthorne, que acrescentou o “w” em seu nome a fim de ocultar essa relação. Seu livro mais famoso, “The Scarlet Letter/A Letra Escarlate” foi publicado em 1850 depois de alguns livros que não fizeram sucesso. “A Letra Escarlate” foi um dos primeiros livros produzidos em massa nos USA e, nos primeiros dez dias após o lançamento, vendeu mais de 2500 cópias. O sucesso deu estabilidade à carreira de escritor e Hawthorne pode se dedicar a literatura, lançando na seqüência os livros “The House of the Seven Gables/A Casa dos Sete Telhados” (1851), que serviu de inspiração para o terceiro segmento de “Twice-Told Tales”, e “The Blithedale Romance” (1852), além de livros coletâneas de contos. No início da Guerra Civil Americana conheceu Abraham Lincoln e usou essas experiências políticas para compor o ensaio “Principalmente Sobre Assuntos da Guerra”, publicado em 1862. “Twice-Told Tales”, que empresta seu nome para este filme, foi lançado em 1837. Hawthorne faleceu enquanto dormia em 1864.

O diretor Sidney Salkow (1909-1998) dirigiu mais de 70 filmes e era pau prá toda obra, bem ao estilo dos diretores clássicos de Hollywood. Durante a Segunda Guerra Mundial Salkow chegou ao posto de major na marinha americana e assim que deu baixa do exército voltou a trabalhar como diretor, alternando filmes B com séries de TV. Seu primeiro filme foi o suspense “Four Days’ Wonder” (1936), seguido de vários outros filmes sem grande importância. Em 1952 chamou atenção com sua direção no filme “The Golden Hawk”, aventura estrelada por Sterling Hayden, e em 1954 dirigiu o ótimo western “Sitting Bull/Touro Sentado”. Depois de trabalhar em muitas séries de TV (coisas como “Lassie”, “Maverick” e “77 Sunset Strip”), foi contratado para dirigir “Twice-Told Tales”, um de seus melhores trabalhos. Ficou amigo de Vincent Price e o co-dirigiu novamente, em parceria com Ubaldo Ragona, no clássico “The Last Man on Earth/Mortos que Andam” (1964), com base no livro “I Am Legend” de Richard Matheson (embora o nome de Sidney Salkow não apareça creditado nas versões em italiano do filme). Depois destes dois grandes filmes do cinema fantástico Salkow realizou mais alguns westerns e se aposentou com apenas 59 anos e passou a viver de cursos de cinema que ministrava em faculdades da California.

O produtor e roteirista Robert E. Kent começou trabalhando para o lendário Sam Katzman na Columbia Pictures, até que formou, em parceria com Audie Murphy, a Admiral Productions e passou a produzir seus próprios filmes. Kent produziu alguns clássicos do horror e sci-fi como “It! The Terror from Beyonf Space” (1958), que mostrava uma expedição a Marte que era atacada por uma estranha forma de vida; “Curse of The Faceless Man” (1958), sobre uma curiosa maldição de um monstro de pedra; “Invisible Invaders” (1959), sobre aliens reanimando mortos humanos; “Beauty and the Beast” (1962), inspirado em “A Bela e a Fera”, este quatro filmes dirigidos por Edward L. Cahn, verdadeiro especialista em criar bons filmes de baixo orçamento; “Jack the Giant Killer/Jack – O Matador de Gigantes” (1962) de Nathan Juran, fantasia envolvendo dragões e princesas; “Diary of a Madman” (1963) de Reginald Le Borg, horror inspirado em história de Guy de Maupassant e estrelado por Vincent Price. Seu último filme foi “The Christine Jorgensen Story” (1970) de Irving Rapper, drama que contava a história de troca de sexo de Jorgensen (para quem não lembra, Christine Jorgensen foi a inspiração para Ed Wood escrever, produzir, dirigir e atuar em “Glen or Glenda?“).

“Twice-Told Tales” foi lançado em DVD no Brasil com o título “Nos Domínios do Terror” pela distribuidora Flashstar, a qualidade de imagem está ótima.

por Petter Baiestorf.

Veja “Twice-Told Tales” aqui:

Zontar – A Coisa Ridícula de Vênus Ataca Humanos Canastrões

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on outubro 3, 2012 by canibuk

“Zontar – The Thing From Venus” (“O Monstro de Vênus”, 1966, 80 min.) de Larry Buchanan. Com: John Agar, Susan Bjurman e Tony Huston.

