Arquivo para 2000 anos para isso?

CineBarca Trash em Xanxerê

Posted in Arte e Cultura, Cinema, Entrevista, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on setembro 4, 2018 by canibuk

Nessa quinta-feira, dia 06 de setembro, estarei na cidade de Xanxerê, no Oeste de Santa Catarina, exibindo alguns de meus filmes no SOS Bar, em sessão organizada pelo fantástico coletivo ABarca.

No mês que a Canibal Filmes completa seus 27 anos de resistência underground no cinema brasileiro, nada melhor do que uma sessão realizada aqui no Oeste, local onde tudo começou em 1991. Na sessão que programamos com ABarca vamos exibir filmes de todas as épocas da Canibal (2000 Anos Para Isso? é de 1996, enquanto Ándale! é de 2017), junto de filmes escritos e dirigidos por outros integrantes de nosso grupo, como O Último Dia no Inferno (2017), de E.B. Toniolli, Até Que… E Deu Merda (2017), de Carli Bortolanza, e, A Noiva do Turvo (2018), de Loures Jahnke. Após a sessão deverá rolar um debate comigo, acompanhado de Loures Jahnke e os atores Elio Copini e PC.

Resolvi fazer uma divulgação diferente deste evento que exibirá meus filmes em Xanxerê, ao invés de ser entrevistado por eles para a divulgação, resolvi entrevistar a Eloisa Almeida, que faz parte do coletivo ABarca, e divulgar este projeto lindo que está rolando na cidade de Xanxerê desde 2016 e que acho que todos deveriam apoiar/prestigiar!

Petter Baiestorf: O que é o coletivo ABarca? Seus objetivos e quem faz parte?

Eloisa Almeida: Fundado em julho de 2016, o Coletivo Cultural Abarca foi instituído com o intuito de desenvolver projetos e atividades culturais na cidade de Xanxerê e região. O coletivo surgiu com o interesse de um grupo de amigos em aprender e produzir arte, com um viés social, e movimentar o cenário cultural na cidade. Tem como principal objetivo fomentar a cultura, e que ela seja acessível. Os eventos, ações, oficinas e atividades promovidas pelo coletivo são realizadas em espaços independentes e também com o intuito torná-los públicos, considerando que todo espaço é cultural. Hoje o coletivo conta com 16 membros e está aberto a quem tiver interesse e disponibilidade para participar das ações culturais, e aberto para novas experiências, participando de intervenções artísticas, desde apresentações de teatro, leitura dramática, cinema, poesia e outras formas de arte que estiverem ao alcance do nosso olhar.

Baiestorf: Conte sobre o projeto CineBarca Trash.

Eloisa: O CineBarca é um projeto do coletivo desde 2017, onde tem o objetivo de apresentar exibições cinematográficas em espaços públicos, procuramos valorizar a cena independente e trabalhos autorais da região para que também possam alcançar um maior público. O primeiro CineBarca teve como tema o Cinema Brasileiro em VHS, o qual foi realizado na Casa da Cultura Maria Rosa, em Xanxerê.

Neste ano, dando continuidade ao projeto com o tema Trash, o coletivo organizou quatro exibições, onde o SOS Bar nos abre as portas para o evento. O bar foi escolhido para o evento, justamente pela identificação do espaço com o tema, sendo considerado um ambiente underground que, além disso, se encaixa com o perfil do coletivo. No mês de agosto foram exibidos os filmes, todas as quintas-feiras a partir do dia 16, com seqüência de “Fome Animal” (Braindead), Evil Dead 1 e 2, e From Beyond. Os filmes foram escolhidos a partir do conhecimento que temos sobre o tema, considerando que se tivéssemos um conhecimento maior sobre esse tipo de trabalho regional, o intuito seria propor essas exibições locais. Para concluir as exibições do tema Trash, acontecerá no dia 06/09 um evento com a participação especial do cineasta Petter Baiestorf, o qual estará exibindo seus trabalhos e dando abertura a uma roda de conversa sobre o tema. O vídeo de abertura do projeto foi produzido pelos amigos do coletivo de forma independente, Murilo Salini e Jéssica Antunes.