Em 1956 o diretor Roger Corman, com um roteiro de Lou Rusoff, chamou Peter Graves, Lee Van Cleef e Beverly Garland e legou ao mundo o clássico da sci-fi mundial “It Conquered the World”, que contava a história de um venusiano que queria eliminar as emoções dos humanos para assim ter a paz mundial, mas lógico que o alien queria mesmo era dominar o mundo. O filme de Roger Corman era uma produção da American International Pictures, que em 1964 foi um dos últimos estúdios de cinema a criar sua própria produtora de filmes para TV, que se chamou American International Television e que nunca fez muito sucesso, com vários dos filmes dirigidos por Larry Buchanan. “Zontar – The Thing From Venus” é o remake televisivo do clássico “It Conquered the World”.

O roteiro de ambos os filmes é muito próximo. Re-escrito por Hillman Taylor e Larry Buchanan, “Zontar” conta a história do cientista Dr. Keith (Tony Huston) que está em contato com uma criatura de Vênus com seu impagável sistema de som gigantesco. John Agar, aqui no papel do Dr. Curt Taylor, faz piadas com o colega porque a “voz” de Zontar são sinais sonoros estáticos ininteligíveis. Paralelo a isso, Zontar toma um satélite terrestre e o faz ter problemas para que seja trazido ao planeta Terra (um alien tão poderoso que não tinha nem espaçonave própria?). Uma vez no planeta Terra Zontar se instala numa confortável caverna (segundo ele, com clima próximo do planeta Vênus) e dali, sabe-se lá como, faz com que todas as máquinas humanas parem de funcionar (incluindo torneiras) e, com ajuda de seus morcegos venusianos, implanta algo na cabeça dos terrestres (principalmente funcionários do governo e policiais) que permite a ele controlar as ações das pessoas para seus propósitos malignos.

Diz a lenda que Larry Buchanan foi o único diretor da história do cinema que editou seus filmes colando-os com fita adesiva, dado seu pão-durismo. A se julgar pelos efeitos especiais amadores de “Zontar”, isso pode ser verdade. Tudo na produção é vagabundo e de terceira, o próprio monstro é extremamente mal feito, os morcegos venusianos são de borracha dura e manejados por varas de pesca (e quando atacam os humanos entra o talento dos atores em fazê-los tremer para que pareçam vivos), com cenários e figurinos simplistas que fazem a festa de quem curte um bom filme ruim. Os atores estão todos no piloto automático, na linha “filma logo que tenho que pagar meu aluguel!”.

Larry Buchanan (1923-2004) tem vários filmes nas listas de “piores filmes já feitos” por aí. Texano, foi criado num orfanato onde ficou fascinado com os filmes que eram exibidos nos finais de semana e logo soube o que iria ser quando crescesse. Assim como Russ Meyer (só que desprovido de talento), Buchanan aprendeu a lidar com as câmeras cinematográficas no exército, filmando batalhas durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1951 escreveu, produziu, dirigiu e estrelou o curta-metragem “The Cowboy”, um western sem som que posteriormente ele incluiu uma narração de Bill Free para ter mais sentido. No ano seguinte dirigiu o longa “Grubstake”, outro western. Ficou alguns anos sem dirigir até que em 1961 se encontrou ao realizar “The Naked Witch”, um horror exploitation onde começou a explorar a nudez feminina. Depois de mais alguns exploitations obscuros, em 1965, foi contratado pela American International Television para produzir e dirigir vários remakes, assim fez a comédia de horror “The Eye Creatures” (1965), sobre um alien invadindo uma pequena cidade; “Zontar – The Thing From Venus” (1966), também sobre um alien invadindo uma pequena cidade; “Curse of the Swamp Creature” (1966), horror rural ambientado nos pântanos do Texas; “Mars Needs Women” (1967), impagável comédia de sci-fi sobre marcianos e mulheres terrestres peladas que é um dos meus preferidos dos filmes realizados por ele; “In The Year 2889” (1967), sobre um grupo de sobreviventes da guerra nuclear que lutam contra mutantes canibais; “Creature of Destruction” (1967), onde um cara prevê os assassinatos de um monstro marinho; “Hell Raiders” (1968), drama de guerra e o hilário “It’s Alive!” (1969, não confundir com o filmaço de Larry Cohen de 1974), onde um monstro pré-histórico ridículo ataca fazendeiros. Como o pessoal da AIP-TV era mais sem noção do que o próprio Buchanan, parece que a ordem para a produção dos remakes veio acompanhado da seguinte nota: “Queremos os filmes baratos mas coloridos, precisam ter 80 minutos de duração, ter nomes chamativos e queremos para agora!”. Em 1981 Buchanan filmou a aventura de horror “The Loch Ness Horror”, explorando o mito do monstro marinho escocês que estava em alta. Mesmo seus filmes tendo sido produções ultra-vagabundas, Buchanan sempre teve lucro com suas produções, provando que no cinema tanto faz se seu filme é bom ou ruim, o importante é como chegar a platéia e cobrar ingressos.

O ator John Agar (1921-2002) nasceu em Chicago, foi casado com Shirley Temple e se especializou em papéis em filmes de baixo orçamento. Alcoólatra em tempo integral, Agar estrelou maravilhas da sétima arte, como “Revenge of the Creature” (1955) de Jack Arnold, continuação do clássico “Creature from the Black Lagoon” (1954); “Tarantula” (1955), também de Jack Arnold, sobre uma aranha gigante papando pessoas em seus passeios pelo deserto americano; “The Mole People” (1956) de Virgil W. Vogel, sobre um arqueólogo que descobre o terrível povo toupeira; “Daughter of Dr. Jekyll” (1957) de Edgar G. Ulmer, uma variação do livro “O Médico e o Monstro”, “The Brain from Planet Arous” (1957) de Nathan Juran, sobre o cérebro de um criminoso do planeta Arous que assume o corpo de um cientista terráqueo; “Attack of the Muppet People” (1958) de Bert I. Gordon, deliciosa sci-fi de horror do mestre BIG, como era chamado o diretor Gordon; “Invisible Invaders” (1959) de Edward L. Cahn, tranqueira trash sobre aliens invisíveis tornando os humanos em zumbis; “Curse of the Swamp Creature” (1966), outra desgraça dirigida por Buchanan; “Women of the Prehistoric Planet” (1966) de Arthur C. Pierce, sobre um foguete que cai num planeta desconhecido; e o remake de “King Kong” feito em 1976 por John Guillermin, onde Agar faz um pequeno papel. Mas qualquer filme com John Agar no elenco já merece uma conferida. No final de sua vida Agar abandonou as produções e passou a vender apólices de seguro de vida.

Tony Huston merece citação por ter aparecido como ator em vários filmes do amigo Buchanan, coisas como “The Eye Creatures”, “Curse of the Swamp Creature”, “Zontar” e “Mars Need Women”. Se aventurou também como roteirista, tendo escrito uma meia dúzia de filmes pavorosos como “Curse of the Swamp Creature” (1966), “Creature of Destruction” (1967), “Comanche Crossing” (1968), “Strawberries Need Rain” (1970) e “A Bullet for Pretty Boy” (1970), todos dirigidos pelo amigão Larry Buchanan e “The Hellcats/Gatas no Inferno” (1968), desta vez dirigido por Robert F. Slatzer. Em 1971 se aventurou na direção do drama de ação “Outlaw Riders”, que trazia no elenco o ator William Bonner (de filmaços como “Orgy of the Dead” (1965) de Stephen C. Apostolof; “Satan’s Sadists” (1969), “Hell’s Bloody Devils” (1970) e “Dracula Vs. Frankenstein” (1971), os três do mega picareta Al Adamson e “Angels Die Hard” (1970) de Richard Compton).

“Zontar – The Thing From Venus” foi lançado em DVD no Brasil pela London Films em sessão dupla com o clássico “First Spaceship on Venus/A Primeira Espaçonave em Vênus” (1960) de Kurt Maetzig, filme obrigatório aos fãs de sci-fi.

por Petter Baiestorf.

Veja “Zontar – The Thing From Venus” aqui:

Veja “It Conquered the World” aqui:

Capa do double feature com “First Spaceship on Venus” e “Zontar – The Thing From Venus” lançado no Brasil pela London Films.