Pretendemos dar continuidade ao CineBarca com outros temas seguintes, já estamos nos organizando para o próximo tema de “Futuro Distópico”, seguindo com a ideia de quatro exibições e na última, um evento especial, com a participação do nosso amigo Luis Kohl, apresentando seu trabalho musical autoral Antronic. Logo as datas serão divulgadas.

Em relação ao público, está sendo muito gratificante! Conseguimos atingir um público maior do que o esperado para o evento, e percebe que o nosso intuito em apresentar algo novo e despertar a curiosidade tem sido construtivo. Estamos com grandes expectativas para o dia 06/09, inclusive percebemos a ansiedade do público para este momento também.

Baiestorf: Como é o espaço para a cultura independente em Xanxerê?

Eloisa: Não temos um cenário muito bom para a cultura independente em Xanxerê, quando é pensado em formar um grupo cultural vemos que geralmente é procurado patrocínios ou apoio público. Talvez o interesse na cultura independente tenha relação além disso, com o interesse em não vincular diretamente essas instituições. Vê-se também que o público procura grupos prontos para participar ativamente, ao invés de formar um novo grupo.

Baiestorf: Acho extremamente interessante o intercâmbio cultural entre artista da região Oeste. Vocês tem planos de levar à Xanxerê mais cineastas aqui da região?

Eloisa: Temos um grande interesse em dar continuidade ao projeto, trazendo outros cineastas, porém há dificuldades em entrar em contato com essas pessoas, até pela questão financeira, considerando que somos um coletivo independente, para manter nossos projetos temos um caixa para contribuição dos membros e doações, e nem sempre temos um retorno positivo. Mas acreditamos que possa ser questão de organização e fazer acontecer.

Baiestorf: Num âmbito da cultura oficial/institucionalizada, como é o apoio da sociedade de Xanxerê? Minha pergunta é fazendo distinção entre cultura oficial e independente de modo proposital mesmo, visto o descaso com que a cultura é tratada no Brasil.

Eloisa: Vê-se que não apenas em Xanxerê, mas no Brasil, que a cultura institucionalizada recebe um menor apoio, comparando com a cultura oficial, a qual podemos chamar de popular. Mas acreditamos que a questão de ser uma cultura institucionalizada/independente já carrega esse interesse de não se tornar popular, de atingir as minorias e se manter no espaço underground. No caso do nosso coletivo, levamos em consideração isso também, o fato de não nos vincular à outras instituições as quais teriam interesses capitais através da arte, e o nosso interesse é realmente em propor a arte de uma forma livre e independente. Além disto, a sociedade conhece culturalmente daquilo que se tem acesso, e na maioria das vezes comercializado, pois é dessa forma que essas informações chegam a ela, através da grande massa, do que se é mais popular. Em Xanxerê, apesar disso existe um público considerável que aprecia a arte independente, e acreditamos que isso tem relação à esse público estar aberto para o novo, a formas diferentes de arte, e também o motivo pelo qual a grande parte dos xanxerenses não dar tanto apoio a cena independente, por estar acomodado com o que somente o seu meio social proporciona.

Baiestorf: Este Cinebarca acontece numa semana pesada à cultura/ciência/educação, em que o Museu Nacional foi literalmente reduzido às cinzas. O que você gostaria de falar sobre isso, sobre este descaso secular do brasileiro à cultura, ao saber, à ciência, à educação.

Eloisa: Acreditamos que existem maiores interesses por trás deste descaso, pois a cultura no Brasil sempre foi utilizada como um jogo político, embora existam vários meios de se introduzir a cultura para a sociedade, olhando por esse lado não é espantoso a realidade em que nos encontramos. O caso do Museu Nacional só nos mostra a importância que a cultura tem para o país. Sabemos que a única maneira de preservar a história do país é tendo acesso a ela. Talvez seja necessário para o brasileiro, e principalmente ao poder público, compreender que para se construir um futuro é preciso conhecer e reconhecer o passado, através dele se tem muitas respostas da situação que vivemos hoje, saber que a cultura é algo que vai sendo construído, que para existir o novo é preciso do velho como base para novas concepções.  É lamentável saber que a cultura no Brasil cada vez mais perde o seu valor, mas aí cabe a nós resistirmos e lutarmos por ela, pois a cultura faz parte da essência do homem.

Baiestorf: Pequenas ações, como o projeto A Barca, acabam sendo atos de resistência ao sucateamento da cultura no Brasil?

Eloisa: Quando se pergunta o que é arte, logo vemos que a sociedade vê e aceita aquilo que está dentro dos seus padrões. Conhecer e produzir arte, seja vindo de um sujeito ou coletivo, já por si é um ato de resistência, pois ele está propondo algo novo para o mundo, tudo o que é novo de início traz um certo estranhamento social, para os acomodados é difícil se abrir para o novo. Ser resistência é continuar movimentando a diversidade cultural, é fugir dos padrões sociais, e esse é nosso intuito como coletivo independente.

Baiestorf: O Espaço é seu Eloisa. Convide as pessoas para o Cinebarca dessa quinta-feira:

Eloisa: HEY ESQUISITO! Nesta quinta-feira 06/09 o bar mais underground do velho oeste abre as portas mais uma vez para o CineBarca Trash. Venha fazer parte da resistência da cultura independente, venha dar o seu apoio à cultura que se encontra oculta em nosso país. Teremos a participação especial do cineasta Petter Baiestorf exibindo seu trabalho cinematográfico independente e abrindo uma roda de conversa sobre o tema Trash. Levante do seu caixão e vá até o SOS bar, junte-se com os demais zumbis da sociedade nessa experiência trasheira que tem início às 21h, esperamos por você!

Programação do CineBarca deste dia 06 de setembro (início 21 horas):

A Noiva do Turvo (2018, 5’) de Loures Jahnke.

O Último Dia no Inverno (2017, 4’) de E.B. Toniolli.

Até Que… E Deu Merda (2017, 5’) de Carli Bortolanza.

Ándale! (2017, 4’) de Petter Baiestorf.

2000 Anos Para Isso? (1996, 12’) de Petter Baiestorf.

Primitivismo Kanibaru na Lama da tecnologia Catódica (2003, 12’) de Petter Baiestorf.

Zombio 2: Chimarrão Zombies (2013, 83’) de Petter Baiestorf.

Por um Punhado de Downloads

Posted in Cinema, Música, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on outubro 14, 2016 by canibuk

Atenção, muita atenção!

logo-canibal-001Você está penetrando no Mondo Trasho da Canibal Filmes, clicando em qualquer um destes links abaixo disponibilizados você adentrará num universo onde o mal feito é glorificado como o mais valioso dos objetos sagrados, onde a falta de talento é incentivada, onde até mesmo o faxineiro de um grande estúdio conseguiria virar diretor de uma produção. Aqui ninguém é excluído do sonhos de virar uma estrela de cinema. Todas a produções abaixo disponibilizadas foram realizada nos anos de 1990, quando ainda não existiam bons equipamentos de filmagem que fossem baratos e a edição era feita se utilizando de dois vídeo cassetes, o que torna estes filmes ainda mais mongoloides. Estejam avisados, estes links contem o pior do pior, se você acha que possuí bom gosto, clique somente no link da Cadaverous Cloacous Regurgitous. Os links para download estão nos títulos em letras maiúsculas.

Cadaverous Cloacous Regurgitous (1993)

cadaverous-cloacous-regurgitous

Demo-Tape

Antes de fazer um filme eu era fanático-radical por noise grind e, junto de meu amigo Toniolli, planejamos montar a banda mais suja do mundo, ou algo assim, afinal éramos apenas uns guris sem nada pra fazer. Eis que nas férias escolares de 1993 fomos para a casa dos pais de Toniolli e gravamos e mixamos a demo-tape “Ópera Indústrial” e intitulamos nossa banda de noise com o belo nome de “CADAVEROUS CLOACOUS REGURGITOUS“. Além de instrumentos tradicionais, também usamos folhas de zinco, motosserras, uma guitarra quebrada com uma corda e, no vocal, uma gravação que Toniolli tinha feito meses antes de porcos sendo castrados. Não satisfeito com essa primeira experiência envolvendo música, em 1999 – desta vez ajudado por meu amigo Carli Bortolanza – gravamos a demo-tape “Anna Falchi”, colocando pra funcionar um projeto de industrial harsh intitulado “Smelling Little Girl’s Pussy” que está junto no zip. “Smelling” não utilizou nenhum instrumento musical, todo o som é produzido com microfonias que criamos com estática de rádio, sujeira sonora e gravamos nos utilizando de uma ilha de edição de vídeo, muitos dos barulhos estranhos captados são oriundos de uma câmera de VHS apontando pra uma tela de TV.