Assassinas Voadoras Promovem Carnificina no Festival do Peixe Frito

Posted in Cinema with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 31, 2012 by canibuk

“Piranha 2 – The Spawning” (“Piranhas 2 – Assassinas Voadoras”, 1981, 84 min.) de James Cameron. Produção de Ovidio G. Assonitis. Com: Tricia O’Neil, Lance Henriksen e Steve Marachuk.

No calor da noite jamaicana  um casal de turistas mergulha no local onde há os destroços de um navio afundado para ter um pouquinho de sexo nas profundezas do mar azul. Peitinhos a mostra, sunga rasgada e os corpos do casal de amantes assanhados são devorados por piranhas famintas!… Hum, espere aí, piranhas em água salgada?… Sim, este é o brilhante ponto de partida do genial (e muito tosco) roteiro do produtor Ovidio Assonitis (com alguns pitacos do diretor James Cameron em seu único trabalho que admiro). Aqui somos apresentados ao Clube Elysium, uma espécie de hotel cheio dos mais variados tipos humanos que somente o cinema italiano tem a capacidade de criar. Entre uma e outra cena idiota, somos apresentados à Anne Kimbrough (Tricia O’Neil), instrutora de mergulho que trabalha ali com seu filho tapado, caçadoras de homens ricos, velhas ninfomaníacas, pescadores que usam dinamite, ricaços egocentricos, o xerife boa pinta, dentistas otários e, lógico, como não poderia faltar, o dono de hotel ganancioso que, a todo custo, quer fazer um festival do peixe frito na praia.

Em uma de suas aulas de mergulho Anne leva seus alunos até os destroços do navio onde as piranhas vivem. Um dos alunos entra no navio e é comido pelas piranhas. Assim o xerife, que se revela marido de Anne, começa as investigações. Anne, auxiliado por um aluno que quer comer ela, invade o necrotério para analizar o corpo podre do aluno morto. Enquanto estão fotografando o cadáver uma enfermeira descobre a farra e os expulsa. Ao arrumar o corpo do morto a enfermeira tem a surpresa que todos estão esperando, ou seja, uma piranha voadora sai de dentro do corpo e voa até sua jugular estraçalhando-a (as piranhas são de borracha, quando atacam os próprios atores precisam segurá-las e simular que estão vivas e violentas, rendendo momentos impagáveis de humor involuntário). Já em sua casa, Anne e seu aluno estão vendo as fotos do cadáver quando, como seria normal num caso assim, pinta um clima de tesão e eles se beijam e vão prá cama para uma foda revigorante. Deste ponto em diante o filme fica cada vez mais divertido, com as piranhas voadoras saindo da água como um cardume/bando sedento por carne humana. Logo Anne está implorando para o dono do Clube Elysium cancelar todas as atividades na água, mas ele não aceita isso (Assonitis e Cameron perdem aqui uma ótima oportunidade de esculhambar este clichê, já que como as piranhas voam e respiram fora da água, se todas todas as atividades da água fossem canceladas, ainda teríamos os deliciosos ataques).

Quando o aluno de Anne se revela um bioquímico, ficamos sabendo que ele sabia que no navio afundado havia ovos de piranhas modificadas geneticamente para serem utilizadas como armas pelos militares americanos. Como o festival do peixe frito não foi cancelado, todos os hóspedes que esperavam comer um peixinho frito de graça viram a refeição principal das piranhas que promovem uma carnificina gore repleta de feridas pustulentas, sangue grosso e membros amputados. A última esperança de todos é Anne mergulhar até o navio, ninho das piranhas, e explodir tudo com bananas de dinamite, promovendo assim um dos finais mais toscos que o cinema trash já filmou.

Com uma equipe-técnica completamente italiana (onde ninguém falava inglês), James Cameron deve ter se sentido um peixe fora d’água nesta produção do picareta Assonitis. “Piranha 2” era para ter sido dirigido por Miller Drake (assistente de direção no clássico “Alligator” de Lewis Teague, filmado um ano antes) que havia trabalhado com Roger Corman e Joe Dante no primeiro “Piranha” (1978) que traria de volta as personagens de Kevin McCarthy (que reapareceria todo cheio de cicatrizes porque foi vítima das piranhas no primeiro filme) e de Barbara Steele. James Cameron havia sido contratado para fazer os efeitos especiais do filme e, quando Drake foi despedido da produção, Cameron pode realizar seu sonho de dirigir um filme, mas, para azar do americano, Assonitis resolveu acompanhar as filmagens de perto e discutia quase sobre tudo com Cameron (nada pior para um produtor do que ter um diretor que não faz o que lhe é ordenado) e assim proibiu Cameron de ver as filmagens do dia e, depois, não o deixou acompanhar a edição do filme. Aliás, James Cameron se refere ao “The Terminator/O Exterminador do Futuro” (1984) como seu primeiro filme (há um curta-metragem de Cameron de 1978, intitulado “Xenogenesis” que merece ser redescoberto).