 

Açougueiros (1994)

acougueiros

Petter Baiestorf em 1994

Logo após finalizar e lançar “Criaturas Hediondas” (1993), oficialmente minha primeira tentativa de fazer um filme, reunimos a mesma turma e fomos para uma casa abandonada (que depois foi reutilizada como cenário para as filmagens de “Eles Comem Sua Carne”) passar dois dias, tempo em que filmamos o “AÇOUGUEIROS“, sendo atacados por terríveis aranhas assassinas durante as madrugadas. Já na primeira noite percebemos que as aranhas era inteligentes e estavam a nossa espreita. Deitávamos em nossos colchonetes e, ligando as lanternas contra o chão, víamos as aranhas se aproximando de nossos corpos com suas oito patas famintas por carne humana. Não dormimos. No dia seguinte filmamos quase todas as cenas do “Açougueiros”, já montando o filme na própria câmera. Anoiteceu novamente. Com medo da volta das aranhas assassinas, todos da equipe dormimos em cima de uma mesa de sinuca. Tão logo desligamos as lanternas, já começamos a escutar os cochichos das malditas aranhas. A madrugada foi louca, com a gente correndo das aranhas pela casa e as eliminando sempre que possível. Lá pelas tantas as aranhas se tornaram mutantes com asas e vinham voando famintas contra a gente. O cozinheiro da produção foi o primeiro a tombar morto diante da fúria das aranhas malignas, tendo convulsões até desfalecer completamente sem vida. Sim, as aranhas haviam se organizado e queriam um banquete… E o banquete era nossa equipe!

 

Criaturas Hediondas 2 (1994)

criaturas-hediondas2_1994

Crianças Hediondas

Imediatamente após as filmagens de “Açougueiros”, resolvemos fazer uma continuação do primeiro filme e “CRIATURAS HEDIONDAS 2” tomou forma. As filmagens desta produção aconteceram no sítio de Walter Schilke, que entre outros, foi diretor de produção em “A Dama do Lotação” e de vários filmes de Os Trapalhões. Essas filmagens foram completamente sossegadas, com tudo dando certo e novos colaboradores aparecendo para ajudar o grupo. Após cada dia de filmagens todos retornávamos aos trailers da produção, ganhávamos massagens terapêuticas e participávamos de jantares de gala enquanto uma orquestra de querubins tocava sucessos de Beethoven. Depois de pronto foi exibido, no ano seguinte, na I HorrorCon em São Paulo com relativo sucesso. Neste mesmo ano explodiu a moda Trash no Brasil e ficamos bilionários fazendo filmes ruins.

 

2000 Anos Para Isso? (1996)

eles-comem-sua-carne_1996

Toniolli em banho de sangue

Sabe-se lá porque, até 1995 eu só pensava em fazer longas-metragens (devia ser algum problema de ego). Mas em 1995 fiz uma experiência em curta-metragem e realizei “Detritos” (curta que atualmente está perdido, mas que continuo tentando achar uma cópia para disponibilizar), gostando bastante da simplificação dos problemas que uma filmagem sempre tem. Então, logo no início de 1996 filmamos “Eles Comem Sua Carne” e um festival de curtas gore da Espanha, tendo assistido “O Monstro Legume do Espaço”, me escreveu solicitando um curta para incluir no festival. Como “Detritos” não era gore, resolvi montar algumas cenas do “Eles Comem Sua Carne” no formato de curta e, assim, surgiu este “2000 ANOS PARA ISSO?“, meu primeiro flerte com cinema experimental.

 

Assista “O Monstro Legume do Espaço” aqui:

Bondage 2 – Amarre-me, Gordo Escroto!!! (1997)

digitalizar0033

Denise e Souza

Após as filmagens de “Blerghhh!!!” (1996), tive uma ideia fantástica que rendeu um belo punhado de reais: Fazer um filme de putaria assinado por uma diretora, então combinei com a atriz principal de “Blerghhh!!!”, Madame X, que ela iria assinar nosso próximo filme. Com orçamento mínimo escrevi um roteiro fácil de filmar (sob pseudônimo de Lady Fuck e Carla N. Toscan, afinal, melhor que uma mulher tarada, só três, não?). Fomos pra casa do Jorge Timm, nos trancamos lá durante uns quatro dias e cometemos “BONDAGE 2: AMARRE-ME, GORDO ESCROTO!!!“, com climão de filme de Boca do Lixo final dos anos 70. É uma produção extremamente simples, mas na época do lançamento alardeamos tanto que era escrito e dirigido por mulheres que todo mundo quis assistir.

jose-mojica-e-seu-livro-preferido

José Mojica Marins e seu livro preferido.

 

Fase 98 (1997-98)

Ácido (1997) – este curta filmamos durante as gravações de “Blerghhh!!!” e só montamos um ano depois. Os efeitos de cores sobre as imagens captadas foram inseridas via uma ilha de efeitos analógicos. Acredito que foi meu primeiro vídeo arte, a concepção deste vídeo foi desenvolvida em parceria com o Coffin Souza.

Deus – O Matador de Sementinhas (1997) – No ano de 1997 Carli Bortolanza e eu cuidávamos do castelo da Canibal Filmes, local onde todo o equipamento de filmagem, maquiagens, iluminação e figurinos estavam guardados. Como o tempo de tédio era muito enquanto montávamos guarda para que ninguém invadisse nosso estúdio para roubar ideias e bens materiais, começamos a filmar vários curtas experimentais inspirados em Andy Warhol e Paul Morrissey e, assim, surgiram pequenas brincadeiras como “Crise Existencial”, “O Homem Cu Comedor de Bolinhas Coloridas”, “A Despedida de Susana – Olhos e Bocas” (1998), “9.9 (nove.nove)” e este “Deus – O Matador de Sementinhas”.

“Boi Bom” (1998) – Possivelmente meu filme mais polêmico. Antes de me tornar vegetariano realizei este brutal filme sobre a figura do homem se valendo de assassinato para se alimentar em pleno século XX. Em uma bebedeira falei com Jorge Timm e Carli Bortolanza sobre minha intenção de rodar algo extremamente brutal sobre alimentação envolvendo a matança de animais, mas a ideia ficou ali. Alguns meses depois o Jorge Timm apareceu com tudo combinado, ele já tinha encontrado um abatedouro clandestino que iria nos deixar filmar desde que não identificássemos o local. Chamei o Bortolanza e o Claudio Baiestorf e fomos até o abatedouro filmar. Em tempo: a carne deste boi que aparece no filme foi vendida pra um restaurante – pelo abatedouro, não pela gente – após as filmagens, só vindo a reforçar o que acho da alimentação envolvendo assassinatos. Hoje eu não faria outro filme com este teor, mas não renego o curta, está feito, faz parte de uma fase que eu me preocupava mais em chocar. PACK ÁCIDO+DEUS+BOIBOM.

Assista “A Despedida de Susana – Olhos e Bocas” aqui:

Mantenha-se Demente!!! (2000)

mantenha-se-demente-fx

Bortolanza aplicando fx em Loures

Logo após lançar “Zombio” (1999) escrevi o roteiro insano de “Mantenha-se Demente!!!”, um longa gore que misturava a cultura da região oeste de SC com os delírios japoneses envolvendo putaria com tentáculos. Levantei uma parte do dinheiro necessário para as filmagens e chegamos até a rodar algumas cenas do filme. Mas tudo estava tão capenga e caótico que acabei abandonando o projeto para rodar o “Raiva” (2001). O material filmado acabou por se tornar o curta-metragem “FRAGMENTOS DE UMA VIDA“, montado em 2002. Particularmente, gosto bastante do resultado de surrealismo gore alcançado neste cura improvisado, o que sempre me faz pensar que poderia voltar, hora dessas, a realizar experiências nesta linha.

 

Entrevista com Petter Baiestorf no Set de Zombio 2 (2013)

Acabei de encontrar essa ENTREVISTA que o Andye Iore realizou comigo durante as filmagens de “Zombio 2” (2013). Estou visivelmente cansado mas até que bem lúcido falando sobre o caos que foram os primeiros 12 dias de filmagens de “Zombio 2”. Estou compartilhando com vocês essa entrevista de 17 minutos mais como uma curiosidade mesmo, ela deveria estar nos extras de “Zombio 2” mas por um estranho motivo foi esquecida durante a autoração do DVD oficial de “Zombio 2“. Enfim, palhaçadas de uma produtora de cinema completamente atrapalhada.