Ovidio G. Assonitis (1943) nasceu no Egito e é produtor de cinema independente. Nos anos de 1960 se tornou distribuidor de filmes no sudoeste da Ásia (em apenas 10 anos como distribuidor colocou no mercado mais de 900 filmes). Entre 1970 e 2000 produziu cerca de 50 filmes, muitos deles coproduções com produtoras como American International Pictures, Nippon Herald Films Inc. e Toho-Towa, geralmente com lucros absurdos como “Chi Sei?/Beyond the Door/Espírito Maligno” (1974), filme de baixo orçamento dirigido por ele mesmo, que teve arrecadação mundial de mais de 40 milhões de dólares. Com o pseudônimo de Oliver Hellman, além de “Chi Sei?”, dirigiu ainda “Tentacoli” (1977), trasheira estrelada por John Huston, sobre polvos assassinos; “There Was a Little Girl/Madhouse” (1981), sobre uma professora de surdos atormentada por sua irmã gêmea e a comédia “Desperate Moves” (1981). Como produtor trabalhou com os mais variados tipos de diretores italianos possíveis, realizando belíssimos filmes de baixo orçamento como “Nel Labirinto del Sesso” (1969) de Alfonso Brescia; “Il Paese del Sesso Selvaggio/The Man from the Deep River” (1972) de Umberto lenzi, um dos primeiros filmes do ciclo de filmes de canibais italianos; “Dedicato a una Stella” (1976) de Luigi Cozzi, um drama romantico; “Stridulum/Herdeiros da Morte” (1979) de Giulio Paradisi, sci-fi de horror sobre o bem e o mal em luta secular; “Iron Warrior/O Guerreiro de Aço” (1987) também de Alfonso Brescia; “Curse 2 – The Bite” (1989) de Frederico Prosperi, sobre um mané que é mordido por uma cobra radioativa e o resto pode ser imaginado; “Lambada” (1991) de Fábio Barreto, trasheira musical que tentava lucrar com a moda da lambada; “American Ninja 5” (1993) de Bobby Gene Leonard, com Pat Morita no elenco; entre vários outros exemplos de como ser um exploitation man do cinema.

Giannetto De Rossi (1942), responsável pelos ótimos momentos gores de “Piranha 2”, começou como maquiador em filmes como “Le Ore Dell”Amore” (1963) de Luciano Salce, comédia romântica estrelada por Ugo Tognazzi e Barbara Steele, “C’era una Volta il West/Era uma vez no Oeste” (1969) de Sergio Leone e “Quando le Donne Avevano la Coda/Quando as Mulheres Tinham Rabo” (1971) de Pasquale Festa Companile, comédia incorreta com Senta Berger. Em 1972 trabalhou na comédia “All’Onorevole Piacciono le Donne…/O Deputado Erótico”, dirigido por Lucio Fulci, trampo que colocou os dois em contato. Logo em seguida De Rossi trabalhou com Jorge Grau no clássico “Non si Deve Profanare il Sono dei Morti/Let Sleeping Corpse Lie/Zumbi 3”, onde criou efeitos de maquiagens gores convincentes. Mas foi com Lucio Fulci que extrapolou todos os limites do bom gosto ao elaborar os efeitos ultra gores de filmes como “Zumbi 2” (1979); “… E Tu Vivrai nel Terrore! L’Aldilà/Terror nas Trevas” (1981) e “Quella Villa Accanto al Cimitero/The House by the Cemetery/A Casa dos Mortos-Vivos” (1981). Sempre metido nas produções mais divertidas, De Rossi trabalhou em inúmeros filmes que marcaram época, como “L’Umanoide/O Humanóide” (1979), sci-fi cara de pau de Aldo lado; “Conan The Destroyer/Conan, O Destruidor” (1984) de Richard Fleischer, fantasia com Schwarzenegger; “Rambo III” (1988) de Peter McDonald, ação com Stallone; “Killer Crocodille” (1989), horror sobre um crocodilo gigante de Fabrizio de Angelis; entre vários outros. Giannetto De Rossi também foi responsável pela criação dos efeitos realistas do “snuff movie” que é projetado em “Emanuelle in America” (1977) de Joe D’Amato, estrelado por Laura Gemser. Giannetto ainda dirigiu três longas: “Cyborg, il Guerriero D’Acciaio” (1989), sci-fi de ação; “Killer Crocodille II” (1990), continuação sangrenta das aventuras do crocodilo gigante; e o filme em vídeo “Tummy” (1995), sobre um garoto que foge do orfanato com duas criaturas mágicas.