Memórias em tom de realismo fantástico de Petter Baiestorf.

zumbi-e-petter-baiestorf_foto-andye-iore

Primitivista Cinema Canibal

Posted in Nossa Arte, Vídeo Independente with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on abril 26, 2012 by canibuk

Dando seqüência aos filmes hospedados no youtube/vimeo, foram disponibilizados mais 3 curtas meus e vários trailers de filmes ruins que fiz no passado (e vários curtas de Coffin Souza que entrevistarei em breve sobre suas experiências no Nordeste onde ele filmou cerca de seis horas de curtas experimentais lançados em 5 coletâneas em VHS). Entre os curtas online de agora, dois que eu gostei muito de filmar: “2000 Anos Para Isso?” (1996), que tem uma história de produção bem curiosa, e “Primitivismo Kanibaru na Lama da Tecnologia Catódica” (2003), um curta onde percebi que as vezes o improviso funciona melhor que os planos originais.

“Primitivismo Kanibaru na Lama da Tecnologia Catódica” (2003, 12 min.) de Petter Baiestorf. Com: Elio Copini e Coffin Souza. Filmado com ajuda técnica do trio Jorge Timm, CB Rot e Claudio Baiestorf.

Não lembro mais qual era a história que iríamos filmar naquele dia de dezembro de 2002 (vários roteiros de curtas eu escrevia em pedaços de papel e depois, na hora de filmar, ia moldando as idéias), mas quando nos dirigíamos para o set (aquele lamaçal visto no vídeo), CB Rot (ou Coffin Souza, não consigo lembrar direito) encontrou uma velha TV jogada no lixo e a pegou para algo futuro. Quando vi aquela TV no porta malas de um dos carros da produção, deu estalo na mente e a história toda para o “Primitivismo Kanibaru” surgiu. Elio Copini estava com bastante receio de entrar naquela lama com água podre (dava prá ver vermes e lombrigas boiando mortas entre a sujeira da água), mas como eu e CB Rot (na época meu assistente de direção) entramos naquela podridão com a filmadora e um rebatedor, Copini se sentiu na obrigação de fazer o mesmo. Em mais ou menos 3 horas de trabalhos conseguimos o material necessário para editar o curta. Coffin Souza foi improvissado no papel do primata (no estojo de maquiagens tinha uma dentadura velha de quando filmamos, vários anos antes, o longa “Caquinha Superstar a Go-Go” (1996) e essa dentadura deu um ótimo visual selvagem ao Souza), sujamos ele todo com lama e o colocamos entre uma vegetação espinhosa e ação!

Durante as filmagens Jorge Timm e Claudio Baiestorf ficaram bebericando uma garrafa de uisque vagabundo e logo estavam bebaços tropeçando em poças de lama. Acostumados com filmagens de guerrilha, gravamos o “Primitivismo Kanibaru” rápido e sem contra-tempo algum, apenas falei a frase que costumo dizer quando percebo o desconforto dos atores que trabalham comigo: “Tu confia em mim?… Sei o que estou fazendo, vai ficar foda!!!” e isso cria um clima de cumplicidade e o trabalho se torna mais intenso.  Claro que Copini e Souza estavam com o senso de humor meio prá baixo por causa do desconforto físico das filmagens, mas ambos tinham noção que as imagens gravadas estavam com uma qualidade bem boa (claro que este “bem boa” leva em consideração as imagens “bem boas” do Super VHS do final dos anos 90). Editei este curta em mais algumas poucas horas (não mais do que 4 horas, pois a maioria das imagens foram feitas de take único), na trilha sonora coloquei músicas das bandas MÚ (do desenhista Edgar S. Franco) e Los Activos que encaixaram perfeitamente e comecei a divulgá-lo em vários festivais de cinema aqui pelo Brasil. “Primitivismo Kanibaru na Lama da Tecnologia Catódica” nunca foi lançado em VHS, nem em DVD, mas continua sendo um de meus filmes mais populares.

“2000 Anos Para Isso?” (1996, 12 min.) de Petter Baiestorf. Com: E.B. Toniolli. Filmado com Coffin Souza, Marcos Braun e Claudio Baiestorf na equipe-técnica.