“Piranha 2 – Assassinas Voadoras” foi lançado em DVD no Brasil pela Columbia Tri Star Home Video e é ótimo para ver que todos os gigantes da indústria cinematográfica mundial começam pequenos.

por Petter Baiestorf.

O Corvo

Posted in Literatura with tags , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 26, 2012 by canibuk

Foi uma vez: eu refletia, à meia-noite êrma e sombria,

a ler doutrinas de outro tempo em curiosíssimos manuais,

e, exausto, quase adormecido, ouvi de súbito um ruído,

tal qual se houvesse alguém batido à minha porta, devagar.

“É alguém” – fiquei a murmurar – “que bate à porta, devagar;

sim, é só isso e nada mais.”

.

Ah! Claramente eu o relembro! Era no gélido dezembro

e o fogo, agônico, animava o chão de sombras fantasmais.

Ansiando ver a noite finda, em vão, a ler, buscava ainda

algum remédio à amarga, infinda, atroz saudade de Lenora

– essa, mais bela do que a aurora, a quem nos céus chamam Lenora

e nome aqui já não tem mais.

.

A sêda rubra da cortina arfava em lúgubre surdina,

arrepiando-me e evocando ignotos medos sepulcrais.

De susto, em pávida arritmia, o coração veloz batia

e a sossegá-lo eu repetia: “É um visitante e pede abrigo.

Chegando tarde, algum amigo está a bater e pede abrigo.

É apenas isso e nada mais.”

.

Ergui-me após e, calmo enfim, sem hesitar, falei assim:

“Perdoai, senhora, ou meu senhor, se há muito aí fora me esperais;

mas é que estava adormecido e foi tão débil o batido,

que eu mal podia ter ouvido alguém chamar à minha porta,

assim de leve, em hora morta.” Escancarei então a porta:

– escuridão, e nada mais.

.

Sondei a noite êrma e tranqüila, olhei-a fundo, a perquiri-la,

sonhando sonhos que ninguém, ninguém ousou sonhar iguais.

Estarrecido de ânsia e medo, ante o negror imoto e quêdo,

só um nome ouvi (quase em segredo eu o dizia) e foi: “Lenora!”

E o eco, em voz evocadora, o repetiu também: “Lenora!”

Depois, silêncio e nada mais.

.

Com a alma em febre, eu novamente entrei no quarto e, de repente,

mais forte, o ruído recomeça e repercute nos vitrais.

“É na janela” – penso então. “Por que agitar-me de aflição?

Conserva a calma, coração! É na janela, onde, agourento,

o vento sopra. É só do vento esse rumor surdo e agourento.

É o vento só e nada mais”.

.

Abro a janela e eis que, em tumulto, a esvoaçar, penetra um vulto:

– é um Corvo hierático e soberbo, egresso de eras ancestrais.

Como um fidalgo passa, augusto e, sem notar sequer meu susto,

adeja e pousa sobre o busto – uma escultura de Minerva,

bem sobre a porta; e se conserva ali, no busto de Minerva,

empoleirado e nada mais.

.

Ao ver da ave austera e escura a soleníssima figura,

desperta em mim um leve riso, a distrair-me de meus ais.

“Sem crista embora, ó Corvo antigo e singular” – então lhe digo –

“não tens pavor. Fala comigo, alma da noite, espectro tôrvo,

qual é teu nome, ó nobre Corvo, o nome teu no inferno tôrvo!”

E o corvo disse: “Nunca mais”.

.

Maravilhou-me que falasse uma ave rude dessa classe,

misteriosa esfinge negra, a retorquir-me em termos tais;

pois nunca soube de vivente algum, outrora ou rio presente

que igual surpresa experimente: a de encontrar, em sua porta,

uma ave (ou fera, pouco importa, empoleirada em sua porta

e que se chama: “Nunca mais”.

.

Diversa coisa não dizia, ali pousada, a ave sombria,

com a alma inteira a se espelhar naquelas sílabas fatais.

Murmuro, então, vendo-a serena e sem mover uma só pena,

enquanto a mágoa me envenena: “Amigos… sempre vão-se embora.

Como a esperança, ao vir a aurora, ele também há de ir-se embora.”

E disse o Corvo: “Nunca mais”.

.

Vara o silêncio, com tal nexo, essa resposta que, perplexo,

julgo: “É só isso o que ele diz; duas palavras sempre iguais.

Soube-as de um dono a quem tortura uma implacável desventura

e a quem, repleto de amargura, apenas resta um ritornelo

de seu cantar; do morto anelo, um epitáfio: – o ritornelo

de “Nunca, nunca, nunca mais”.

.

Como ainda o Corvo me mudasse em um sorriso a triste face,

girei então numa poltrona, em frente ao busto, à ave, aos umbrais

e, mergulhando no coxim, pus-me a inquirir (pois, para mim,

visava a algum secreto fim) que pretendia o antigo Corvo,

com que intenções, horrendo, tôrvo, esse ominoso e antigo Corvo

grasnava sempre: “Nunca mais”.

.

Sentindo da ave, incandescente, o olhar queimar-me fixamente,

eu me abismava, absorto e mudo, em deduções conjeturais.

Cismava, a fronte reclinada, a descansar, sobre a almofada

dessa poltrona aveludada em que a luz cai suavemente,

dessa poltrona em que Ela, ausente, à luz que cai suavemente,

já não repousa, ah! nunca mais…

.

O ar pareceu-me então mais denso e perfumado, qual se incenso

ali descessem a esparzir turibulários celestiais.

“Misero!” – exclamo – “Enfim teu Deus te dá, mandando os anjos seus

esquecimento, lá dos céus, para as saudades de Lenora.

Sorve o nepentes. Sorve-o, agora! Esquece, olvida essa Lenora!”

E o Corvo disse: “Nunca mais”.

.

“Profeta!” – brado. “O’ ser do mal! Profeta sempre, ave infernal,

que o Tentador lançou do abismo, ou que arrojaram temporais,

de algum naufrágio, a esta maldita e estéril terra, a esta precita

mansão de horror, que o horror habita, – imploro, dize-mo, em verdade:

Existe um bálsamo em Galaad? Imploro! dize-mo, em verdade!”

E o Corvo disse: “Nunca mais”.

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“Profeta!” – exclamo. “O’ ser do mal! Profeta sempre, ave infernal!

Pelo alto céu, por esse Deus que adoram todos os mortais,

fala se esta alma sob aguante atroz da dor, no Êden distante,

verá a deusa fulgurante a quem nos céus chamam Lenora,

– essa, mais bela do que a aurora, a quem nos céus chamam Lenora!”

E o corvo disse: “Nunca mais!”

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“Seja isso a nossa despedida!” – ergo-me e grito, alma incendiada.

“Volta de novo à tempestade, aos negros antros infernais!

Nem leve pluma de ti reste aqui, que tal mentira ateste!

Deixa-me só neste êrmo agreste!” Alça teu vôo dessa porta!

Retira a garra que me corta o peito e vai-te dessa porta!

E o Corvo disse: “Nunca mais!”

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E lá ficou! Hirto, sombrio, ainda hoje o vejo, horas a fio,

sobre o alvo busto de Minerva, inerte, sempre em meus umbrais.

No seu olhar medonho e enorme o anjo do mal, em sonhos, dorme,

e a luz da lâmpada, disforme, atira ao chão a sua sombra.

Nela, que ondula sobre a alfombra, está minha alma; e, presa à sombra,

não há de erguer-se, ai! nunca mais!.

poesia de Edgar Allan Poe.

ilustrações de Prassinos.

tradução de Oscar Mendes e Milton Amado.