Este curta nem era para existir, todas as imagens dele foram produzidas para o longa-metragem “Eles Comem Sua Carne” (1996) que escrevi e dirigi (com produção do Souza) no começo daquele ano. As filmagens deste longa foram meio insanas, tínhamos uma equipe de 26 pessoas trabalhando num lugar isolado, cheio de aranhas, sem água potável e fazendo um calor absurdo que quase chegava aos 40 graus. Canibal 40 graus: Mas éramos jovens, loucos e completamente sem noção (foi neste longa que banhamos Marcos Braun – nesta época meu assistente de direção – com tinta vermelha para concreto e o cabelo dele ficou rosa, obrigando-o a raspar a cabeça quando teve que voltar ao seu emprego normal. Também nestas filmagens convenci o ator E.B. Tonioli a se banhar uma piscina com água podre para usar no longa-metragem “Caquinha Superstar a Go-Go” estava sendo filmado simultaneamente e, imprudentemente, embolotamos toda a pele de uma das atrizes com uma tinta tóxica que não testamos antes, coisas que nunca mais deixei repetir numa produção).

“2000 Anos Para Isso?” existe porque um espanhol convidou um curta da Canibal Filmes para seu festival de curtas gore que aconteceria na Espanha. Nesta época eu só tinha feito os longas “Criaturas Hediondas” (1993), “Criaturas Hediondas 2” (1994), “O Monstro Legume do Espaço” (1995), o média “Açougueiros” (1994) e o curta “Detritos” (1995), que não era gore. Ao invés de usar o bom senso e recusar o convite, peguei e montei este filminho com as cenas do “Eles Comem Sua Carne”, tentando dar um novo significado às imagens que, no fim das contas, passa praticamente a mesma mensagem que quando incorporadas no longa.

As filmagens destas cenas foram cansativas, o banheiro que usamos nas gravações era pequeno demais e não comportava o casal de atores e uma equipe-técnica. Pedi então para Braun e Claudio que removessem o teto do banheiro, o que possibilitou fazer vários takes do alto. Com uma equipe reduzida à 4 técnicos e os dois atores, enquanto fomos filmando as cenas em planos abertos, Coffin Souza ficou maquiando um porco morto depilado (que compramos num açougue) para usarmos para fazer os closes do cutelo penetrando na carne da garota e para os closes das tripas saindo da cavidade estomacal. Claro que devido ao calor intenso e ao tamanho reduzido daquele banheiro maldito, o cheiro das vísceras ficou insuportável, mas nada que assustasse o pessoal que já estava acostumado a filmar comigo. Até hoje este curta continua sendo exibido em algumas mostras, mesmo nunca tendo sido lançado em DVD. Em VHS ele foi lançado, fazia parte da coletânea de curtas “Festival Psicotrônico Vol. 1” (lançada em 1999).

“Vomitando Lesmas Lisérgicas” (1997) de Petter Baiestorf. Filmado com ajudatécnica de Marcos Braun.

Este curta só existe por um único motivo: Eu queria testar as possibilidades da íris de uma filmadora VHS com defeito que eu tinha e o desbotamento das cores que resultavam das cópias de VHS para VHS (este filme não é preto e branco, é colorido desbotado). Como não tinha história nenhuma para filmar, me improvisei de ator (Braun ficou segurando a filmadora para mim), fiquei caminhando de um lado pro outro, legendei a porra toda com um poema que eu tinha escrito chapado e… Porque não mostrar o resultado destas experiências para todo mundo que se interessar em vê-lo. “Vomitando Lesmas Lisérgicas” é um curta que eu nem lembrava que tinha feito e fiquei bem feliz quando mostrei ele para minha namorada (e companheira de Canibuk) Leyla Buk e ela me disse que adorou o curta.

Se você gostou desta postagem, veja também “Fragmentos do Nobre Deputado Fraude Tomando no Orifício Pomposo“, “Deus – O Matador de Sementinhas & Poesia Visceral“, “A Paixão dos Mortos“, “A Despedida de Susana – Olhos & Bocas“, “Criando Ninguém Deve Morrer” e “Encarnación Del Tinhoso“.

Memórias de Petter Baiestorf.